Transcrição de entrevistas gravadas com áudio
Tipo de documento:Estudo de Caso
Área de estudo:Psicologia
Entrevistador: 5 anos aqui. E o senhor mora com quem? Entrevistado: Eu e minha mulher. Entrevistador: Você e a sua esposa? Entrevistado: É. Entrevistador: Somente vocês dois? Entrevistado: Sim. Entrevistador: Qual o seu nível de escolaridade? Entrevistado: Não tenho estudo, só sei assinar o nome. Entrevistado: Aí eu vim de lá tinha 20 anos. Entrevistador: O sr. morou em outro bairro aqui em Chapecó ou sempre morou aqui? Entrevistado: Sempre morei aqui. Entrevistador: No que o sr. trabalha hoje? Entrevistado: Com reciclagem. Entrevistador: E porque motivo o sr. quis vir morar aqui? Entrevistado: Eu achei melhor, porque na época lá “os veios” venderam as terrinhas, eu tinha um alqueire e vendi também e daí vim pra cá. Entrevistador: Tinha algum motivo específico pra escolher aqui. Entrevistado: Não, eu vim porque comecei a trabalhar na Sadia, trabalhei 10 anos lá e depois eu trabalhei no Frigorifico Chapecó também por 9 anos.
Entrevistador: Trabalhou bastante tempo lá. Entrevistador: E como o sr. lida com isso? Entrevistado De vez em quando eu brigo com eles aí, chamo a polícia, porque eles roubam. Entrevistador: A polícia vem aqui? Entrevistado: Vem sim. Entrevistador: E daí você vê cada coisa né? Entrevistado Tem até um amigo que me pediu um pé de cabra emprestado pra desmanchar umas madeiras e ele foi e vendeu pra fumar pedra. No outro dia eu pedi pra ele, ele disse que a polícia bateu e levou, deixei quieto, não vou ficar discutindo por um pedaço de madeira, de um pé de cabra. Entrevistador: E o que você menos gosta aqui? Entrevistado O que eu menos gosto é desse pessoal aí do lado, que leva essa vida, eles não faz nada, não termina nada, até com essa droga que eles consomem é difícil deles terminar.
Entrevistador: E o que será que podiam fazer pra melhorar isso? Entrevistado: Eita deus, às vezes eles prendem as pessoas, prendem as drogas, mas sempre tem né. Entrevistador: Parece que não resolve né? Entrevistado: Não resolve e esse que vende também não tem muita culpa né? Por que eu vou lá comprar se eu quero ir né, senão não vou né, afinal eles estão lá pra vender né? Entrevistador: E a pessoa precisa né? É uma coisa que ela não consegue ficar sem o vício Entrevistado: Pois é, não consegue. É complicado porque daí eles roubam, eles matam, eles apanham. Entrevistador: É, fazem de tudo. participa de reunião aqui da comunidade? Entrevistado: Não. Entrevistador: Mas tem aqui no bairro né? Entrevistado Ah, se eu fosse querer ir tem sim.
Entrevistador: O sr. acha que é importante participar disso? Entrevistado Até que por um lado seria né. Entrevistador: Às vezes eles fazem pras pessoas que usam drogas, problema com alcoolismo, as reuniões comunitárias, as assembleias. te faço a pergunta e você mentiu, dali a pouco eu faço umas perguntas ali e de repente. Entrevistador: Tu descobre. Entrevistado: E descobre na conversa, se o cara mente, qual é a ideia do cara se é bom ou ruim. Nós estávamos falando sobre firma, tipo assim, o cara vai trabalhar numa firma e geralmente as firmas tem um psicólogo. Ai ele (o psicólogo) chega e diz “o que te leva a trabalhar na empresa, fulano de tal?” E eles dizem “não, porque isso. Entrevistado: Na letra. na letra não tem o conhecimento.
Eu assim gosto de conversar com a pessoa, eu converso bastante, às vezes ele conta ali uma coisa, depois ele muda. Entrevistador: Você já percebe. Entrevistado: Os policiais também são inteligentes, os policiais, juízes são inteligentes, não sei se vocês passaram por isso aí ou alguma coisa parecida. na verdade eles perguntam assim. o fulano se jogou do prédio e ele viu, o que você estava fazendo? Daí alguém com uma máquina deve escrever, cálculo eu. Entrevistador: Sim. Entrevistado: Daí deixa ele 1 ano, 2, 6 meses. sei lá. Entrevistador: É, alguma coisa tá errada né. Entrevistado: Por que eles pesquisam, trabalham com pesquisa. O psicólogo, ele é bem inteligente. Eu cálculo eu que, vamos supor você quer compra um revólver porteado, uma pistola.
O que que te leva a usar essa arma? Entrevistador: Por que tu quer comprar uma né. Entrevistado: Eu conheço gente que trabalha de enfermeiro e enfermeira né. Que sabe que já teve até melhor do que eu, depois de ser enfermeiro ou enfermeira, paga um tanto por mês, 6 meses, 1 ano quase, pra daí ganhar uns R$400,00/R$500,00 a mais , tipo assim o cara ganha R$2. pra agora ganhar uns R$3. R$3. mas pra isso tem que pagar eu não sei uns 5 ou 6 meses, quase 1 ano em um curso diferente. Porque é bem complicado hoje em dia, tem gente que quer ser motorista, aí depois pega uma carreta e ser motorista é perigoso, não é fácil. Depois a pessoa se arrepende, então que nem assim. tem que analisar bem o que tu quer.
Mas é bom porque tu. tu gosta de conversar com as pessoas, você pega das pessoas. daí ficou bom? se gostou? b. Ah, aqui é bom abaixar mais um pouco, aqui ficou meio alto. Aí vamos lá deixar um pouco mais baixo. Gostou? Gostei. Às vezes tem uns que nem paga a diferença, cortou, beleza, e quanto deu? Aí cobra normal, não cobra a mais, o importante é ele voltar. Entrevistador: Porque tu nunca sabe como vai ser amanhã né? Entrevistado: Isso, você é inteligente. Por que se aí o cara já gastar e fazer dívida. Eu expliquei pro rapaz, se tu pagasse aluguel de uma peça assim, pagava de R$500,00 a R$700,00 reais, isso baratinho. Aqui tu não paga água, tu não paga luz, não paga nada.
Ele é meu genro, casado com a minha filha, se tu fosse pagar o aluguel, tu não tirava pro aluguel. Que um relógio? Tem. Sempre tem uns guardados, um negócio limpo, mas tem. Entrevistador: Sim. Entrevistado: O cara ofereceu uma bola de ouro, mas tu não sabe de onde é, não compra, às vezes é lampiada, aí vai só incomodar. Daí eu expliquei pra ele, então tu quer uma dúzia de ovo? Tem. Entrevistador: Faz um negócio mais pesado, faz tudo né? Entrevistado: Faz tudo, se precisar fazer um buraco faz, e tem pessoas já na juventude aí que ele já não consegue fazer. Entrevistador: Vai precisar capinar um lote ali e com 15 minutos já tá com a mão tudo calejada. Entrevistado: Verdade, não consegue.
Então são coisas assim que. tudo padrão. Já ganhei brinde assim, mas a pessoa deu porque quis, pegou cem conto e meu deu, uma vez eu ganhei quando eu tinha barbearia lá no centro eu ganhei 2 banquinhos assim, ganhei uma cadeira de barbeiro, ganhei. o cara me montou uma barbearia. Ele vendeu um terreno no centro e ele disse o que tu pegar a mais de tanto é teu e. o carinha, o Marcão era rico, passou lá e queria comprar. E viu que tinha uma plaquinha, ele ia cortar o cabelo e a barba e ele viu que tinha uma plaquinha assim “tratar aqui” indicando, ai ele veio lá, eu ajeitei, ele vendeu e o cara me deu uma barbearia completa, me deu cadeira, tesoura, banco. Entrevistado: É, na sorte.
E o cara que tiver dinheiro e comprar casa, terreno por um tanto pegar na barbada, não tiver tempo pra correr em volta, daí ele pegar a pessoa que quer comprar e ele vender bem. Um carro se ele for inteligente ele vende por R$45. mas aí é bem reformadinho, com os negocinhos tudo novo, alarme. só que tem que pegar a pessoa certa, pegar a pessoa que tá querendo e não acha. eu comento com o cara que assim a gente já é mais maduro, uma vez, de repente não é do seu tempo. se tu tivesse dinheiro e você comprasse telefone, telefone assim esse de casa, que toca assim “tru. tru. ” aqueles de linha. Entrevistador: Sim. Entrevistado: Como eu te falei, aqui faltou uns centavinhos para R$500,00 de luz e água, mais R$100,00 de luz, R$200,00 de luz, R$100,00 de água, R$150,00 de água, R$300,00 de luz, R$400,00 de luz, só olhar no computador o dinheiro que entra assim.
Isso não é contando o mercado que são R$5. R$6. R$8. o mercado é uma loucura daí a pessoa não vence, não conta o dinheiro que entra. Entrevistador: Tu vê isso direto? Entrevistada: Direto. Entrevistador: E como que é isso? Entrevistada: É bem punk assim, porque a gente se coloca no lugar da pessoa, porque muitos têm pais separados, tem uma história difícil. Então a gente se coloca no lugar da pessoa, mas é bem triste. Por exemplo, não faz nem 1 mês que um rapaz (inint) [00:01:18] a [00:01:20] deu nas notícias e eu estudei com ele. Quando a gente tinha 10 anos a gente era amigo e a gente vê uma notícia dessas, sabe que é uma pessoa que a gente conhece. Entrevistador: As pessoas se ajudam? Entrevistada: Se ajudam.
Entrevistador: A comunidade é bem unida então. E o que você menos gosta daqui? Entrevistada: Acho que é a questão das drogas. Entrevistador: O que você poderia fazer pra gostar mais daqui? Entrevistada: Eu acho que precisaria de um. de um. Entrevistada: Aqui? Entrevistador: As escolas. Entrevistada: Ah, tá. Daqui, bom. eu estou ali no Rita (não tenho certeza do nome da escola) da 1° ao 9°. Entrevistador: E os professores? Entrevistada: Os professores são ótimos. Você acha que é importante talvez participar dos eventos daqui sobre as drogas, sobre a violência, sobre a diversidade? Entrevistada: Sim, é importante. Entrevistador: Você não sabe se tem isso aqui, se existem esses debates aqui? Entrevistada: Ah, eu não sei, porque eu não vou, mas é importante sim, se houver. Entrevistador: Você tem contato com outras pessoas que moram em outros bairros? Entrevistada: Sim.
Entrevistador: E como que é, como você conversa com essas pessoas? Entrevistada: Na escola né, eu estudei com pessoas que moram aqui, que moram em outros bairros e tem também o (inint) [00:05:11] a [00:05:14] que é pertinho, tem meu sogro, tem minha avó. Entrevistador Sim, certo. Entrevistador: Tu estudou até que série? Entrevistado: Eu fiz até a 5°. Entrevistador: Qual a sua idade? Entrevistado: 51 anos. Entrevistador: Tu morou em outros bairros sem ser esse? Entrevistado: Morei, me criei no Presidente Médici. Entrevistador: E como era morar lá? Entrevistado: Era bom de morar lá, eu me criei lá, enchi a barriga de pinga lá. Me criei no tempo que era careiro lá, nas antigas. Só alegria, não tem outro lugar, fazer o que né? Entrevistador: E o que você mais gosta daqui? Entrevistado: Tomar chimarrão, isso é o meu vício, tomo aqui, tomo em casa.
Entrevistador: Tu se dá bem com os vizinhos? Entrevistado: Tem vizinho lá perto da minha casa que não gosta da minha cara e eu não vou com a cara deles, eles ficam na deles e eu fico na minha. Não me incomodando, eu deixo eles quieto, na verdade eu chamo eles de “come terra”, pega as terras que nem é deles e saí vendendo. Entrevistador: E o que tu menos gosta daqui? Entrevistado: Eu fico nervoso quando não tem serviço né cara, daí eu fico doido, preocupado porque tem que arrumar um servicinho, não pode ficar sem trabalhar não. Mas eu gosto de tudo que tem aqui, me criei em Chapecó na verdade, conheço quase tudo aqui. Entrevistador: Meio quebrado, mas tem que ir.
Entrevistado: É tudo sofrido, não tem serviço que o cara diz que é fácil. Entrevistador: participa de alguma reunião aqui da comunidade? Entrevistado: Aqui no bairro tinha que botar umas caixas de boche (não tenho certeza se é essa mesmo a palavra), não tem caixa de boche aqui no bairro. Eu vou de vez em quando na igreja, de vez em quando, não é sempre não. Entrevistador: Você tem contato com pessoas que moram em outro bairro? Entrevistado: Tem uns parentes que moram em outro lugar. Entrevistador: Tu gosta daqui? Entrevistado: Ah, se eu tivesse condições de ir para um outro lugar, todo mundo queria ir, mas como não tem, estamos aí né. Eu queria morar lá no centro, mas eu não posso. Entrevistador: E por que você acha que lá pode ser melhor? Entrevistado: Melhor não é, mas eu digo, pra mim o cara sempre quer o melhor, pra mim ou pra qualquer um, você está estudando pro seu melhor né? Entrevistador: Sim.
Entrevistado: Mas não vai mudar, tem gente que mora aqui e é feliz, mas tem gente que mora lá e não é feliz, a felicidade se dá aqui e lá. Hoje em dia o dinheiro não leva a nada, é bom você ter, mas a felicidade não se compra com dinheiro. Entrevistador: Por que aí vem os políticos querer prometer coisas né? Entrevistado: É. Entrevistador: Que nunca cumpre também. Entrevistado: Nunca cumpre. Entrevistador: Você tem acesso a serviços públicos aqui, como saúde? Entrevistado: Tem o posto, eu ajudei a construir aquele posto, trabalhei pra firma, mas só fui lá uma vez Entrevistador: Então tu não tem muito conhecimento de como funciona lá? Entrevistado: Não, mas falando nisso tenho até que marcar uma consulta, tô com uma dor nas costas que faz tempo que tá incomodando.
Entrevistador: E pelo o que as pessoas comentam, você sabe se é bom se, não é? Entrevistado: Pelo o que eu sei não é tão bom. Entrevistador: Tu pensa em algum projeto pra melhorar aqui? Entrevistado: Não sei, além dessa parte de rua. Pensar o cara pensa, mas, como dizem a união. se não fizer a união “cê” não faz nada. Entrevistador: Você acha então que as pessoas aqui tinham que ser mais unidas? E o que poderia ser feito para realizar isso? Entrevistado: Tem que pegar com Deus, orar mais, mas aqui o povo é bem desunido.
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