A MULHER CLIMATÉRIA: Reflexões sobre desejo sexual, beleza e feminilidade

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Psicologia

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Levando em consideração que esta é uma fase marcada por transformações biológicas e emocionais, a mulher se vê diante de um processo de grandes incertezas quanto ao seu corpo, autoestima e desejo sexual. Para isso entender melhor sobre esse tema, realizou-se uma revisão da literatura de artigos e textos consagrados sobre o tema e outros, usando o recorte temporal de 2015 a 2019, obtidos através de buscas nas bases de dados SciELO e Periódicos Capes. O percurso adotado por este estudo teórico, inicialmente, discorreu sobre as relações entre saúde da mulher, gênero e poder. Na sequência, realizou-se uma discussão histórica sobre o conceito de climatério, contrapondo o modelo biomédico patologizante do processo. Para fechar as primeiras reflexões, abordou-se o tema da educação em saúde junto à mulher climatérica.

Objetivo Geral 5 2. Objetivos Específicos 5 3 METODOLOGIA 6 4 REFERENCIAL TEÓRICO 7 4. Algumas considerações sobre saúde, gênero e poder 7 4. Olhar Histórico Sobre o Climatério e a Menopausa 10 4. Interferências Biológicas e Saúde no Climatério - educação sobre o climatério 12 4. A prevalência entre as mulheres brasileiras está acima dos 30%. As modificações hormonais, e, portanto, biológicas, provocam sintomas emocionais, que em muitas mulheres, causam uma sensação de ameaça, frente as perdas reprodutivas, da juventude e da feminilidade. Outras, por outro lado, encaram esse novo momento com otimismo e sentem que é uma fase de recomeços. A sexualidade é um tema que requer atenção em todas as etapas da vida e, durante o climatério merece certo cuidado, pois a satisfação sexual tem reflexo direto nos indicadores de qualidade de vida e bem-estar feminino, podendo provocar sofrimento psíquico (FONSECA et al.

Neste sentido, diante desse processo de grandes transformações biológicas, que acarretam em modificações psicossociais, este estudo partiu da hipótese de que as mulheres vivenciam incertezas emocionais, sociais, físicas e sexuais. A análise dos dados foi feita de forma qualitativa. Segundo Minayo (2012) este tipo de análise visa substancialmente à compreensão do tema estudado, não se pautando pela quantificação em números, gráficos ou tabelas, mas pela elucidação de conceitos chaves, fomentando assim um entendimento mais aprofundado teoricamente do mesmo, o que se adequa perfeitamente a um estudo de caráter bibliográfico. REFERENCIAL TEÓRICO 4. Algumas considerações sobre saúde, gênero e poder A saúde é um direito social, garantido constitucionalmente de forma integral e igualitário a todos os brasileiros (BRASIL, 1988, art.

A Carta Magna, sancionada no período de redemocratização brasileira, estabeleceu importantes garantias à população na forma dos direitos fundamentais. A autora explica que no país, o problema da discriminação e desigualdade de gênero e raça se aplica a maioria da população. Numericamente, só as mulheres representavam 42% da população. A autora, assim, denuncia uma grave relação entre gênero e pobreza: Existe, entretanto, uma relação muito forte entre esses dois problemas: as diversas formas de discriminação estão fortemente associadas aos fenômenos de exclusão social que dão origem à pobreza e são responsáveis pela superposição de diversos tipos de vulnerabilidade e pela criação de poderosas barreiras adicionais para que as pessoas e os grupos discriminados possam superar a pobreza e a exclusão social (ABRAMO, 2004, p.

Cabe observar que um determinante para a superação da questão da pobreza é o trabalho, e nesse sentido, as mulheres se encontram mais vulneráveis ainda nos dias atuais. Neste grupo, as razões para essa marginalização no trabalho incluem “as restrições impostas pelas responsabilidades reprodutivas, ou seja, toda a carga das tarefas relativas ao cuidado da casa, das crianças, dos mais velhos, que continua sendo assumida principalmente — quando não exclusivamente — pelas mulheres” (ABRAMO, 2004, p. Assim, os movimentos feministas e as mobilizações de mulheres nas questões sociais, contribuíram para que na década de 1980 fossem criadas políticas públicas voltadas para a mulher e, portanto, com recorte de gênero (FARAH, 2004). Em oposição clara ao período anterior à redemocratização, com grande influência da Constituição Federal de 1988, a nova agenda do Estado tinha as seguintes prioridades:  a) descentralização, vista como uma estratégia de democratização, mas também como forma de garantir o uso mais eficiente de recursos públicos; b) estabelecimento de prioridades de ação (focalização ou seletividade), devido às urgentes demandas associadas à crise e ao processo de ajuste; c) novas formas de articulação entre Estado e sociedade civil, incluindo a democratização dos processos decisórios mas também a participação de organizações da sociedade civil e do setor privado na provisão de serviços públicos; e d) novas formas de gestão das políticas públicas e instituições governamentais, de forma a garantir maior eficiência e efetividade à ação estatal (FARAH, 2004, p.

As diferenças de gênero, para alguns autores, têm origem na noção de normalidade e desvio, onde o homem seria a referência padrão para saúde e a mulher o “erro”. Além disso, remonta-se ao século XVIII algumas características de personalidade que expressariam a fragilidade ou vulnerabilidade da mulher, logo a capacitando “naturalmente” para o exercício da maternidade. Assim, o modelo biomédico, a partir dos anos 70, começou a ser questionado e revisto, para que mulheres pudessem ter voz mais ativa e serem reconhecidas como foco de ações em saúde (AQUINO, 2006). É uma lei da natureza a que não há de fugir por mais que se tente. A única coisa que sabíamos exatamente sobre o caso de declínio do vigor n'um certo período da vida - ou como se diz ainda, da "menopausa"- é que era certo e fatal.

É pelos quarenta e cinco anos, aproximadamente, nos nossos climas, que se produz esta mudança. Algumas vezes esta mudança vem cedo, outras vezes vem tarde. Certas mulheres são "desfeminisadas" aos 35, 36, 38 anos. No se conoce a ciência certa la prevalencia de los síntomas relacionados com la menopausia entre las mujeres de los países em desarrollo (WHO, 1996, p. A partir da década de 1970, no Brasil, houve a incorporação da saúde da mulher às políticas nacionais de saúde. Ainda naquela época, o foco estava apenas nas questões reprodutivas da mulher. Na década de 1980 o cenário começou a sofrer mudanças, com a inclusão do climatério como preocupação junto a esse grupo, já que o primeiro Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, o PAISM, fora elaborado pelo Ministério da Saúde.

Esse programa incorporou o ideário feminista para a atenção à saúde da mulher, com ênfase em aspectos da saúde reprodutiva, mas com propostas de ações dirigidas à atenção integral da população feminina, nas suas necessidades prioritárias, significando uma ruptura com o modelo de atenção materno-infantil até então desenvolvido. Cinco anos depois, a mulher com idade superior a 50 anos foi incorporada na estratégia de saúde da mulher. No ano de 2003, a PNAISM recebeu um capítulo dedicado ao climatério, para que a atenção a esse público fosse ampliada a nível nacional. Essas iniciativas possibilitaram abordar o climatério como um processo normal e transitório na vida da mulher e não uma patologia. Sobretudo, novos estudos expuseram o risco de uma prescrição indiscriminada de deposição hormonal, tendo em vista os riscos de desenvolvimento de câncer de mama e trombose.

Contudo, essa mudança de paradigma ainda carece de maior esclarecimento junto a esse público, pois muitas se sentem confusas sobre a nova forma de perceber o climatério. p. Freitas et al. buscaram avaliar os efeitos de um trabalho de educação na qualidade de vida de 14 mulheres no climatério, através de grupos de encontro semanal, avaliadas por meio do teste WHOQOL-bref. Após os encontros, os pesquisadores observaram que as mulheres do grupo experimental tiveram escores melhores no teste, enquanto que o grupo controle piorou nos indicadores físicos e sociais de qualidade de vida. São diversas as necessidades de suporte da mulher climatérica. criar a sua resposta; e 5. buscar possibilidades de superação” (VIDAL et al. p. A discussão sobre sexualidade passa por questões culturais e de gênero.

Desconstruir a imagem patologizante sobre o climatério, como apontado pela história, permite olhar para essa mulher de outra forma. O envelhecer não é seguir um caminho já traçado, mas pelo contrário, construí-lo permanentemente. Estar envelhecendo é confrontar-se com novos desafios, outras exigências, devendo abrir mão de uma certa maneira de continuidade, sobretudo biológica, e desenvolver atitudes psicológicas que o levem a superar dificuldades e conflitos integrando limites e possibilidades O envelhecimento inicia-se na idade adulta jovem, aproximadamente aos 30 anos, com a maioria dos sistemas corporais apresentando um pequeno declínio. A trajetória desta perda é muito lenta e é só a partir dos 60 anos de vida que as mudanças mais significativas começam a ficar evidentes (FECHINE E TROMPIERI, 2007). Climatério e desejo sexual Por meio de uma revisão integrativa, Crema, Tilio e Campos (2017), observaram que os estudos analisados partiram da hipótese de que com o início do processo de envelhecimento, as mulheres experimentam uma redução do estrogênio, esse declínio incide na atividade sexual, tanto na frequência, quanto no desejo, além de dor durante o ato sexual, redução na lubrificação e orgasmos menos intensos.

Parece existir uma relação entre a percepção de bem-estar psíquico e a satisfação sexual. verificaram a relação entre sintomas do climatério e desempenho sexual em 260 mulheres, usando duas escalas de medida Menopausal de Kupperman e pelo Quociente Sexual. As mulheres com padrão de desempenho sexual bom / excelente, em sua maioria, relataram sintomas leves no Índice Menopausal, e aquelas que tiveram um padrão ruim / desfavorável, apresentaram altas porcentagens de manifestações moderadas e graves.  Os sintomas de intensidade leve foram associados a um padrão mais alto de desempenho sexual. A prática de atividade física e uma alimentação saudável parece diminuir os sintomas climatéricos, esses dois hábitos estão relacionados à melhor qualidade de vida. O estudo ainda observou que a baixa produção de estrogênio induz uma condição conhecida como dispareunia.

Recente pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) aponta a tendência de envelhecimento da população brasileira. O percentual de pessoas com mais de sessenta e cinco anos de idade até o ano de 2060 será de 25%, ou seja, 1 em cada 4 brasileiros será idoso. Percepções das mulheres no climatério sobre a feminilidade e beleza Socialmente, os impactos da desigualdade de gênero são ainda mais cruéis para as mulheres nessa etapa da vida, pois, enquanto para os homens mais velhos, os sinais do envelhecimento são recebidos como “charme”, para elas há um imperativo para se disfarçar essas marcas, através do uso de cosméticos e procedimentos estéticos. A história aponta que com a chegada da menopausa, e, como consequência, a perda da capacidade reprodutiva, as mulheres experimentariam a perda da sensualidade.

Já que fecundidade é muito associada à mulher no auge da sua vida e sensual. Albarello et al. pesquisaram as preocupações das mulheres do campo com a beleza e feminilidade após a menopausa. Importante relatar que a preocupação com a beleza não está condicionada à idade. Na, verdade, um tema que acompanha mulheres de todas as gerações. Historicamente, o padrão de beleza e saúde sofreu diversas mudanças, como por exemplo, já foi associado ao ganho de peso e gordura. Estes se aproximam das bases do preconceito e das múltiplas violências dirigidas às pessoas que já se enquadram no grupo da terceira idade ao longo da história. Bauman (2011), retomando o Estranho Familiar de Freud (1919/1996), comenta que o caráter ambivalente do estranho é justamente sua capacidade de repelir e de atrair o outro.

Repele pelo medo frente ao desconhecido, mas um desconhecido que revela parte dele mesmo, aquilo que rejeita em si e gostaria de não reconhecer como seu. Ao mesmo tempo, atrai pela sedução de querer conhecer a liberdade, a leveza, a pureza, a criatividade que o diferente possui diante da vida e da sua história. Desse modo, aquele que estranha tem desejo de vivenciar, mas não encontra coragem de sair de seus parâmetros e normas organizados. Embora o estudo da sexualidade muitas vezes esteja vinculado às questões reprodutivas, incluindo aí contracepção, muitas mulheres sentem necessidade de falar sobre a sexualidade do ponto de vista da satisfação, porém raramente encontram um espaço e uma escuta disponível para isso. Souza et (2017) estudaram um grupo de mulheres climatéricas com idade entre 50 e 70 anos, e considerando a ampliação taxa de longevidade de mulheres no mundo, faz-se imperativo que os serviços de saúde se preparem para atender essas novas demandas.

Novamente a educação sobre a formação de uma consciência e autonomia no autocuidado foi destacada. Neste sentido, a educação em saúde deve priorizar uma adequação da linguagem para os diferentes públicos e níveis sociais. Além disso, muitas mulheres relataram não buscar ajuda para enfrentar esse período, o que reforça a ideia de uma invisibilidade e silenciamento dessa etapa, tida muitas vezes com sentimentos de vergonha. Os estudos indicaram que as dificuldades sexuais podem ter associação com questões culturais, que tornam o tema da sexualidade um tabu para mulheres mais velhas. Somado a isso, existe uma ideia de que sensualidade e feminilidade é própria da juventude, o que implica na criação de crenças distorcidas e inseguranças nas mulheres.

Há ainda implicações psicológicas, como baixa autoestima, gerada por um padrão social de beleza calcado na magreza e jovialidade. Distúrbios psíquicos ou adoecimentos crônicos podem ter influência sobre o desejo sexual e sobre a satisfação. Assim, é importante que os serviços e profissionais de saúde se atentem para esse público e desenvolvam uma prática humanizada de assistência, que as reconheçam como sujeitos desejantes e respeitem suas demandas singulares. ALVES, Estela Rodrigues Paiva et al. Climacteric: intensity of symptoms and sexual performance.  Texto contexto - enferm. Florianópolis, v.  n. ANDRADE et al. Cuidado de enfermagem à sexualidade da mulher no climatério: reflexões sob a ótica da fenomenologia. REME ver. Min. Enferm. vol. n. pp. ISSN 1809-9823.   http://dx.

– (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno, n.   Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. p. Repercussões da Menopausa para a Sexualidade de Idosas: Revisão Integrativa da Literatura.  Psicol. cienc. prof.  Brasília, v. org/10. DE LYRA SOUSA, Jéssica et al. Health education as a tool for women in climacteric: grants for nursing care.  Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, [Sol. v. doi:http://dx. doi. org/10. v4i1. FECHINE, Basílio R. Fortaleza: EU, 2002. FONSECA FM et al. Climatério: influência na sexualidade feminina. Rev. Univ. GIFFIN KM. Mulher e saúde.  Cad Saúde Pública.    GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. gov.

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