Resumo do texto academico: O que é ouvir de Amatuzzi

Esse exemplo é utilizado para ilustrar situações em que o sujeito é ouvido mas não ouvido “realmente”, já que não ocorre uma comunicação efetiva, por mais que a professora tenha respondido ao que o aluno disse ela não se preocupou com o que ele quis dizer ao respondê-lo, deixou de analisar o real significado da questão. Segundo Amatuzzi, a palavra pode ser entendida como uma roupagem do pensamento e para que ocorra comunicação efetiva é necessário ir além das palavras ditas e buscar o entendimento do pensamento que as gerou. Ricoeur considera o ouvir um passo fundamental para termos acesso ao mundo e ao outro, para isso faz-se necessário entender o real significado das palavras, não apenas recebendo o que se foi falado, em forma de palavras com significados fieis a elas, mas entender o que foi dito por trás da roupagem do pensamento.

Amatuzzi diz que é só considerando o discurso como um dizer, que a palavra-viva é recebida; se apenas o ato de falar for considerado, recebe-se apenas suas palavras. Para melhor entendimento o autor distingue significado, de significado pleno, onde o “mero significado fica ao nível das palavras, enquanto que o significado pleno se prende a toda presença significante tornada efetiva por essas palavras ditas” (Amatuzzi, pag. Ricoeur distribui o discurso em três níveis, no mais básico ocorre o distanciamento da significação, esse é o discurso como fala; no discurso como obra o distanciamento do significado aumenta, pois é necessário levar em consideração toda a sua composição, o gênero literário e o estilo do autor para a compreensão do discurso; já no discurso como escrita a significação do texto não coincide necessariamente com a intenção do autor, ela pode ser muito mais ampla como manifestação ou criação sócio-cultural, do que o imediatamente intencionado ou explicitamente conhecido pelo autor, cada um ao ler pode ser tocado de uma forma.

O mundo da escrita e o da obra, como o da ficção e poesia, tem base no mundo real, no cotidiano, mas fazem uso das palavras para tocar os indivíduos, não nos aspectos da sua vida cotidiana, não do ser como ele é no mundo real, mas do ser como ele pode ser. Por meio da literatura a humanidade conhece a sí, mesmo que fazendo uso do discurso que teoricamente seria o mais distante do significado do seu produtor original. Somos tocados por essa autonomia, em que a leitura dá a cada um de nós ouvir, conhecer a si e, se for o caso, responder no mundo real o que nos foi dito pela obra. Amatuzzi considera esse discurso que atinge autonomia, como outro nível, o discurso como desafio.