LIVRO CONVITE À FILOSOFIA
A autora diferencia juízo de fato e juízo de valor. O acontecimento propriamente dito como uma informação configura um juízo de fato; quando atribuímos características que demonstra nossa visão sobre tal acontecimento, já revela um juízo de valor. O texto utiliza o exemplo da chuva, simplesmente dizer que “está chovendo” é um juízo de fato, mas dizer que “a chuva é boa” revela um juízo de valor, mesmo que esta afirmação encontre fundamento, por exemplo, na agricultura, ela expressa uma visão sobre um fato. É justamente porque emitimos juízos de valor, porque somos livres de qualquer influência externa para fazermos nossas escolhas e nossos julgamentos, porque somos capazes de analisar as consequências de nossos atos; por todos estes fatores que podemos viver em sociedade.
Considerando que violência é a agressão física ou psicológica que coage um indivíduo a agir contra a sua vontade, Chauí conclui que baseada na capacidade humana de julgar e analisar, a sociedade estabelece um conjunto de normas que garanta a livre expressão da vontade de todos. Por todas estas razões, Maquiavel se tornou um adjetivo para pessoas consideradas calculistas ou que participam de atos escusos, porém sua obra se tornou um manual para todos os que se envolvem ou se interessam por política. A nova realidade na qual não existe o apelo ao sagrado e os indivíduos batalham entre si para conquistar o poder gera os questionamentos e as teorias que analisam a sociedade e a natureza humana. Chauí destaca duas visões sobre estes aspectos, enquanto Hobbies acredita que em um estado de natureza os homens guerreiam entre si, dominando terras para se proteger, e fazendo prevalecer o mais forte em detrimento do mais fraco, e somente com a força da lei este estado brutal é controlado; Rousseau argumenta que em um estado de natureza os homens vivem em harmonia, em cooperação mutua, e esta bondade humana é corrompida a partir do momento que surge a propriedade privada, o sentimento de posse e o homem passa a enxergar-se individualmente e não coletivamente, e com este fato, se geraria a brutalidade descrita por Hobbies e seria preciso a lei para mediar tais conflitos.
Ambas as visões defendem a necessidade de um contrato social no qual o homem se abstém da sua liberdade para conseguir viver em sociedade, e assim, se criam os governos. Por meio deste contrato social, os homens entregam o poder para um governo que pode ser composto por um indivíduo ou um grupo para esta instituição garantir o direito à vida e à paz e regulamentar as regras sociais e econômicas. A autora expõe visões como o anarquismo, o socialismo utópico, o socialismo teórico que trazem possibilidades para uma sociedade sem Estado. Possibilidades como a eleição de delegados para discutir somente um assunto com a federação, este representante deveria argumentar sobre as ideias discutidas em sua localidade, resolvido o assunto, ele não teria mais cargo.
Dentro desta argumentação, a filósofa disserta que o socialismo teórico através de um de seus expoentes Marx realizou a crítica ao capitalismo assim como Maquiavel fizera com o medievalismo. Este pensador alemão desvendou o mecanismo social, criticando o fato de os proprietários de propriedades e dos meios de produção serem detentores de todo poder, formando uma classe dominante que explora os trabalhadores. Ao analisar todo o sistema capitalista, Marx expõe a relação de opressão que rege a sociedade, e defende uma transformação social que desvincule o poder econômico do poder político como o radical das palavras economia e política pressupõe. Citando esta distinção, o texto questiona o modo de produção capitalista, pois se o trabalho físico e o suor humano é tão valorizado na sociedade atual, não há explicação para o fato de a política ser exercida por homens livres e com tempo para refletir.
Marx analisa toda estrutura capitalista, trazendo o conceito de mais valia que seria um valor excedente sobre a mercadoria que não é repassado em forma de salário para o trabalhador, assim, o indivíduo trabalha, por exemplo, por oito horas e recebe por quatro horas. Esta diferença entre o valor da mercadoria e o salário é o lucro que o patrão ganha. A filósofa conclui dizendo que a revolução proposta por Marx seria a última, pois colocaria fim às diferenças de classes e sociais, e este seria o objetivo de todas as revoluções. A visão marxista seria lógica, pois analisa profundamente o capitalismo. Deste modo, se gerou um receio por parte dos países em aderir ao socialismo devido às punições internacionais como o isolamento comercial.
Chauí argumenta que devido a guerra fria, a criação de dois polos um capitalista liderado pelo Estados Unidos, e outro Socialista liderado por União Soviética e China, os blocos se viram obrigados a proteger suas áreas de influência. O lado capitalista passou a dar apoio financeiro em créditos com o banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para garantir serviços sociais a fim de evitar revoluções advindas de revoltas populares. Forneceu também apoio militar, em vários países do terceiro mundo, ocorreram ditaduras nos anos 60 visando a contenção de movimentos populares. A filósofa recorre ao conceito grego de democracia, onde era parte da cidadania o direito a liberdade, a igualdade e a participação política.
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