TRANSFERÊNCIA: UMA REFLEXÃO NA ÓTICA DE FREUD VERSUS MELANIE KLEIN

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

De modo que, foi possível identificar não apenas um, mas várias configurações acerca do mecanismo transferencial e a maneira como esse fenômeno se formula no inconsciente do sujeito, e como se delineia a relação analisando e analisado diante da construção inevitável da conjuntura transferencial dentro de um processo analítico. Dentre diversos fatores, sobretudo, foi possível identificar convergências e divergências entre o entendimento de Freud e Klein, sobre a transferência, uma vez que, os mecanismos de relação do sujeito com o objeto, parte fundamental para compreensão do mecanismo transferencial, parte de reflexões apoiadas em práticas distintas entre os dois autores. Assim, esse artigo se apoia em uma revisão bibliográfica, a partir da analise de material elaborado mais recentemente no contexto da pesquisa científica nacional.

Se configurando assim, como material salutar para ampliar o conhecimento e promover reflexões, especialmente, à comunidade psicanalítica. Palavras-Chave: Transferência. Melanie Klein. Psychoanalysis. INTRODUÇÃO Atualmente quando pensamos no conceito de transferência, em termos de estudos aplicados a relação humana, logo associamos ao entendimento psicanalítico que prevê uma relação de projeção. De modo que, Zimmerman (2007) reforça esse pensamento quando afirma que a transferência, junto aos conceitos de resistência e interpretação, se configura como tripé de fundamentação para a prática psicanalítica. O termo transferência vem da etimologia das palavras de origem latina trans que está relacionado à ideia de “passar por” e feros que diz respeito à noção de “conduzir”. De modo que, foi possível observar convergências e divergências perspectivas entre os dois autores, sendo estes, aforismos que influenciam as práticas psicanalíticas até os dias atuais.

METODOLOGIA Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo exploratório de caráter qualitativo, utilizando como método a Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS) em artigos publicados entre os anos de 2011 a 2019. Esse método científico possibilita buscar e analisar artigos de uma determinada área da ciência, visto que esse tipo de pesquisa nos permite ter uma visão mais ampliada do tema, confrontar ideias ou concordância existentes entre os autores (Gil, 2008). Para Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, no qual é elaborada através de matérias documentais que se fundamenta das contribuições de diversos autores sobre determinado assunto. Para a construção deste trabalho, foi delimitado o objeto de estudo e posteriormente feito uma pesquisa exploratória, cuja finalidade foi obter uma maior aproximação do tema por meio da leitura de textos, artigos, livros e um conjunto de dados estatísticos.

BOCCHI, J; MENENDEZ, J. G e OLIVEIRA, L. E. P. BVS Das relações iniciais entre interpretação e transferência no desenvolvimento do método Freudiano COSTA e SILVA, C. O. SCIELO BVS BVS Total 6 Fonte: Autora (2020) TRANSFERÊNCIA NUMA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA Transferência Freudiana A ideia conceitual de transferência, abordada na teoria Freudiana, pode ser compreendida como transferências a partir de três elucubrações, que são elas: a multiplicidade de teorias, técnicas e práticas que podem ser associadas ao conceito; pelo fato de que é uma relação dicotômica, que pode ser expressa tanto pela perspectiva do analisado, quanto pelo analista; e em última instância, por que o entendimento acerca da transferência no campo analítico é consideravelmente ora convergente, ora divergente por analistas (ZIMMERMAN, 2007).

Na proposição Freudiana, a transferência é concebida como sendo um mecanismo de negação, onde o analisado transfere emoções para a figura estereotípica do analista. Posto que, segundo Freud (2012), em seu processo de desenvolvimento o sujeito teve seus impulsos libidinais retidos, por algum motivo, o que o conduziu para uma retração desses impulsos a níveis inconscientes. Assim, a definição de Freud acerca de transferência se deu inicialmente da seguinte maneira: Que são transferências? São novas edições ou fac-símiles dos impulsos e fantasias que são despertados e tornados conscientes durante o andamento da análise. Contudo, na compreensão do pai da psicanálise, existem questões de relevante reflexão para o entendimento do mecanismo transferencial. Dito isto, o autor afirma que a transferência é o mecanismo mais poderoso do tratamento, todavia não existe clareza acerca do por que; e o outro ponto é sobre o autor afirmar que transferência é potencialmente mais presente em sujeitos em processo de análise (FREUD, 1912).

De modo que, na tentativa de sanar seus próprios questionamentos, Prado (2014) afirma que Freud formulou concepções acerca das origens transferencial, está mais particularmente ligada á neurose do sujeito, do que propriamente à psicanálise, e que no que tange a ser o mecanismo de maior resistência, este se dá principalmente por ser no processo de análise que o inconsciente da libido é potencialmente explorada, tornando-a mais acessível à consciência. As elaborações feitas por Freud conduz para a reflexão, de que o autor concebeu várias compreensões ao longo de sua teoria acerca do mecanismo transferencial. Nesse aspecto, Zimmerman (2007) discorre sobre postulados Freudianos nessa seara. Assim, Freud concluiu que “a transferência, destinada a constituir o maior obstáculo à psicanálise, converte-se em sua mais poderosa aliada quando se consegue detectá-la a cada surgimento e traduzi-la para o paciente” (FREUD, 1996/1905 [1901], p.

apud FERREIRA e CARRIJO, 2016, p. De maneira que, o delineamento da mudança de foco técnico da hipnose para a associação livre, é atribuída por Costa e Silva (2014), também a compreensão que Freud desenvolveu quanto ao mecanismo transferencial e de resistência, uma vez que, O percurso entre a teoria do trauma e a teoria da fantasia, marcaria agora a transição entre: o referencial interpretativo, explicativo, que enfatizava a constituição do momento traumático, e o referencial interpretativo transferencial, que tinha no fenômeno da transferência o seu instrumento técnico fundamental; e aquele objetivo inicial de alcance da totalidade do material psíquico inacessível à consciência – mediante a transformação da força pulsional em símbolo de linguagem - e as posteriores reflexões acerca dos impasses, limites e impossibilidades que permeiam a práxis psicanalítica (COSTA e SILVA, 2014, p.

Assim, Freud postulou um legado imensurável para a prática psicanalítica, que posteriormente ao longo dos anos foi reinterpretada por outros autores, dentre eles sua contemporânea Melanie Klein. Transferência Kleniana De modo conceitual, Melanie Klein debruçou seus estudos a partir de sua prática analítica com crianças. Em suas próprias palavras a autora define essa fase da seguinte maneira. A ansiedade depressiva é intensificada, pois o bebê sente que destruiu ou está destruindo um objeto inteiro com sua voracidade e agressão incontroláveis. Além do mais, devido à síntese crescente de suas emoções, ele agora sente que esses impulsos destrutivos são dirigidos contra uma pessoa amada. Processos semelhantes se dão em relação ao pai e a outros membros da família (KLEIN, 1991, p.

Não obstante, Klein (1991) ainda salienta que, é nessa fase que se formula o complexo de Édipo, e que em última instância, ele potencializa essa fase por sua forte presença de ansiedade e culpa devido à troca dos impulsos do seio em direção ao pênis, onde os impulsos libidinais se encaminham da fase oral para genital. apud BOCCI; MENENDES E OLIVEIRA, 2011, p. “A transferência é um fenômeno universal da mente humana, é ela que decide o sucesso de toda influência médica, e de fato domina a totalidade das relações de cada pessoa ao seu meio humano” em paralelo a afirmação de Klein (1991, p. quando diz “a transferência opera ao longo de toda a vida e influencia todas as relações humanas”. Dentro de todas as formulações elaboradas a respeito do mecanismo transferencial, compreendeu-se que enquanto fenômeno ela se expressava de maneiras distintas, porém correlatas, assim atualmente se tem conhecimento sobre neurose de transferência, transferência psicótica, transferência primária, transferência positiva, transferência negativa, transferência especular, transferência idealizadora, transferência erótica e erotizada, transferência perversa e transferência de impasse (ZIMMERMAN, 2007).

Contudo, ao passo que ambos foram se apropriando do conceito inicial e validando ele dentro de suas práticas clínicas e estudos ora de Freud com histéricas e psicóticos, ora de Klein com crianças, os autores foram paulatinamente delineando compreensões muito particulares acerca desse mecanismo transferencial. Nesse ponto, Costa e Silva (2014) reconhecem a aproximação entre Freud e Klein, por ambos reconhecerem a transferência como uma resistência, que não obstante, se relaciona com material recalcado e assim a “A transferência representa, assim, tanto aspectos do mecanismo da resistência quanto à marca indelével de elementos infantis presentes em um conflito inconsciente” (COSTA e SILVA, 2014, p 711). Atualmente, a clínica psicanalítica se apropriou de todo arcabouço teórico, legado de autores com Freud e Melanie Klein.

De modo que, na compreensão da transferência para a pratica clinica se entende que esta é um conjunto de estruturas mentais que se repetem; são ao mesmo tempo impulso e fantasias; se estabelecem como modo de vida erótico, que se atualizam diante de condições externas favoráveis para tal, tal qual quando se representam por meio do objeto amoroso, que por sua vez substituem a figura do objeto anterior que lhe era significativo e, sobretudo, que tudo acontece de maneira inconsciente (GUIRADO, 2015). Assim, Rabelo, Danziato e Carvalho (2017, p. estabelecem o conceito de transferência para a prática clínica como “uma via de isolar, distinguir e filtrar os efeitos da sugestão na clínica psicanalítica, além de esclarecer os meios que faz o trabalho da análise avançar”.

Ágora, v. n. p. BOCCHI, J; MENENDEZ, J. G e OLIVEIRA, L. A. B. Das relações iniciais entre interpretação e transferência no desenvolvimento do método Freudiano. Psicologia Ciência e Profissão, v. n. Rio de Janeiro: Imago, 1969, Vol. XII, pp. GIL, A. C. Método e técnicas de pesquisa social. Rio de Janeiro: Imago, 1991. PRADO, A. C. A. L. O. Os fundamentos da técnica da transferência de 1895 a 1905. Psicologia Ciência e profissão, v. n. Pp.

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