EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Tipo de documento:Dissertação de Mestrado
Área de estudo:Pedagogia
Foi com a queda do muro de Berlim na Alemanha em plena guerra fria, que o sistema capitalista se acentuou como sistema econômico predominante no planeta frente ao comunismo. Neste sentido, com a predominância do sistema capitalista a partir dos anos 80, tornou-se primordial para as pessoas saberem administrar o seu dinheiro. A administração financeira pessoal passou a ser considerado um tema de extrema importância tanto para as pessoas que desejam ter uma melhor qualidade de vida como para os governos que buscam na organização da sociedade uma base para o fortalecimento econômico de seu país. Para Campos (2012) discutir a Educação Financeira (EF) no sistema de ensino é vislumbrar a possibilidade de atingir diversos segmentos da população, devido a universalização da Educação Básica.
Embora as questões sobre finanças pessoas tenham surgido com o estabelecimento do sistema capitalista, a EF é considerada uma temática recente, principalmente quando se refere ao campo educacional. De acordo com a Organização para a Cooperação para e Desenvolvimento Econômico (OCDE) A educação financeira pode ser definida como "o processo pelo qual consumidores/investidores financeiros aprimoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros e, por meio de informação, instrução e/ou aconselhamento objetivo, desenvolvem as habilidades e a confiança para se tornarem mais conscientes de riscos e oportunidades financeiras, a fazer escolhas informadas, a saber onde buscar ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para melhorar seu bem-estar financeiro". Educação financeira, portanto, vai além do fornecimento de informações e aconselhamento financeiro, o que deve ser regulado, como geralmente já é o caso, especialmente para a proteção de clientes financeiros (por exemplo, consumidores em relações contratuais) (OCDE, 2005 p.
Para Sarkis (2020) a educação financeira vai além de estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para lidar com finanças. Ela compreende também reflexões acerca do consumismo, da economia, dos gastos necessários. Trata-se de saber como são feitas aplicações financeiras, quais as características e armadilhas que podem existir no uso do cartão de crédito, entre outros. A falta de uma política pública clara e eficaz tem levado instituições financeiras a promoverem programas e projetos voltados para a EF, o que é um motivo de preocupação pois estas instituições podem estar promovendo satisfazer as suas próprias condições com a formação de consumidores ávidos pelo consumo de seus produtos. Melo ainda afirma que [. a EF na qual se fundamenta a OCDE e os agentes financeiros privados não possibilitam o desenvolvimento de uma consciência mais crítica e reflexiva pelos alunos e professores acerca das questões financeiras, essa perspectiva, na verdade estimula o consumo, pois orientam que as pessoas organizem suas finanças pessoais para que possam consumir os produtos oferecidos (MELO, 2019 p.
De acordo com Ribeiro (2020) para a OCDE, em um cenário no qual o acesso a serviços financeiros se mostra cada vez mais fácil, a educação financeira se tornou um complemento valioso à inclusão financeira e proteção ao consumidor. Para este autor, também se trata de restaurar a confiança dos mercados financeiros e com isso, contribuir para uma maior estabilidade financeira do cidadão. A possibilidade de conexão da realidade com o aprendizado em sala de aula permite com que os alunos retenham melhor as ideias transmitidas pelo professor. Neste sentido, é possível perceber que este conceito remete ao ato de utilizar os conhecimentos e competências matemáticas e por vezes psicológicas, para ajudar as pessoas a fazerem escolhas inteligentes relacionadas ao dinheiro, tais como: transações financeiras, compras, investimentos, entre outras.
Estas ações quando feitas de maneira equilibrada ajudam o cidadão a adquirir uma certa tranquilidade na vida financeira. É no ambiente escolar que devem ser dados os principais passos para a educação financeira das pessoas, a partir do ensinamento de conteúdos e conceitos voltados para as capacidades em administrar e em aprender a tomar decisões financeiras inteligentes visando um objetivo maior. A EF pode ser entendida como um tema transversal, que envolve o conhecimento de diversos disciplinas no âmbito do Ensino Médio e Fundamental, porém sem uma base matemática não é possível ensinar os principais conceitos sobre EF. que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) (BRASIL, 2010). Este decreto deixava clara a intenção de promover a educação financeira e previdenciária e ainda contribuir para a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores.
Como política nacional, em decorrência da proposta da OCDE, criou-se a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), que é uma política de Estado instituída pelo Decreto n ◦ 7397 de 22 de dezembro de 2010, e atua em vários segmentos da sociedade com propostas voltadas a crianças, jovens e adultos. A figura 1 apresenta as principais finalidades da ENEF É possível afirmar que as principais ações, destinadas aos cidadãos brasileiros, presentes no antigo documento da ENEF tinham como objetivo: • Disseminar ações alinhadas à Estratégia Nacional de Educação Financeira; • Criar a semana Nacional de Educação Financeira, onde iriam ocorrer diversas ações educacionais gratuitas, tendo como objetivo disseminar a educação financeira, previdenciária e de seguros aos cidadãos; • Elaboração do mapa da Educação Financeira no Brasil, que visava auxiliar na busca por iniciativas de educação financeira realizadas em todo território brasileiro (BRASIL, 2010).
Neste sentido, o objetivo da ENEF era a promoção de políticas gratuitas de caráter educativo, fortalecimento da cidadania e fornecimento de apoio a população no sentido de tomarem decisões financeiras mais autônomas e conscientes de acordo com a sua realidade. A retirada da sociedade civil na participação do Fórum Brasileiro de Educação Financeira pode representar um fortalecimento ainda maior de grandes setores financeiros, principalmente os bancos, e com isso, desvirtuar os principais objetivos de uma Educação Financeira preocupada em formar pessoas capazes de tomarem decisões financeiras mais assertivas. Silva (2020) afirma que Os bancos, como qualquer outra empresa, visam o lucro. Acreditamos ser muito difícil a imparcialidade destas instituições quando se responsabilizam por tentar educar financeiramente as pessoas sem ter a intenção de apresentar seus produtos e/ou serviços financeiros visando o seu consumo e, como consequência, o lucro da empresa (SILVA, 2020 p.
Neste sentido, a EF patrocinada pelas instituições financeiras pode direcionar suas estratégias para ações voltadas para novas formas de consumo e de gastos. Ações visando o consumo são notadas mesmo em momentos onde a expectativa é de estagnação da economia. Cerca de 25% dos alunos brasileiros que participaram da prova, estavam abaixo do nível básico em matemática (OLIVEIRA e ARAGÃO, 2020 p. Os dados referentes ao PISA demonstram que no Brasil a matemática é uma disciplina considerada difícil pelos alunos, por vezes chata e sem sentido. Isso ajuda a explicar os altos índices de reprovações nas escolas nesta e nas demais disciplinas que envolvem cálculo ou raciocínio lógico. Diante de um contexto desfavorável é que os educadores em matemática juntamente com os pedagogos devem se preocupar em preparar aulas que estejam conectadas com o cotidiano dos alunos e que utilize metodologias capazes de fazerem os alunos compreenderem a importância e utilidade da matemática em seu dia a dia.
Diante disto, os professores não podem esquecer que devem se dedicar ao aprendizado e zelar pelo que está citado no art. Cabe destacar que o consumismo não é algo que nasce de forma espontânea, sendo todas as pessoas e principalmente as crianças, vulneráveis as diferentes formas de programação visando as diferentes práticas consumistas. De acordo com Bauman (2008) apud Rubens (2010), quanto maior for o nível de bombardeamento de informações, maior será a dificuldade do indivíduo de assimilar o seu envolvimento como consumir de forma irracional ao comprar bens e produtos. Isso quer dizer que de forma inconsciente este consumidor consome e ainda criar uma noção de pertencimento social a partir dos produtos adquiridos. Além dessa noção de pertencimento também se tem a ideia de que o consumir está sempre a procura de novos produtos, descartando este produto sempre que é lançado outro mais atual.
Daí surge uma necessidade de sempre estar a frente. É neste contexto que Santos e Nour (2020) afirma que se torna necessário mostrar aos estudantes a importância da EF para entender os sistemas econômicos assim como aprender o conteúdo de Matemática contextualizado. Educação financeira infantil Em nosso sistema financeiro atual, torna-se necessário educar e capacitar as crianças sobre a importância da EF desde o início de sua trajetória escolar. Para isso, é importante destacar e ensinar as ferramentas matemáticas adequadas para que estas crianças possam saber com mais clareza os benefícios da EF e a importância desta para a vida. A família desenvolve um importante papel para o desenvolvimento pessoal e educacional da criança. É no seio familiar que as crianças irão aprender questões relacionadas a ética, violência, valores e gastos financeiros.
De acordo com Manfredini Sendo a família o lócus primeiro de aprendizagem, os pais podem ser considerados como os primeiros a se referirem ao dinheiro na vida dos filhos. Dessa maneira, a forma como o dinheiro é administrado pelos membros familiares é passada às gerações que, ao longo do tempo, estabelecem padrões relacionados com as finanças. Tal fato serve como uma identidade para a familia, tornando esses padrões as heranças co-construídas na história familiar (MANFREDINI, 2007 p. Os padrões financeiros de uma família, muitas vezes, não chegam a ser percebidos pelos seus membros. Trata-se de um problema, pois se os membros da família não reconhecem que estão reproduzindo um padrão financeiro antagônico aos princípios da EF, poderão repassar este padrão para as gerações futuras.
Os adultos também podem aprender a saber como gastar e investir melhor o seu dinheiro, porém este é um processo mais difícil, pois pressupõem-se que os adultos estão mais acostumados a um padrão inadequado em relação aos gastos financeiros. Os adultos também são mais propensos a culpar os gastos devido a falta de dinheiro ou a um salário reduzido, tornando a EF destas pessoas um processo mais complexo. Conforme Cruz et al (2017) quem não sabe lidar com dinheiro não saberá ganhando R$ 200 reais, R$ 2. reais ou R$ 20. reais. A aqui o conceito de mídia pode se referir a qualquer dispositivo com capacidade de transmitir informações por dispositivos eletrônicos até revistas em formato impresso. A mídia juntamente com as estratégias de marketing e propaganda também influenciam no processo de construção de valores, promoção de ideias e comportamentos na sociedade.
As empresas, juntamente com os meios de comunicação, também constroem estratégias para tornar desde cedo os valores saturados afim de promover um consumo mais acelerado. Neste sentido, Santos afirma que A sociedade de consumo teve seu início com a Revolução Industrial, na Inglaterra, no final do século XVIII. O estado, com a intensão de viabilizar a expansão industrial, buscou na burguesia o capital e o apoio necessário. O excesso de ofertas atribui uma descartabilidade aos produtos logo após serem adquiridos, criando o desejo por novas aquisições. Essa relação com o brinquedo caracteriza um ato compulsivo que tem reflexos na estrutura da personalidade das crianças (SANTOS; OLIVEIRA; BOSSA, 2019 p. Além do papel que a mídia desenvolve em relação ao marketing e propaganda de produtos, é preciso salientar os equipamentos que dão vida a estas formas de convencimento, tais como: aparelhos de televisão, celular, computador, etc.
É importante destacar que o uso de equipamentos tecnológicos, tais como celular e computadores, por indivíduos cada vez mais jovens, podem trazer benefícios positivos, favorecendo o desenvolvimento da maturidade e dando autonomia, principalmente para os adolescentes. Entretanto, estes mesmos aparelhos podem favorecer a queda da atenção no ambiente escolar, o bullying e principalmente, contribuir para o consumismo. Com base na utilização prática dos conceitos matemáticos no âmbito da EF é que surge o conceito de Educação Matemática Crítica (EMC). Neste sentido, o ensino de Matemática busca motivar o aluno a utilizar os conhecimentos matemáticos na busca da formulação e modelagem de problemas, testar e validar hipóteses no sentido de construir um pensamento que o leve a agir de forma crítica.
De acordo com Melo A Educação Matemática Crítica (EMC) se preocupa em discutir a Matemática a partir de uma perspectiva social, política, econômica, entre outros aspectos que permeiam nossa realidade social, sendo assim ela objetiva a utilização da Matemática como ferramenta de investigação e estímulo à autonomia intelectual (MELO, 2019 p. Acredita-se que a Matemática tenha um papel social na vida dos alunos na medida que os profissionais desta área ajudam a entender como ocorre o processo de aplicações de fórmulas, cálculos etc. tendo como objetivo contribuir com a autonomia intelectual e financeira destes alunos. Neste sentido, a ausência de programas abrangentes e de estudos sobre a temática precisam ser repensadas. Santos e Pessoa ainda afirmam que É preciso ter um olhar atento para as diversas ações referentes à Educação Financeira no ambiente escolar, refletindo constantemente sobre os objetivos que se pretende que sejam atingidos, bem como sobre quais orientações estão sendo fornecidas para que os professores atuem em sala de aula.
Na ENEF há participação de diversas instituições econômicas, o que leva à reflexão: será que é interessante, para estas instituições, uma sociedade financeiramente educada? (SANTOS e PESSOA, 2016 p. A necessidade de implementar uma política ampla e consistente de EF nas escolas se torna extremamente necessário em tempos de crise financeira, afim de orientar as pessoas em relação quanto ao consumismo. A crise financeira instalada no Brasil desde 2015 e intensificada com os efeitos da pandemia do Corona vírus pela qual passamos, tem feito milhares de cidadãos perderem seus empregos. Estes defensores poderão atuar como replicadores de conhecimentos relacionados ao uso consciente do crédito e uma crítica dos padrões atuais de consumo característicos das sociedades capitalistas. Outra questão relevante e que deve ser esclarecida no processo de EF é que o cidadão não é totalmente responsável pelo seu bem-estar financeiro, ou seja, fatores como: taxas bancárias, impostos altos e um ambiente desfavorável podem influenciar nas questões financeiras de uma pessoa.
Neste sentido, Um destes desdobramentos negativos seria a possibilidade de o próprio consumidor sentir-se culpado, mesmo após adquirir novos conhecimentos sobre economia e finanças, por suas falhas na promoção de seu bem-estar financeiro. Não acreditamos, porém, que isso seja benéfico para a sociedade. Com a crescente complexidade dos serviços e produtos financeiros, o consumidor não pode se sentir culpado por não ter sido hábil ao lidar com informações tão herméticas, inseridas em estruturas socioeconômicas tão poderosas. de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional) que prevê em seu art. Art. º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A inserção da EF nas escolas propiciou a possibilidade de ampliação do desenvolvimento educacional financeiro dos alunos. Com a educação de milhares de alunos problemas comuns como inadimplência e consumismo poderão ser mitigados a médio e longo prazo, contribuindo para o consumo consciente e evitando que as futuras gerações evitem problemas relacionados ao endividamento. A EF tratada em gibis explora um espaço muitas vezes não preenchido pelos livros didáticos que é por leituras através de histórias em quadrinhos. Trata-se de uma importante metodologia de ensino na medida em que explora o interesse maior que as crianças possuem por histórias e figuras ilustrativas. Na figura 2 é possível observar um trecho do gibi da turma da Mônica que aborda sobre a importância da poupança para a realização de sonhos no futuro.
Figura 2 - Gibi turma da Mônica: Meu bolso feliz Fonte: https://catracalivre. com. Materiais e métodos É possível afirmar que um trabalho científico pode ser desenvolvido por meio do auxílio de várias fontes e pesquisas bibliográficas, coleta de informações em campo, aplicação de questionários, coleta de dados em ambienteis virtuais etc. Todas as fases que constituem a elaboração de um trabalho científico, tais como: monografia, dissertação, tese ou artigo possuem métodos de aquisição de dados, interpretação e apresentação das informações que seguem uma certa ordem metodológica e que se baseiam em métodos científicos já comprovados. Este trabalho teve como ponto inicial a escolha do tema: Educação Financeira. A escolha deste tema teve como ponto fundamental o estudo das diferentes abordagens e conceitos sobre EF, constituindo assim, a etapa inicial da elaboração deste trabalho.
A escolha do tema se configura como ato inicial porque permite delimitar o ramo da pesquisa e a extensão e profundidade dos conhecimentos que serão trabalhados. Neste sentido, A análise de conteúdo, instrumento de análise interpretativa, é uma das técnicas de pesquisa mais antigas - os primórdios de sua utilização remontam a 1787 nos Estados Unidos, e sua emergência como método de estudo aconteceu nas décadas de 20 e 30 do século passado com o desenvolvimento das Ciências Sociais, quando a ciência clássica entrava em crise. Como se sabe, a atitude interpretativa faz parte do ser humano que deseja atingir o conhecimento (OLIVEIRA; ENS; ANDRADE, 2003 p. Devido a sua abrangência e importância metodológica, a análise de conteúdo tem se destacado como uma das técnicas mais utilizadas em estudos acadêmicos que procuram apresentar ideias e conceitos por meio de teses ou dissertações.
Cabe destacar que a abordagem qualitativa presente neste trabalho, se baseia na realidade para fins de compreender uma situação única (RAUEN, 2002) e quantitativa, por buscar conhecimento por meio de raciocínio de causa e efeito, redução de variáveis específicas, hipóteses e questões importantes para o entendimento deste trabalho (CRESSWELL, 2007). Referências AUGUSTINIS, Viviane Franco; COSTA, Alessandra de Sá Mello da; BARROS, Denise Franca. Educação Financeira em Livros Didáticos de Matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental: Análise de uma Coleção. Instituto de Ciências Exatas e Informática – PUC MINAS, 2020. BRASIL. LEI Nº 9. DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 - Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. planalto. gov. br/ccivil_03/leis/l8069. htm. Acesso em: 29 jun. DECRETO Nº 10. DE 9 DE JUNHO DE 2020 - institui a nova Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF e o Fórum Brasileiro de Educação Financeira – FBEF.
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