O papel social do psicólogo

Se levarmos em consideração que toda ação humana é um ato político e tem, portanto, seus reflexos no social, mesmo o profissional que atua em um consultório particular, auxiliando um dado paciente a lidar com os questionamentos e reflexões sobre a própria existência, está, de certa forma, atuando também na sociedade. No entanto, o papel exercido pelo psicólogo social se diferencia devido à intenção clara de influenciar e intervir numa dada circunstância social, por exemplo, quando ele é instigado a fornecer uma opinião ou um parecer técnico sobre uma questão de interesse social, tal como o racismo, as questões de gênero, violência, menoridade penal, etc. Quando se analisa este papel do ponto de vista da Psicologia Social, pode-se dizer que psicólogo social tem como objetivo a prevenção e a promoção da saúde mental da sociedade como um todo, o que nem sempre é o objetivo principal do profissional que atua de forma independente.

Trata-se, neste caso, da colocação de todo o seu conhecimento a serviço da construção de uma sociedade mais justa, em que o “bem comum” não seja um mero conceito abstrato. A atuação no sentido de se prevenir o adoecimento psíquico das populações requer uma análise mais abrangente dos fatores biopsicossociais que integram o indivíduo, sobretudo os fatores que contribuem para o aumento do sofrimento e a da desestruturação dos laços sociais. Se levarmos em consideração a história pregressa da Psicologia no Brasil, não é difícil percebermos que ela esteve durante certo tempo conivente com o modelo político adotado no Regime Militar, muitas vezes fazendo “vistas grossas” às constantes violações dos direitos humanos e atrelada a uma parcela mais elitizada da sociedade, contribuindo para a perpetuação das desigualdades sociais.

Portanto, não é surpreendente que a Psicologia Social tenha se empenhado tanto, nas últimas décadas, em quebrar esta nefasta tradição do passado e começado a enfatizar a necessidade do compromisso ético do psicólogo com as práticas voltadas para a promoção dos direitos humanos e diminuição das desigualdades sociais. Não se trata, assim, de fazer um proselitismo político, mas de reconhecer a omissão no passado e buscar uma reparação social mediante uma atuação mais incisiva neste sentido. De qualquer forma, historicamente o papel social do psicólogo sempre existiu, ainda que nem sempre estivesse atrelado a uma luta pelo bem estar de toda a sociedade. Da mesma maneira, o profissional que atua no setor privado, em Departamentos de Recursos Humanos de empresas particulares, também tem o compromisso social e ético de não compactuar – inclusive o dever de denunciar – com práticas abusivas ou que tragam sofrimento psíquico aos empregados.