Uma análise psicanalítica forense a respeito da pedofilia

Portanto, a partir da ótica psicanalítica, é possível abordar o sujeito em sua totalidade diante de um contexto criminal. De modo que, inicialmente faz-se necessário uma breve apresentação acerca da temática abordada no filme, para então, posteriormente discorrermos em uma análise entre fenômeno e conceitos psicanalíticos. Filme de 2003, dirigido por Nicole Kassel aborda o universo existencial e social de um sujeito com transtorno sexual, à pedofilia. A narrativa conta a história de Walter, um apenado, que por volta dos seus cinquenta anos, recebe liberdade condicional, após cumprir doze anos de prisão pela prática de crime sexual contra menores. Sua tentativa de reinserção na sociedade, passa pela dinâmica de recolocação no mercado de trabalho, a rejeição da família, o julgamento e preconceito social, o engajamento em uma relação amorosa e, sobretudo, o complexo acompanhamento psicológico que lhe ajuda na compreensão de sua condição psicopatológica, e suas tentativas constantes em reprimir seus instintos, diante de situações gatilhos que vivencia em sua rotina.

Na narrativa do filme o lenhador, em determinada cena, Walter relata para o terapeuta que seus impulsos libidinais se apresentaram por volta dos seus seis anos de idade, quando dormia à tarde no mesmo quarto com sua irmã mais nova. Na ocasião, ele relata que aquilo que lhe dava mais prazer era sentir o cheiro do cabelo dela. Aqui, claramente percebe-se mecanismos de negação na relação entre Walter e seu terapeuta, que mesmo diante das devolutivas do terapeuta em adentrar nessa experiência, ela busca inconscientemente dissociar a relação do significante com seus impulsos libidinais. Nesse aspecto, segundo Sbardelotto et al (2016) a perspectiva psicanalítica Freudiana assenta que, a constituição do sujeito parte primeiramente de um corpo biológico, com necessidades básicas para sobrevivência, e que posteriormente a constituição do eu, enquanto sujeito se definirá pela “satisfação das necessidades, que vai ocorrendo a erotização do corpo que propicia que a pulsão, apoiada no instinto, advenha” (SBARDELOTTO et al, 2016, p.

A pedofilia além de uma prática reprovável socialmente, psicanaliticamente é compreendida na esfera das estruturas e práticas perversas psicopatológicas uma vez que, no entendimento Freudiano a perversão fora do eixo da normalidade “se caracteriza por uma fixação do desvio quanto ao objeto e pela exclusividade da prática quanto ao desvio com relação à meta” (MARTINHO E SADALA, 2016, p. Diante desse fenômeno, Sbardelotto et al (2016) traz a reflexão apontada por Lacan de que a constituição do sujeito passa por elaborações de alienação e separação. De forma que, esses significantes não são expressões da criança, mas uma projeção do outro em sua formação. Assim, antes de reconhecer em si mesma, a criança se aliena, e essa alienação diz respeito ao desejo do outro e ela “se coloca na posição de objeto do desejo do outro para com isso suportar a angústia e o desamparo natural dos seres humanos” (SBARDELOTTO et al, 2016, p.

A relação entre Walter e Vickie se estabelece mediante um mecanismo de defesa de sublimação, ou seja Walter desloca seus impulsos libidinais pedófilos para uma relação socialmente aceitável, com uma mulher adulta, sinal disso são as constantes fantasias e lembranças que ele elabora quando estão na pratica sexual. O desfecho do filme apresenta Walter observando da janela de sua casa, um pedófilo que pega meninos da porta da escola e os leva em seu carro para molestar. e sua interpretação constitucional. In: JUSBrasil [S. I], 2015. Disponível em: https://professorclebercouto. jusbrasil. M. S. De que se trata ser Freudiano pela psicanalise Lacaniana? os quatro conceitos fundamentais da psicanalise em Freud e Lacan. Estilos clínicos, v. n. Perversão e práticas perversas: contribuições da psicanálise.

Revista aSEPH allus de Orientação Lacaniana. v. n. p.