Jesus e o trabalho
Tipo de documento:Produção de Conteúdo
Área de estudo:História
Flávio Josefo fala de modo elogioso da Galileia, terra «fértil em toda a sua extensão e rica em pastos, e além disso dotada também de todo o tipo de árvores, de tal modo que mesmo quem não encontre qualquer alegria no trabalho da terra se sente entusiasmado com a sua produtividade. Por isso toda a terra sem exceção foi cultivada pelos seus habitantes, e nenhuma parte ficou inculta». A pesca é igualmente da maior importância. Também aqui se pode remeter para a descrição de Josefo: «As espécies de peixes que se encontram no mar distinguem-se pelo sabor e pela forma das de outras águas». As povoações urbanas de Cafarnaum, Magdala na Galileia e Betsaida na região de Pereia viviam da pesca, como bem mostra a tradição evangélica (cf.
por Herodes Antipas, mas também em geral na sequência da urbanização da Galileia. Eram procurados em particular trabalhadores da construção, mas desenvolveu-se igualmente o negócio de transporte. Os cântaros de barro encontrados na região de Betsaida mostram que também o negócio do barro era importante. Jesus e o homem que trabalha Jesus pertence à camada da população que trabalha (artesanalmente). Na aldeia de Nazaré, cresce como «Filho do “tekton”» (cf. Mas se seu pai já é um “tekton”, o filho, como de costume, sucede-lhe na profissão. Muito provavelmente pode-se também dizer que a família de Jesus não tem qualquer oficina própria, mas que Jesus, tal como seu pai, viaja como jornaleiro e trabalha no seu ofício em diferentes locais.
A itinerância, mais tarde característica da sua aparição pública, faz parte assim, já desde a sua juventude, da vida do Nazareno. Deste modo, pode supor-se que Jesus conhece o mundo do trabalho por experiência própria, nele toma parte, e a sua vida anterior à sua aparição pública não se passa apenas na obscuridade. As imagens das parábolas e os caminhos percorridos que se conseguem reconstruir bastante bem nos seus traços principais a partir dos Evangelhos, revelam familiaridade com a vida real do quotidiano na Palestina. Na sua diversidade situacional, revelam que o trabalho, aos olhos de Jesus, constitui uma evidente missão; no seu mundo de trabalho, o homem é percebido com todos os seus talentos e riqueza de ideias. A Jesus não interessa o estatuto social de alguém ou o valor da sua atividade, por isso ele pode falar muito naturalmente de um servo ou de um senhor, de um proprietário ou de um criado, de um rei ou do seu exército.
O servo que regressa do campo não deve apenas lavrar a terra do seu senhor, mas ajudá-lo ainda no trabalho doméstico (Lc 17,7-9), os servos são enviados a chamar os convidados para o banquete já preparado (Lc 14,16-24), mas também assumem a responsabilidade da casa durante aausência do senhor e devem estar preparados para esperar o seu regresso a qualquer hora (Mc 13,23ss). Também altas funções são representadas no mundo de trabalho do ambiente de vida de Jesus, como o administrador que ajuda o senhor na organização e distribuição do trabalho (Mt 20,1-16); mas pode ser igualmente o proprietário que contrata trabalhadores para a colheita. São assinaláveis a diversidade e sobretudo as diferenças de estatuto social das atividades profissionais tematizadas nas parábolas: em Mt 13,45 trata-se, no contexto das parábolas do campo e da pérola, de um “emporos”, um «grande negociante», um exportador e importador, que está do lado dos abastados; do mesmo modo, desempenha o seu papel um prestamista (cf.
O que importa é a tentativa do proprietário em motivar para o trabalho os que vagueiam por ali. O facto de ainda serem chamados uma hora antes do fim do trabalho, a eles surpreendeu-os certamente, em todo o caso não podiam contar com isso; mas para o narrador é importante que os jornaleiros acabem por trabalhar, mesmo que pouco tempo antes do fim. Com o tema do pagamento provocador, o que importa nesta parábola é, afinal, que o homem não pode colocar quaisquer reivindicações perante Deus; não deixa no entanto de ser instrutivo o facto de o seu mundo imaginário se sustentar nas reais relações de trabalho e de o homem ser apreciado como trabalhador ainda que de forma paradoxal. O facto decisivo da parábola, ao narrar que os trabalhadores só brevemente empregados haviam recebido idêntico salário que os outros, só pode, aos olhos do narrador, elevar o valor do trabalho.
A parábola dos talentos (Mt 25,14-30/Lc 19,12-27) dá-nos conta de como a cada um se exige que faça o melhor possível com aquilo que lhe é dado. Identifica-se apenas a si mesmo com aquilo que outros conseguiram com o seu trabalho e atribui perenidade às suas posses. A narrativa é concebida de tal modo que o leitor espera deveras que a vida do homem abastado se venha a desmascarar como uma grande ilusão. Fazer com que trabalhem para si pessoas dependentes e tirar daí o maior lucro, tendo-se em atenção apenas a si mesmo, contradiz o que Jesus fundamentalmente entende do homem que recebe de Deus os seus próprios dons, e perante Ele se tem de responsabilizar quanto ao modo de os fazer render. O trabalho não encontra o seu sentido no amontoar de riquezas que perecem (cf.
Mt 6,19-21), mas corresponde ao encargo recebido na criação de dar forma ao mundo e à vida. Síntese Jesus vem ele próprio do mundo do trabalho e, durante a sua atividade pública, insere-se conscientemente no mundo do homem trabalhador. Dá assim a entender que confirma o mundo com as suas condições de vida e que vê no trabalho o elemento fundamental para a realização do mundo. Por isso não lhe importa aferir o trabalho segundo uma escala de valores. Para ele o jornaleiro é tão importante como o grande comerciante, o servidor tão importante como o senhor que organiza um banquete. Na sua apreciação do trabalho, Jesus deixa-se conduzir pelo seu horizonte sapiencial e de uma teologia da criação que entende o trabalho como a concretização de um dote e de um encargo recebido do Criador.
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