PEREGRINOS E PEREGRINAÇÕES MEDIEVAIS DO OCIDENTE PENINSULAR NOS CAMINHOS DA TERRA SANTA
INTRODUÇÃO Em 1999, quando foi convidado para participar de um congresso em Cagliari (Itália), cujo tema era “Os anos Santos da História”, o autor José Marques se viu motivado a escrever e apresentar um estudo histórico sobre as peregrinações a Roma e Jerusalém, incluindo ainda Santiago de Compostela. O texto busca traçar uma relação dos peregrinos da Península Ibérica com esses lugares santos. A região peninsular foi considerada por Roma como “fim do mundo” por muito tempo, devido à sua localização no extremo ocidente. Mas, a partir do século IX, quando foi descoberto o túmulo que era considerado do apóstolo São Tiago, ainda sob domínio árabe, surge uma nova rota de peregrinação em sentido oposto aos outros dois.
Esta nova rota era também favorecida pelas dificuldades de acesso, sobretudo à Terra Santa devido aos conflitos políticos e religiosos. João Francisco Marques, em uma perspectiva ainda desconhecida dos leitores. NOS CAMINHOS DA TERRA SANTA Marques começa apresentando os caminhos da Terra Santa, dividindo em antes (711) e depois da invasão árabe (1095) que coincide com o início das Cruzadas do Oriente. Estamos aqui nos princípios do Condado Portucalense que depois irá se transformar em Reino independente, com o nome de Portugal. Esta abertura do capítulo permite perceber o quanto eram difíceis as viagens para o Oriente com riscos frequentes de ataques por parte dos muçulmanos. Antes da invasão árabe na península - há notícias de que, possivelmente, a primeira peregrina do chamado ocidente peninsular à Palestina, teria sido Etéria, em 383, em relatos de sua visita ao Monte Sinai.
Além das questões religiosas como o priscilianismo e o pelagianismo, havia a política, isto é, a invasão bárbara da Espanha em 409. Ali ficou dois anos e saiu ao encontro de São Jerônimo com uma importante carta de recomendação do bispo de Hipona. Já em Jerusalém, Orósio de Braga foi convocado para uma assembleia do clero. O tema central era a preocupação com o pelagianismo. Seu propagador era o monge ascético Pelágio, que negava o pecado original e, aceitava que o homem era totalmente responsável pela sua salvação, sem a necessidade da graça divina. Por fim, neste período, surge também Pascásio, grande tradutor de grego para o latim. Há divergências sobre seu aprendizado da língua ter se dado em Dume ou no Oriente.
O autor conclui esta primeira parte afirmando que apesar dos atrativos culturais e teológicos que levavam peregrinos do ocidente peninsular para o Oriente, eram os lugares santos que mais atraiam a estes. Marques, a seguir, contextualiza o momento político do progresso da reconquista dos territórios Ibéricos a partir dos meados do século XI, por Fernando Magno. E, paralelamente, destaca a origem das Cruzadas, motivadas pela situação em que se encontravam os cristãos do Oriente. Tal obra havia sido roubada da Sé de Coimbra e foi recuperada por dom Miguel Salomão. O autor conclui tratar-se de uma genuína reconstituição do Calvário, seja pelos personagens como também pelo material autêntico. Marques encerra este capítulo mencionando as Ordens Militares do Templo e de São João do Hospital, de Jerusalém, mas com forte presença em Portugal, que eram uma referência aos lugares santos.
Assim como se dava antes da invasão árabe, também neste novo período são raras as referências nominais aos peregrinos, seja da Terra Santa, seja dos outros dois locais. As menções se deram às figuras célebres, ficando os mais simples e cruzados no anonimato. Outras se seguiriam, como a de D. Mauricio Burdino que convidou D. Telo para acompanhá-lo na viagem que duraria três anos (1104-1108). Depois, temos o sucessor de D. Burdino em Coimbra, foi em peregrinação passando por Constantinopla e Roma, de onde trouxe relíquias dos santos Pedro e Paulo. Além do mau tempo, tem a visão de um animal monstruoso que não souberam exatamente o que era de fato. Mas o que se segue é que o medo pela morte próxima, colocou o grupo de joelhos em suplica a Deus.
D. Teôtonio então, proferiu uma bela oração pela vida de todos, para que terminassem bem a viagem e pudessem desfrutar da peregrinação pelos santos lugares por onde passou Jesus. A prece foi ouvida, o tempo se acalmou e todos agradeceram a Deus. Mas, se realmente havia esta vontade, não se concretizou, pois D. Teotônio ingressou no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do qual foi co-fundador e primeiro Prior. Marques tece alguns comentários em relação à peregrinação de D. Teotônio. O biógrafo não fala do retorno do grande grupo que viajou com o santo, mas acredita-se que se não todos, pelo menos a maioria tenha regressado. No século XIII temos alguns peregrinos como: D. Martinho Geraldes, arcebispo de Braga (1263); D.
Pedro Lourenço (1228) deixa em seu testamento vinte morabitinos (moeda da época): “para enviar um palmeiro, em seu lugar a Jerusalém”; D. Pedro Salvadores, nesta mesma linha, oferece 50 morabitinos para alguém que fosse em socorro da Terra Santa. O rei D. Isto fez com que o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques proibisse as peregrinações para Jerusalém. Reforça-se aqui a concessão da indulgência plenária para quem morresse em nome da fé. As proibições às peregrinações para fora do reino continuaram por longo período ainda. No entanto, há notícias de pessoas que partiam para Roma ou Jerusalém. Porto, 1999. Estudos em homenagem a João Francisco Marques.
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