Marilena Chaui, introdução a história da filosofia
C. O termo “Helenismo” representa a comunicação entre culturas helênicas e oriente - a autora afirma que muitos historiadores usam a expressão “alexandrinismo”, em referência à Alexandria como centro intelectual e cultural. As três escolas - ou sistemas - principais são o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo, porém Chauí (2010:14) executa um “reparo cronológico”: afirma que estes sistemas se estenderam para além do Império Romano; e também um “reparo de conteúdo”: incluindo o neoplatonismo e a filosofia peripatética junto aos três sistemas iniciais, que dividem características em comum. Epicuristas, estoicistas e cínicos negam a filosofia platônica e aristotélica, ainda que se alicercem na divisão dos saberes proposta por Xenócrates: lógica, física e ética.
Há divergências em relação a esta divisão, que alguns pensadores preferem realizar em duas: teorética e prática; e outros, em seis: dialética, retórica, ética, política, física e teoleologia. Estas características se aplicam sobretudo ao estoicismo e epicurismo. Há, dentre estes sistemas, a noção de “medicina da alma”, ou seja, a filosofia como remédio para paixões humanas. Epicuro, por exemplo, julgava inútil a filosofia que não fosse capaz de agir como terapia. Também, para os filósofos, não era possível ser feliz e passional ao mesmo tempo. Para platonistas e aristotélicos, não havia boas ou más paixões, mas para 2 helenísticos, é possível distinguir e afastar as segundas, pois estar sob o domínio das paixões é estar doente da alma.
CETICISMO Marilena Chauí abre sua exposição sobre os céticos com duas questões: “é possível falar de ceticismo no singular?” e “há sentido em empregar o termo ‘escola’?” (CHAUÍ, 2010:46). A divisão do ceticismo em três períodos é a mais aceita: o de Pirro e Tímon, o de Enesidemo e sucessores imediatos e o da escola cética. O ceticismo é entendido como uma filosofia que demonstra a falta de bases para o conhecimento e para a crença. Seus filósofos desconstruíram os dogmas de outras escolas e buscavam a verdade, sem nunca encontrá-la. Pirro (Élis, 365-360 a. O ceticismo no período médio foi ampliado com os pensadores platônicos da Segunda Academia, sobretudo com Arcesilau de Pitana e Carnéades de Cirene.
O ceticismo acadêmico - diferente do pirrônico -, segundo Sexto Empírico, era uma ferramenta contra os estoicos, não exatamente uma escola. Porém, historiadores contemporâneos não aceitam esta teoria. Tanto pirrônicos quanto acadêmicos, ‘extraem de sua crítica ao dogmatismo, especificamente à teoria estoica da representação apreensiva e da apreensão, uma lição positiva, que instaura, respectivamente, o probabilismo e o fenomenalismo como instrumentos de explicação e justificação de suas próprias posições e da ação sem dogma” (BOLZANI FILHO apud CHAUÍ, 2010:170). Arcesilau (315-240 a. Isto se deve pela contradição das definições, que ora ressalta “o caráter reflexivo e espiritual do prazer” do epicurismo, ora ressalta o voluptuosismo e intemperança dos epicúreos. Na verdade, afirma, Chauí, a imagem da ética do prazer sensual foi desenvolvida por críticos de Epicuro, sobretudo os estoicos e posteriormente, cristãos.
Porém, quando se lê a obra de Epicuro (341 - 270 a. C. conforme a autora, não se percebe o mesmo horror presente na crítica dos supracitados. Estas bases fazem supor que há um fatalismo presente que não representa a escola. Os estoicos influenciaram a doutrina cristã pela ética ascética e noção de providência, ainda que esta última seja diferente da adotada pela religião. O ascetismo, parte importante do estoicismo, dá ao estoico a imagem de austeridade, firmeza e serenidade, indiferença e sabedoria que contrapõe com a do epicurista, sempre “marginal” (CHAUÍ, 2010:116), ateísta e não-civista. Zenão de Cício (334-314 a. C. Por exemplo, havia concordância entre a divisão tripartite da filosofia, mas não em relação à ordem das disciplinas.
Havia também a posição de Aristo, que rejeitava a física e também as por parte de Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca. “Finalmente, é preciso mencionar que a longa duração do estoicismo, que perdurou por cinco séculos, também foi responsável pela pluralidade de doutrinas. Tradicionalmente, distinguem-se, no correr dos quinhentos anos da escola, três fases ou épocas: a antiga, em Atenas, entre o final do século IV a. C. Como critério de verdade, foi admitida a representação isolada que não depara com obstáculos, isto é, a certeza é a sua relação com o todo. Alguns traços da física foram afrouxados e mudanças na moral aconteceram. Panécio de Rodes (185 a. C. foi o principal responsável por estas mudanças, além de diferenciar o saber da prática.
É por meio das obras do historiógrafo Arrio que se conhece a obra de Epicteto e Estobeu, além de Hiérocles. Os estudiosos consideram que a escola estoica durou muito e esta longa duração trouxe consequências manifestadas na Roma Imperial: fixação na doutrina pré-existente, sem dedicação à novas investigações, falta de interesse pela física e lógica devido ao mantimento de escolas voltadas para o direito e retórica e a divisão tardia entre o retorno da crença religiosa e o prestígio do ceticismo. Em Roma, estoicos populares e aristocratas misturavam-se, dando aulas em escolas ou nos domicílios. O ensino tradicional privilegiava a “transmissão comentada” (CHAUÍ, 2010:291) das obras antigas. O aprendizado começava pela lógica - dividida em gramática, retórica e dialética -, que foi criticada por Epicteto, que por sua vez acreditava que o ensino deveria iniciar pelo domínio das paixões.
nasceu filho de cavaleiros romanos. Quis ocupar cargos públicos e, portanto, dedicou-se à oratória. Recebeu uma educação chamada de liberal da aristocracia, onde aprendeu lógica, grego, filosofia estoica e pitagórica. Tornou-se figura pública como filósofo e ficou rico, requisito para a vida pública em Roma. Escreveu sua obra dividida em tratados morais, consolações, tragédias, sátiras, tratado de física, cartas e história natural. Abriu nova escola em Nicópolis onde ensinou até a sua morte. Conta-se que tinha uma perna torta e nunca casou-se. De suas obras, apenas quatro foram conservadas: metade dos volumes de Conversações, que constituem da segunda parte de suas aulas: “As aulas de Epicteto se dividiam em duas partes: na primeira, um aluno lia e comentava um texto estoico ou expunha alguma questão técnica, por exemplo, os raciocínios hipotéticos; na segunda, Epicteto comentava a exposição do aluno e, em seguida, improvisava uma discussão com os ouvintes, suscitando e respondendo a questões.
” (CHAUÍ, 2010:311). Há opiniões que creditam “Conversações” a Arrio, historiógrafo e aluno de Epicteto, reforçadas pelo prefácio do discípulo declarando que apenas redigiu a obra, baseada em anotações e aulas. Também contribuiu no campo da ética, onde pensou as paixões como doenças. Em Cícero, vemos o fim da filosofia grega hegemônica - cuja hegemonia passaria a ser escrita em latim -, e o da cultura republicana de Roma - que agora cairia nas mãos do cesarismo. Começou sua vida pública como advogado. Por causa de um caso, afastou-se de Roma e conheceu o estoicismo na Grécia. Ouviu também Posidônio, Xénocles, Dionísio e Adramita. Lucrécio escreveu sobre física, metafísica e teoria do conhecimento, na tentativa de reduzir a ignorância e o medo diante da natureza.
Agora, porém, deixamos as terras acadêmicas e entramos em águas estoicas, pois o senso comum é entendido à maneira da prolepsis estoica, tal como Panécio a concebe, isto é, como pré-noções inatas universais ou, na linguagem ciceroniana, semina, sementes de virtude, que, "sem doutrina", todos os humanos possuem por que a natureza lhes dá a luz natural (naturae lumen) (CHAUÍ, 2010:229) 7. ROMA IMPERIAL E OS CÉTICOS Enesidemo foi o mais importante, juntamente com Pirro, representante do ceticismo na Antiguidade. Ele apresenta as ideias de tropos como esquemas de refutação e volta-se aos dogmáticos e seus critérios de verdade para mostrar que tais noções não são preenchidas. Sexto Empírico era grego.
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