A Presença da Mulher no Cangaço: Maria Bonita e Dadá 1930 - 1940
Dadá 17 Considerações Finais 20 Referências Bibliográficas 21 RESUMO O presente trabalho de curso possui como objetivo a realização de uma abordagem a respeito da presença feminina no cangaço nordestino e, sobretudo, enfatizar as mais conhecidas e importantes cangaceiras, sendo estas, a Maria Bonita e a Dadá. Neste sentido, analisou-se os últimos dez anos de existência do movimento, com a finalidade de compreender o papel exercido por elas neste contexto histórico, considerando que raramente explora-se sobre a participação das mesmas entre os cangaceiros na historiografia brasileira. Para isto, inicialmente desempenhou-se um levantamento bibliográfico efetivado através da leitura de livros, artigos e teses relacionadas à nossa temática, sendo encontradas em bibliotecas e endereços eletrônicos. Como nossos referenciais teóricos empregou-se autores como Maria Isaura Pereira de Queiroz (1986/1977), Ana Paula Saraiva de Freitas (2005), Luiz Bernardo Pericás (2010), Daniel Lins (1997) e Frederico Pernambucano de Mello (1993).
Além disso, utilizou-se de fontes como a história oral e a literatura de cordel. No entanto, doravante esta década, as mulheres sertanejas deliberaram a rescisão dos protótipos conferidos por uma sociedade totalmente patriarcal, com o desígnio de fazer parte do meio social dos cangaceiros. Destarte, a pioneira neste segmento foi Maria Gomes de Oliveira, popularmente conhecida como Maria Bonita, a qual determinou livremente sua vinculação ao bando de Lampião. Em contrapartida, algumas mulheres foram forçadas a inserir-se neste movimento, a título de exemplo, insta destacar Dadá, vítima de seu companheiro Corisco. A inserção de Maria Bonita sob a concordância de Lampião possibilitou o ingresso de inúmeras mulheres ao grupo. O assentimento do “Rei do Cangaço” resultou no surgimento de intensas críticas a respeito deste contexto, considerando que, no imaginário popular apresentava-se o preconceito de que a compleição feminina neste âmbito ocasionaria azar ao movimento.
em sua obra História do Cangaço, concebe-se que a palavra remete à “canga” ou “cangalha”, na qual designa uma armação posta sobre o cavalo com o objetivo de transportar diversos utensílios. De acordo com o historiador Luiz Bernardo Pericás (2010, p. em seu livro Os Cangaceiros, na contemporaneidade, o conceito de cangaço refere-se aos grupos de homens armados situados no Nordeste do Brasil, em torno dos anos de 1930 e 1940. Em meados do século XVIII e XIX, o Brasil apresenta-se em um cenário político intensamente acentuado pela presença de oposições partidárias, constituídas pelos Conservadores e os Liberais. Os indivíduos adeptos ao partido conservador eram favoráveis a preservação da situação vigente do país, bem como aos valores tradicionais, em contrapartida, os liberais defendiam uma transformação social ausente de apego às tradições.
Deste modo, se apresentavam como uma ameaça aos proprietários de terras, devidos aos furtos nos quais efetuavam. No entanto, visando apaziguar este temor instalado, os fazendeiros findaram uma aliança com os cangaceiros independentes, ademais, os governantes políticos colaboraram expressivamente para a ininterrupção do cangaço, sobretudo, na condição de conceder aos integrantes do grupo uma impunidade pelos crimes. Cabe salientar, doravante estas considerações iniciais, que os cangaceiros, embora instalados em um mesmo território, o Nordeste brasileiro, apresentam intensas disparidades. Desta forma, o cangaceiro dependente é fruto das condições econômicas fundadas na agricultura e na pecuária, enquanto que o cangaceiro independente emana de um período marcado por intensas secas e debilidades econômicas. De acordo com Queiroz (1986, p. assevera que as questões políticas, econômicas e sociais são insuficientes para elucidar tal surgimento.
Fundamentados em nossa proposta, não cabe a nós ressaltarmos todos estes fatores, entretanto, salientaremos aqui, alguns destes. Encetamos pela análise do historiador Eric Hobsbawm (2010, p. o qual concebe a este surgimento, as conjunturas de âmbito social e econômico. O autor reitera que “o banditismo1 tendia a tornar-se epidêmico em épocas de pauperismo2 ou de crise econômica”. Segundo as considerações do escritor Rui Facó (1983, p. a ascendência do cangaço se assemelha a dos movimentos messiânicos3, a qual associa-se aos fatores sociais e econômicos. Consoante ao autor, estes fatores implicam na exploração das classes, onde grande parte da população sertaneja – predominantemente rural – não dispunha de terras, tendo em vista que apenas uma minoria desta população usufruía deste benefício.
Em consequência, a população desvalida era privada do acesso a pequena propriedade, a qual conceberia a subsistência de sua família. Destarte, Facó indaga: “num meio em que tudo lhe é adverso, podia o homem do campo permanecer inerte, passivo, cruzar os braços diante de uma ordem de coisas que se esboroa sobre ele?” (1983, p. Desta forma, salientamos sumariamente, que tais fatores se associam a desestruturação econômica e social, as condições climáticas, as desavenças entre as famílias e as classes, a miséria e a debilidade dos órgãos públicos no Nordeste brasileiro. Acerca da definição dos cangaceiros, inúmeros pesquisadores se discernem, conforme exposto com a percepção de Queiroz e Hobsbawm. Segundo Facó (1983, p. são “grupos [. que lutam de armas nas mãos, assaltando fazendas, saqueando comboios e armazéns de víveres nas próprias cidades e vilas”.
Conforme o supracitado por Chiavenato evidencia-se que os cangaceiros consistiam em padecedores da ordem social imposta na época, os quais foram oprimidos por indivíduos superiores a eles, sem que as instituições públicas os resguardassem. O pesquisador e poeta Antônio Kydelmir Dantas Oliveira (1997, p. elucida em sua obra Mossoró e o Cangaço três tipos de indivíduos que aderiram ao movimento, sendo eles o injustiçado, o aventureiro e o facínora. Desta forma, o injustiçado consiste naquele que aderiu ao cangaço na busca por vingança à ordem vigente; o aventureiro é resultado do “fascínio que o cangaço exercia”, sendo seus membros, ponderados como os heróis; e o facínora se integrou com o objetivo de “se proteger da perseguição policial”.
Este banditismo social resiste no Nordeste do país entre os anos de 1870 até 1940 e, neste ínterim, surgem personalidades emblemáticas do cangaço, as quais se consagraram como os “reis do cangaço”. Apenas no século XX, a escrita da história das mulheres se consolidou, no entanto, a contemporaneidade é assinalada pela intensa pesquisa acerca deste tema. Conforme os escritos de Perrot, evidencia-se que as mulheres além de portarem uma história, são aquelas que a fazem serem lembradas. Doravante este fenômeno, a história da mulher que antecede o século XX, apresenta um caráter embaciado e incongruente, tendo em vista que é descrita, reservadamente, por estudiosos do gênero masculino. Deste modo, encontrava-se por intermédio das investigações apenas o silêncio das mulheres e acerca delas, pelo qual se dilatava gradualmente com a escassez de informações, as quais, teoricamente, não solidificavam a sua presença.
Nesta conjuntura, Perrot assevera: Evidentemente, a irrupção de uma presença e de uma fala femininas em locais que lhes eram até então proibidos, ou pouco familiares, é uma inovação do século 19 que muda o horizonte sonoro. Silêncio até mesmo na vida privada (PERROT, 2005, p. Outra determinante nesta condição feminina e ressaltada por Perrot é a teologia, por meio da qual as mulheres são limitadas a determinadas condutas. O sociólogo Pierre Bourdieu (2012, p. acrescenta que “as religiões inculcam explicitamente uma moral marcada por valores patriarcais, e modelam estruturas históricas do inconsciente por meio do simbolismo presente nos textos sagrados da liturgia, do espaço e do tempo religioso”. Assim, as religiões monoteístas, sobretudo o cristianismo fundamentado nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, dispõem de escritos bíblicos nos quais preconizam a submissão da mulher.
Ademais, o autor acrescenta que “[. as mulheres também davam apoio moral e afetividade, proporcionando um senso de ‘normalidade’, na medida do possível, àquele estilo de vida errante e incomum”. Desta forma, o movimento “se ‘normalizava’, se ‘institucionalizava’, mesmo que fosse fora do mundo ‘oficial’”. PERICÁS, 2010, p. De acordo com o historiador e pesquisador do cangaço Frederico Pernambucano de Mello em sua narrativa à Luís Gustavo Melo, [. Acerca dos traços de Maria Bonita, Mello relata que a mesma era “[. bonita, rechonchuda, pernas torneadas, pele alva – nada de morena ou cabocla, como sustenta certa tradição oral -, olhos e cabelos castanhos, nada de olhos azuis, como igualmente insiste o folclore, nos seus 1,56m. ” (2015, p. No que concerne as suas experiências precedentes ao cangaço, Maria Bonita nasceu no Estado da Bahia, datando em 8 de março de 1911, sucedida de uma família de lavradores, os quais possuíam estáveis condições financeiras.
Seus progenitores eram Dona Déa, a Maria Joaquina Conceição de Oliveira e José Gomes de Oliveira, o Zé Felipe. Destarte, nos primórdios de 1930, Maria Bonita abandona seu esposo para fugir com o líder cangaceiro Lampião. São escassas as fontes documentais que retratam acerca dos desígnios – além dos problemas enfrentados em seu casamento – que levaram a jovem a optar por tal mudança, no entanto, de acordo com o relato oral de Ilda Ribeiro de Souza, popularmente designada como Sila (2001), uma ex-cangaceira do grupo de Lampião, “[. Maria entrou porque gostou de Lampião, o homem, o marido dela seria Lampião” (Apud FREITAS, 2005, p. Segundo o historiador Paulo Rezzutti, em meio ao seu casamento, Maria Bonita apresentava [. separações temporárias com o marido.
o líder cangaceiro confrontou seus próprios princípios ao integrar Maria Bonita em seu grupo, no entanto, visando justificar os “problemas que poderiam surgir na vida cotidiana do bando com a presença” de mulheres, Lampião assegurava a seus amigos que “[. com ela, será diferente”. LINS, 1997, p. Evidenciam-se doravante estas considerações, as expectativas de Maria Bonita ao inserir-se no cangaço e aventurar-se na companhia de Lampião, sendo esta, “[. a primeira cangaceira da história do Brasil” (NEGREIROS, 2018, p. Dadá Sérgia Ribeiro da Silva ou popularmente Dadá, nasceu em Belém de São Francisco, no Estado de Pernambuco, em 25 de abril do ano de 1915. Oriunda de Maria Santana Ribeiro da Silva e Vicente Ribeiro da Silva, Dadá cresceu convivendo com os índios nativos, os quais influenciaram em seus aprendizados.
Aos 13 anos, deslocou-se com sua família para o Estado da Bahia, onde foi raptada por Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, braço direito de Lampião, o qual a violentou intensamente levando-a a uma hemorragia. Em seu relato oral para o cineasta José Umberto Dias, Dadá elucida acerca dos feitos de Corisco: Aí então surgiu uma questão de uma família que tinha lá. Uma família de pessoal que tinha muito criatório e tinha um rapaz estragando a criação desse homem. Dadá narra que sentia “[. horror quando aquele homem chegava” e reitera que “[. naquela condição eu fui pegando amor a ele acabou com meu amor por mais ninguém. ” (Apud DIAS, 1989, p. Destarte, Corisco a ensinou a ler, a escrever e a manejar os armamentos utilizados em combates, resultando na concepção de Dadá como a primeira mulher cangaceira a operar verdadeiramente nos confrontos, sobretudo, em conjunto a seu companheiro.
Presa e devido às condições insalubres em que foi exposta, a cangaceira adquiriu gangrena e teve sua perna amputada. Faz-se importante ressaltar que após sua libertação, Dadá lutou pelos direitos de seu companheiro, o qual teve seu corpo exposto pelo Museu Nina Rodrigues em Salvador. Desta forma, a cangaceira dedicou-se a enterrar os restos mortais de Corisco. As vivências de Dadá tornaram-na um símbolo da mulher imponente, sendo homenageada pela Câmara Municipal de Salvador no ano de 1980, devido a sua luta e representatividade feminina, ademais, sua vida foi retratada em diversos filmes e livros. A cangaceira faleceu em 1994, na cidade de Salvador na Bahia e, seu corpo encontra-se enterrado no cemitério Quintas dos Lázaros. A Dominação Masculina. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
CARVALHO, Elias A. de. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. FREITAS, Ana Paula Saraiva de. A Presença Feminina no Cangaço: práticas e representações (1930-1940). Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. São Paulo: Anna Blume, 1997. LONDRES, Maria José. O Sertanejo Valente na Literatura de Cordel. In SCHWARZ, Roberto (org). Os Pobres na Literatura Brasileira. NEGREIROS, Adriana. Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018. OLIVEIRA, Antônio Kydelmir Dantas de. Síntese Cronológica do cangaço. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do Cangaço. São Paulo: Luzeiro, reedição, 1986. SENADO. Procuradoria Especial Debate Papel da Mulher no Cangaço.
Disponível em: <https://www12. senado.
226 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto
Apenas no StudyBank
Modelo original
Para download
Documentos semelhantes