Pedagogia dos oprimidos: Uma constatação atual? Resenha do Livro citado de Paulo Freire
Chamando a atenção de diversos países, que passaram a adotar tal prática. Tendo como sua principal e mais conhecida obra “Pedagogia do oprimido”, Paulo Freire questiona a metodologia educacional utilizada no país denominando-a de “educação bancária”, onde o aluno serve apenas de depósito do conhecimento e o professor na categoria de detentor de todo o saber, transmite-o de forma automática. O livro divide-se em quatro temas centrais, onde é possível encontrar uma análise minuciosa e crítica sobre o tipo de educação baseada na opressão, em contrapartida, propõe um sistema de ensino libertador, capaz de transformar o indivíduo em um ser pensante, capaz de exercer sua função social cidadã, ao invés de ser apenas mais uma engrenagem do mercado de trabalho.
O primeiro capítulo, sob o título de “Justificativa da Pedagogia do Oprimido”, traz inicialmente uma abordagem acerca da humanização e desumanização do homem, ao qual Paulo Freire analisa que o homem tomado pela consciência de que pouco sabe de si, inicia a busca pelo saber mais. Esse processo de reconhecer seu desconhecimento sobre si e seu meio é o que Freire chama de humanização, onde o homem ciente de sua realidade como ser inconcluso passa pelo processo de transformação, chegando à humanidade. Durante sua experiência no Nordeste brasileiro, Freire notou um comportamento negativista por parte dos alunos, ao qual se viam imersos em uma realidade onde aprender algo era quase impossível, não só pela idade já avançada, como também pela falta de recursos.
“Ele via os seus con-cidadãos nordestinos lançados na miséria econômica, miséria social e miséria cultural (duplamente grave, pois não reconheciam a própria riqueza cultural imensa que tinham) Eram multidões de pessoas alienadas, incapazes de se reconhecerem, posto que somente se reconheciam por meio do reconhecimento do outro (dominador), o qual não reconhecia no dominado nenhum valor além da sua “qualidade” de seguir sendo dominado para a satisfação dos interesses dele, dominador. Esse é o ponto de partida de Freire: o factum da negação da vida. ” (CASALI, 2008, p. Através da utilização da educação como processo transformador, Freire empreendeu a transformação desses indivíduos desconhecedores de si para sujeitos capazes de reconhecer seu próprio valor, da sua cultura e de sua comunidade, reconhecendo no outro, também oprimido, um membro de seu corpo social, modificando a realidade social como um todo e possibilitando o processo de humanização, capaz de dar voz e força aos oprimidos.
Dessa forma, é possível perceber sobre o fundamental papel da educação democrática para a formação do cidadão, uma vez que propicia sua libertação e reconhecimento de si enquanto homem e membro comunitário, capaz de unir forças e libertar não somente a si mesmo, mas também os próprios opressores, ao qual Freire afirma ser o objetivo que deve ser alcançado pelos oprimidos. Já no segundo capítulo – sob o título “A concepção <<bancária>> da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica” –, o autor busca aprofundar a análise acerca da metodologia de ensino baseada em uma educação que não visa a integração entre professor e aluno, mas sim baseada na petrificação do pensamento, ou ainda, alienação do educando.
Uma educação fundada em tais princípios é capaz de transformar o corpo social, tornando-o inerte, engessado e facilmente manipulado, perpetuando uma sociedade opressora. A imposição de conteúdos - que geralmente não fazem parte da realidade do aluno – inibem o diálogo e a troca de experiências dentro da relação entre educador e educando, relação essencial para o desenvolvimento do aprendizado e das relações sociais. Em contrapartida, a educação problematizadora – libertária – proposta por Paulo Freire possibilita o sujeito conhecedor da própria realidade e do meio ao qual está inserido, pela utilização de uma metodologia baseada na troca de experiências entre educador e educando e na valorização da cultura trazida pelo aluno, fatores que se tornam essenciais para efetivar o processo de libertação dos mais marginalizados (que são os oprimidos).
Esse tipo de educação é visto pelos opressores como extremamente perigosa, pois liberta os oprimidos, que acabam por se revoltar contra seus opressores, não aceitando mais nenhuma situação que possa os alienar novamente. Quanto mais se problematizam os educandos como seres no mundo e com o mundo, mais se sentirão desafiados. Tanto mais desafiados quanto mais se vejam obrigados a responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. É uma visão não autoritária de ensino, democrática, que possibilita a problematização dos temas geradores – temas escolhidos juntamente com o aluno – que acabam por incentivar e desafiar o aluno na busca pelo “ser mais”, além de dar voz aos que são mais oprimidos no ensino. Além dessa problematização, permite a desconstrução de conceitos pré-formulados acerca de um tema, o que leva à mudança de “pré-conceito” para conceito.
Educar através de temas pré-estabelecidos sem que seja levado em consideração a cultura e a realidade que os educandos trazem consigo é oprimir, tornando-o emocionalmente dependente de uma figura que saiba mais do que ele, por ele mesmo se considerar como um indivíduo que nada sabe. Para que haja uma educação democrática, é necessário a investigação dos temas geradores por parte dos educadores, onde busquem através da convivência com a própria comunidade, temas que possibilitarão uma prática de ensino menos mecanizada e menos automática, dando voz e liberdade aos oprimidos. Uma sociedade fundamentada mais na ação que na reflexão, onde o diálogo é quase inexistente, é facilmente manipulada. Invasão cultural, para que a visão de mundo dos opressores se dissemine dentre as massas, fazendo com que se perca a originalidade da cultura local.
Em contrapartida, a ação dialógica – considerada por Paulo Freire como a correta e a que deveria ser amplamente seguida – traz também quatro principais tópicos que contrastam com a antidialógica, que são: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural. A colaboração se deve pelo entendimento do outro como um ser igualmente oprimido, ou seja, reconhecimento; a união, devido ao fato de que apenas a massa oprimida é capaz de lutar contra os opressores uma vez que muitos se tornam um só, apenas através da união chega-se à libertação; a organização, pelo sentido ao qual os próprios indivíduos oprimidos instauram seu aprendizado; a síntese cultural, pois se baseia na não exclusão, onde há a compreensão do todo como um só, e não apenas como expectadores.
Portanto, é possível perceber como Paulo Freire propõe e critica não apenas o modelo educacional implantado, mas também o modelo político, baseado em uma corrente de pensamento que preza a libertação do oprimido, buscando a democratização da sociedade como um todo, não havendo mais divisão de classes, e sim um corpo social unificado e harmônico. É exatamente devido à essa corrente de pensamento, que Paulo Freire vem sendo criticado por muitos brasileiros e até mesmo responsabilizado pelas falhas do sistema educacional. O pensamento da direita, hoje [1955]. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1972. BEISEGEL, Celso de Rui. Política e educação popular. Ed. Acesso em 27 de dezembro de 2018.
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