Aspectos históricos do transporte aeromédico e da medicina aeroespacial – revisão
Tipo de documento:Redação
Área de estudo:Sociologia
Cirurgião Geral e Pediátrico, Gastroenterologista. Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Docente Pesquisador da Santa Casa de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG – Brasil. Médico, Cirurgião Geral. Nascia nova era, em que o homem começava a entender e a dominar as alterações fisiológicas da altitude. A concepção de transporte aeromédico foi introduzida durante as guerras napoleônicas e sedimentada na Guerra Franco-Prussiana (1871), quando 160 feridos foram transportados da Paris sediada, em balões de ar quente. A grande evolução nos cuidados pré-hospitalares e no modelo de remoção de pacientes ocorreu durante as Guerras do Vietnã e da Coreia, palco de estrutura que serviu de molde para os sistemas de atendimento ao trauma da atualidade.
As guerras continuam a assolar a humanidade, levando vidas e trazendo sofrimento e dor aos que ficam. Paradoxalmente, é a mesma guerra que fornece condições de pesquisa e desenvolvimento de inventos e tecnologia, as quais propulsionaram a conquista de novos universos. Man experienced a hostile environment unknown to him, low atmospheric pressure, hypoxia and hypothermia were just the beginning. Paul Bert, medical physiologist and father of Aerospace Medicine, already performed studies in hypobaric chambers, even with all the technological limitations of his time. A new era was born, in which man began to understand and master the physiological changes of altitude. The concept of aeromedical transport was introduced during the Napoleonic wars and consolidated in the Franco-Prussian War (1871), when 160 Rev Med Minas Gerais 2013; 23(1): 116-123 Aspectos históricos do transporte aeromédico e da medicina aeroespacial – revisão wounded men were transported from sieged Paris on hot air balloons.
A great evolution in pre-hospital care and patient evacuation strategies occurred during the wars in Vietnam and Korea, stages that served as a templates for the structures of trauma care today. Possuíam também os “valetudinarium”, que eram hospitais fixos destinados aos atendimentos de militares, gladiadores e atletas. Nessa ocasião surgiu o “auxiliar do hospital”, o enfermeiro que auxiliava o médico no tratamento do paciente. No século XIII, Vila Nova, médico de Pedro, O Grande de Aragão, preconizava a higiene coletiva e o uso de aguardente no tratamento dos feridos. Apesar dos primeiros relatos de ferimento por arma de fogo terem ocorrido em 1346 na batalha de Crecy, na Guerra dos 100 anos, a primeira menção ao tratamento desse tipo de ferimento ocorreu na obra do cirurgião militar bávaro Henrich Von Polfs Peundt (1461).
O conceito de antissepsia surgiu com Paracelso, médico militar holandês que em sua obra “Cirúrgica dos Grandes Feridos” aconselhava lavar o ferimento com água e não interferir na “excelente ação da natureza”, evitando-se a supuração. Esse relato da mitologia demonstra a constante necessidade do desenvolvimento de descobertas e invenções e da importância da criação de protocolos para que se tenha segurança e sucesso. A história do transporte aeromédico não é diferente. Ela começa com os balões. Sua utilização pelos militares no século XIX decorreu da necessidade de: ataque aéreo de alvos militares; reconhecimento aéreo em balões cativos, ou seja, presos ao solo por uma corda; comunicação, transporte de pessoal, equipamento e correio.
O primeiro bombardeamento aéreo foi tentado em 1849, quando os austríacos lançaram 200 balões de ar quente e não tripulados, transportando bombas contra as forças que defendiam Veneza. Em 1876, durante a guerra entre a Rússia e a Turquia, foi adotado o “Crescente Vermelho” também como emblema da Cruz Vermelha. Em junho de 2006, na 29a. Conferência Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, decidiu-se adotar, por razões diplomáticas, um terceiro emblema, que é o “Cristal Vermelho”, principalmente nos conflitos da Palestina. A aviação continuou a se desenvolver e, em dezembro de 1903, Orville e Wilbur Wright, os irmãos Wright, fizeram o primeiro voo controlado de um avião “com motor” com o modelo Flyer I nos EUA. Porém, foi o brasileiro Santos Dumont que, em outubro de 1906, realizou o primeiro voo homologado da história no avião 14 BIS.
Em 1928, foi estabelecido o primeiro serviço de Transporte Aeromédico (TA) na Austrália, o Australian Inland Mission Aerial Medical Service, que mais tarde se tornou o Royal Flying Doctor Service. O interesse desencadeado, nesse período, em diversas partes do mundo, pelo desenvolvimento de aviões para assistência à saúde, deve-se à multiplicidade de combates posteriores à Primeira Guerra Mundial, sobretudo à necessidade de prestar socorro imediato aos pilotos abatidos em combate. Na Segunda Grande Guerra (1939 a 1945), alemães e americanos adaptaram aeronaves militares de transporte para “ambulâncias aéreas” devidamente equipadas, com macas apropriadas, sistema de aspiração e oxigênio, equipamentos de ventilação não invasiva com máscaras, medicações e com profissionais de saúde para atendimento aos feridos. Utilizavam-se aviões amplos, como o americano DC-Douglas, que permitiam a remoção de vários pacientes simultaneamente.
Nesse contexto surgiram as flight nurses, marco histórico na assistência de enfermagem. O sucesso desses voos na Guerra da Coreia serviu de estímulo para as ações no Vietnã. Percebeu-se, durante a Guerra do Vietnã, a necessidade de treinamento para os integrantes das equipes de saúde, dando início à era da asa rotativa e da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea. De 1965 até 1972, os helicópteros de transporte aeromédico resgataram cerca de um milhão de civis e militares feridos no Vietnã. Foi nessa época que o mais importante ventilador pulmonar invasivo pressórico, o BIRD Mark7, inventado pelo médico e engenheiro aeronauta Forrest Bird, foi usado em UTI militar e aeronaves de resgate. A utilização de helicópteros reduziu o intervalo de tempo para o tratamento médico definitivo de seis a 12 horas durante a Segunda Guerra Mundial, para duas a quatro horas durante a Guerra da Coreia.
Vieira; Ciências Aeronáuticas – Universidade Estácio de Sá). Equipes aeromédicas bem treinadas passam a tripular aeronaves cada vez mais rápidas como os jatos, verdadeiras UTI aéreas. A velocidade inicial de 27 km/h alcançou 900 km/h em cabines pressurizadas, ambiente confortável para o paciente e para a equipe médica, com normas internacionais rígidas, proporcionando rapidez e segurança. No século XX, os avanços chegaram rapidamente em relação à estabilização e ao transporte de pacientes criticamente enfermos. A reanimação precoce e a transferência em tempo hábil de pacientes devidamente triados e com equipes bem preparadas foram fatores determinantes na redução da morbidade e da mortalidade, nas chamadas 24 horas de ouro. Rev Med Minas Gerais 2013; 23(1): 116-123 119 Aspectos históricos do transporte aeromédico e da medicina aeroespacial – revisão O transporte aeromédico deve seguir as normas e legislações específicas vigentes, oriundas do Comando da Aeronáutica, por intermédio da Agencia Nacional da Aviação Civil (ANAC), a qual não exerce função reguladora da atividade médica, mas controla a atividade dos profissionais da aviação a partir da Lei do Aeronauta (Lei 7.
e Lei 7. e da Portaria Interministerial 3. Entende-se por aeronauta, segundo os dispositivos legais citados, o profissional habilitado pelo Ministério da Aeronáutica, que exerce atividade a bordo de aeronave civil nacional, mediante contrato de trabalho regido pela legislação trabalhista ou aquele que exerce atividade a bordo de aeronave estrangeira, em virtude de contrato de trabalho regido pelas leis brasileiras. São, portanto, considerados aeronautas o piloto ou comandante, o copiloto, mecânico de voo, navegador, radioperador de voo, instrutor de voo, comissário e operadores de equipamentos especiais instalados nas aeronaves. e passou a regulamentar o atendimento pré-hospitalar. O serviço de TA encontra-se inserido no sistema de atendimento médico pré-hospitalar de urgência e emergência, sendo regulamentado pelas portarias do Ministério da Saúde GM/MS nº 2.
de 05 de novembro de 2002 e nº 1863/GM de 29 de setembro de 2003, além das resoluções do Conselho Federal de Medicina, que regulamentam o atendimento pré-hospitalar (CFM 1. o transporte inter-hospitalar (CFM 1. e o TA (CFM 1. m, percorreu mais de 1,6 km do ponto de partida, em um voo de 10 minutos. Para avaliar os efeitos da altitude em seres vivos, no dia 19 de setembro de 1783, os Montgolfiers puseram um carneiro, um pato e um galo a bordo do balão. Após o pouso, os animais encontra- Aspectos históricos do transporte aeromédico e da medicina aeroespacial – revisão vam-se sem alterações. Visto a segurança do voo para os seres vivos, a primeira ascensão humana em altitude conhecida foi realizada num balão preso ao solo, em 15 de outubro desse mesmo ano, por Francois Pilarte de Rozier.
Aproximadamente um mês depois, em 21 de novembro, Rozier e o Marquês d’Alrandes atravessaram a cidade de Paris num balão construído pelos Montgolfiers, realizando o primeiro voo livre. Em 1912, na Inglaterra, publicaram-se rudimentos da Medicina de Esquadrão. Naquele mesmo ano, nos EUA, foram publicados os princípios para avaliação de candidatos a pilotos. Esse tipo de rigor no exame levou à diminuição dos aprovados e à escassez de pilotos para a atividade militar, gerando afrouxamento das regras. Além disso, as vorazes necessidades da guerra, bem como a convicção de que a bravura e o entusiasmo pelo voo seriam suficientes para o treino de um piloto, fizeram com que os ingleses nada de especial exigissem além dos critérios já usados na seleção de qualquer militar de infantaria ou de cavalaria.
Os combates aéreos logo mostraram que o afrouxamento das regras havia sido altamente pernicioso e que o despreparo físico-psíquico dos pilotos era evidente. Não há comprovação de sua autenticidade; nem citação por algum autor ou publicação aeromédica britânica; e, a lista oficial de perdas de pilotos britânicos não se aproxima desse percentual. Essa informação deve ser, portanto, questionada antes de aceita como verdade absoluta. Ainda antes da Primeira Guerra Mundial o estresse de voo de altitude tinha sido experimentado, não por pilotos de avião, mas pelas tripulações dos dirigíveis alemães, onde foram usados, pela primeira vez, equipamentos de oxigênio para manter o desempenho de seus tripulantes. Em 1915 foi criada uma secção de Medicina Aeronáutica no serviço de saúde militar alemão.
Essa atitude foi decisiva para o sucesso inicial da força aérea alemã, com reduzido número Rev Med Minas Gerais 2013; 23(1): 116-123 121 Aspectos históricos do transporte aeromédico e da medicina aeroespacial – revisão de baixas médicas graves ocorridas com os pilotos alemães. Nos anos seguintes, em 1928 e 1929, o Exército iniciou a realização de testes médicos e psicotécnicos, com a finalidade de avaliar os candidatos à aviação militar. Em 1929 e 1930, a Marinha enviou médicos para estudarem Medicina Aeroespacial na “Naval Medical School”, em Pensacola, e no ano de 1931 criou-se a Primeira Junta de Inspeção de Saúde para aviadores com médicos especializados em Medicina de Aviação, iniciando-se o 1º Curso de Medicina da Aviação no Brasil. Em Maio de 1935 diplomou-se a primeira turma.
Rev Med Minas Gerais 2013; 23(1): 116-123 Em 1933, o Exército, no Campo dos Afonsos, constituiu Junta Médica de Aviação Militar, depois transformada em Serviço Médico de Aviação e posteriormente em Instituto de Seleção, Controle e Pesquisa para realizar exames admissionais e periódicos, além de promover estudos de Psicologia, Fisiologia e Higiene. Em 1937, foi criado o Departamento de Aviação Civil subordinado ao Ministério de Aviação e Obras Públicas para selecionar e fiscalizar os aeronavegantes civis. Figueiredo OC. Presença da medicina militar na História da Medicina. Rev Med Minas Gerais. Century of Flight. The history of flight [Cited 2011 Jun 20]. Grimes M, Manson J. Evolution of flight nursing and the national flight nurses association. J Air Med Transp. Comitê Internacional da Cruz Vermelha [Internet].
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