Um panorama sobre a editoração de poesia nas pequenas casas editoriais: o texto além do texto

Tipo de documento:Dissertação de Mestrado

Área de estudo:Letras

Documento 1

Luciana Salazar Salgado São Carlos 2019 Os livros são objetos transcendentes Mas podemos amá-los do amor táctil. — Caetano Veloso, da canção Livros RESUMO Esta dissertação aborda os ritos genéticos editoriais em livros de poesia contemporânea publicados por pequenas casas editoriais, desde a maneira como os originais são escolhidos para publicação, passando pelos tratamentos realizados no texto, desenvolvimento de projeto gráfico, circulação dos livros e modelos de negócio. Além disso, objetivar-se-á compreender se os ritos genéticos editoriais envolvidos na construção de livros gênero condicionam certa estilística comum na poesia que está sendo publicada pelas editoras em questão. Foi realizada uma pesquisa de campo por meio de entrevistas com editores de poesia contemporânea. A pesquisa se embasa em autores que abordam o mídium de Debray, os ritos genéticos editoriais com mediadores do processo de editoração de livros de poesia.

Mídium. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Cadeia de Produção. Figura 2: Grau de Colaboração da Editora no Conteúdo do Livro. Figura 3: Elementos Constitutivos do Livro. Figura4: Ciclo de Produção do Livro. A Preparação do Texto 3 1. Projeto gráfico 3 1. Modelos de negócio e circulação dos livros 3 2 DIRETRIZES METODOLÓGICAS 3 2. Procedimentos metodológicos 3 2. Apresentação e Análise dos Dados 3 2. Desse modo, como suporte teórico, utilizou-se o conceito, mídium, em outras palavras, as “mediações através das quais ‘uma ideia se torna força material” (DEBRAY, 1993 apud MAINGUENEAU, 2012, p. O desenvolvimento desse trabalho, passou pelas seguintes discussões: profissionais envolvidos na produção do livro e que tipos de tratamento são feitos nesses originais de poesia, critérios pelos quais são escolhidos os originais a serem publicados pelos editores, práticas adotados nas revisões em livros de poesia, maneira como são construídos os projetos, projetos gráficos dos livros dessas editoras, modelos de negócio existentes nesse mercado para compreender se é um fator importante na escolha dos originais que serão publicados, correlações entre os ritos genéticos editoriais utilizados por essas editoras.

Este trabalho apresenta a seguinte estrutura: Introdução Capítulo 1: Quadro Teórico Este capítulo apresenta as teorias que envolvem a editoração de poesia; procedimentos e práticas da editoração de poesia contemporânea em pequenas casas editoriais. Capítulo 2: Neste capítulo são indicadas as diretrizes metodológicas utilizadas, são apresentados e analisados os dados coletados nas entrevistas, estabelecendo um paralelo com os teóricos que fundamentam a pesquisa. Capítulo 3: No capítulo três são discutidos os resultados encontrados por meio da pesquisa realizada. “M” de meio, como mundo, modo, macrossistema técnico, média (onda), “in medio stat virtus”. “M” de mediação, como mistura, maldição ou milagre. Cada degrau está imbricado no precedente, como um “zoom” retrospectivo através do qual se iria do condicionado (SILVA, 1998, p.

Se para os teóricos do meio, o telefone, a televisão ou a internet são capazes de modificar a paisagem social onde estão inseridos, para Debray, os meios técnicos – que podem estender-se do papiro às rodovias – também não deixam de alterar a percepção social e principalmente as transformações simbólicas em jogo. A esfera reconduz o sistema visível do mídium ao macrossistema invisível que lhe dá sentido. Será que nas duas edições, de 1963 e de 2005, os poemas dizem as mesmas coisas? O termo, mídium, portanto, designa modalidades de suporte e de transporte dos enunciados, considerando que não há, de fato, uma materialidade inerte e anterior à inscrição em uma forma de circulação, tampouco anterior à inscrição do material sígnico: o signo está dado na confluência das matrizes de sociabilidade e dos vetores de sensibilidade.

Ritos Genéticos Editoriais O mídium, como apresentado no tópico anterior, é a articulação de um vetor de sensibilidade (MO) à uma matriz de sociabilidade (OM). No caso dos livros de poesia, os processos que coadunam tanto a MO quanto a OM são considerados ritos genéticos editoriais. Ritos genéticos editoriais é um conceito desenvolvido por Luciana Salazar Salgado em seu livro Ritos genéticos editoriais: autoria e textualização (SALGADO, 2016). Utilizando-se do termo ritos genéticos que aparece na obra Gênese do discurso (MAINGUENEAU, 2005b), que se refere “ao conjunto de atos realizados por um sujeito em vias de produzir um enunciado” ([1984] 2005b, p. Esse trabalho de adaptação não pode ser feito rapidamente e sem cuidado, porque também não prescinde do olhar do autor, que pode elaborar uma espécie de réplica às anotações feitas pelo coenunciador editorial, e este, por sua vez, eventualmente proporá uma tréplica.

Trata-se de textualização (SAL GADO, 2016, p. A priori, poderia se pensar que os ritos genéticos editoriais são as etapas constitutivas na construção de um vetor de sensibilidade, em vista que o trabalho dos profissionais do livro é justamente constituir a MO de um dispositivo inscricional. No entanto, a partir do momento em que Salgado nos traz essa ideia de que o coenunciador editorial está atrelado a um dado lugar discursivo, fica evidenciado que são justamente ritos genéticos editoriais que levam os coenunciadores editoriais a relacionar vetores de sensibilidade, a matrizes de sociabilidade, pois um profissional do livro, trabalha na produção dessa MO, mas sem perder de vista a OM, posto que para esses profissionais, podem ser parte integrante da curadoria que seleciona um livro em detrimento de outro para publicação, da revisão, da diagramação, do projeto gráfico, da escolha do local de lançamento, entre outros, levando em conta elementos para além do texto, elementos que tem a ver com as institucionalidades fiadoras de discursos.

Na hora de selecionar um texto para publicação, o curador, para além de seu gosto pessoal, usa como critérios o que está sendo publicado dentro do mercado editorial, se aquele texto tem estruturas que remetem ao que a crítica literária atual aponta como sendo de “qualidade”, de “valor”. Em virtude do caráter primitivo dessa literatura, os povos que dela se utilizavam abordavam temas religiosos, razão pela qual, alguns estudiosos como Nicola e Infante (1995, p. acreditam que ela surgiu com as religiões. Antigamente, os poetas não eram escritores, mas sim, cantores de poemas. Um bom exemplo dessa afirmação encontra-se na Bíblia: os “Salmos” de Davi foram compostos para serem cantados, acompanhados por música. A poetisa grega Safo, a exemplo de outros poetas romanos como Horácio e Catulo, cantava suas poesias acompanhadas de uma lira.

É possível que a rima tenha sido introduzida para ajudar na memorização de imensos poemas que, por contarem a história dos povos através de seus heróis, eram chamados de épicos. A “Epopeia” de “Gilgamesh”, um épico babilônico de 4. anos, é um exemplo mais antigo dessa tipologia poética (CAMPOS, 1978, p. Segundo Nicola e Infante (1995, p. outro momento marcante dentro da linha evolutiva da poesia ocorreu na Idade Média, em que surgiram os trovadores, homens que tocavam um instrumento muito parecido com a guitarra, o alaúde e passeavam pelas ruelas da Europa, cantando poemas de amor. Da Bíblia ao Alcorão, passando pelos Vedas, Ilíada, Odisséia, A Divina Comédia, Os Lusíadas, Anchieta, Castro Alves e chegando à Adélia Prado, ela sobrevive e terá sempre seu espaço reservado, pelo menos enquanto o ser humano souber captar a poesia existente em todas as coisas.

Embasando-se em Escobar (1993, p. constata-se que existem muitas maneiras de o poeta demonstrar sua inspiração, podendo depender, em alguns casos, daquela que ele escolheu para se expressar, com isso, produzindo diversas tipologias de textos poéticos, ou seja, as suas formas de ocorrência de construção. Portanto, vários são os portadores ou suportes textuais – a letra de música, um conto, folheto, comentário, conversa – nos quais percebe-se a imanência da produção poética. Para tanto, deve-se levar em consideração Mallarmé, poeta francês: “A poesia se faz com palavras”. Emerson (1994, p. define a poesia assim “A vida pode ser um poema lírico ou uma epopeia, bem como um poema ou um romance”. Devido à variedade de conceitos, entende-se que poesia precisa de fontes de inspiração tais como, a sensibilidade, ansiedade, imaginação e sentimento, tendo um conceito amplo e simultaneamente com restrições, dependendo muito da perspectiva do leitor e das tendências que o influenciam.

Nessa mesma direção, a poesia exige sensibilidade, olhos livres e disponíveis para perceber, além disso esse gênero textual constitui-se de conhecimentos e saberes. Por meio da poesia, o poeta procura conhecer a si próprio, o mundo onde vive, as possibilidades da arte de produzir a linguagem e o conhecimento poético, ainda que muitas vezes lúdico e bastante trabalhoso. Diziam que ele era cego e que é possível que tenha cantado para as cortes reais como cantavam os bardos no seu poema Odisseia. Não se tem certeza de que seus textos hoje disponíveis, continuam com sua originalidade, entretanto há clareza de que a Ilíada, foi oral, o que não garante que tenha se mantido intacta ao ganhar o registro escrito (SÃO PAULO, 1996, p.

A estruturação dos versos e a organização dos cânticos tinham a tradição oral da rapsódia, composta de histórias e lendas da Grécia heroica. A configuração das poesias tem a familiaridade grega, incluindo seus mitos e eram sempre declamadas publicamente, não sendo escritos para um público leitor. Seus versos eram musicais, compostos de ritmos diferentes em para cada tipo de poema, que eram próprios para cada situação ou ocasião, associados intimamente ao sofrimento ou à alegria do autor. Tudo isso facilita analisar e perceber o uso específico da linguagem no texto poético e sua relação com a realidade. Segundo Bosi (1977), as condições de produção desse gênero textual são diferentes dos textos técnicos, científicos e das correspondências oficiais.

No entanto, nele pode haver correspondência entre o real e o ficcional. A poesia era incorporada ao teatro, tendo grande importância para aquela época na qual a arte era estudada com seriedade, levando prazer às pessoas, passados, 2. anos após, a poesia não se sustentou com o mesmo destaque, apesar de resistir diante da falta de interesse dos editores que se preocupam mais com o título atribuído à obra que com o conteúdo que vai compô-la na atualidade (SOPEÑA, 1989, p. Esse negócio se encontra ainda em desenvolvimento e vem modificando com frequência e se mantendo ativas na criação de livros cada vez mais visual – porque contam com planejamentos de design gráfico do livro – e mesmo com a produção de livros digitais.

Figura 1 – Cadeia de Produção23 Fonte: Martin-Barbero (2008, p. Em se tratando das lógicas de produção, o autor explica que: A compreensão do funcionamento das lógicas de produção mobiliza uma tríplice indagação: sobre a estrutura empresarial - em suas dimensões econômicas, ideologias profissionais e rotinas produtivas; sobre sua competência comunicativa - capacidade de interpelar/construir públicos, audiências, consumidores; e muito especialmente sobre sua competitividade tecnológica: usos da tecnicidade dos quais depende hoje em grande medida a capacidade de inovar nos formatos industriais (FI) (Martín-Barbero, 2008, p. De um lado, estão os vetores de sensibilidade, associados a MO, que se refere a organização da informação nas diferentes tecnologias de comunicação e que vem influenciado as produções escritas da contemporaneidade.

Essa MO é um trabalho de diversas mãos, passando pelo curador, pelo revisor, designer gráfico e outros técnicos envolvidos na preparação do original para ser socializado pelos consumidores finais. A poesia também está incluída no contexto da editoração de livros. Segundo Melo (2013), o consumidor opta por comprar um livro por motivos diversos que podem ser objetivos ou subjetivos. Por isso, uma editora precisa saber com antecedência as preferências de seus leitores e seu comportamento na hora de adquirir um livro. No cenário atual, é preciso contextualizar os elementos importantes agregam valor para atrair o consumidor. O leitor consumidor de determinados gêneros textuais precisa da atenção das editoras para que ela lance um livro que vai ter espaço no mercado, não apenas figure no catálogo.

Ademais, os altos valores de investimento numa tiragem offset, obrigavam as editoras a selecionarem originais baseadas na lógica de mercado, ou seja, títulos que tivessem uma maior chance de esgotarem num curto período temporal. Proliferam, nesse modelo de negócio, best-sellers, livros de autoajuda, livros que possuem temáticas midiáticas. No levantamento dos livros mais vendidos entre 29/08/2016 a 04/09/20165, isso pode ser verificado claramente. Cursos e fábricas de escritores, que ensinam fórmulas para que um determinado escritor venha a ter sucesso, se multiplicam. Vemos nesse processo descrito, as engrenagens da indústria cultural em perfeito funcionamento, tal como descreve Weber: [. Em março de 2018, por exemplo, a Feira Plana, em São Paulo, e que é a maior feira de publicação independente do país, teve 150 expositores e trouxe um público de 28 mil pessoas – o que comprova o aquecimento do segmento independente no universo de publicações impressas.

A impressão digital possibilita a entrada dessas pequenas editoras no mercado, incluindo os livros de poesia que possuem um ciclo lento de venda e excluindo casos especiais, como cânones, livros que foram agraciados com grandes prêmios literários e figuras midiáticas, é raro um livro de poesia superar as 500 cópias vendidas. Portanto, é improvável que uma editora consiga manter uma linha que publica poesia num modelo de alta tiragem. Temos como um ótimo exemplo disso a Cosac Nayf, que encerrou suas atividades em 2016, pois não era sustentável. Essa editora tinha exatamente esse modelo de alta tiraram e durante anos acumulou prejuízos. Talvez o fato de ele ser um escritor antes de ter se tornado editor explique essa diluição de fronteiras (MARTINS, 2003, p. Fica a impressão de que não existe fronteiras entre as funções dos profissionais envolvidos na editoração, sendo que essa situação não decorre de um escritor ser também o editor, como no caso de Monteiro Lobato.

Além disso, é interessante notar que dentro do capitalismo as técnicas de produção tendem a se homogeneizar. No entanto, isso não significa que uma determinada técnica extingue outra, mas que elas acabam por existir em diferentes espaços. Segundo Milton Santos: Se a técnica fosse um absoluto, não seria possível imaginar a permanência, durante tanto tempo, desse sistema imperialista, com a coexistência entre impérios coloniais (Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Portugal. Autor e Autoria Ao escrever o autor dá forma estética à sua produção e atribui a ela valores significativos sobre o assunto que aborda, passa por um processo de construção estética. Eu devo experimentar a forma como minha relação axiológica ativa com o conteúdo, para prová-la esteticamente: é na forma e pela forma que eu canto, narro, represento, por meio da forma eu expresso meu amor, minha certeza, minha adesão (BAKHTIN, 2002, p.

O material adquire forma estética que exprime essas marcas da subjetividade do autor que se juntam ao processo de criação passa por uma sequência de procedimentos que configuram a produção textual, que se concretiza na enunciação linguística. É dessa forma que o gênero ganha seu formato estético e autonomia, passando a ser um objeto cultural. Para o autor, cada enunciado é único e irrepetível, pode ser apenas citado, constituindo, nesse caso, um novo acontecimento. Já entre enunciado e texto a diferença está no recorte de análise. Entre textos ou elementos de um texto, não há relações dialógicas, ao contrário do que acontece com os enunciados. Para Bakhtin (2003), o texto está para o plano da língua, assim como o enunciado está para o plano do discurso (RODRIGUES, 2010).

Ambos texto e enunciado produzem sentido relacionado ao momento em que há a apropriação do conhecimento, informações que pode se encontrar em um livro, um gênero textual, um clique nos sites de busca, um ato chamado popularmente de “cópia e cola”, um download, entre outras formas de captar saberes. Muitas vezes, as pessoas não percebem que músicas, poesias, filmes, livros e artigos entrelaçados na rede digital mundial, prontos para compartilhamentos, possuem autoria, são obras que possuem direitos de propriedade e que podem ser conferidos ao se cruzar as informações da própria rede e seus autores são respaldados por leis (PAVAN, 2016). Nesse tocante, Orlandi (2006, p. afirma que “o sentido que se sedimenta é aquele que, dadas certas condições de produção, ganha estatuto dominante”, e devido a isso, tem-se que preservá-lo e mantê-lo em evidência.

Dessa forma, o autor é o dono legítimo de sua produção e possui direitos de propriedade sobre ela, com institucionalização devido ao respaldo da lei, tornando oficial a autoria. A lei protege a autoria, mas pode ameaçar o controle dos sentidos que são atribuídos ao autor e à autoria, devido às interferências interdiscursivas que podem instalar uma negação que faz surgir um enunciado que se converte em saberes antagônicos. Nessa língua de pensamento, Cazarin (2000) afirma que o advérbio de negação “não” mostra que no interdiscurso há um enunciado afirmativo. Com essa mesma visão, Courtine e Marandin (1981, p. afirmam que “os discursos se repetem”, e desse modo, “há repetições que fazem discursos”. O que confirma que o discurso possui dizeres já pronunciados e significados, repetindo em tudo o que se diz.

Porém, essa repetição, não é linear e pode produzir outros sentidos. A tentativa de deixar os sentidos intactos para o autor, pode desestabilizar a concepção de autor como sendo aquele que produz a obra, uma vez que a lei diz que ela deve estar ao alcance da sociedade. Nesse sentido, “a autoria ao mesmo tempo constrói e é construída pela interpretação” (ORLANDI, 1996, p. De acordo com Perloff (2013), a falta de originalidade dos textos, em especial da poesia tem relação com práticas de citação, cópia, reprodução e colagem, possibilitando a mudança de paradigma direcionando a criação literária. Goldsmith (2011) defende que ser original no século XXI significa desenvolver habilidades de “isolar, reconfigurar, reciclar, regurgitar, reproduzindo ideias e imagens que não são suas”.

Dessa forma, a autoria se torna um processo sintetizador e não de criação, principalmente com o advento da tecnologia digital. Segundo, Azevedo (2017), não é tão fácil os seguidores da cultura literária do século passado aceitarem a falta de originalidade nas condições propostas por Perloff (2013) e Goldsmith (2011). Leonzini (2010) questiona qual é o trabalho dos curadores de exposição e lhes deixa algumas tarefas ideais. Segundo a autora: O que mais fazem [os curadores] é olhar a arte e pensar sobre a sua relação com o mundo. Um curador tenta identificar as vertentes e comportamentos do presente para enriquecer a compreensão da experiência estética. Ele agrupa a informação e cria conexões. Um curador tenta passar ao público o sentimento de descoberta provocado pelo encontro face a face com uma obra de arte.

A noção de curadoria tornou-se bastante ampla e apresenta diversas nuances com o advento das redes sociais. O que interessa nesse estudo é tratar do discurso dos curadores sobre o conteúdo poesia e sua forma, candidata à editoração. Nesse contexto, a curadoria se volta para a viabilidade da editoração de poesia contemporânea em pequenas casas editoriais, levando em conta os impactos desse tipo de produção, na área de publicação. De acordo com Silva (2012), o curador seleciona, organiza e edita e se ele consegue realizar tudo isso, pode-se dizer que alcançou seu objetivo que é o de dar visibilidade do que é verificado para determinadas entidades e que deve estar sempre em renovação à medida que a obra é editada e lançada no mercado. O compromisso do curador é garantir leitores para consumir a obra, clientes que vão consumir o produto.

Segundo Maingueneau (2006, p. Através do inscritor, é também a pessoa e o escritor que enunciam; através da pessoa, é também o inscritor e o escritor que vivem; através do escritor, é também a pessoa e o inscritor que traçam uma trajetória no espaço literário. como viver se não se vive da maneira que convém para ser um dado escritor que vai ser o inscritor de uma dada obra? Como desenvolver estratégias no espaço literário se não se vive de modo a ser o inscritor de uma obra? Como ser o inscritor de uma obra se não se enuncia através de um posicionamento no campo literário e um certo modo de presença/ausência na sociedade? Desse modo, há um questionamento em torno de quem seja o autor, como essas três instâncias se incorporam, pode-se dizer que é a ‘identidade criadora’, pois ela é a junção da pessoa, do escritor e do inscritor que se resumem em autoria.

Dessa perspectiva, a questão “Quem é o autor dessa obra?” não parece muito produtiva – ou relevante. A problemática necessariamente deve se deslocar; a pertinência de uma questão sobre determinada “identidade criadora” deve recair sobre o funcionamento da autoria, ou, dizendo de outro modo, sobre o funcionamento dos espaços e dos regimes de subjetivação. Essa exterioridade é interna ao próprio discurso, que de acordo com Mittmann (2010), não se deve ignorar, sendo que todos os fragmentos e saberes dispersos reunidos no texto, bem como no arquivo capturado do interdiscurso, selecionados pela memória discursiva dos envolvidos. Nessa mesma perspectiva, para Maingueneau (2012), o discurso apreende sentido dentro de um universo onde se encontram outros discursos, a partir de onde direciona sua trajetória, nesse bojo estão as paródias, citações, paráfrases, entre outros.

Nesse sentido, segundo Salgado e Muniz Jr (2011), o texto autoral recebe o tratamento que faz parte do processo de editoração que envolve a curadoria, fazendo com que o autor faça um exercício de alteridade em torno de seu texto. Esse exercício permite que o autor se coloque no lugar do leitor alvo e faça deduções das expectativas deste. Nesse processo, o editor exerce o papel de coenunciador, um auditor, agindo como se fosse esse leitor, sendo um porta-voz, em uma analogia com Bakhtin que considera a leitura voz do discurso interior participante da de uma sequência da produção de sentidos: Aquele que apreende a enunciação de outrem não é um ser mudo, privado da palavra, mas ao contrário um ser cheio de palavras interiores.

A “curadoria é um campo do pensamento crítico, relacionado diretamente com a presença e a corporeidade da obra” (HERKENHOFF, 2008, p. Nessa perspectiva, pode-se compreender que a curadoria se vale da midiologia para chegar a um consenso dos ajustes a serem realizados para a editoração da obra verificada. Os textos carregam um estatuto referente à sua elaboração escrita, bem como das leituras que se fazem deles. Esse é um desafio no tratamento editorial, compreender qual quais são seus lugares. No esquema a seguir, Knapp (1992) apresenta o grau de colaboração da editora no que tocante ao conteúdo do livro. O trabalho com o texto de um livro de poesia se inicia nos critérios de seleção dos originais para publicação, se existe ou não curadoria e como ela é feita.

Será levado em conta que a curadoria não é apenas a organização de obras, autores num dado suporte ou evento, mas a organização de um mundo, o esforço em busca de sentido. Essa ideia, advinda do texto Quem tem medo da curadoria? Da crítica às instituições a uma possível institucionalidade crítica, de Osório (2016), procura discutir a relação entre o exercício da crítica e a atividade curatorial. Nessa ótica, a discussão proposta se norteia por indagações, tais como: em que medida a curadoria pode ser vista como um desdobramento da crítica? Qual o estatuto da crítica no regime estético da arte? Seria possível pensarmos uma institucionalidade crítica?  Essa primeira etapa do processo pode a vir a ser reveladora, haja vista que existe certa homogeneidade nos textos de poesia que estão sendo publicados no que concerne a forma dos textos, como é o caso da versificação e da utilização predominante das minúsculas para se iniciar os versos.

Será que esses originais de poesia já chegam assim para seus editores ou será que são adequados durante o processo de edição do livro? Se esses originais são trabalhados para que eles estejam dentro de um determinado padrão, ficará claro que essa institucionalidade crítica atravessa essas casas editoriais a ponto de fazer com que os originais sejam trabalhados para que se adequem a uma linguagem específica. Daí a necessária separação de dois tipos de dispositivos: os que decorrem do estabelecimento do texto, das estratégias de escrita, das intenções do ‘autor’; e os dispositivos que resultam da passagem a livro ou a impresso, produzidos pela decisão editorial e pelo trabalho da oficina [. CHARTIER, 1990, p. Por isso, é preciso levar em conta que o texto parte de um todo que possui um emissor que o produz e o receptor aquele que recebe a produção em uma mediação dialógica entre autor e leitor.

Nesse sentido, há o consumo em forma de leitura que vai incorporando aos conhecimentos e hábitos do receptor em termos de práticas discursivas sociais e culturais. O poema é um texto equiparado aos outros textos, pois possui uma unidade comunicativa, manifesta intenções do emissor, buscar informar, convencer, seduzir, entreter, sugerir, estados de ânimo e outros modos de sentir. Também passa pela interação verbal composta por enunciados em gêneros discursivos que propiciam a compreensão em várias organizações enunciativo-discursivas que possibilitam compreender as características que se repetem, formas da linguagem, convertidos em vários sentidos; que responsabiliza o leitor a se aproximar do objeto que vai construindo ao realizar a leitura em textos diversos, produzidos em épocas distintas. Passa ainda pelo plurilinguismo e vozes discursivas, o que implica em uma variedade de línguas, linguagens, que resulta em estruturas enunciativas diversas que se confrontam devido à diversidade coercitiva, nas relações discursivas, com uma gama enorme de vozes sociais.

Além disso, pela atividade responsiva, em que ocorre o caráter da responsabilidade e participação do agente que assume responder pelos próprios atos, sendo uma resposta a alguém ou a uma determinada coisa ou situação. Nessa concepção, percebe-se que as formas definidas das palavras que se voltam para determinado aspecto real, constituem-se um elo a formas definidas da realidade que permitem interpretar as práticas sociais da linguagem. Desse modo: As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. Ainda há a ocorrência de palavras ou expressões no texto que permite que o leitor faça analogias mais ou menos livres entre sua leitura e outros temas, que já leu e que aparecem frequentemente associados a essa condição.

Ele lê sem levar em conta os gêneros, formação discursiva, campos diversos, doutrinas eventualmente opostas. Cada razão dessas, mostra a possibilidade de um texto estar associado a outros da mesma natureza ou não, que o leitor já leu e que mantém relações de crença, ideologia, conhecimento, entre outros. Araújo (2006) afirma que há a normatização do texto, mas não existe uma lista completa para ajudar na tarefa de preparar o original. da multiplicidade com que se apresentam, por exemplo, critérios ortográficos díspares, sistemas de notas, de bibliografia, de índices, de citações etc. Nessa perspectiva, Araújo (2008) afirma que a invenção do códice (códex) suplantou o texto em rolo, com folhas de papiro, pois o pergaminho de couro, com as páginas costuradas, formava cadernos de três ou quatro folhas, sendo a maioria numerada.

Essa composição da obra era muito dispendiosa monetariamente. Kant (1976) apud Chartier (2010) afirma que há uma diferença fundamental entre o livro como objeto material que tem como proprietário quem o adquire, o livro como discurso direcionado a um público-alvo que tem como propriedade um autor, com direito de distribuição de seus mandatários. A invenção da imprensa mudou o modo de produzir um livro, antes era muito caro e difícil sua produção que era somente manuscrita. Com essa tecnologia a produção foi se multiplicando e os custos abaixaram à medida que a tecnologia foi se aprimorando. O livro, que viveu desde a prensa de Gutemberg uma trajetória com poucas modificações em sua constituição material, passa agora por um período de apreensão com as novas tecnologias e a possibilidade de desmaterialização.

As vendas pela internet, e, principalmente, a existência dos livros eletrônicos geram preocupações para as editoras tradicionais, que vivem incertezas sobre a possibilidade de concorrência (BENEVIT, 2010, p. Somente os próximos anos poderão mostrar se o livro impresso ainda vai ter adeptos, uma vez que cada vez mais os leitores encontram quase tudo o que necessitam ler. O que se pode dizer que hoje há o livro impresso ainda e o digital, mas nem sempre há as duas formas para determinados títulos. Há os impressos que não possuem a forma digital e há também o digital que nunca foram impressos. O autor-dono-do-texto se define com clareza no tratamento editorial de seus texto, pois este procedimento confirma a autoria, à proporção que trata-se de um exercício de alteridade explicitado pelo trabalho do coenunciador editorial, que se posiciona diante da obra do autor durante o processo autoral; o profissional da revisão lê antes de ser publicada, indica o que fazer para melhorar e mostra desvios encontrados no texto, no entanto não pode ter a pretensão de padronizar a escrita do autor, em outras palavras, não pode mudar o estilo e características dele.

Se assim fosse, todos os textos seriam padronizados e não se saberia quem realmente é o dono dele. Projeto gráfico O design editorial de uma publicação é um elemento que deve ser planejado desde a ideia de se criar um livro como produto físico. A parte gráfica de um livro como produto físico compreende-se como sendo elemento importante em sua constituição. O exposto mostra que a tarefa do editor e o processo produtivo do livro ultrapassam fronteiras do planejado inicialmente e que se tornam visíveis no decorrer da cadeia produtiva. O livro é composto da parte textual e das extratextuais que são as pré-textuais e pós-textuais que podem apresentar sobrecapa, capa, orelha, falso rosto, rosto, prefácio, entre outras. No entanto a parte visual contém textos que precisam de atenção referentes à escrita que necessita de elaboração tanto gramática como efeitos composicionais que produzem sentido.

Nesse sentido, a abordagem de Kress e van Leeuwen (2002), designada A Gramática do Design Visual, poderá contribuir bastante com esse estudo, em vista que ela busca fornecer inventários das estruturas composicionais, investigando como tais estruturas são utilizadas por produtores contemporâneos de imagem para produzir significados. Destarte, A Gramática do Design Visual se opõe à gramática tradicional no que diz respeito ao estudo das formas de maneira isolada, desvinculadas dos seus possíveis significados. Ao contrário, os significantes são compreendidos como recursos cuja função é codificar interpretações da experiência e formas de interação social. A partir desse critério, é possível notar que o suporte material dos gêneros atravessa a todos da comunicação, o tempo e o espaço da enunciação, entre outros.

O livro, destarte, deve ser abordado através de sua multimodalidade: a maioria dos textos envolve um complexo jogo entre textos escritos, cores, imagens e elementos gráficos, perspectiva da imagem, espaços entre imagem e texto verbal, escolhas lexicais, com predominância de um ou de outro modo, de acordo com a finalidade da comunicação, sendo, desse modo, recursos importantes na construção de diferentes discursos. O termo discurso pode ser compreendido, “como conhecimentos socialmente construídos de algum aspecto da realidade” (KRESS E VAN LEEUWEN, 2001, p. Para Kress e Van Leeuwen (2002 p. amplia-se, portanto, a noção de texto: Um ‘tecer’ junto, um objeto fabricado que é formado por fios ‘tecidos juntos’ – fios constituídos de modos semióticos. De um modo geral, o livro na contemporaneidade possui revestimento e corpo que é um conjunto de folhas impressas ou digitais, que se originou da tipografia inventadas no século XV por Gutenberg.

Foi a técnica da tipografia que consolidou o formato de um livro em sua constituição completa: um texto com seu suporte. Nesse sentido, essa técnica “ajudou a consolidar a noção literária do ‘texto’ como obra original e completa – um corpo estável de ideias expresso de forma essencial” (LUPTON, 2013, p. Modelos de negócio e circulação dos livros Para finalizar esse estudo, analisaremos os modelos de negócio existentes entre essas editoras. Partiremos do pressuposto que as especificidades relativas aos acordos com autores para publicação, distribuição, canais de venda, locais de circulação desses livros, terão muito a nos contar sobre a dinâmica desse mercado, já que assumiremos que os diferentes modelos existentes, também trazem dizeres específicos sobre essas editoras e sobre as obras que elas publicam.

Mesmo correndo o risco esse editor lançou José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias entre outros. Considerando a nomenclatura “mercado editorial”, percebe-se que ele pode ser definido como conjunto de atividades voltadas para a profissão do editor, somadas às atividades administrativas e de marketing. De um lado, Fernandes e Gonçalves (2011, p. “o setor editorial compreende todas as atividades relacionadas à publicação de livros, por intermédio das editoras e gráficas, até a disponibilização do livro por distribuidores e livrarias. ” Por outro lado, Sá-Earp e Kornis (2011) concebem o mercado do livro com a composição de dois conjuntos de relações: a relação entre o editor, que produz o livro, bem como os livreiros, intermediados por distribuidores e atacadistas, adotando diversas formas de comercialização da obra e a relação de varejo na qual se incluem os leitores que são os consumidores finais, sejam estes pessoas, escolas ou bibliotecas.

Desse modo, o livro passa pela preparação do texto até se tornar uma obra publicável e quando isso acontece, há outra etapa, que é a de levar a público por meio de lançamento, distribuidor e livrarias que fazem seu papel para que a obra seja objeto de consumo, chegando ao destino almejado, o leitor. Desse modo, pode-se compreender que há um encerramento da cadeia de produção do livro e o ciclo do mercado editorial. É importante destacar que o mercado editorial possui diversos termos e tratamentos conforme o país em que se encontra, ou mesmo em localidades ou editoras diferentes no Brasil. Cada editora possui um funcionamento próprio, conforme o contexto local. Pensando no mercado editorial brasileiro, percebe-se que ele passa por grandes transformações na atualidade.

Nesse contexto, o computador é um meio para o alcance de materiais mais antigos, vertendo um mídium antigo para um atualizado. Desse modo, a versão digital é justificável porque garante o acesso a médiuns antigos. Esse mídium novo busca a mesma relação com o leitor ou observador do antigo mídium. Não deveria ser diferente ler um livro no papel e no computador, mas isso não acontece, pois o leitor que precisa ter o livro em suas mãos e não adquiriu ainda o hábito de ler na tela. Além disso, a versão digital depende do computador como suporte físico que seja materializado. O referido autor acrescenta ainda que a metodologia é de suma importância por ressaltar os caminhos que os autores precisam seguir para organizar suas pesquisas, indicando qual o tipo de pesquisa e os passos que foram seguidos para a realização do estudo e como foi o processo de construção teórica (DEMO, 1985).

A metodologia é o instrumento de esclarecimento da forma de abordagem do problema em questão, detalhando os principais procedimentos, técnicas e hipóteses utilizadas, para que o futuro leitor da pesquisa compreenda o roteiro do estudo, tornando possível a identificação e avaliação dos procedimentos escolhidos (KOCH; ELIAS, 2012, p. Desse modo, a metodologia é fundamental para o direcionamento da pesquisa, pois ela mostra os passos que o pesquisador planejou seguir, dando uma ideia geral para outros pesquisadores que a utilizarão na fundamentação teórica de seus objetos de pesquisa. Em suma, metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida ao realizar o trabalho de pesquisa, sendo um elemento que facilita a produção de conhecimento, um recurso capaz de auxiliar o entendimento de como foi a procura de respostas e o posicionamento adequado das perguntas sobre o que ainda é ignorado.

Nessa perspectiva, essa etapa da pesquisa permite organizar o pensamento, essa técnica científica significa: Combinar estrategicamente a capacidade de encadeamento lógico das ideias, empregando-a para conhecer os fatos, através de diferentes procedimentos. nesse tipo de entrevista, o informante entrevistado vai “seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal, colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa”. A entrevista semiestruturada facilita a descrição, explicação e compreensão dos dados. Esta possibilidade de reconfiguração é uma das grandes vantagens da entrevista semiestruturada, facilitando o controle do objeto estudado, favorecendo a cientificidade da pesquisa. Trata-se de uma das formas para coleta de dados na qual há interação social, verbal e não verbal entre pesquisador e entrevistado, os quais ficam face a face e isso nos permite estudar o fenômeno e mediar quando necessário.

Os documentos utilizados na pesquisa são informações encontradas nos sites das editoras para contextualizar e mesmo fundamentar este objeto de pesquisa. O formato em que eles são mostrados, conduz o leitor ao que é muito importante e vai ser discutido posteriormente. Inicialmente apresentam-se os dados, como entrevistas, observações, pesquisa documental e bibliográfica, entre outras. Finalmente, faz-se necessário elaborar o tratamento do material coletado, podendo subdividir em: ordenação, classificação e a análise propriamente dita. Procedimentos metodológicos A pesquisa partiu da elaboração de um projeto, levantamento de autores com a possibilidade de atender aos objetivos, no sentido de responder ao questionamento e às hipóteses apresentadas a respeito da editoração de poesia contemporânea em pequenas casas editoriais. Após esse levantamento, procederam-se as leituras, elaboração de resenhas que foram usadas para elaborar a dissertação embasada nos teóricos estudados.

Essa editora publica em diversos gêneros: contos, micronarrativas, crônicas, romances, poemas e acadêmicos. Em seu marketing, convida o autor estreante ou que já publicou a conhecer a política de publicação da Penalux, que possui como diferencial, o tratamento crítico dispensado a cada projeto, movida pela paixão literária e pelo prazer de editar bons livros. De acordo com informações de um dos editores entrevistado, a editora é pequena, com uma equipe de trabalho reduzida, possuindo entre 04 e 05 profissionais que se envolvem no projeto, são 02 editores, 01 funcionária, 01 designer e quando necessário 01 revisor freelancer. As funções do editor nessa editora são analisar, preparar, revisar, às vezes conceber o projeto gráfico, criando a arte da capa e os elementos internos. Mas as funções prioritárias são editar parte dos livros, manter contato com os autores e profissionais envolvidos nos processos e, paralelamente, administrar e alimentar as redes sociais da editora, produzindo grande parte do conteúdo visual e publicitário referentes às publicações.

Porém melhor que os prêmios é a editora encontrar leitores novos. Como as editoras caracterizadas anteriormente, a Laranja Original possui poucos funcionários, sendo 02 editores, 01 produtor executivo e 01 técnico administrativo para cuidar da contabilidade e providenciar os contratos. As funções dos editores são selecionar os originais, conferir e adequar os originais à qualidade dos livros da editora, escolher o designer, conferir o livro diagramado e encaminhar para o produtor gráfico. Curadoria: Dados Encontrados Nesse tópico são apresentados os dados qualitativos coletados nas entrevistas realizadas nas editoras pesquisadas. Critérios Curatoriais para Publicação dos Livros nas Editoras Pesquisadas EDITORA PENALUX Nosso foco é literatura (nacional e estrangeira) e, em menor escala, trabalhos acadêmicos de caráter literário, histórico e, algumas raras exceções, profissionais relacionados à área de Humanas (Editor entrevistado).

Cada um tem seus critérios que se relacionado ao gênero textual que ultrapassa o básico, ele tem seus critérios que consideram a habilidade com a escrita e o repertório do autor (Editor pesquisado). Os editores são sócios e às vezes, contam com a colaboração de um professor de literatura, amigo deles, para apresentar um parecer mais elaborado, principalmente quando os dois editores têm dúvidas se aprovam ou não o texto. EDITORA MOINHOS O texto para ser selecionado para ser publicado, primeiramente, tem que ser algo que seja pertinente e que agrade [. algo que seja suficientemente válido para uma discussão literária ou de outro teor, acho que o livro deve ser escolhido. Além disso, a possibilidade de vendas do livro, a importância para o contexto em que o livro vai estar inserido.

Se ele manada um livro de poemas com versos quebrados e com vários espaços em branco a entre os versos, quebras "malucas" que de início não fazem sentido, no mínimo é preciso saber por quê. Alguns poetas questionados esse problema, disseram que era apenas por gostar da disposição do texto. Um espaço em branco pode significar muitas coisas, como a ideia de silêncio, de vácuo, supressão, entre outros. Se a pessoa que escreve não consegue uma interpretação para isso, ela não domina o que escreveu. No campo da ficção, existe autor que briga pra deixar as vírgulas erradas, ele diz que é para manter a coloquialidade. Falta-me a palavra, uma leitura de momento, não sei se seria isso, ao contrário por exemplo de ler um Rosa, um Ramos, um Rego.

Ler esses três por exemplo, findado o livro ou capítulos me faz levar o livro comigo, eu fico refletindo sobre várias questões que envolvem a narrativa isso porque ela traz profundidade e reflexão. Por exemplo, gosto muito de Sherlock, pronto, talvez eu ache que as histórias de Sherlock mais entretenimento do que as contadas por Lispector. Compreende a diferença? Mas eu não as nivelo como uma sendo melhor do que a outra, cada narrativa, gênero, é boa dentro do seu espectro. Quando quero ler algo que não vá me fazer pensar ou refletir muito vou atrás de leituras como Holmes. No fundo, queremos descobrir se é uma pessoa tranquila, fácil de trabalhar, e que não esteja esperando mais do que o editor pode dar.

E que estejam gratas pela oportunidade de publicação. Já trabalhamos com pessoa ansiosas, ou “espertas”, e realmente não convém à editora recair no mesmo erro. E principalmente se houver problema entre o pretendente e qualquer membro ou ex membro da equipe editorial, evitaremos abrir as portas da editora. Pessoas “espertas” tentam convencer o editor de que publicá-las é uma grande oportunidade e será muito importante para a editora. Com relação à Editora Moinhos é indispensável que o escritor pretenda publicar o livro como meio literário e não somente publicar por publicar, um autor precisa de tempo para amadurecer. Um outro ponto é a questão do gosto mesmo, e uma outra que importantíssima para livros de poesia e contos, o livro ser coeso, redondo, os textos dialogarem entre si, terem um fio narrativo, como diria o crítico americano Fraistat, é necessário ter uma estrutura interna que companha a contextura poética do livro.

Isso é imprescindível. Além de não ter nada de cunho racista, preconceituoso de qualquer tipo (Editor pesquisado). O editor da Laranja Original respondeu que o domínio da língua e das ideias + criatividade e originalidade é imprescindível. Essa etapa é muito importante para a editoração de um livro, pois o texto precisa estar adequado para ir para a produção. É nessa fase que o mídium se envolve com o processo para autorização de sua editoração. Nesse contexto, o mídium, no caso dessa pesquisa, livro de poesia passa por uma curadoria que usa todos os procedimentos para formalizar o mídium, usando todo tipo de comunicação necessária para tal, em uma lógica de transmissão de discursos apontados por Debray (2000), o que envolve desde a discussão para aceitação do texto para ser publicado, até as discussão que envolvem a necessidade ou não de revisão linguística, formatação, projeto gráfico e outros procedimentos demandados.

Projeto Gráfico do Livro As entrevistas buscaram respostas sobre os projetos gráficos dos livros se existe um modelo para eles, se eles mudam a leitura de um determinado livro, se o autor participa junto com a editora no desenvolvimento dos projetos gráficos e se este precisa aprovar o projeto. EDITORA PENALUX Segundo o editor entrevistado, cada projeto é engendrado seguindo sua própria dinâmica. Com relação ao tamanho do livro, o padrão é 14x21, mas existem outros tamanhos, o maior é 16x23 e o melhor 12x18. As fontes das letras usadas são tamanhos 11 e 12, pois fontes maiores ou menores deixam a leitura cansativa. As adequações se resumem mais à estética (arte da capa e diagramação) do que a concepção gráfica externa (formato, papéis diferentes etc.

Mas às vezes acontece de um projeto ter um formato diferente, um papel diferente. Vai depender muito do projeto (do autor, do momento, e outros fatores) (Editor pesquisado). O editor lê o livro e o designer também, geralmente parte ou todo, e eu e o designer discutimos brevemente sobre alguma ideia, imagem, cor, alguma coisa assim em específico. Daí, o designer propõe um rascunho para eu, enquanto editor aprovar, já enviamos ao autor, senão peço ajustes antes do envio (Editor pesquisado). Segundo o editor pesquisado, dependendo do projeto gráfico, se ele se infiltrar no texto, pode interferir na leitura, mas se for algo que fique apenas no exterior, não. Os projetos gráficos são desenvolvidos por meio de diálogo entre o autor e o editor que envia um briefing que não se segue à risca, é algo apenas para “dialogarmos” sem a presença física dele.

Mas nunca tivemos que enviar uma capa para o prelo sem aprovação do autor, geralmente conseguimos acertar de primeira em 90% dos casos. EDITORA LARANJA ORIGINAL Os projetos individuais começaram em meados de 2016 e depois de um ano houve a estreia da primeira coleção. Durante um ano e meio alternamos entre a coleção e os projetos individuais. A partir de 2019 estamos publicamos só livro de coleção. Estão sendo inauguradas 2 coleções de prosa e outras duas de poesia (total de 5) (Editor entrevistado). O projeto gráfico pode ou não mudar a leitura do livro. E nesse sentido, os livros têm que se adaptar ao projeto gráfico que a editora oferece como forma acabada. Um bom projeto gráfico traz conforto e facilitação da leitura.

Estimula a leitura, mas o conteúdo em si permanece o mesmo. Assim, alguém muito acostumado a ler saberá valorizar o livro independente do projeto, mas é dever da editora ter cuidados estéticos com os textos. Para nossa sorte, os artistas gráficos têm sido compreensivos no sentido de fazer uma ligeira adaptação do projeto gráfico desenvolvido sem aumentar os custos. Nesse sentido, o estético transcende as formas que a obra tome uma forma particularizada. Também, Araújo (2008), afirma que o design implica em reflexão, valendo o bom gosto e o formato, tornando o livro um objeto singular. No entanto, é preciso observar as tendências do mercado editorial dessa parte extralinguística da editoração. Além disso, o projeto gráfico possui características que fazem parte da identidade da editora, sendo um traço de sua existência.

Por essa razão, faz-se necessário que no processo de revisão haja um diálogo entre o autor e os profissionais envolvidos no processo de produção do livro que tenha uma voz de autoria, para ter sentido a realização de um projeto gráfico, a seleção do formato, capa, papel, tipografia, entre outros. Também é preciso limpar o texto de formatações indevidas, tais como, recuos feitos manualmente, hifens no lugar de travessões etc. Em caso de coletâneas, identificar os textos mais fortes e distribuí-los, com a utilização de algum critério, às vezes, colocando-os no começo e no fim; no começo para estimular a leitura; no fim, para dar um fecho de ouro à leitura. Além de padronizar as fontes das letras usadas, revisar falhas na escrita, gralhas, catar linhas viúvas, espaçamentos indevidos, coisas desse tipo (Editor pesquisado).

No que se refere às revisões, se o projeto for sair uma tiragem maior, há mais preocupação com a revisão, afinal, depois de publicado, não se pode corrigir os erros em pouco tempo, como ocorre nas tiragens menores, neste caso, acerta-se o erro no arquivo e na próxima tiragem , sai com correção. Também existem projetos que já vêm com revisor. Ele colocaria letras maiúsculas no início dos versos que iniciam um período e passaria para minúscula onde não é caso de maiúscula. Daria um espaço entre o verso que direciona os assuntos de cada estrofe. Ficaria assim: Se eu te disser quem sou, sou a dor nos ombros observe os pontos cardinais, sempre em frente, entre os dedos, você vai achar meus cabelos são pretos alguns brancos.

  Se eu te disser quem sou, sou em círculos.   Namoro meus pés sob a água fresca lembro o passado esqueço a panela no fogo lembro o presente sou sempre em frente embora ande pela sombra calculo os passos para não pisar em linhas procuro seguir mas dou voltas no quarteirão. É pedido, então, a prova impressa, e o editor ou uma terceira pessoa faz a leitura final no papel impresso, novos ajustes são feitos e então a conferência final em uma prova digital enviada pela gráfica (Editor pesquisado). Geralmente, a editora pede ao autor para comentar o que deve ser levado em consideração sobre sua escrita. Se ele não informa nada a esse respeito, os revisores são orientados a não mexer no texto e fazer comentários em balões, sugerindo melhorias no conteúdo, mas se há erro ortográfico o ajuste é feito diretamente no texto.

Os autores recebem o texto de volta com os devidos ajustes e comentários, mesmo quando eles dizem que não precisa devolver para eles, a editora devolve e exigem o aval deles. Quando o autor não acata alguma revisão se for problema gramatical, a editora opta por seguir a gramática, geralmente em textos de prosa. Como há uma ampla diversidade dos gêneros textuais, mesmo no caso da poesia, especialidade da editora, há muitas formas e conteúdos. De um modo geral o livro proposto tem que ser do gosto dos editores. O autor é entrevistado e quando ele não é conhecido dos editores quase todos os trabalhos começam por um café ou conversa pessoal para se avaliar inclusive o nível de educação, do fino trato, isto é, ter polidez e empatia que não transpareça arrogância e convencimento da própria importância.

No fundo, queremos descobrir se é uma pessoa tranquila, fácil de trabalhar, e que não esteja esperando mais do que o editor pode dar. E que estejam gratas pela oportunidade de publicação. Também é necessário cuidados na apresentação, que indica que as frases já foram revisadas e corrigidas, sem repetição de palavras, erros gramaticais e outros cuidados com a língua (Editor pesquisado). As pessoas que querem escrever bem, precisam estudar. Há um desnível muito grande entre originais vindos de pessoas que realmente estudaram Letras e o das que vieram de outras áreas, como teatro, jornalismo, publicidade. Quem estudou Letras domina melhor a língua porque foi obrigado a entender a gramática. A criatividade, como maneira própria de fazer associações e ter liberdade temática e originalidade (ineditismo) são imprescindíveis (Editor pesquisado).

Parece estar havendo uma tendência de se usar apenas minúsculas, mesmo em nomes próprios. Aceitamos alguns assim, mas também aceitamos os que seguem a norma culta. Só achamos importante que cada livro siga um critério estável. Mas estamos longe de achar que sabemos exatamente a melhor fórmula. Vamos variando, mas tentando ser coerentes dentro de cada livro (Editor pesquisado).   Sou mais do que quando você chega, ou quando vai embora, ou se escolhe ficar.   Sou na galáxia, no norte, na volta, sem casa, no espelho. Sou aqui Fora 2. Análise dos Dados de Trabalho com os Textos As editoras pesquisadas levam em conta nas revisões textuais gramática, ortografia e coesão textual. O editor da Penalux disse que além desse tipo de revisão deve-se ser criterioso com a formatação, eliminando recuos manuais, hífen no lugar de travessões, espaçamentos indevidos, eliminar as linhas viúvas, padronizar as fontes das letras que são configurações indevidas.

No lançamento, a presença do autor não é obrigatória, mas é recomendável. Se há lançamento, quem escolhe o local é o autor. Quando há lançamento, o público que frequenta são os parentes, amigos e colegas de trabalho ou da faculdade do autor, bem como leitores conquistados com suas publicações anteriores ou por meio de postagens nas redes sociais (Editor pesquisado). Nos lançamentos são vendidos entre 30 e 40 exemplares. Depois desse evento, os livros circulam pela rede de amigos e família do autor, vendas para o autor e no site também. Geralmente, a responsabilidade do lançamento é do autor. A editora já investe 100% no livro, ela não tem obrigação de fazer lançamentos em livrarias, espera um tempo mínimo e envia o livro para a livraria.

Dependendo do projeto, não é obrigado a acatar essa atividade, sugere-se que ele o faça. No lançamento, na maioria das vezes, comparecem os familiares, amigos do autor e leitores da Moinhos. O autor vende de 30 a 50 livros, mas há autores que vendem 100 exemplares, mas a média é de 40 livros, os autores recebem 10% do valor das vendas. A editora faz lançamentos somente com a presença do autor. A editora oferece em geral três alternativas de local para o lançamento e o autor escolhe. Até 2018, boa parte dos títulos foram lançados em livrarias (Editor pesquisado). O público que comparece aos lançamentos são amigos e familiares do autor. Em alguns casos, fãs anônimos, quando o autor divulga bem pela internet. Por isso, só fazemos lançamentos com a presença do autor (Editor pesquisado).

Levando em conta os dados apresentados, o ciclo de produção das editoras pesquisadas pode ser resumido no seguinte esquema: Figura 4 – Ciclo de Produção do Livro92 Fonte: Elaborada pelo autor Os dados apresentados permitem realizar muitas reflexões sobre a editoração de livros de poesia nas pequenas casas editoriais e entender se os caminhos percorridos para editar uma publicação são os mesmos ou se existem modos personalizados para realizar os procedimentos que resultam no produto. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os dados apresentados e analisados no capítulo anterior permitiram encontrar alguns resultados que são discutidos neste capítulo. Para discuti-los levei em conta os dados apresentados e descritos por eixo como no capítulo anterior que se encontram na mesma ordem em que foram expostos. Além disso, considerei minhas expectativas iniciais tratadas na introdução na problematização, nas hipóteses e nos objetivos.

A pesquisa conseguiu responder ao questionamento apresentado inicialmente porque cheguei a uma conclusão que me pareceu menos arriscada e, portanto, mais provável que há uma tendência de as casas editoriais trabalhar com poucos funcionários que fazem mais de uma função. Os objetivos foram alcançados uma vez que a pesquisa conseguiu mostrar todo o rito genético editorial do livro de poesia por meio das teorias e da pesquisa de campo. A realização da pesquisa foi relevante, porque ela permitiu entender todo o processo de editoração de livro de poesia, entendido na pesquisa como médium que passa por ritos genéticos editoriais para obter sua existência. Além disso, existem poucos trabalhos científicos relacionados ao assunto, o que autoriza dizer que este trabalho vai contribuir como consulta para que outros pesquisadores venham a abordar esse tema.

Concluindo, essa pesquisa evidencia que existem outras possibilidades de pesquisa para esse tema, que tem muito a desvendar sobre a editoração de poesias. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital, 2008. BAKHTIN, Mikhail. Volochinov) Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec. BAKHTIN, M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. São Paulo: Martins Fontes. BENEVIT, Mariana Gonçalves. O texto, o editor e o livro. Alice no país das maravilhas busca seus leitores. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Bakhtin: Outros conceitos chave. São Paulo: Contexto, 2006. p. CAMPOS, G. Pequeno dicionário de arte poética.

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