JAPÃO: MODERNIZAÇÃO ECONÔMICA, DIPLOMACIA CULTURAL E SOFT POWER NO PÓS 2ª GUERRA
Tipo de documento:Monografia
Área de estudo:História
Objetivo Geral 6 1. Justificativa 6 1. Questão de pesquisa ou problema 7 2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS PÓS-GUERRA 8 3. IDENTIDADE E RELAÇÕES CULTURAIS INTERNACIONAIS 11 3. Histórico da formação da identidade cultural japonesa 12 3. Nesse período, o país mantem-se afastado do militarismo e do protagonismo político internacional. Isso possibilita que aos poucos o país procure alguns modos de desenvolver uma política internacional. Passa a atuar então, através da divulgação da cultura nacional. O país busca inserção internacional através da difusão e promoção cultural, resultando num soft power. A metodologia da pesquisa se constituiu em pesquisa bibliográfica, utilizando-se fontes reconhecidas que tratam o tema. Esta política possui diversas ferramentas, entre elas a Relação Cultural Internacional. Neste trabalho, pretendo abordar como funcionam as relações culturais no caso do Japão e como o governo japonês mantém as mesmas para que continuem tendo sucesso.
Segundo Kazuo Ogoura, A diplomacia cultural era vista como um dos "três pilares" da política externa do Japão - sendo as primeiras as contribuições do país para as operações de manutenção da paz ou atividades similares e a segunda, sua assistência oficial ao desenvolvimento ou políticas de ajuda econômica (OGURA, 2008, p. Ela foi uma aliada imprescindível do governo japonês que soube como modelar e remodelar sua diplomacia cultural de acordo com seus interesses. Era através dela que o Japão exaltava certos aspectos de sua cultura que ajudavam a projetar a imagem internacional que melhor lhe convinha e através disso alcançar seus objetivos, sejam eles conseguir atrair investimentos, retirar a visão errada do povo japonês, demostrar que tinham capacidade de se desenvolver de forma política e financeira ou mostrar que apesar de suas tradições, é um país tão moderno quanto qualquer outro.
A rápida expansão da economia japonesa do final dos anos 50 até a década de 1960 foi impulsionada pelos investimentos da indústria privada em novas fábricas e equipamentos. O elevado nível de poupanças das famílias japonesas proporcionou aos bancos instituições financeiras amplos recursos para investimentos no setor privado. Nesse período, a confiança nos governantes, o orgulho de ser japonês, a seriedade no trabalho foram importantes para formar o capital humano. A homogeneidade no pensamento e nas atitudes favoreceram a formação de uma poupança significativa para reconstruir o país (PASSINI, 1998, P. Anteriormente o Japão havia se organizado com base no zaibatsu1, que tinha sustentado a economia, o governo e as relações econômicas no século XIX.
Apesar de a maioria dos governos planear, até certo ponto, as usas economias e ter ambição de as orientar, a economia do Japão era muito fortemente caracterizada pelo planeamento em relação às puras forças do mercado. Em linguagem económica, tinha uma racionalidade planeada e não uma racionalidade de mercado, era uma economia controlada, não uma economia de laissez-faire (HENSHALL, 2005, p. Num momento mais inicial do desenvolvimento industrial se deu maior ênfase à indústria pesada, no dito da época o que interessa era o que se apresentava como “pesado, largo, comprido e grande”. Posteriormente, na década de 60 já se mudou um pouco a orientação, buscando-se uma indústria mais ágil e veloz. Está começando o ciclo da indústria eletrônica que se desenvolveu tanto no Japão.
No caso japonês, os investimentos foram diretamente para os produtos, para a melhoria de qualidade e de competitividade. “No Japão o montante de capital aplicado à tecnologia teve como alvo o desenvolvimento econômico, diferenciando-se do restante do mundo, onde essa pesquisa objetivou, em grande parte, os interesses da área militar” (PASSINI, 1998, P. Também é imprescindível considerar o papel dos Estados Unidos, que forjaram a modernização japonesa, promovendo mudanças na constituição e nas leis do país, fazendo-o abandonar o militarismo5, fornecendo ajuda técnica, financeira, militar, utilizando a estrutura industrial nascente e comprando seus produtos, entre muitos outros aspectos. É preciso se considerar que os Estados Unidos estiveram no poder de fato, no Japão boa parte desse período. Nesse contexto precisamos compreender que o processo não foi interno e seguindo puramente uma lógica nipônica, mas havia um elemento externo importantíssimo, que comandou o processo e estabeleceu as suas bases.
A economia japonesa passou a crescer a passos largos: A indústria e a construção “cresceram de 22% em 1950 para 35% em 1970 (HENSHALL, 2005, p. Os setores primários perderam importância em relação à indústria. A agropecuária que tinha uma participação de 48% em 1950 passou a representar apenas 18% em 1970. Porém o setor de serviços também obteve um crescimento importante em relação ao total da economia: em 1950 o setor terciário respondia por 30% ao passo que em 1970 passou para 48%. O crescimento foi impressionante. Já na década de 60, o Japão começa a registrar saldos positivos crescentes no comércio com os Estados Unidos. A manutenção de uma balança comercial em superávit tornou-se um traço estrutural do capitalismo fabril japonês. A indústria têxtil, a siderurgia e a construção naval lideraram os primeiros tempos da reconstrução.
Nas décadas de 1960 e 1970, esses ramos foram substituídos pela eletroeletrônica e pela indústria automobilística. Um exemplo dessa pujança econômica é o da Sony, um dos símbolos do capitalismo japonês e de seu crescimento. Hoje a economia japonesa está entre as maiores do planeta. Toda essa expansão econômica deu ao país grande visibilidade internacional. Porém o país, seja pelas derrotas nas guerras, seja por sua tradição de uma política externa discreta, tem uma presença política internacional proporcionalmente pequena. IDENTIDADE E RELAÇÕES CULTURAIS INTERNACIONAIS Para promover colaborações entre os Estados é necessário primeiro que aconteça uma aproximação, na qual poderia se dar através de preocupações levadas à ordem mundial ou propor um entendimento mútuo.
Contudo, para isso é preciso romper barreiras como língua, religião, hábitos e costumes. A cultura japonesa é resultado de numerosas ondas de imigração provindas do continente asiático e das Ilhas do Pacífico, seguida por uma fortíssima influência chinesa logo após um período de isolamento, até a chegada dos navios da Era Meiji. A partir de então passa a receber forte atuação estrangeira e que acaba se tornando mais forte após a Segunda Guerra Mundial, resultando em uma cultura diferente de todo o restante da Ásia (PERALVA, 1990). Com o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América tentaram estabelecer o American Way of Life7, na tentativa de frear o avanço do comunismo no país. Os japoneses não só aceitaram o estilo, mas o reinventaram.
Um exemplo bem-sucedido é o avanço da cultura pop. Porém, o relativo isolamento do arquipélago também proporcionou o ambiente para que se desenvolvesse uma cultura própria e peculiar (TAZAWA, 1973). Em geral podemos dizer que predominam características de certa timidez, de predomínio dos aspectos interiores contra os exteriores, de discrição, de beleza, de refinamento, de tranquilidade, de disciplina, de obediência, de coesão, de uma visão de grupo, principalmente baseada na família. Muitos destes traços podem nos ajudar a pelo menos, de forma incipiente, entender um pouco desse povo e desse país. De acordo com algumas características acima como obediência, disciplina, visão de grupo entre outros, é que podemos perceber como um povo em forma de grupo, por exemplo, se dedica a poupança, como uma instituição nacional, possibilitando investimentos que viabilizam o desenvolvimento econômico.
Evidentemente, essas considerações são apenas iniciais e muito superficiais, mas, já nos permitem, como já dissemos, de forma incipiente, buscar uma compreensão de como a cultura se inseriu nesse processo do pós-guerra japonês. E hoje isso é feito de forma diferente do que foi no passado. Nesse sentido, ao nos reportarmos aos cientistas políticos como Joseph Nye, autor já mencionado neste trabalho, enfatizamos, uma vez mais, que, com o avanço da globalização, a cultura e o soft power passaram a ser mais importantes para as relações internacionais do que o hard power. O país que almejar liderança política deverá buscá-la por meio da atração, da legitimidade e da credibilidade internacional (BIJOS, 2010, p. Nesse novo cenário internacional é que tem se destacado e adquirido sentido o soft power.
O conceito de Soft Power, ou poder brando, foi criado por Nye nos anos de 1990. Pelo contrário, são obtidos a médio e longo prazo e uma vez alcançados devem ser conservados. A diplomacia cultural ajuda a promover a paz, uma vez que, com o intercâmbio seja de pessoas, conhecimentos, experiências e propriamente da cultura em geral, faz com que ocorra uma redução do preconceito e do estereótipo, promovendo, assim, a paz. Dessa forma, Considera-se que as relações culturais internacionais têm por objetivo desenvolver, ao longo do tempo maior compreensão e aproximação entre os povos e as instituições em proveito mútuo. A diplomacia cultural, por sua vez, seria a utilização específica da relação cultural para a consecução de objetivos nacionais de natureza não semente cultural, mas também política, comercial ou econômica” (RIBEIRO, 2011, p.
Estudando o caso Japão à luz da diplomacia cultural. No caso do Japão, eles utilizam a diplomacia cultural principalmente como um intercâmbio cultural, e este é parte integrada da agenda da política externa japonesa. Como prioridades podemos citar o aprofundamento da compreensão mútua, baseada no respeito pelas diferentes culturas que são geradas por diferentes histórias, fortalecer a confiança entre os países, estimular o diálogo entre as civilizações baseados no espírito da tolerância e da sensibilidade cultural, e não menos importante, a introdução da cultura japonesa à todas as pessoas do globo. Ou seja, mantém o desejo de partilhar suas histórias e projetar sua imagem e valores para o exterior. Tal expediente do Japão fica muito claro a partir da análise do discurso proferido no dia 30 de junho de 2009 pelo ex-primeiro ministro do Japão, Taro Aso: O Japão ostenta uma gama ampla e variada de soft power que inclui a ética do trabalho japonês, graças à qual este país foi capaz de se recuperar das ruínas da derrota na guerra para se tornar uma superpotência econômica, como o estilo de trabalho japonês de sempre cumprir prazos de entrega e técnicas de excelência na fabricação de produtos de valor.
O idioma japonês também é uma forma de soft power. Além de os ministérios trabalharem em cooperação direta, a Fundação Japão é importante para os intercâmbios culturais, pois traz recursos adicionais para as relações culturais internacionais tanto na forma de doações, que geram capital operacional, como na forma de receitas privadas e ganhos. Desde a criação da Fundação Japão, em 1972, essa tem se mostrado um importante veículo e criador de formas de diplomacia cultural. Dentro das variadas atividades que a Fundação promove, pode-se destacar três: • Assistência para educação da língua japonesa no exterior; • Intercâmbio cultural, incluindo intercâmbios entre artistas e músicos; Incentivo de estudos japoneses no exterior8. • A instituição possui uma biblioteca com livros sobre o idioma, títulos de literatura e cultura em geral e as principais revistas e jornais.
Além de CDs e DVDs complementarem os recursos, que ficam todos à disposição para consultas. Os japoneses começaram a distribuir Ikebanas, fotos do Monte Fuji coberto de neve e flores de cerejeira. No final da década de 50 e início de 60, o Japão começou a chamar a atenção mundialmente devido ao seu desenvolvimento econômico, como passou a enfrentar problemas para expandir seus negócios decidiu mudar o foco de sua diplomacia cultural. No final dos anos 60 à início dos anos 70, a diplomacia cultural entra em uma segunda fase, especialmente em 1964 com os Jogos Olímpicos de Tóquio, agora a nova imagem que o país quer passar é a de avançado tanto economicamente como tecnologicamente. A ideia de que o Japão vai alcançar um novo patamar passa a ser amplamente divulgada.
Há um esforço nesse período em se consolidar uma infraestrutura responsável por difundir a cultura japonesa internacionalmente como a criação de centros culturais e de informação ultramarinos ligados a embaixadas, a criação em 1962 da Sociedade de Língua Japonesa para Estrangeiros além de uma série de acordos de intercâmbio cultural com oito países socialistas. No início dos anos 90, o governo japonês sente a que sua a diplomacia cultural tem de passar por uma nova revisão, uma vez que, precisam lançar uma nova imagem de si e devido as ondas de globalização pelas quais o mundo passava. A nova imagem nipônica seria responsável, altruísta, respeitosa e que faria o que estivesse ao seu alcance para manter a paz, a segurança e a prosperidade mundial por meio do diálogo e não da guerra.
Pretendia mostrar as outras nações que era um Japão tão avançado e desenvolvido como elas; era um igual. Era hora de deixar suas tradições um pouco de lado e exaltar a modernidade da cultura japonesa, nesse momento os arranjos de flores, as imagens das flores de cerejeira e do monte Fuji coberto de neve dão espaço aos animes, mangás, música pop etc. Tudo o que representava e exaltava a modernidade japonesa passou a receber a atenção do governo e a fazer parte da agenda cultural. Essas mulheres também proviam da China, Taiwan e outros países asiáticos (OKAMOTO, 2017). Esse foi mais um obstáculo com o qual o Japão teve de lidar. Hoje os problemas a serem enfrentados pela agenda da diplomacia cultural japonesa são outros.
Como dito no começo deste trabalho os frutos dessa diplomacia levam muito tempo para serem colhidos e isso tem representado um entrave na captação de recursos destinados ao planejamento de programas culturais. Os colaboradores querem um retorno mais rápido de seus investimentos. O Primeiro-Ministro Shinzō Abe surgiu vestido como o personagem principal de um dos jogos mais famosos no mundo o Super Mario Bros. Nos chamou a atenção o fato também da prefeita de Tóquio Yuriko Koike usar o tradicional quimono. Como dito anteriormente houve um momento em que o Japão quis fazer uma conexão entre o tradicional e o moderno. Aparentemente o foco do governo japonês será a cultura pop. Personagens como Goku do anime Dragon Ball, Naruto Uzumaki (Naruto), Sailor Moon, Astro Boy entre outros foram anunciados como embaixadores dos jogos (O DIA, 2017).
O soft power estabelecido a partir de então, permitiu ao Japão um novo posicionamento global, não mais como uma nação expansionista e belicosa, mas como um povo trabalhador e produtivo, com novas funções dentro do novo esquema global que na época estava em formação. Percebe-se que, de certa forma, dentro do que o Japão poderia fazer na época, pois era derrotado de guerra e estava subjugado por aquele que o havia vencido, a política externa japonesa deu resultados. O país precisa se posicionar de uma forma diferente no cenário global e assim fez. Nesse novo cenário podemos dizer que a estratégia do japonesa objetivava a um reposicionamento e conseguiu efetiva-lo. Ações de difundir os elementos da identidade japonesa foi desenvolvida com sucesso.
Taro Aso, Primeiro-Ministro do Japão. Disponível em: <http://www. mz. emb-japan. go. Disponível em: < http://www. culturajaponesa. com. br/>. Acesso em 07 dez. br/ >, acessado em 11 dez. HENSHALL, Kenneth. História do Japão. Lisboa: Edições 70, 2005. HOBSBAWM, Eric. As "Mulheres de Conforto" da Guerra do Pacífico. RICRI. São Paulo, Vol. No. pp. Um retrato do Japão. São Paulo: Moderna, 1990. RIBEIRO, Edgar Telles. Diplomacia cultural: seu papel na política externa brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, 128p. WALKER, Brett L. História Concisa do Japão. São Paulo: EDIPRO, 2017. WATANABE, Hirotaka. The Diplomat. com/watch?v=ssc5eLjLoMQ>. Acesso em: 15 dez.
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