O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ESTRANGEIROS: IMPLICAÇÕES DA PLURALIDADE DE CONCEITOS/TERMINOLOGIAS

Tipo de documento:Projeto

Área de estudo:Linguística

Documento 1

Nesse particular, esse projeto busca entender se há razões para a existência de tantas denominações. Por isso, faz-se necessário saber se as nomenclaturas possuem abordagens e/ou metodologias diferentes, com vistas a entender a opção por adotá-las, bem como se elas se referem a algumas especificidades. Para isso, todas as terminologias encontradas serão contextualizadas e conceituadas. Desse modo, esse projeto de pós-doutoramento pretende identificar as características e diferenciais de cada terminologia adotada. Para realizar essa identificação, pretende-se pesquisar em cursos de Letras, a oferta do português com o objetivo de ensinar estrangeiros em seus currículos e ou ementas, para entender o porquê de tantas denominações para o que se pode considerar a mesma disciplina. – Comparar ementas e/ou planejamentos curriculares das diversas terminologias usadas na disciplina português para estrangeiros para encontrar o diferencial de usar uma ou outra.

– Analisar experiências na sala de aula com a intenção de perceber em qual ou quais terminologias elas se enquadram, bem como o grau de adesão do aprendiz. PROBLEMATICA E JUSTIFICATIVA O ensino de português para estrangeiros tem pouca produção científica e didática voltadas para a prática pedagógica, talvez, pela falta de consistência de políticas linguísticas e educacionais voltadas para a área. Podemos mencionar, das poucas iniciativas que existem, as criadas pelo Instituto Camões, de Portugal, e a dos leitorados do ensino de português no estrangeiro, do Itamaraty, do lado brasileiro. Essas são iniciativas que não recobrem as demandas por ensino de português. Nesse particular, o que se pretende é encontrar uma única terminologia que abranja as necessidades dos estudantes.

Uma das hipóteses que podem gerar tantas denominações pode estar relacionada à interculturalidade no ensino de PLE, evidenciando a necessidade de enfatizar algum tipo de demanda que inclui o compartilhamento de culturas, visto que o ensino de língua está associado os seus usos socioculturais da língua. Para ensinar profissionalmente PLE a exigência primeira e mais abrangente é a de uma formação integral na área da linguagem tradicionalmente chamada de Letras* no Brasil. Essa exigência básica não é suficiente quando os licenciados não obtêm uma formação específica no ensino de uma LE. Ela é menos suficiente ainda quando os formandos não contam com a inclusão em seus currículos de disciplina específica preparatória para o ensino de PLE/PL2.

METODOLOGIA A proposta desse projeto é analisar corpus linguísticos, extraídos em textos de obtidos produções escritas de estudantes do português para estrangeiros em cursos de extensão, graduação e pós-graduação, com vistas a perceber a imagem terminológica da disciplina PLE construída por esse público. Além disso, serão observados os métodos e técnicas de ensino de português para estrangeiros, bem como o material didático utilizado pelos professores para essa finalidade. Tudo isso, estabelecendo a imagem construída pelos estudantes com os conceitos de cada terminologia conceituada através da pesquisa bibliográfica e das modalidades linguísticas, propostas por Araújo Carrera (2009) e Pottier (1987) apud Barzotto (2010). Para compreender as terminologias relativas ao ensino de português para estrangeiros, serão consultados trabalhos que abordam esse assunto para cumprir com os objetivos traçados.

Para isso a pesquisa possui um caráter bibliográfico, documental e de campo, porque utilizará experiências no ensino de português voltado para o estrangeiro, tendo como corpus produções dos estudantes, exercícios elaborados pelo professor para atender às demandas desses sujeitos, bem como analisar os livros didáticos de português para estrangeiro sob as diversas classificações, que há no mercado editorial. Atravessando essas classificações tem-se o português língua de herança (PLH), português língua adicional (PLA), português língua de acolhimento (PLAc), português língua para fins especiais (PLFE). São várias terminologias para ensinar o estrangeiro não falante do português ou o estrangeiro que deseja aprofundar seus conhecimentos. Cada um desses termos é tratado separadamente nos tópicos seguintes.

Português Língua Materna (PLM) e Português Língua não Materna (PLnM) O português língua materna PLM é a língua mãe, aquela falada pelo pai e pela mãe e outros familiares. Em outras palavras, é a língua da comunidade, sendo a primeira língua adquirida pelos indivíduos expostos a ela inicialmente. Nessa perspectiva o LPnM é o PLE, incluindo todas as denominações dadas ao ensino de português para estrangeiros. Português Língua Adicional (PLA) A língua adicional foi denominada assim por ela não ser a segunda língua do estudante, pois ele já possui duas ou mais línguas. A terminologia “adicional” se ajusta a essa situação e pode ser uma definição mais apropriada. o emprego do termo “adicional” parece-nos mais apropriado porque não há necessidade de se detalhar o contexto geográfico (língua do país vizinho, língua franca ou internacional) ou mesmo as características linguísticas individuais do aluno (segunda ou terceira língua) (BARBOSA, 2020).

Desse modo, a língua adicional diz respeito a uma língua que o estudante resolveu incluir no seu repertório de línguas. O português como segunda língua apresenta papel ativo e contínuo na formação das identidades dos aprendizes, partindo da concepção de que identidade não é fixa. Sendo assim, a língua, de modo especial a PL2, é constitutiva e constituída pela identidade do aprendiz, de modo que a língua permite à pessoa negociar sua compreensão de si mesma em diferentes lugares e momentos no tempo, ganhando acesso ou não às relações de poder e oportunizando-lhe posicionar-se por meio da fala nas interações sociais (MAIA, 2014, p. A LE em geral, incluindo o PLE é aprendida pelo educando e fundamenta-se na cultura do falante em que vê na capacidade de se comunicar em uma LE, a oportunidade de se apropriar de uma das competências essenciais da língua como para a realização pessoal (MENEZES, 2014).

O estudante estrangeiro chega em busca de uma formação profissional em um mestrado ou doutorado. Para isso, ele necessita avançar nas práticas sociais de letramento acadêmico e por essa razão deve também avançar no nível de conhecimento da língua (LEURQUIN; OSÓRIO, 2019, p. É preciso compreender que os estudantes estão em processo de construção e reconstrução de saberes e de identidades, o que requer abertura para as especificidades e demandas que vão surgindo. Devido a isso, os materiais para ensinar PL2-PLE precisam estar contextualizados com as necessidades reais desses sujeitos, devendo ser flexíveis, adaptáveis com uma diversidade de temas e gêneros textuais para uma prática que seja significativa para os educandos (REIS, 2014). Português Língua de Herança (PLH) As Propostas Curriculares para Ensino de Português no Exterior – o Português como Língua de Herança (PLH), refere-se a questões migratórias e tem o foco no português brasileiro.

Um grande fluxo de brasileiros foi para o exterior nos séculos XX e XXI. Existe estimativa de que há mais de três milhões de brasileiros vivendo no exterior, quase metade deles na América do Norte e um quarto na Europa. Além disso, esses sujeitos que se deslocam de seus países necessitam aprender a língua do local para se comunicar, a língua de acolhimento, no caso o português. Segundo Barbosa (2016), a PLAc se inter-relaciona os conceitos de inserção social, aquisição de língua e comunicação. a língua de acolhimento tem a função pragmática de prover ensinamentos básicos de uso real para o cotidiano e tem um papel particularmente importante a desempenhar no processo de interação de imigrantes no Brasil, país anfitrião de estudantes imigrados ou refugiados (SANTOS, 2018, p.

A PLAc não se constitui um desejo ou escolha do estrangeiro, sua finalidade se encerra no acolhimento em si, pois se ele resolver aprender a língua, vai procurar aprender um português para interagir, trabalhar ou para sua sobrevivência no país. Segundo Oliveira (2019), estudos PLAc são recentes no Brasil e tem crescido muito desde o início de pedidos de refúgio pelos sírios e haitianos ocorridos no início da década de 2010. O ensino de PLFE vem crescendo nos últimos anos e causando o interesse de profissionais estrangeiros das mais diferentes áreas que precisam ler escrever e interagir para se inserir no mercado de trabalho brasileiro. O PLFE se relaciona a profissões ou carreiras dos estudantes que precisam usar o português em situações de comunicação trabalho (DE SOUSA; LACERDA; SILVA, 2014).

Formação de Professores para o Ensino do Português para Estrangeiro De acordo com Silva (2018), há uma escassez de professores com formação específica de PLE no mercado educacional, porque muitos professores não receberam a formação inicial da profissão voltada para o ensino do português para estrangeiros. Dessa forma, o professor que trabalha com esses indivíduos sempre busca formas de trabalhar, devido à demanda de sua atuação. Essa situação torna necessária a reestruturação do currículo na formação inicial nas universidades, para melhor buscar caminhos para trabalhar a língua portuguesa com os estudantes estrangeiros. Todavia, uma obra totalmente voltada para o ensino de PLE surgiu apenas em 1956, em Porto Alegre, com a publicação do livro “O ensino de português para estrangeiros”, de Mercedes Marchandt, que trata de sua experiência na sala de aula com o ensino de PLE, obra ainda utilizada por pesquisadores do assunto.

Em 1978, Francisco Gomes de Matos coordenou estudantes iniciantes no idioma português e que não tinham nenhum contato com a língua no Brasil (PINTO, 2014). CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Este projeto se encontra em desenvolvimento, por essa razão está propenso a modificações, ao acréscimo de estudos teóricos e novos direcionamentos. Além disso, serão realizadas as análises, estabelecendo um diálogo entre o corpus e os autores que fundamentam a pesquisa para responder aos questionamentos iniciais e se foi possível cumprir os objetivos traçados. Até o momento foi realizado um referencial teórico de conceituação das várias denominações/terminologias adotadas pelas faculdades de letras na criação de cursos de formação continuada para professores que desejam se atualizar ou qualificar para ensinar português para estrangeiros.

de 2020 ALTENHOFEN, Cléo V.  O conceito de língua materna e suas implicações para o bilinguismo (em alemão e português). In: Martius-Staden-Jahrbuch, São Paulo, n. p. ARAÚJO CARREIRA, Maria Helena. Culturas e imaginários. deslocamentos, interações e superposições. II Colóquio Internacional da Rede PICNAB. Brasília, 26 abr. Disponível em https://www. BARZOTTO, Valdir Heitor. Modalizações em torno da prática e cristalização da imagem do professor de Língua Portuguesa. In: Sousa, Antonio Paulino de, Org. Barzotto, Valdir Heitor, Org. Sarnpaio, Maria Lúcia Pessoa, Org. DELL’ISOLA, R. “Perspectivas teóricas subjacentes às noções de gêneros: textuais ou discursivos?” In: Gêneros textuais [recurso eletrônico]: o que há por trás do espelho? / Regina Lúcia Péret Dell’isola (organizadora).

– Belo Horizonte. FALE/UFMG, 2012 (p. DE SOUSA, Maria Araujo; LACERDA, Naziozênio Antonio; SILVA, Maria Thais Monte da. O ensino de português pra fins específicos no programa mais médicos para o Brasil. São Paulo: USP, 2017. Tese de Doutorado em Letras MAIA, Maria Antonia Germano dos Santos. A cultura de aprender português como segunda língua de alunos hispanofalantes do ensino fundamental II em contexto militar de ensino. Brasília: UNB, 2014. v. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2019 MENEZES, Leonarda Jacinto. Português como língua estrangeira e segunda língua em Moçambique.  PERcursos Linguísticos, v. n. Salvador: UFBA, 2014. SANTOS, Eliana Barbosa dos. Português língua de acolhimento: interação e inserção social de imigrantes por meio do whatsapp. Brasília: UNB, 2018. Dissertação de mestrado em Linguística Aplicada SILVA, Armando de Oliveira A formação do professor de português como língua estrangeira: uma proposta.

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