POR UMA EDUCAÇÃO ROMÂNTICA

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Pedagogia

Documento 1

Ao analisar essa tendência, somos confrontados com a forma como a pré-escola foi concebida ao longo da história no mundo ocidental, bem como pelos meios, métodos, recursos e concepções utilizados na educação da criança pequena. Num primeiro momento, apresentamos as características da concepção romântica da educação, onde a pré-escola é um jardim, as crianças são as flores ou sementes, a professora é a jardineira e a educação é o motor do desenvolvimento natural. Depois, discorreremos acerca da necessidade de ser respeitar as individualidades dos alunos para possam desenvolver sua criatividade, subjetividade e autonomia. Por fim, tiraremos nossas conclusões acerca da concepção romântica e sua aplicabilidade. INTRODUÇÃO A concepção romântica da educação surgiu em meados do século XVIII, numa época de intensas transformações da sociedade, fato que levou ao questionamento da escola tradicional, que entra em crise.

Por esse motivo, as atividades possuem um caráter lúdico, tendo como horizonte o desenvolvimento natural da criança, que somente virá a lume com a ação da jardineira, que cuida para que a sementinha desabroche. O currículo da educação romântica primava por atividades simples, desenvolvidas no dia a dia da criança, preferencialmente, em contato com a natureza. Além disso, o currículo diferenciava entre atividades a serem desenvolvidas (brinquedos cantados, histórias, artes, desenho, recorte e colagem, etc. e recursos (prendas, ocupações e atividades maternais). Portanto, a tendência romântica possui um percurso que parte de uma concepção da criança como “sementinha”, passando pela pré-escola entendida como “jardim” e pela professora como “jardineira” responsável por cuidar para que a “plantinha” se desenvolva naturalmente.

Ao escolher trabalhar com essas técnicas, a segunda professora entrevistada estimula a criação de um ambiente que tem no exercício da liberdade seu ponto forte. Os alunos aprendem um conhecimento vinculado à sua própria vida, pois representam aquilo que lhes afeta. A imaginação precisa ser regada, cultivada para poder se desenvolver. Aliado ao ambiente, a relação estabelecida com o educador pode estimular o desenvolvimento e a curiosidade, conforme afirmou a primeira professora entrevistada: as crianças sentem-se confortáveis para fazer os questionamentos acerca dos conteúdos abordados em sala de aula, pois o professor é considerado aberto a tirar dúvidas, por mais simples que sejam. Como as dúvidas muitas das vezes são ignoradas, o conhecimento deixa de ser ampliado e o desenvolvimento escolar pode ser prejudicado.

Ao se planejar o futuro da criança, o adulto retira-lhe seu presente, embrulhando-a com sonhos alheios, impedindo a realização dos sonhos da criança, impedindo a vivência da sua infância; a criança não é um futuro adulto. Respeitar a individualidade da criança consiste em respeitar o desenvolvimento natural da criança. De acordo com a concepção romântica da educação, o desenvolvimento do indivíduo precisa ser livre e espontâneo. Por esse motivo, as brincadeiras infantis permitem o autoconhecimento da criança, pois “o brinquedo é uma atividade inútil” para a sociedade utilitarista, afirma Rubem Alves (1994, p. porém, ao brincar a criança imagina, cria e expande seu universo. E ao aprender a brincar com coisas que não existem aprendeu a pensar!” (ALVES, 1994, p.

De forma semelhante, brincar com as palavras estimula a imaginação: Todas as crianças já tiveram acesso a pelo menos uma obra literária, seja de forma oral ou escrita. A abordagem literária faz toda a diferença na educação. Uma simples leitura de um conto de fadas, por exemplo, é capaz de estimular a interpretação e a criatividade. Um exemplo bem simples dessa ação consiste em ler um conto infantil, interpretá-lo e, em seguida, pedir às crianças que elaborem (mesmo que oralmente) um outro final para o conto lido. Há a necessidade de ser regada na medida certa para um bom crescimento. Na pré-escola, a afetividade da professora desempenha papel central. Diante do questionamento se para estimular as crianças (alunos) aos estudos é necessário construir uma relação afetiva, as professoras entrevistadas responderam positivamente: “sim, com certeza.

É necessário fazer com que o aluno se sinta à vontade, onde o ambiente seja familiar para ele se sentir acolhido, seguro e cativar esse aluno, saber conquistar este aluno, apesar de ainda ter algumas relações difíceis” (Professora 02). A afetividade é interpretada como imprescindível devido à sua capacidade de criar ambientes de confiança mútua: Sim, a relação afetiva é fundamental. Vicejam e florescem em nichos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e – quem sabe? – necessárias” (ALVES, 1980, p. Lentamente, seu lugar vai sendo tomado pelos professores, servidores da lógica do mercado, interessado apenas em metas e produtividade, tornando os alunos máquinas facilmente programadas. Nesse cenário, os alunos esquecem sua própria vocação. Príncipes se tornam sapos, construindo para si uma vida condizente com essa nova situação, adquirindo os conhecimentos necessários para ser um bom sapo, frequentando a escola e, “quanto mais aprendia as coisas de sapo, mais sapo ficava.

E quanto mais aprendia a ser sapo, mais se esquecia de que um dia fora príncipe” (ALVES, 1994, p. Por isso proliferam professores. Professores possuem uma profissão, não uma vocação. E é justamente isso que torna os professores descartáveis: são uma função, não uma identidade. A sociedade se transformou com o advento do utilitarismo: “a pessoa passou a ser definida pela sua produção: a identidade é engolida pela função. E isto se tornou tão arraigado que, quando alguém nos pergunta o que somos, respondemos inevitavelmente dizendo o que fazemos” (ALVES, 1980, p. Ao lado da inteligência, o jardim de infância precisa desenvolver a sensibilidade da criança, sua capacidade de sonhar e sua curiosidade. “Quando a criança lê, ela imagina, cria o personagem na mente.

Uso bastantes livros para ajudar na criatividade da mente” (Professora 02). As “sementinhas” se desenvolvem em um ambiente adequado, sendo regadas pela jardineira, com diálogo e compreensão. Quando a lógica gerencial adentra no espaço educacional, a profissionalização impede justamente o reconhecimento das especificidades de cada aluno. Mas ela vai bem além disso. Estudar artes na escola é um passo essencial na busca pela liberdade de expressão e diversidade cultural. Tirá-la do currículo escolar é abrir mão de proporcionar aos alunos a compreensão de que o diferente é tão importante quanto o que já conhecemos. Se o país busca tanto o respeito à diversidade, por que abdicar dos conhecimentos importantes que a disciplina oferece? É, entre outras palavras, lamentável. Professora 01) Esperançoso, Rubem Alves não desanima diante de tantas dificuldades apresentadas ao educador.

O imperativo da nota, como demonstrado, em uma tirinha de jornal, por Charlie Brown a um amigo: a criança vai à escola para tirar boas notas para passar de ano; depois vai para a universidade para tirar boas notas; quando adulto, seus filhos vão à escola para tirar boas notas, e assim sucessivamente, em um círculo vicioso. Trata-se de um conhecimento morto, sem conexão com a vida das crianças. Rubem Alves (1994, p. entende que “Charlie Brown enuncia a lei da educação: porque é assim mesmo que as coisas acontecem. E, se o sorriso aparece, e porque a gente se dá conta, repentinamente, da máquina absurda pela qual nossas crianças e jovens são forçados a passar, em nome da educação”. perder aquilo que as tornava únicas.

A máquina coisifica a vaca, retirando seus sonhos e desejos, produzindo amnésia. O que restou foi sua utilidade social. Rubem Alves faz uma crítica ao sistema educacional, com seus rituais que homogeneízam nossas crianças. Meditei sobre o destino das vacas. Como as vacas, elas têm de passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, as redes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas estão transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornar socialmente úteis (ALVES, 1994, p. Entretanto, o ser humano é essencialmente um ser desejante: “uma utopia, uma esperança, um paraíso futuro, são discursos que nascem do amor e provocam o amor. e “o amor é o pai da inteligência. Mas sem amor todo o conhecimento permanece adormecido, inerte, impotente” (ALVES, 1994, p.

A ausência sentida pelo sapo não podia ser expressa com palavras; buscava fora de si o que lhe faltava, porém nele encontrava-se adormecido aquele por que tanto ansiava: libertar-se do feitiço, relembrando de si. “Mas um dia veio o beijo de amor – e ele se lembrou. O feitiço foi quebrado” (ALVES, 1994, p. Professora 01) As crianças querem brincar, imaginar, criar. “As crianças são seres oníricos, seus pensamentos têm asas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar” (ALVES, 1994, p. Novamente recorremos às memórias de Rubem Alves relacionadas às brincadeiras de sua neta, pois exemplificam muito bem essa questão. As bolinhas de gude são largadas em favor de outros brinquedos. Através de jogos, a criança faz um exercício de interiorização e de exteriorização, construindo uma autonomia, uma autoimagem.

Na pré-escola, a professora precisa estar atenta para as transformações no interesse da criança, disponibilizando, sempre que possível, brinquedos compatíveis com seu nível de curiosidade e imaginação. É importante assinalar que a criança cria um sentido distinto para o brinquedo durante a brincadeira, uma espécie de ruptura imaginária, que ocorre apenas durante a brincadeira. Uma ervilha, por exemplo, pode ser uma estrela durante a brincadeira, pois a realidade lúdica não está limitada pelas formas e padrões socialmente aceitos. Para fins de comunicação informal utilizamos a linguagem coloquial e para os registros formais, utilizamos a norma gramatical. Esta noção deve ser bem explícita pelos professores a fim de evitar que os alunos considerem uma outra errada, afinal, não há erros nas variações de nossa língua.

Professora 01) Quando a criança está aprendendo a ler, sua motivação está no maravilhamento para com o que está no livro. Não se trata das letras ou sílabas. O que a deixa maravilhada é a estória, pois ela sempre busca, através da imaginação, ver a totalidade, semelhantemente a quem ouvindo uma música presta atenção não às notas individualmente, mas à melodia como um todo. Em relação ao papel da jardineira, a concepção romântica da educação entende que a arte de educar é anterior à função da professora. Ser educadora é possuir uma vocação, criar pontes para conectar-se com os alunos. A afetividade desperta a curiosidade e cria um ambiente saudável e propício a descobertas. Um olhar gentil, uma fala acolhedora.

Tudo contribui para a criança ver a si como indivíduo que possui valor. Essa autonomia vai sendo construída durante as brincadeiras, quando a imaginação e a criatividade entram em cena. Novamente, um ambiente acolhedor é imprescindível, pois somente assim a criança se sentirá segura para experimentar, para tentar e para errar sem medo. Antes mesmo de pensar, o ser humano deseja. Na brincadeira, a criança experimenta em sua imaginação aquilo que a realidade não lhe permite. Com isso, sua autonomia vai sendo construída em relação ao mundo que a circula. São Paulo: Ars Poética, 1994. ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Editores Associados/Cortez, 1980.

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