O ENSINO DA CULTURA DA AMAZÔNIA NOS ANOS INCIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ANÁLISE NA EMEF MARIA DA CONSOLAÇÃO DE MENDONÇA CERQUEIRA, EM ITAITUBA- PARÁ
Capítulo I, de TCC, requisitado como avaliação final, da disciplina Monografia II, do curso de Pedagogia da Faculdade de Itaituba- FAI, orientada pelo prof. Francisco Claudio da Silva Sousa, Dr. ITAITUBA/ PA 2019 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 ABORDAGEM A CULTURA DA AMAZÕNIA 1. DEFINFINDO CULTURA NA AMAZÕNIA 1. A AMAZÔNIA E SUA DIVERSIDADE CULTURAL 1. O termo latino significava “ação de tratar”, “cultivo”, relacionado à sua origem na Roma antiga, que correlacionava-se com a Agricultura. A própria agricultura foi responsável pela opção ao abandono da vida nômade por parte da espécie humana, produzindo assim os primeiros assentamentos permanentes ou semipermanentes que futuramente organizaria os humanos em aldeias e cidades. Como definição moderna, coube ao antropólogo inglês Edward Burnett Tylor, em Primitive Culture (1871; A cultura primitiva) oferecer pela primeira vez uma definição formal e explícita do conceito: “Cultura (…) é o complexo no qual estão incluídos conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.
” Mais tardiamente o antropólogo americano Melville Jean Herskovits (1934) descreveu a cultura como a parte do ambiente feita pelo homem; Ralph Linton (1943), como: “(. Como termo geral, cultura significa a herança social e total da Humanidade; como termo específico, uma cultura significa determinada variante da herança social. assegura que a cultura é a “soma de todas as criações que melhoram a condição material dos homens ou que expressam a vida intelectual e moral”. A cultura reproduz o resultado do esforço de autoafirmação da espécie humana, que se desprendeu da condição da animalidade até atingir, passando pela selvageria e pela barbárie, os mais altos graus de desenvolvimento da pessoa humana. Desta maneira, a cultura, como termo geral, significa a herança social total da humanidade.
No conceito antropológico, a cultura é, para cada agrupamento humano, um conjunto de modos de proceder e pensar segundo estruturas normativas variáveis e particulares que sustentam diferentes padrões de pensamento e ação. Corroborando isto, temos Darcy Ribeiro mencionando a cultura como “o conjunto e a integração dos modos de fazer, agir, pensar desenvolvidos ou adotados por uma sociedade como solução para as necessidades da vida humana associativa”. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar, celebrar e brincar estão inscritas suas marcas civilizatórias. Há um traço de destaque nesses povos: ancorados na dimensão do sagrado celebram e respeitam a vida e a morte, estabelecendo uma relação ética com a natureza. Pela forma de se expressar e de ver o mundo, tais populações mantêm vivas suas histórias.
” A Constituição Federal de 1988, no Artigo 216, ampliou o conceito de patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural Brasileiro. Essa alteração incorporou o conceito de referência cultural e a definição dos bens passíveis de reconhecimento, inclusive os de caráter imaterial. ” (BRASIL,1988) À devir das numerosas definições de cultura existentes no campo acadêmico das ciências sociais e humanas, nossa Constituição Federal faz de maneira concisa uma definição que muito se assemelha com a conceituação elaborada por Ogburn em 1922, que define a cultura como um conjunto de objetos e ideias de um mesmo grupo, que organiza seus modos e ações como um todo.
A definição deste conceito de Ogburn baseia-se em dois pilares que a organiza: • A Cultura Material; • E Cultura Imaterial. Desta forma, Ogburn define a cultura material como quaisquer objetos físicos, arquitetura, organização de objetos em designs próprios e mesmo animais e plantas domesticados e utilizados por um povo fazem parte da mesma. A cultura imaterial consiste às significâncias dadas os objetos atribuídos à cultura material local, todo seu sistema de crenças, lendas, normas, valores, língua, simbolismos e toda sua organização social. Este conceito também compreende as tradições orais e literatura. No meio rural, esse movimento parece progredir de forma menos acelerada e a homogeneidade é maior. Visto que não se trata de uma sociedade isolada, muitos momentos marcantes do ponto de vista cultural, fatos históricos, decorrentes dos contatos com outros povos e culturas, impulsionaram este movimento mais acelerado na cultura amazônica.
Desses contatos avassaladores decorrem a complexidade da demarcação do domínio e da seleção e conceituação. É necessário observar o movimento dinâmico próprio da cultura amazônica na construção de seu arcabouço cultural e as formas que outras culturas contataram e mesclaram-se na amazônica. As diversidades indígenas vêm se constituindo solidificando há aproximadamente 20 a 30 mil anos antes da chegada europeia. Um exemplo disto é a língua Tupi, que foi extinta apesar de ter sido amplamente falada no território nacional antes e durante a colonização. Usada como forma de melhor intercâmbio com os indígenas, foi utilizada como língua comum no território nacional até o século 17, quando foi suplantada pela Língua Geral, uma mescla do próprio idioma Tupi antigo com o português.
Entretanto, línguas descendentes do Tupi arcaico sobreviveram aos tempos modernos, como o nheegatu, falado principalmente na Amazônia por populações indígenas e ribeirinhas. A população indígena já havia dada sua organização social complexa, uma grande diversidade sociocultural. Possuíam técnicas de caça e pesca próprias e diferentes maneiras de ver o mundo, conhecimento do manejo sustentado do ambiente, dos rituais, das crenças, do conhecimento do uso de ervas floresta e de muitos outros aspectos da cultura tradicional. É uma cultura de fisionomia própria, com predomínio de elementos indígenas, mesclado a caracteres negros e europeus e cujo ator principal é o caboclo, resultante da miscigenação do índio com o branco, e cuja força cultural tem origem na forma de articulação com a natureza e seu convívio com a mesma.
Kupstas (1988) diz: Quem faz a cultura popular? O homem rústico, do campo, o suburbano, o urbano marginalizado, todos aqueles cuja expressão cultural não usa, necessariamente, a escrita. Seu fazer culturalmente une corpo e alma, o físico; expressam um momento de viver. Daí, podemos considerar cultura popular as danças, candomblé, a escola de samba, os modos de plantar, a bebida, o modo rir ou chorar, os comprimentos, as simpatias, enfim, tanto objetos como expressão física ou espirituais de um povo. KUPSTAS, 1988, P. As questões das diferenças de gênero, cultura, etnia/cor fazem parte das discussões globais e nos colocam diante da necessidade de pensar uma educação multicultural em que não se reproduzem estereótipos, preconceitos, discriminações, padrões e exclusões.
AMARAL. p. ” A importância da superação do preconceito e reversão dos processos propagadores que geram a segregação social e culminam na ignorância dos conhecimentos que poderiam ser compartilhados entre os diferentes grupos étnicos, é também expressa por Colares, a seguir: “Se a escola pode reproduz, através dos programas oficiais, a desigualdade da sociedade capitalista, ela também pode se converter em um espaço de luta e de conquistas em prol dos grupos socialmente desconsiderados. Sabemos que a educação ainda encontra-se fortemente centrada nos valores hegemônicos das elites dominantes, mas isso não implica que deverá ser sempre assim. A influência indígena é a mais explícita, sendo verificada na alimentação base da população, onde predominam o consumo de peixes, mandioca e frutas e ervas locais para o preparo de diversificados tipos de pratos apreciados não somente pelo povo local, mas também por turistas e imigrantes.
Há um sem-número de pratos típicos na região, dentre os de origem indígena estão o tacacá, que tradicionalmente é servido em cuias aos modos indígenas, como evidenciado por Bitar à seguir, mencionando também suas conotações religiosas: “O tacacá se singulariza também pelo fato de ser servido em cuias confeccionadas a partir do fruto da cuieira, bem como de ser consumido de modo a dispensar talheres, evidenciando uma intimidade particular com o alimento. É uma comida que demanda modos específicos de ser servido e consumido, assim como determinadas “técnicas do corpo” (Mauss, 2003). Está presente também em representações imaginárias, poemas e letras de música, ou até mesmo na forma de ex-votos oferecidos à Nossa Senhora de Nazaré, por ocasião do Círio, maior festa popular de Belém” (BITAR,2012; p.
Para consumi-lo, deve-se levar a cuia à boca e sorvendo o caldo, se utilizando de um palito de madeira para consumir o camarão e o jambu, erva local responsável por causar uma sensação leve de dormência na boca. “Patrimônio”, aqui, assume outros contornos semânticos, revelando-se indissociavelmente ligado ao corpo, à alma, às relações sociais, a certos lugares, ao modo com que essas comidas são servidas e consumidas, à sua estética, e assim por diante. As baianas e as tacacazeiras não são apenas cozinheiras capazes de produzir com competência certas comidas, são atores sociais que veiculam concepções de mundo. Ser baiana ou tacacazeira é uma forma específica de ser, estar e agir no mundo. ” (BITAR, 2012, p. Como visto, o tacacá atravessa diversas faces do convívio social, desde a compilação de ingredientes, seu preparo, até o seu destino final nas ruas ou nas mesas familiares nas residências.
Indíos e caboclos ribeirinhos contam a lenda que a deidade Jacy (Lua) e a deidade Iassytatassú (Estrela d'alva), combinaram visitar o centro da Terra – o Ibiapité. Desceram do Ibacapuranga (Céu bonito) uma madrugada e para descansar da viagem, repousaram sobre o disco de uma grande vitória-régia. Quando estavam a se preparar para atravessar o grande abismo, a serpente Caninana Tyiiba mordeu a face branca de Jacy. Sofrendo de dor, Jacy derramou suas lágrimas amargas sobre uma plantação de mandioca próxima. Ela foi curada, porém o seu rosto ficou irremediavelmente marcado pelas mordidas de Caninana. Para cada um desses componentes da religiosidade, havia duas classificações cruzadas, resultando nas seis dimensões: 1 Conhecimento a. ortodoxia tradicional b. ortodoxia particularista 2 Efeito a. Palpável b.
Tangível 3 Comportamento a. Este ocorrido teria se repetido por algumas vezes até que convencido ser um sinal divino, Plácido decidiu construir sozinho um pequeno santuário no local que encontrara a imagem primeiramente. O ocorrido teria chamado a atenção das autoridades da então capitania, que ordenaram a remoção da imagem para a capela do Palácio da Cidade. Mesmo sob vigilância, a imagem desapareceu e veio a ser encontrada na pequena ermida erguida por Plácido. Adquirindo caráter oficial, Nossa Senhora de Nazaré foi levada em romaria até o porto de Belém e até Lisboa para ser restaurada, no ano de 1774. A imagem da santa retornou no mesmo ano, em outubro, sendo levada em procissão por inúmeros fiéis até seu santuário.
O Boi-Bumbá ou Bumba Meu Boi, é amplamente difundido no Brasil. É uma das mais antigas formas de festejo popular. Originou-se no século XVIII e evoluiu para um festival nacional. Segundo Linhares, é uma forma de crítica social onde as populações de classe baixa zombam e criticam aqueles de status social mais alto através de uma história de folclore cômica contada em música e dança. Embora não seja tão conhecido internacionalmente como Carnaval e outros festivais brasileiros, é mais antigo e profundamente enraizado na cultura do Brasil. O folclore também inclui o conhecimento e costumes, as formas e rituais de celebrações como Natal e casamentos, danças folclóricas e ritos de iniciação. Cada um destes, individualmente ou em combinação, é considerado um artefato folclórico.
Tão essencial quanto a forma, o folclore também abrange a transmissão desses artefatos de uma região para outra ou de uma geração para a seguinte. Artefatos folclóricos individuais são comumente classificados como um dos três tipos: conhecimento material, verbal ou consuetudinário. Em sua maioria, autoexplicativas, essas categorias incluem objetos físicos (folclore material), ditos comuns, expressões, histórias e canções (folclore verbal), e crenças e modos de fazer as coisas (folclore costumeiro). Como reflexo de suas origens indígenas, temos expressadas codificadas através desses contos a preocupação e o respeito com a natureza e o meio ambiente. “O homem amazônida vive em profunda relação de harmonia com a natureza que o cerca, o que gera fecunda produção de imaginário próprio, emoldurado por uma espécie de sfumato que se instaura como uma zona indistinta entre o real e o surreal, onde os rios e as florestas tornam-se muito importantes para esse cotidiano.
RODRIGUES. p 43)” Um exemplo de lenda popular que dá uma origem e destaca a importância deste alimento para a população indígena, é a lenda da Mandioca. O mito indígena inicia-se na menina Mara, jovem filha de um cacique, sonhadora com a expectativa de conhecer o amor e ter um casamento feliz. Este mito deixa evidente a importância providencial que essa raiz, base alimentar dos povos indígenas, tem não somente na cultura alimentar mas também fundamenta um caráter quase divino a esse importante componente alimentar. Das diversas manifestações culturais amazônicas temos também as artes indígenas, que se manifestam em pinturas e artesanatos, também a arquitetura colonial presente em muitas cidades, como na capital paraense e a arte folclórica empregada nos enfeites das roupas, fantasias e objetos usados em comemorações e festividades, como os feitios das roupas típicas do congado ou da festa do Boi-Bumbá.
O artesanato indígena faz parte da renda de muitas famílias, sendo bem diversificado, com trabalhos produzidos com fibras, coquinhos, sementes, cerâmica, pedra-sabão, barro, couro, madeira, látex, entre outros. São produzidos figuras animais, colares, utensílios domésticos, pulseiras, brincos, cestarias, potes e etc. A arte indígena difere da arte contemporânea ocidental pelo seu caráter utilitário. Multiculturalismo na Amazônia: o singular e o plural. Curitiba: Editora CRV, 2009. BITAR, Nina Pinheiro; BITTER, Daniel. Comida, Trabalho E Patrimônio. Notas Sobre O Ofício Das Baianas De Acarajé E Das Tacacazeiras. br/atividade/const/con1988/CON1988_05. art_216_. asp Acessado em 13/06/2019. BRASIL, IPHAN. Círio de Nossa Senhora de Nazaré - Belém (PA). br/educacao/literatura-amazonica-seus-mitos-suas-lendas. htm#capitulo_5. Acessado em: 14/06/2019. CASCUDO, Câmara Luís da.
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