Comparação temática entre Anne Sexton a Angélica Freitas

Tipo de documento:Monografia

Área de estudo:Literatura

Documento 1

Nesse cenário, a tendência é a extinção de limites precisos entre autor, narrador, personagem, invenção e vida. A confluência entre espaços ficcional e referencial na classificação do que é literatura foi uma preocupação da crítica nas últimas décadas, mas a tendência é de que essa fronteira seja cada vez mais deixada de lado, a partir da concepção de uma permeabilidade entre vida e obra própria dos sujeitos contemporâneos. A partir dessa visão se cria o conceito de autoficção, como o aglutinamento da ficção com a autobiografia, quando o personagem, ou sujeito-lírico, no caso da poesia “(. se exibe ‘ao vivo’ no momento mesmo de construção do discurso, ao mesmo tempo indagando sobre a subjetividade e posicionando-se de forma crítica perante os seus modos de representação” (KLINGER, 2012, p.

Sob esse ponto de vista, não interessa se os fatos são absolutamente verdadeiros ou se são recriados. Anne Sexton (1928-1974) Em 18 anos de carreira em que se destacava seu estilo confessional, feminino, performático Anne Sexton publicou oito livros de poesia e deixou outros manuscritos. Mãe de duas meninas, dona de casa suburbana, tinha um talento excepcional para a palavra e sabia ser tão intensa quanto cômica. Chegou a ter uma peça teatral, Mercy Street, produzida pela Broadway. Ao mesmo tempo que construía uma carreira focada, lidava com transtornos mentais e ímpetos suicidas. Foi viciada em álcool e soporíferos, enquanto a sua voz ganhava cada vez mais importância nos círculos intelectuais norte-americanos, como demonstra sua biografia mais conhecida no Brasil, A morte não é a vida: Bela e esguia, Anne Sexton gostava de ler no palco, de pés descalços, “Her kind” (“Sua espécie”).

Se quisessem que as pessoas a conhecessem de fato, dizia Sexton, ela se vestia como criança, com sapatos sem salto (MIDDLEBROOK, 1994, p. A badalação em torno da poeta, no entanto, representava não só alegrias e gratificações financeiras, mas pressão psíquica sobre sua já frágil estrutura. Nessa época, Sexton seria tocada pelo suicídio de Sylvia Plath, que aviva nela o desejo de matar-se. A mais recente memória que tinha de Sylvia fora um drink compartilhado quatro anos antes, no Ritz, depois de uma aula de Lowell. Anne tinha a impressão de que a colega tinha chegado onde queria na época em que sobreveio a notícia de sua morte. Os primeiros anos de maternidade, no entanto, foram difíceis para ela. Nos períodos de viagem do marido, quando ficava sozinha, temia pela vida das filhas, que sofriam episódios de negligência ou ataques de fúria da mãe.

A situação culminou em um ano e meio de afastamento de Anne do núcleo familiar, em crise de esgotamento mental. Saída desse mergulho em suas dores, as 29 anos passou a escrever sua obra poética. A poesia feminina seria uma importante forma de resistência nas décadas seguintes, e Anne estava sensibilizada pelas próprias experiências em um contexto conservador para as mulheres. Segundo Middlebrook, em conversa com o seu psiquiatra, ela diria: “Você ficaria surpreso se soubesse quão pouco eu entendo meus próprios poemas” (1994, p. O estilo confessional esbarrou no conservadorismo de sua época. Alguns editores chegaram a desencorajar sua exposição: O rótulo confessional foi aplicado a esse tipo de arte, mas em retrospecto parece ter dado ênfase à coisa errada, tratando os poemas como originados da vergonha e não do conhecimento de si mesmo.

A poesia de Lowell, Plath, Sexton e Rich invertia as categorias público e privado. Além disso, esses poetas descobriram que os papéis estabelecidos na vida familiar eram modelados pelo que nós chamamos hoje de ideologias de gênero (sexo). Doses de vodka e um casaco de peles que foi de sua mãe lhe serviram de conforto quando ingressou na garagem e deixou que a fumaça tóxica de seu veículo lhe levasse a vida. “Para os membros da família, dispersados pelo divórcio, a morte de Sexton foi como o fim de um assédio” (MIDDELBROOK, 1994, p. Diante da interrupção precoce de sua jornada, retornar à obra é encontrar a grandeza possível, justamente no que o particular pode oferecer ao coletivo: A poesia de Anne Sexton tem seu interesse justificado e ampliado pelo tipo de organização que a poeta imprime a suas emoções, numa estrutura de firme intuito autobiográfico que lhe permite investigar a máquina retorcida de sua alma, oferecendo aos outros sua visão de mundo, ao mesmo tempo que também considera sua relação com o outro, no amor, na família, na sociedade, na vida.

Assim, sua subjetividade se torna a subjetividade de todos, geral porque profundamente particular. Incluída na trama do mundo, sua experiência pessoal se confunde com a observação do mundo: a autobiografia passa a ser também heterobiografia. Houve planejamento para o livro, sim, porque fiz um projeto para o programa Petrobras Cultural. Nesse projeto, a mulher era o foco. Ganhei a bolsa há dois anos, e com isso pude escrever a maioria dos poemas do livro (FREITAS, 2012, s/p). A inadequação com os papéis designados ao gênero feminino é tema recorrente em suas entrevistas: Acho que o que a gente considera do feminino, ou de comportamento de mulher, muita coisa é inventada, criada, convenção. Penso que a gente aprende desde pequenininha como devemos nos comportar, como ser mulher.

Paulo, antes de residir temporariamente em alguns países, como Holanda, Bolívia e Argentina. Foi nesse último país que participou pela primeira vez de uma antologia: Cuatro poetas recientes del Brasil. No mesmo ano, 2006, participaria de leituras públicas de seus poemas em São Paulo, na Casa das Rosas, e no Festival de Poesia Latino-americana de Buenos Aires. Além de se dedicar à escrita, ministra oficinas literárias pelo país. “Descobri que gosto muito de dar oficina de poesia, de compartilhar leituras e de poder ser uma leitora também para as pessoas que estão começando a escrever. Mesmo sem nenhum pendor para exatas, me lancei nessa carreira técnica. Não deu certo, mas quando eu estava lá aconteceu uma coisa muito interessante. Um colega de aula, que acompanhava a minha “carreira” de poeta, chegou e disse assim: Olha, tem uma poeta aqui que eu acho que tu tem que ler, tu vai gostar dela.

Ele me entregou A teus pés, da Ana Cristina César. Eu tinha 15 anos. com. br/tpm/um-utero-e-do-tamanho de-um-punho>. Acesso em 6 junho de 2019. FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. Acesso em 5 de junho de 2019. Entrevista: Angélica Freitas. IX Festa Literária de Porto Alegre. Porto Alegre, 10 de novembro de 2012. Disponivel em https://festipoaliteraria. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Tradução e organização de Jovita Maria Noronha. Belo Horizonte: Ed. MIDDLEBROOKE, Diane Wood. Anne Sexton - a morte não é a vida: uma biografia. Tradução de Raul de Sá Barbosa. São Paulo: Siciliano, 1994. OLIVEIRA, Renato Marques de. br/home/indiciar-duplamente-o-silencio-mulher-lesbiandade-e-poesia/. Acesso em 5 de junho de 2019. SEXTON, Anne. The complete poems. New York: Mariner Books, 1999.

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