A FENOMENOLOGIA E A EDUCAÇÃO

Ao se aprofundar sobre a noção de fenômeno, recorre-se a etimologia do termo, assim, Martins e Bicudo (1989, p 21) determinam: O significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon e deriva-se do verbo fainestai que quer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim, fainomenon significa aquilo que se mostra, que se manifesta.  Fainestai é uma forma reduzida que provém de faino, que significa trazer à luz do dia.  Fainoprovém da raiz Fa, entendida como fos, que quer dizer luz, aquilo que é brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-se manifesto, visível em si mesmo. desse mistério surge a necessidade de ser ele mesmo investigado, buscando assim a essência do conhecimento : “como pode o conhecimento estar certo da sua consonância com os objetos conhecidos, como pode ir além de si a atingir fidedignamente os objetos?” (HUSSERL, 2000, p.

ou Fenomenologia: designa uma ciência, um conjunto de disciplinas cientificas; mas fenomenologia designa ao mesmo tempo e antes de tudo, um método e uma atitude de pensamento: a atitude de pensamento especificamente filosófica e o método especificamente filosófico (HUSSERL, 2000, p. Diante desses pressupostos iniciais e para efeito de associação à Educação, destaca-se, inicialmente, a fenomenologia como um método de observação da essência do fenômeno e a compreensão, interpretação. A FENOMENOLOGIA de HUSSERL, HEIDDEGER E MERLEAU-PONTY Dentre os filósofos vinculados à fenomenologia, a literatura tem mostrado que seus maiores representantes são Husserl (2000), seu fundador, Heidegger (2009 ) e Merleau-Ponty (1999). Apresentam-se, dessa maneira e longe de ser exaustivo, nos limites deste trabalho, os conceitos-chave desses três autores que contribuem para uma reflexão dialógica sobre o enfoque fenomenológico em Educação.

Quanto à epoché segundo Proença, (2010 , s/p. “é um termo grego que significa parada, obstrução” vinculado ao cetismo da filosofia grega, adquire em Husserl outro valor significativo, seria “suspender” todo o juízo de valor relativo ao mundo e aos fenômenos para que se possa manter o rigor da investigação: Husserl toma emprestado o conceito cético de epoché e desenvolve aquilo que acredita ser o caminho seguro para proceder uma análise filosófica que pudesse realmente atender às exigências do rigor científico, que ele almejava alcançar. Epoché, no sentido fenomenológico, visa colocar entre parênteses a crença em toda realidade temporal e espacial, isto é, em toda a transcendência. Isto quer dizer que não devemos fazer juízo algum sobre o mundo e tudo aquilo que nele se inclui, até mesmo as mais convincentes evidências científicas, uma vez que as ciências naturais alimentam-se deste mundo empírico.

Uma teoria rigorosa do conhecimento deve partir da absoluta e total falta de pressupostos. “O pesquisador somente alcança o fenômeno em si se consegue pôr fora de circuito o conhecimento do mundo”. HUSSERL, 1985 apud ANDRADE; HOLANDA, 2010, p. Finalmente, Ferreira (2008, p. afirma que Husserl (2006) cria o fundamento que “a realidade é essencialmente desprovida de independência, ela nada é no sentido absoluto, não tem “essência absoluta”, é apenas um intencional, um aparecimento na consciência”, denominado intuição doadora originária que é a fonte de legitimação do conhecimento: Seu propósito é a descoberta de um novo domínio científico alcançado pelo método de pôr entre-parênteses. Com todas estas análises pode-se constatar porque a atitude natural tem uma tese, e porque ela deve ser abandonada.

Manzi (2016, p. afirma que a busca de Heidgger é o sentido do ser considerado por ele abandonada pela Filosofia, “deixa claro como a pergunta sobre o sentido do ser é a questão central na filosofia e que, mesmo assim, ela foi abandonada na sua história”. Nesse sentido, a fenomenologia para Heidegger aparece em seus escritos de forma ontológica e serve como base para escrever/analisar as teses sobre o ser. Como um método de análise do ser, como também explica Manzi (2016, p. “seria um método que se dirige para o ser, pois, mesmo que as coisas se deixem e se façam ver por si mesmas, algo permanece velado, encoberto e esquecido”. Nessa concepção a sua filosofia era para tratar de uma ciência universal, ontológico, o “ente que nós somos”, o “ser aí” (dasein) e hermenêutico, a compreensão de sentido e interpretação: Desse modo, Heidegger procura evidenciar as implicações não explicitadas do próprio projeto inicial husserliano: se a fenomenologia trata da constituição da consciência, ela deve também ser uma ontologia, pois do contrário não vai tratar suficientemente do modo de ser dos objetos da consciência.

Além disso, uma vez que a filosofia fenomenológica que Heidegger pretende desenvolver possui um caráter hermenêutico – conforme o título de um de seus cursos: “Ontologia: hermenêutica da facticidade” –, a principal das ontologias a ser elaborada será aquela que se relaciona diretamente com a interpretação da facticidade: a análise do “ser aí”, dasein. MISSAGGIA, 2015, p. Assim, diante da Ontologia de Heidgger identificada à Fenomenologia adquire a função de método, em concordância com os preceitos de Husserl, Von Zuben (2011, p. afirma identificada à ontologia, a fenomenologia será o método que fará trazer à luz o ser como sentido velado nos entes. Nesse processo, o fenômeno possui duas bipolaridades fenômeno original/aparente e este está velado/desvelado: é aparente/original e está velado/desvelado: O objeto da descrição fenomenológica será, portanto a exposição à vista dos elementos, ao menos aparentes dos fenômenos, os quais são também o que os fenômenos têm de mais fundamental: o seu ser” (WAELHENS, 1955, p.

A necessidade da fenomenologia decorre, por conseguinte, da própria exigência que o fenômeno impõe de ser desvelado. E será ainda a estrutura bipolar do fenômeno – fenômeno original, fenômeno-aparência – que irá determinar a tarefa concreta do método fenomenológico, para Heidegger [. Ocultamento-desocultamento, que se radica na própria natureza do fenômeno, irá justificar a necessidade da fenomenologia e, ao mesmo tempo, determinar concretamente a sua tarefa. Com efeito, o fenômeno. Por meio de sucessivas aproximações do fenômeno, mediante as quais se opera um processo de decantação e depuração dos significados fornecidos pela experiência, procura-se voltar ao nível dos sentidos primitivos e fundadores que constituem o núcleo positivo de onde se originam as significações derivadas.

Finalmente, para o exercício do método regressivo fenomenológico para se desvelar o fenômeno filia-se às análises linguísticas: a linguagem como “moradia do ser (do fenômeno) onde o homem habita como eksistência ex-posta à verdade do ser que é confiada a sua guarda”. VON ZUBEN, 2008, p. Para Efken e Silva (2014, s/p. a propósito da essência da linguagem para Heidgger afirmam: Heidegger indica que não é possível chegar a uma resposta exata do que seja a essência da linguagem, pois, para ele, essa busca pela exatidão é um erro, pois [. Partia-se de um mundo em si que agia sobre nossos olhos para fazer-se ver por nós, tem-se agora uma consciência ou um pensamento do mundo, mas a própria natureza deste mundo não mudou: ele é sempre definido pela exterioridade absoluta das partes e apenas duplicado em toda a sua extensão por um pensamento que o constrói.

Passa-se de uma objetividade absoluta a uma subjetividade absoluta, mas esta segunda idéia vale exatamente tanto quanto a primeira e só se sustenta contra ela, quer dizer, por ela (MERLEAU-PONTY, 1999, p. Merleau-Ponty na busca da relação homem/mundo nega a existência da essência humana como afirma Marques (2015, p. No homem, tudo está conectado, não há nada acidental. Todavia, esta conexão não é garantida por uma essência, mas por uma Gestalt, o que não afasta o fato do homem estar permeado pela contingência, uma vez que consideramos sua historicidade e rejeitamos a ideia de um ser puramente de natureza. LIMA, 2014, p. Josgrillberg (2006, p. afirma que para o filósofo francês: a percepção precede qualquer atividade [. a ciência, bem como a linguagem e a cultura, é apenas uma expressão segunda dessa relação fundadora [.

Tudo aquilo que é percebido pela consciência é definido na fenomenologia como fenômeno, sendo-lhe atribuído um sentido no momento da percepção pela consciência doadora de sentido. Diante disso, pode-se considerar que os limites impostos pelo conceito de redução, que estabelecem-se, assim, a consciência do sujeito diante do seu saber, nos preceitos da epoché, e a intencionalidade operados por um sujeito de consciência e corpóreo integrado ao diálogo com o mundo são reflexões que se aplicam à busca pelo conhecimento do mundo, do fenômeno, a coisa como é, propõe-se, dessa maneira, um método (fenomenológico) que se integra ao conhecer. FENOMENOLOGIA e EDUCAÇÃO Para que se constate a Fenomenologia como método para reflexões sobre a Educação, faz-se necessário apresentar uma síntese dos aspectos mais pertinentes que garantam o êxito nesse intento.

Nesse percurso, propõe-se a síntese de Capalbo (1990, p. A fenomenologia se apresenta como ciência descritiva, rigorosa, concreta, que mostra e explicita, que se preocupa com a essência do vivido. Ela é uma ciência eidética material, pois os vividos intencionais dão forma aos conteúdos pela significação. Assim, poder-se-ia mencionar para a epoché de Husserl, no exemplo dado, e a sua consequente redução, nos limites considerados por Merleau-Ponty, a apreensão do fenômeno o paradigma educação sócio crítica. Por esse recorte e seguindo pela trajetória fenomenológica depara-se com a descrição do fenômeno, as análises das relações possíveis e como se manifesta: sobre quais relações intersubjetivas o paradigma assenta-se, gestores escolares, professores, alunos etc.

quais relações com o sistema social apresentam-se, quais modelos de experiências vividas podem ser resgatados, quais as categorias que as define para poder compreender e interpretar o fenômeno. Jolsgrilberg (2015 p. estabelece o método fenomenológico da Educação em grande classe das experiências humanas, “segundo a intuição kantiana o ser humano só se torna ser humano pela educação”; na formação do aluno, “corpo natural, corpo cultural” fenomenologia do corpo e nas relações como o mundo, quanto a este aspecto, apresenta a potencialidade de uma análise fenomenológica hermenêutica: O ser humano cria “mundos”, além das formas mais gerais, onde vive. JOSGRILBERG, 2015, p. O referido autor enfatiza que há duas naturezas para o enfoque fenomenológico da Educação: “fenomenologia na educação pode ser tratada em duas direções: uma, no aperfeiçoamento e compreensão do ato de educar; outra, oferecer um caminho para a autonomia da observação em primeira pessoa do estudante”.

JOSGRILBERG, 2015, p. No entanto, pode-se, com base no percurso teórico aqui expresso, estabelecer qualquer recorte face à Educação como o exemplo criado acima, o paradigma da educação sócio crítica. Outra possibilidade encontrada é tomar a percepção, nos termos de Merleau-Ponty (1999) como base da trajetória fenomenológica, segundo Caminha (2012, p. A fenomenologia nos ajuda a revelar nossa condição de sermos artesãos de formas de vida. CAMINHA, 2014, p. Nessa abordagem, percebe-se que o a priori não exclui conhecimentos prévios quando estes se tornam o próprio fenômeno, assim, a história da Educação, localizada no tempo pode ter sua descrição fenomenológica numa perspectiva de intersubjetividades da sociedade do passado. Com essa relação corpo, conhecimento e educação, a fenomenologia permite descrever a “natureza filosófica da Educação” Caminha (2014, p.

declara: Inspirado no método fenomenológico, Merleau-Ponty diz que a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. Finalmente, quanto à trajetória fenomenológica para a descrição do fenômeno educação, o estudo Peixoto (2012, pp. compreende a Educação, segundo a fenomenologia, como o desenvolvimento integral do aluno: A educação, da perspectiva fenomenológica, não compreende o homem apenas como corpo ou ramo, social ou individual, ramo ou emoção, sentidos ou intelecto, objetivo ou subjetivo, mas enquanto totalidade, valorizando todas as suas dimensões: corporais, intelectivas, sociais, emotivas, imaginativas. É uma concepção que aponta para a necessidade de uma educação integral, que se preocupa com a formação teórica, política ética, estética, corporal e profissional. a fenomenologia percebe a educação como expressão humana e, portanto, do imprevisto, do inacabamento, da criação, da subjetividade, da crítica, da busca do sentido.

Diante desse princípio, faz a trajetória fenomenológica propondo que a Educação é intencionalidade, para tanto cita Freire (1075 2015): o ser da consciência que é sua intencionalidade [. Mesmo que o objeto estudado seja, por exemplo, um texto, o ponto de partida deve ser o próprio texto e não o que já disseram sobre ele. É a preocupação com a fidelidade daquilo que está dito pelo texto. PEIXOTO, 2012, p. É importante, ainda afirmar que ao se adotar a epoché, que se inicia na suspensão dos juízos de valor, esta permeia toda a descrição fenomenológica, portanto, jamais deve ser considerada como uma etapa e sim como uma estratégia permanente da descrição do fenômeno. A redução fenomenológica propicia a busca pelo sentido das coisas como elas são, como se apresentam: a natureza e a identidade do real, do psíquico, da existência e do fazer humanos, da educação, da escola, das teorias e da prática, do saber, do ensinar, do aprender, do tempo próprio da pesquisa, do ensino e da aprendizagem, ‘des-velando’ seu verdadeiro sentido (COELHO, 1999, p.

A comunidade escolar é composta por diversos sujeitos, que são os alunos, os professores, os funcionários da escola, assim como os familiares dos alunos. E isso remete ao fato de pensar que a escola é um lugar espaço para diversidade: Podemos dizer que existem inúmeras características que aproximam os comportamentos das escolas, bem como as investigações sobre ela, e há uma infinidade de outras que os/as diferenciam. No entanto, parece não haver inconvenientes em considerar a escola como uma instituição com cultura própria. Os principais elementos que desenhariam essa cultura seriam os atores (famílias, professores, gestores e alunos), os discursos e as linguagens (modos de conversação e comunicação), as instituições (organização escolar e o sistema educativo) e as práticas (pautas de comportamento que chegam a se consolidar durante um tempo).

P. A cultura escolar perpassa por todas as suas instituições, se referindo aos modos particulares de se interagir e pensar no cotidiano da escola, essas questões constituem a forma particular da escola, formando a sua visão ideológica que está ligada aos sujeitos. Logo, a função da cultura escolar “ não seria promover uma incorporação de valores outros que não os objetivos escolares, ou mesmo de servir de ferramentas para a inculcação de valores. Pelo menos não são apenas essas as resultantes promovidas pela cultura escolar” (SILVA, 2006, p. A escola tem uma instituição dentro de si que carrega diversos valores culturais, que daí constituem a sua cultura. Não há espaço para homogeneidade dentro dos muros da escola, cada aluno traz seu olhar semiótico do mundo e sua existência para a sala de aula.

Percebe-se que a cultura escolar excede os muros da escola, em que o aluno depois de ter contato com esse mundo cultural diferente daquele constituído da sociedade em que está inserido, passa a ter uma nova visão sobre o mundo e assim trabalhar o seu ser. Destarte, o próximo tópico trabalhará as questões de currículo com cultura escolar. A discussão busca evidenciar como se trabalha a questão dialógica da língua e literatura dentro da escola, está que por sua vez está ligada ao sujeito, mundo e currículo. O ENFOQUE FENOMENOLÓGICO NO ENSINO DOS GÊNEROS LITERÁRIOS 4. dialogia língua 4.