A contribuição da análise do comportamento no tratamento clinico de compulsão alimentar

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

A compulsão alimentar episódica pode ser caracterizada por uma ingestão de alimentos em excesso, em curto espaço de tempo, associada a uma experiência psíquica de sensação de perda de controle. A persistência desse comportamento pode produzir um diagnóstico de Transtorno da compulsão alimentar periódica “binge eating disorder “. Nesses casos, os sentimentos, pós ingestão, variam entre nojo, culpa, vergonha e angústia (American Psychiatric Association, 2014). Esse transtorno foi descrito na literatura por Stunkard, a partir de um estudo com pessoas obesas. As pesquisas contemporâneas indicam que esse quadro não se restringe a esse público. Com efeito, “comportamento é analisado como tendo valor em si próprio, pela função que ocupa nas relações contingenciais” (Vale & Elias, 2011, p.

Do ponto de vista filogenético, o comportamento alimentar é imprescindível à sobrevivência. Sabe-se que, como forma adaptativa, o homem desenvolveu mecanismos para suportar a subnutrição, mas não desenvolveu a mesma habilidade reguladora para o seu oposto. Adicionalmente, a comida é um reforço indicondicionado, que se relaciona às sensações prazerosas por meio do alimento. Alimentos mais calóricos, por guardarem altos índices de energia, promovem além do prazer, entorpecimento, já que algumas pesquisas identificaram relação entre hiperfagia e liberação de opioides. No que se refere ao desenho do estudo, optou-se por uma revisão narrativa (Rother, 2007) Resultados e Discussão O comportamentalismo, com acentuação no ‘ismo’, não é o estudo científico do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema e métodos da psicologia.

Skinner, 1969/1980, p. Inicialmente, adotou-se a perspectiva psiquiátrica para abordar os transtornos alimentares, a fim de atender uma necessidade de padronizar e aproximar a discussão de outros pesquisadores da saúde. Os transtornos alimentares (TAs) são um tipo de comportamento de consumo e absorção dos alimentos, que comprometem a saúde física e psíquica do indivíduo. Os TAs podem se manifestar em todas as etapas do desenvolvimento humano e englobam uma série de disfunções como a Pica1, ruminação, restrições/evitações, anorexia nervosa, bulimia, compulsões, dentre outros (Apa, 2014). Inicialmente, cumpre esclarecer que, embora tais transtornos tenham classificações nosológicas distintas, eles compartilham um padrão persistente de desajuste na restrição/ingestão de alimentos, medo de ganhar peso e distorções da imagem corporal (Apa, 2014).

A Tabela 1 estabelece uma comparação entre esses dois quadros psicopatológicos: TABELA 1 – Comparação entre os principais transtornos alimentares Anorexia Nervosa Bulimia Nervosa Compulsão Alimentar Restrição da ingestão calórica em relação às necessidades; Medo intenso de ganhar peso ou de engordar; Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados; IMC pode variar de ≥ 17 kg/m2 a < 15 kg/m2; Fatores de risco (temperamentais, ambientais, genéticos e fisiológicos); marcadores diagnósticos (leucopenia, anemia, trombocitopenia e hemorragias; desidratação; desregulações hormonais; bradicardia; problemas ósseos; inanição, amenorreia; hipertrofia das glândulas salivares); Riscos de suicídio (12/100,00 ao ano). Episódios recorrentes de compulsão alimentar – ciclo (alto consumo, sentimento de falta de controle); Vômitos, uso de laxantes ou diurético, exercícios em excesso, jejum prolongado para compensar; A gravidade varia de uma média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana até 14 ou mais comportamentos compensatórios.

Sintomas devem ocorrer pelo menos 1 vez por semana, durante três semanas; IMC > 18,5 kg/m2 e < 30 em adultos Deficiências nutricionais, distúrbios hidreletrolíticos; lesões no trato gastrointestinal; Risco de evolução para anorexia nervosa; Comorbidade com ansiedade e depressão na infância; Idealização do corpo magro; Episódios recorrentes de compulsão alimentar; Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio; 1. Comer mais rapidamente do que o normal. Importante ressaltar que são condições de saúde reais e graves e não uma falha comportamental ou falta de esforço pessoal, como discutido pelo senso comum. Existe uma comorbidade relatada com outras síndromes como a depressão, ansiedade e abuso de substâncias. Sobretudo, implicam em problemas cardíacos e renais, que podem culminar com o óbito do paciente (Assumpção & Cabral, 2002).

Mesmo diante da gravidade desse problema os principais transtornos alimentares são tratáveis. Considera-se importante uma diagnose precoce e uma intervenção multidisciplinar, que inclua psicofármacos (inibidores seletivos da recaptação da serotonina), psicoterapia, acompanhamento familiar e uma avaliação quanto a necessidade de internação na fase posterior ao diagnóstico. Diferentemente da anorexia, a BN não é visível, porém alguns sinais físicos podem auxiliar na detecção, como um aumento das glândulas salivares, o sinal de Russel (lesão no dorso da mão) e desgaste dos dentes. Dentro da perspectiva psicopatológica, o psiquiatra Cheniaux Junior (2015) explica que enquanto na anorexia há uma ausência ou perda do apetite, a bulimia se caracteriza pela hiperingestão, comprometendo outras funções do organismo.

A preocupação excessiva com a autoimagem é explicada pela alteração do pensamento: macropsia ou uma alteração na sensopercepção. Nessa condição, o paciente percebe os objetos e fenômenos aumentados em relação a realidade. No caso do anoréxico, ele acredita que precisa emagrecer. Historicamente, o padrão de beleza e saúde sofreu diversas mudanças, como por exemplo, já foi associado ao ganho de peso e gordura. Além disso, esse padrão era considerado mais relacionado à fecundidade. Por outro lado, nos tempos atuais, o desejo pelo ideal de corpo perfeito, em geral lidado à magreza e procedimentos que camuflem as marcas das transformações inerentes à vida, definem mulheres de muitas culturas. A Análise do Comportamento surgiu na década de 1930, com B. F. Como a Análise do Comportamento está interessada nas relações entre o objeto e o ambiente, ela não estuda a compulsão alimentar por si só.

Logo, a sua intenção é compreender qual é a função que aquele comportamento assumiu para o sujeito. Para Skinner, o comportamento não é uma ação, mas sim, uma interação. Sobretudo, a sua visão de homem o reconhece como alguém que é atuante e responsável por sua história. Além disso, sofre influências pela história da sua espécie, dos seus atributos singulares e da cultura. Nem sempre essa relação se apresenta de forma harmônica, surgindo então a demanda terapêutica. Com efeito, a partir da abordagem da análise do comportamento o que se vê é um sujeito na sua interação com o ambiente. Nesse sentido, o terapeuta deve observar se o alimento tem sido usado como mecanismo de fuga, a cultura na qual o indivíduo se insere, além da sua família de origem.

O quadro compulsivo é um tema de saúde pública, que exige um cuidado maior e atenção para todos os aspectos e fatores de risco envolvidos. Além disso, é preciso que ele se atente para a conjuntura social, econômica, familiar e biológica do seu paciente. Apa. Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento. et al. revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli.  Brazilian Journal of Psychiatry, 24(Suppl.  https://dx. doi. org/10. S1516-44462002000700007 Bueno, Lohanna Nolêto; Do Nascimento, Nelson Alves. doi:http://dx. doi. org/10. frag. v24i0. Recuperado de https://periodicos. ufjf. br/index. php/hurevista/article/view/2439 Canguilhem, Georges. O normal e o patológico / Georges Canguilhem; tradução de Mana Thereza Redig de Carvalho Barrocas; revisão técnica Manoel Barros da Motta; tradução do posfácio de Piare Macherey e da apresentação de Louis Althusser, Luiz Otávio Ferreira Barreto Leite.

ed. São Paulo: Atlas, 2008. Lattal, Kennon. Ciência, tecnologia e análise do comportamento. Josele Abreu-Rodrigues, Michela Rodrigues Ribeiro (organizadoras). Morgan, Christina M, Vecchiatti, Ilka Ramalho, & Negrão, André Brooking. Etiologia dos transtornos alimentares: aspectos biológicos, psicológicos e sócio-culturais.  Brazilian Journal of Psychiatry, 24(Suppl.  https://dx. doi. org/10. S0101-60832004000400004 Pivetta, Loreni Augusta, & Gonçalves-Silva, Regina M. V. Compulsão alimentar e fatores associados em adolescentes de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.  Cadernos de Saúde Pública, 26(2), 337-346. Revisão sistemática X revisão narrativa.  Acta paul. enferm.   São Paulo ,  v.  n. C. Todorov, & R. Azzi, trads. São Paulo: Martins Fontes. Skinner, B. Vale, Antonio Maia Olsen do, & Elias, Liana Rosa. Transtornos alimentares: uma perspectiva analítico-comportamental.  Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 13(1), 52-70.

Recuperado em 25 de outubro de 2019, de http://pepsic. bvsalud.

2531 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto

Apenas no StudyBank

Modelo original

Para download