UMA ANALISE PÓS-COLONIALISTA DA OBRA HIBISCO ROXO
Breve descrição do livro e da corrente crítica: O pós-colonialismo é uma perspectiva cultural-teórica que busca desenvolver uma releitura da colonização. É formada por um conjunto de estudos que trazem diversas analises distintas nos mais diversos campos do conhecimento e que tem como ponto em comum as criticas as narrativas ao processo de colonização imposta pelos europeus, o termo as vezes também se confunde com pós imperialismo. Os estudos pós-coloniais demonstram que é possível a construção de novas epistemologias desvinculada da centralidade eurocêntrica. Para tal, há um apontamento para criticas severas as consequências e ações dos colonizadores contra a cultura e outros aspectos dos povos colonizados, principalmente detratando-os e substituindo-os por aspectos europeus. Há um forte retorno contra toda e qualquer narrativa eurocêntrica que durante muito tempo buscou justificar uma “superioridade branca” e assim reafirmar os processos colonizadores, além disso, há também fortes críticas contra a imposição ideológica, religiosa e idiomática desenvolvida pelos colonizadores.
Analise Pós-Colonialista da obra Hibisco Roxo: O colonialismo afetou diretamente imperializadores e imperializados, e as marcas deste quadro podem ser notadas tanto na cultura e na identidade, ambas realizam-se na diferença. A obra Hibisco roxo traz consigo as marcas da história colonialista e o impacto nos entes colonizados. Toda essa articulação entre cultura, identidade e representação pode ser considerada consequências do imperialismo. É perceptível em todo o romance as marcas do colonialismo através de cada personagem. E assim, é possível notar que há uma forte dualidade entre os colonizados e os colonizadores, onde nenhum deles é algum meio termo na trama. Por outro lado, Eugene, pai da protagonista, representa a clara figura de um colonizado que tem um forte impacto colonial e se aculturou, era convertido ao catolicismo após a chegada dos missionários a Abba, educado com os preceitos europeus e claramente convencido da superioridade da raça branca.
Um dos trechos mais emblemáticos nesse sentido está na página setenta e sete do livro, vejamos: Vovô tinha a pele muito clara, era quase albino, e diziam que esse fora um dos motivos pelos quais os missionários haviam gostado dele. Insistia em falar inglês sempre, com um forte sotaque igbo. Sabia latim também, citando muitas vezes os artigos do Concílio Vaticano I (. Papa ainda falava muito dele, os olhos cheios de orgulho, como se Vovô fosse seu próprio pai. O pai de Kambili aparece como um destes “aculturados” que “buscaram” o poder através do cristianismo, ele é apresentado como o “assistente” do Padre Benedict. Além disso, era um dos homens mais ricos da comunidade e dava constantes doações à igreja. Vale-se ressaltar que em muitas sociedades colonizadas cabia as instituições cristãs a educação e outras assistências como à saúde, assim, todo esse contexto além de influenciar os individuos também significa poucas oportunidades para os não cristãos de ascensão social.
Ou seja, ao entrar em contato com os missionários, o individuo recebe uma educação britânica na metrópole e se torna culturalizado pela metrópole. Deste modo, Eugene surge como um modelo de africanos que se ligaram culturalmente a Europa. ADICHIE, 2011, p. Há apenas uma distinção nestes exemplos de personagens brancos que demonstram certo distanciamento a cultura nigeriana, é o caso da professora particular de Kambili, cujo a protagonista destaca que ficou surpresa com o fato desta pronunciar muito bem a língua igbo, o que por sua vez, acaba deixando ainda mais evidente a questão do desinteresse dos “brancos” em aprender quaisquer detalhe da cultura nativa. É possível notar, que Adichie utiliza de modo amplo a expressão “branco” em seu livro e que o uso deste termo não está necessariamente ligado a questão de pele, mas, sobretudo com a identificação cultural alinhada a Europa.
Ou seja, o termo parece aparecer para destacar tudo aquilo que se relaciona ao imperialismo, ao colonialismo britânico, como destacar, por exemplo, a túnica de seu pai de cor branca, que nada mais é que um item trazido pelos ingleses. O fator da língua também pode ser notado como um forte identificador cultural, perceptivelmente a tensão entre a língua nativa e a colonial é largamente destacada na obra. Em outro trecho Eugene, inclusive força um sotaque inglês ao falar com a professora de Kambili: Papa mudou de sotaque quando respondeu, adotando uma pronúncia britânica, como fazia quando falava com o padre Benedict. Ele se mostrou gracioso e ansioso por agradar, como sempre era com os religiosos, principalmente os religiosos brancos. Gracioso como quando deu o cheque para a reforma da biblioteca do colégio.
Papa explicou que viera apenas ver minha sala, e Irmã Margaret pediu que ele a chamasse se precisasse de alguma coisa. ADICHIE, 2011, p. Que ia dar uma bofetada no rosto de Jaja e que a palma de sua mão ia fazer aquele som, que era como o som de um livro pesado caindo de uma prateleira da biblioteca da escola. Depois ia me esbofetear também, com a tranqüilidade de quem estica o braço para pegar o pimenteiro em cima da mesa. Mas ele disse: - Quero que terminem de comer, vão para seus quartos e rezem por perdão. ADICHIE, 2011, p. A personagem Kambili, de Hibisco Roxo, evidencia a relação do colonialismo com a linguagem em um dos raros momentos em que Eugene, o Papa, fala em igbo: Aquilo era um mau sinal.
Nos ambientes sociais era o exemplo de cristão. Era aquele patriarca que claramente representa o império, em dados momentos “dá a entender” proteção, como destaca bem a narradora quando “Papa a enlaçava (mãe de Kambili) ternamente após eles terem dado as mãos” (p. observação nossa) e, no entanto, no ambiente mais intimo era o seu agressor, de igual modo, o império “demonstrava” um cuidado político com sua colônia, mas, na verdade agredia sua história, cultura e seu povo. Eugene ganhou o titulo de “omelora”, ou seja, “aquele que faz pela comunidade”, evidentemente, pois este distribuía recursos para crianças e para a igreja. Deste modo, Eugene aparentemente demonstra essa manipulação imperial. Papa, era extremamente machista, demonstrando um grande desapreço e violência pelas mulheres da casa.
A mulher completamente conformada e submissa, como se tudo aquilo fosse normal e que tal tradição deveria ser respeitada, independentemente do que ocorresse, ao ponto, do fato, de Eugene ter permanecido com ela, mesmo depois de alguns abortos ser posto como um critério de continuidade de relacionamento e motivo para desconsiderar toda violência sofrida, como bem observasse a seguir: Depois que você nasceu e eu sofri aqueles abortos, o povo da vila começou a falar. Os membros da nossa umunna até mandaram pessoas para falar com seu pai e insistir que ele tivesse filhos com outra mulher. Tantos tinham filhas disponíveis, muitas das quais formadas em universidades e tudo. Elas poderiam ter parido muitos filhos, tomado conta de nossa casa e nos expulsado, como a segunda esposa do senhor Ezenu fez.
Larguei a tigela sobre a mesa um segundo antes de o cinto me atingir nas costas. estalando seu cinto em cima de Mama, de Jaja e de mim, murmurando que o demônio não ia vencer. Não demos mais que dois passos para escapar do cinto de couro que cortava o ar. Então o cinto parou e Papa olhou para o couro em sua mão. Ele franziu o rosto; suas pálpebras desceram. Assim, fica claro que o personagem não era violento à qualquer preço mas, sobretudo, o é, por conta do aspecto religioso, da rigidez e “solidez” social que a religião o impõe, que o faz, em nome de Deus, disciplinar seus filhos e esposa para que eles não se “percam”. A segunda agressão, logo posterior na obra, é engatilhada pelo suposto “pecado” que os irmãos cometeram ao terem dormido na casa de um pagão que era nada mais, nada menos, do que o próprio avô.
Quando Eugene descobre que seu próprio pai está na mesma casa que seus filhos, imediatamente vai busca-los. O castigo ao chegarem em casa é extremamente duro, os irmãos chegam a receber água fervente em seus pés, com a justificativa que estes estavam andando em direção ao pecado, mesmo depois de vê-lo. Outros relatos de violência demonstram casos de chutes que chegaram a levar a inconsciência. Pediu que eu fervesse água para o chá. Colocou a minha água numa tigela e me fez por as mãos nela. Papa estava olhando bem nos meus olhos. Eu não sabia que ele um dia tinha cometido um pecado. – Nunca mais pequei contra o meu corpo de novo. Ele é um pagão - disse eu num impulso. O padre Amadi me encarou brevemente e, antes que ele virasse a cabeça de volta, eu me perguntei se aquela luz em seus olhos significava que estava achando graça de mim.
Por que você diz isso? - perguntou ele. É pecado. Por que é pecado? Olhei atônita para o padre Amadi. A figura de Ifeoma desafiava todo poderio de Eugene, é ela também que apresenta um catolicismo menos opressor, que aceitava inclusive a cultura Igbo. O padre Amadi também aparece como determinante para a mudança de visão de Kambili, em um dos trechos ela afirmara: “Eu me senti em casa, senti que estava no lugar onde deveria estar há muito tempo” (p. mais a frente o mesmo padre responde: “Você pode fazer qualquer coisa” (p. É relatado ainda toda forma descontraída e leve que eles passaram a viver depois de estarem cotidianamente com sua tia, onde risos e diálogos são relatados. Analisar Kambili e outros personagens em Hibisco Roxo permite rever a representação do africano colonizado.
Por um lado a demonstração da colonização, por outro do colonizado que aprendeu a conviver com as questões que lhe foi impostas pelo processo colonizador. Eugene como já deixamos evidente aqui representa aquele colonizado que aceitou e assimilou a cultura do império. O próprio envenenamento de seu pai, por ação de sua mãe é uma representação da libertação da Nigéria das mãos britânicas. Por fim, a planta “Hibisco Roxo” que intitula o livro nos leva a refletir sobre toda essa intervenção que promovemos nos meios que vivemos, trata-se então de uma flor criada artificialmente e portanto com a intervenção humana, alterando o curso natural assim como toda manipulação colonialista. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. ª ed. Maringá: Eduem, 2005.
ROBINSON, Ronald; GALLAGHER, John; DENNY, Alice. Africa and the Victorians: The oficial mind of imperialism. London: Macmillan & CO LTD, 1965.
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