A COMUNICAÇÃO DA CRIANÇA ATRAVÉS DO DESENHO

Por meio do desenho, ela representa objetos significativos reais ou imaginários. O desenho infantil passa por alguns estágios evolutivos. É fundamental que a criança receba os estímulos corretos e que tenha seu ritmo respeitado. Neste estudo, relatamos as fases do desenho infantil através do olhar de teóricos renomados tais como Luquet, Piaget, Berson, entre outros. Palavras-chave: Criança; Desenho; Psicopedagogia; Comunicação. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem entender melhor. Elas têm sempre necessidade de explicações detalhadas. Antoine de Saint-Exupéry) I INTRODUÇÃO 1. Breve Conceito do Desenho O desenho nasceu na pré-história, em uma época em que a comunicação ainda era muito rudimentar.

Esboçar formas sobre uma superfície com finalidade estética, lúdica, técnica ou científica é desenhar. Confeccionar mapas, registrar eventos e ideias, além de contar histórias requer muita imaginação. Desenhar é desenvolver uma linguagem própria e expressar sentimentos. Como com qualquer obra de arte, sua prática leva a um refinamento de traços e, por conseguinte, a uma ilustração mais precisa. O desenho representa um excelente objeto de estudo para o profissional da Educação. O realismo de Luquet George-Henri Luquet (1876- 1965), filósofo francês, etnógrafo e pioneiro no desenho infantil, determinou alguns estágios e respectivos procedimentos ao estudar o comportamento de sua filha Simone. Ele interpreta que a presença do realismo no desenho infantil é “ uma tendência natural da representação gráfica, pela escolha de motivos e também pelos seus fins”.

Sendo assim, sua teoria embasou-se na busca infantil e espontânea da realidade, o que o levou a nomear as fases do desenvolvimento gráfico infantil do seguinte modo: • Realismo Fortuito: o prazer é a força motriz do ato de desenhar. Desenho voluntário e involuntário. Na primeira classificação, a criança desenha de modo inconsciente, sem saber que as linhas podem gerar objetos dotados de significado. •Realismo Intelectual: dos 4 aos 10-12 anos. A criança reproduz não o que vê no objeto, mas aquilo que sabe dele. •Realismo Visual: o último estágio começa aos 12 anos. Caracteriza-se pela compreensão da perspectiva e consequente submissão às suas leis, o que acarreta em um empobrecimento do desenho. Tendência a aproximar-se das produções adultas. As fases gráficas de Piaget Jean Piaget ( 1896- 1980), cientista suíço, desempenhou importantíssimo papel na área educacional durante a segunda metade do século XX.

Biólogo de formação, estudou o processo de aprendizagem do ser humano, sobretudo o infantil. Ele acreditava nas descobertas feitas pelas próprias crianças. Acompanhou a infância de seus três filhos e observou o que denominou de “ ajustamento progressivo do saber”. No que tange à representação gráfica infantil, Piaget discrimina cinco estágios, que são os seguintes: • Garatuja: engloba um período dos 0 aos 2 anos da criança e parte da fase pré-operacional, isto é, dos 2 aos 7 anos. A criança tende a atribuir nomes aos desenhos. • Pré-esquematismo: desenhos aparentemente dispersos e sem conexão entre si. Esboço das primeiras relações espaciais. A figura humana sugere a busca por um conceito. As cores podem ser empregadas, porém não há relação com a realidade.

Enfoque emocional. No Realismo e no Esquematismo, o jogo simbólico é coletivo, dramático e existem regras. Piaget (1976) destaca na quarta fase o Realismo, final das operações concretas, que por sua vez aparecem a consciência do sexo e a autocrítica pronunciada, para isto as crianças fazem uma diferenciação no que se trata do primeiro conceito, elas colocam uma acentuação nas roupas dos seus personagens para diferenciarem os sexos, mas sua consciência consegue perceber as diferentes características, ou seja, o que é para menino e o que é para menina (BOMBONATO; FARAGO, 2016, p. • Pseudonaturalismo: dos dez anos em diante, essa é a fase das operações abstratas. A arte não é mais espontânea. Segundo Bédard (1998), cada criança demonstra um pouco de si através de seus desenhos, embora o faça de forma impensada, inconsciente ( COELHO, 2005, p.

Os rabiscos são as primeiras manifestações das crianças sobre o papel, sendo que muitos acreditam que esse gesto de rabiscar não há significado nenhum, mas iremos apresentar que através dos rabiscos é que tudo se inicia, é a primeira expressão significativa da criança. Portanto, podemos chamar este estágio de evolução do desenho informal, ou seja, a criança não tem um desejo de traçar com precisão, o que se torna no plano plástico: o borrão ou aglomerado e no plano gráfico, que são os rabiscos. Toda esta produção artística da criança já é capaz de ser entendida em sua vida futurista, pois estas manifestações que elas nos trazem são consideradas como uma verdadeira “pré-história” do desenho ( BOMBONATO; FARAGO, 2016, p.

O real valor da brincadeira e dos jogos na primeira infância é desconhecido e questionado por pais e professores. Ela realiza um ato sério, dramático, que desperta a alegria e às vezes também uma profunda dor [. O desenho em si mesmo é uma língua, uma vez que comporta em si infinitas possibilidades e significados. Ao reproduzir o comportamento do adulto, seus trejeitos e movimentos, a criança busca encontrar uma maneira particular de comunicar-se com ele. Ela se empenha para deixar também sua marca no mundo. Os primeiros traços são comumente registrados em folhas de papel, na primeira infância, e são apreciados e avaliados pelo adulto. Desse modo, ela está apta a criar e reinventar formas expressivas, aliando imaginação, raciocínio e sensibilidade, que podem ser absorvidas pelas leituras simbólicas de outras crianças e de adultos como, por exemplo, seus professores.

Freqüentemente, as crianças avaliam a produção dos companheiros, desde o grafismo em si até a adequação de nomeações e comentários sobre o próprio desenho. Sem qualquer pudor, apontam falhas, defeitos e lacunas. Nas observações realizadas, o elogio também acontece, embora raramente. Quando a criança aponta lapsos no desenho alheio, mostra sua visão acerca do objeto que está sendo representado, apoiando-se em suas vivências e noções sobre o mundo para examinar o desenho alheio e poder dizer, por exemplo, que determinada figura não está corretamente representada ( SILVA, 1998, p. Além disso, o educador deve ser dotado de profunda sensibilidade a fim de lidar com situações delicadas expostas através do trabalho gráfico. Se um aluno "está no mundo da lua", o problema do professor será o de como trazer a "lua" ao mundo da criança, já que, se quiser expulsar a "lua" da aula, expulsará também o aprendente que há em seu aluno.

Por outro lado, essas "luas" costumam estar habitadas pelas situações mais dolorosas da vida das crianças (FERNÁNDEZ apud SORDI, 2001, p. O papel do educador frente à produção gráfica Alicia Fernandez (2001), em seu interessantíssimo livro Os idiomas do aprendizado, relata com riqueza de detalhes experiências realizadas com crianças. Ilustrações de sua autoria são observadas e elas são submetidas a algumas indagações. Ela aparenta desproteção e dificuldade de aprendizado. Em contrapartida, a segunda menina fala sobre estudar, prestar atenção e não se ater a mais de um conteúdo por vez, parecendo temer que alterações fossem causar dano a estrutura por ela construída. Finalmente, a Menina C elabora respostas que mantém seus esquemas de significação; ela modifica a proposta mas preserva a assimilação.

Ela transforma sujeito, ação e objeto e mostra-se alegre por sua autoria (FERNÁNDEZ, 2001, p. Silva reflete sobre a relevância da investigação do processo gráfico: A criança dá nome ao seu gesto, que para ela é mais importante do que as marcas que vão ficando no papel. Ajuda-me, por favor. ” ( COELHO, 2005, p. O tamanho e a posição da porta de uma casa, além do número de janelas que ela contém e o modo como se apresenta a fumaça que sai da chaminé são, por exemplo, alguns dos fatores avaliados por especialistas e que traduzem bem o emocional infantil. Algumas ilustrações, embora aparentemente simples, podem trazer significados complexos e ambíguos. Apenas é facultado a profissionais de olhos e mente treinados ler as entrelinhas do que parece tão inocente.

Quando os braços se apresentam caídos, colados ao tronco, em inúmeras atividades, pode ser o indício de que a criança esteja passando por um momento delicado, no qual não busca nenhum tipo de contato social. A ausência dos pés geralmente demonstra uma busca pela estabilidade, chegando a ser essa criança muito dependente do seu meio ( COELHO, 2005, p. Portanto, podemos inferir, após consistente pesquisa, que o ato de desenhar constitui uma excelente técnica projetiva – que serve aos psicopedagogos e demais profissionais da Educação - uma vez que suscita uma vasta gama de respostas, muitas vezes ambíguas, por parte da criança. Ao jogar livremente com seu imaginário, seus desejos e fantasias, a criança lida também com seus monstros e frustrações.

Desta forma o profissional pode encontrar relações da forma como a criança adquire conhecimento através de seus mecanismos inconscientes de omissão, apresentação, distorção ou esquecimento de algo que lhe é apontado. E, sendo uma linguagem, requer a leitura de um educador – intérprete habilitado. O presente trabalho não pretende esgotar o que dizem as pesquisas a respeito da função do desenho infantil, mas incentivar seu estudo para que os profissionais da Educação e de campos correlatos possam debruçar-se sobre tema tão fascinante e percebê-lo como mais uma ferramenta capaz de compreender seus alunos individualmente e como se dá o processo de ensino-aprendizagem. REFERÊNCIAS AMANCIO, Cristiane Ferreira Cunha. Desenho infantil enquanto objeto de investigação psicopedagógico. Disponível em: http://www.

BOMBONATO, Giseli Aparecida; FARAGO, Alessandra Corrêa. As etapas do desenho infantil segundo autores contemporâneos. In: Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade, 2016. Disponível em: http://unifafibe. com. FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do ensino da arte. São Paulo: Cortez, 1993. FERNÁNDEZ, Alicia. Disponível em: < https://www. ideau. com. br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/149_1. pdf> Acesso em: 05/02/2018. Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. In: Interação em Psicologia, jan/jun 2005. MÈREDIEU, Florence de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.