A intolerância e os ataques à cultura afro-brasileira na educação
Tipo de documento:Revisão Textual
Área de estudo:Gestão ambiental
há muito que se fazer para promover uma educação anti-racista, focando no respeito ao próximo e na tolerância e boa convivência, além do respeito às religiões que não seguem o molde do cristianismo. A base teórica que fundamentará este projeto é de Patrícia Carneiro Araújo, com sua tese “Entre o terreiro e a escola: lei 10. e a intolerância religiosa sob o olhar antropológico”, em que disserta sobre a influência da Igreja Católica na educação e os impactos que isso trouxe até a atualidade e “O genocídio do povo negro brasileiro” de Abdias do Nascimento, expoente do Movimento Negro no Brasil, e que neste livro traz inúmeras questões que são romantizadas nos livros de História como a Abolição, que nada mais foi que uma maneira dos senhores se livrarem dos escravos que já não lhe eram úteis, e o mito da Democracia Racial, sendo que desde o momento Pós- Abolicionista o que houve foi uma tentativa de embranquecimento da população brasileira.
Palavras-chave: Racismo, Educação, Intolerância, Religião. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 5 2 O ESCRAVISMO COLONIAL E O LEGADO JESUÍTA NA NATUREZA DA EDUCAÇÃO FORMAL BRASILEIRA 7 2. Foi o sistema escravocrata e espoliador que permitiu o parasitismo da aristocracia sob o sacrifício humano, e usando de artimanhas para camuflar o que acontecia, usufruiu de uma fama de “instituição benevolente e humana” no exterior. Também vítimas deste sistemas foram os indígenas, que foram brutalmente atacados, aculturados e dizimados, para depois ganharem uma fama de “dóceis, preguiçosos” nos livros didáticos, como amigos de padres e não como os guerreiros que foram. No século XX, tendo amparo legislativo, as religiões afro-brasileiras ficaram sob a mira da polícia, e o próprio Estado promovia perseguições.
Seus orixás, suas famílias, seus ancestrais, tudo lhes foi negado, destruído, demonizado. Foram séculos de escravidão, violência, e uma miscigenação baseada em estupros. No ano de 1891, a Carta Magna institui mudanças visíveis, sendo uma delas a separação do Estado e Igreja, configurando assim o Brasil num país laico. A proposta de uma religião oficial acabou, seguindo o modelo que já funcionava em outras partes do mundo, respeitando o direito à liberdade religiosa. Contudo, este Direito Constitucional não chegava aos grupos que não faziam parte de grupos religiosos hegemônicos locais. Principalmente aos grupos de religião com matriz africana, já que a o catolicismo suscitava na mente da população a demonização de toda religião que não seguisse o dogmas da Igreja.
O poder público e a polícia também contribuem para isso, chegando a criminalizar o candomblé como “falsa medicina e feitiçaria”. Ele reproduz o “nível de conhecimento” de grande parte da população brasileira. E é preocupante que o chefe de estado de uma nação em que 50% da população é parda ou negra, reproduza tais pensamentos que mostram o quanto ele não se preocupa com a questão. Muitos acham que os negros que não discordam de cotas, que reclamam e denunciam “brincadeiras” racistas estão de “coitadismo”. Chamam séculos e séculos de escravidão e perseguição de “vitimismo, mimimi”, mas não se dão ao trabalho de pesquisar sobre a cor dos brasileiros que ocupam os cargos mais bem remunerados, e qual a cor dos brasileiros que trabalham sem carteira assinada.
No período em que o país passa, a lei 10. Embora a missão dos religiosos fosse explicitamente catequizadora, muito material didático romantiza a relação entre os sacerdotes católicos e os indígenas, tratando-os como um povo que não resistiu às práticas dos religiosos, que mantinham relações carinhosas com os sacerdotes, que aceitaram a catequese de cabeça baixa. Obviamente, o discurso que os livros de História reproduzem em sua maioria, é o do opressor, era o que assumiam como verdadeiro. Apenas para início de conversa, a catequese não foi o primeiro contato que índios e portugueses tiveram. Foi a escravidão. As expedições do século XVI tinham como objetivo a dominação e ocupação de terras dos povos indígenas.
Capturado pelos portugueses, Ajuricaba ainda tentou planejar um motim no barco onde estava, mas já era tarde demais: “300 malocas incendiadas, 15. índios chacinados, incluindo velhos, mulheres e crianças, além da morte duvidosa do famoso chefe dos Manào c dos principais das tribos aliadas a ele”(Hüttner, p. A narrativa que temos nos livros didáticos é bem diferente da realidade. Figura 1 - Livro didático infantil - Troca de presentes: Índios X Portugueses - 2005 Fonte: http://arttamas. blogspot. E a destruição física veio acompanhada da destruição cultural. Coagidos a aceitar que eram “inferiores, selvagens, pecadores”, os índios eram proibidos de falar sua língua nativa, foram obrigados a aprender português, a rezar a cartilha dos padres, e a cobrir sua nudez, que para eles era totalmente natural, mas foi polemizada pelos portugueses.
Só que a violência não parou por aí. A população portuguesa era relativamente pequena, e como a maioria dos portugueses não queriam se aventurar tão longe para explorar a colônia recém descoberta, começou a exploração da mão de obra indígena. Os indígenas foram os primeiros escravos do Brasil. Através de uma bula papal (Dum Diversas), o papa Nicolau autoriza a escravidão dos africanos ao rei de Portugal, Afonso V, afirmando que: ". nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades.
e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes. PAIVA, 2004) Os católicos acreditavam que a escravidão era uma maneira de “trazer os africanos para a verdadeira religião”, mas os tratavam como animais sem alma. Os escravizados eram obrigados a se batizar, a ouvir missas e sermões que os atacavam. É sempre pela questão escravagista, o que pode levar a criança a desenvolver um pensamento pejorativo da história africana. Posteriormente, essas crianças que tiveram tão pouco, e tão limitado contato com a história afro-brasileira, certamente irão reproduzir falas preconceituosas e racistas no futuro, graças a isso.
Figura 2 - O argumento desigual que muitos utilizam para “justificar” a escravidão. Fonte: http://historiaequadrinhos. blogspot. Não aprendemos como viviam antes de serem capturados, simplesmente se aceita a narrativa de aculturação que o europeu criou. Outra falha dos livros didáticos brasileiros, é não enfatizar as incontáveis desigualdades entre o regime cativo que aconteceu no Império Romano, na Grécia Antiga e na África, do que ocorreu no Brasil Colônia-República. Da maneira que o regime servil acontecia na África, o cativo tinha sua identidade preservada, poderia manter sua religião e essa condição não era concebida para uma hereditariedade. Ou seja, os filhos dos cativos não eram propriedades dos senhores. Portanto, não há como ser comparado ao molde escravista europeu, em que o negro era privado de sua identidade e direitos, e seus descendentes já nasciam como propriedade de seus "donos".
html?m=1 O que não é explorado de maneira justa no ensino da História nesse aspecto, é que não foi por pena, benevolência nem algo do tipo. A princesa não acordou de um dia para o outro de repente com vontade de libertar todos os cativos no país. O principal motivo do Brasil abolir a escravatura, foi a pressão da Coroa Britânica. Não que os ingleses fossem humanitários, ou estivessem preocupados com o tratamento reservado aos escravizados no Brasil. Tudo não passava de uma questão econômica. Principalmente nas áreas de Navegação e Comércio, além de um pacto de amizade, tão comprometedor que chegou a ponto de haver uma promessa da manutenção da “supremacia britânica” dentro do Brasil-Império.
Para conseguir que a Independência Brasileira fosse reconhecida internacionalmente, Pedro I precisou modificar as taxas de cerca de 15% sobre os produtos ingleses, renunciando em prol dos interesses ingleses, além da promessa de extinguir o tráfico negreiro. Entretanto, o Legislativo brasileiro, formado por proprietários e escravistas, tentou ignorar a influência da Inglaterra. Responsáveis pelo acontecido no dia 7, eles estavam receosos sobre o que estaria por vir. A Câmara propôs um projeto que proibiria o tráfico de escravos para o Brasil em um período de até 14 anos. Que não era sobremaneira uma solução de verdade, visto os primeiros incisos: "Art. º Os filhos de mulher escrava que nascerem no Imperio desde a data desta lei, serão considerados de condição livre.
§ 1º Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mãis, os quaes terão obrigação de crial-os e tratal-os até a idade de oito annos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãi terá opção, ou de receber do Estado a indemnização de 600$000, ou de utilisar-se dos serviços do menor até a idade de 21 annos completos. No primeiro caso, o Governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. Os escravizados com mais de 60 anos de idade já não eram tão úteis a lavoura, isso foi mais uma oportunidade de isentar-se da vida dos idosos, que ficaram à própria sorte, sem nenhum tipo de indenização. Comprar escravos foi ficando mais difícil.
Entre os extremos em relação a compra de escravos, houveram diferenças de acordo com o sexo e a idade. Até recém-nascido eram negociados, o que era uma prática ilegal pela Lei do Ventre Livre, mas que ninguém se preocupava em ser punido por divulgar esses anúncios nos jornais. A Lei Áurea veio após anos de trabalho escravo, o “velho, o doente, o aleijado e o mutilado - aqueles que sobreviveram aos horrores da escravidão e não podiam continuar mantendo satisfatória capacidade produtiva - eram atirados à rua, à própria sorte, qual lixo humano indesejável; estes eram chamados de africanos livres” (NASCIMENTO, 1978, pág. Ainda que tardia, a Lei é uma forma de reparação ao total apagamento do negro no contexto histórico dos livros didáticos, promovido pelos pensamentos jesuíticos e imperialistas enraizados na educação brasileira.
De maneira que, tornou-se obrigatório incluir os temas “História da África e culturas afro-brasileiras” no currículo das escolas privadas e públicas do país. É uma lei que traz uma política pública diferente da maioria vista na educação brasileira, já que promove a igualdade racial. Contudo, este não foi um “presente, um pedido de desculpas” que caiu no colo da população negra por um acaso. Há todo um processo histórico de lutas e movimentos sociais, principalmente o movimento negro brasileiro. Isso pode ser verificado, por exemplo, no tratamento dispensado às religiões afro-brasileiras, hoje, estigmatizadas e invisibilizadas no ambiente educacional. ” Este clima de insegurança e perseguição é tão forte, que de acordo com a pesquisadora Stela Guedes, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ e doutora em Educação, a escola é o local onde os estudantes de religião afro mais se sentem discriminados.
Segundo traz Stella, em entrevista concedida ao site Portal Aprendiz Uol, a educação ainda traz mesmo nos seus profissionais, uma carga muito grande de preconceito, ainda que velado, tendo como exemplo: “Uma vez entrevistei uma professora de Ensino Religioso que afirmava que a disciplina não era proselitista e não discriminava e que, na mesma resposta, comemorava o fato de ter tido no ano anterior 8 alunos ogans que se converteram ao cristianismo (ogan é um cargo masculino cuja responsabilidade são muitas, entre elas, tocar os atabaques nos rituais). A escola, que é o lugar dos diferentes entre si por natureza, deveria ser o lugar mais preparado para não só lidar, mas também para aprender profundamente com essas diferenças. Infelizmente não é”. Outro caso que teve destaque na mídia, aconteceu na Escola Sesi do Rio de Janeiro.
Um grupo de pais exigiu que o livro infantil Omo-Oba – Histórias de Princesas (recomendado pelo MEC e utilizado nas escolas brasileiras desde o ano de 2009) fosse retirado da grade curricular do 3º ano do Ensino Fundamental I, porque não desejavam que seus filhos tivesse contato com “histórias africanas”. A autora do livro, Kiusam Oliveira, é Doutora em Educação pela USP, e em entrevista ao site The Intercept Brasil, ela afirmou que: “Um dos cuidados que tive foi de não ter uma conotação religiosa. O que as pessoas dificilmente sabem é que essas mulheres representam nossas ancestrais. E, aqui, com todo o racismo que a gente vive, quando se toca no nome delas, parece que você está falando de diabo e demônio. Mas e quando a criança é negra? E quando seu cabelo é crespo? Ela é obrigada a alisar pra ficar “bonita” aos padrões da Creche em que estuda? O comunicado foi bastante repudiado nas redes sociais, e segundo a matéria do site G1, a diretoria da Creche afirmou que “o texto foi elaborado por um funcionário e enviado sem aprovação da direção e do conselho da creche aos pais dos alunos.
Em um segundo posicionamento, a associação ainda afirmou que tomou "todas as medidas administrativas cabíveis para que erros lamentáveis como esse não se repitam". Figura 5 - Só meninas de cabelo liso e solto são bonitas? Fonte:http://s2. glbimg. com/nb27YzpMyR7ayzm9-okxTwLAQ3U=/620x465/s. O capítulo 3 do trabalho se encerra com um caso que chocou pessoas em todas as redes sociais. Numa festa de Halloween de escola de classe média alta, a mãe de um menino de 9 anos resolveu que seria uma boa idéia fantasiá-lo de escravo. Postou a foto da criança pintada de marrom, com algumas marcas de grilhão feitas com maquiagem para imitar cicatrizes de chicotada, usou correntes e colocou um torço branco na criança.
Isso tudo pode ser visto na imagem abaixo, com o rosto da criança devidamente ocultado, já que além de menor de idade, ele está apenas reproduzindo o que sua mãe lhe ensina. Como se tudo isso já não fosse discriminatório o suficiente, ainda usou a legenda “Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo”. ” Ou seja, ela acredita não só que é a vítima, como também que os livros de História mentem sobre a escravidão, que os séculos de violência contra o povo negro, enraizado até hoje, nunca existiu. E tem a coragem de postar isso na rede pessoal, sem medo de retaliações. Somente após ser denunciada, que ela se retratou postando um longo texto em que pedia desculpas e disse que não quis ofender ninguém.
Porquê ela não pensou nisso antes de postar? Porquê essa mãe achou que o sofrimento de um povo serve como fantasia? Ora, porque muita gente pensa como ela, vide as curtidas nas fotos do filho. São insensíveis a história afro-brasileira, o que é um efeito direto das políticas pós abolicionistas, como bem traz Abdias do Nascimento, Se um menino fosse fantasiado de judeu no campo de concentração, se fosse vestido como um personagem de “O menino e o pijama listrado”, será que seria necessário a viralização para que uma denúncia fosse feita? Nas linhas da música BANG!, do rapper Emicida, fica a resposta para isso: “A dor dos judeus choca, a nossa gera piada”. As matérias dos sites Terra, The Intercept Brasil, G1 e Portal Aprendiz Uol trazem as situações cotidianas onde o racismo e a discriminação está presente de diversas formas, tanto religiosa, quanto explicitamente racista.
RESULTADOS E DISCUSSÃO É visível que o racismo está muito enraizado na sociedade brasileira, visto os exemplos dado no tópico sobre a lei 10. e os casos de intolerância e racismo nas escolas. Fala-se muito que “isso está na cabeça deles”, que “os negros que tem mais preconceito contra eles mesmos”, mas basta que um material didático sai da curva do branco, do europeu, que já gera uma revolta coletiva por parte de alguns. Ora, se vive-se mesmo numa sociedade que tem uma “democracia racial”, “miscigenada”, porque as crianças não podem aprender a respeitar e valorizar a narrativa negra? Porque o negro deve ser apenas uma figura passiva e simbólica em seus livros? Porque as crianças negras são ensinadas que seu cabelo é feio, que sua pele é feia, que tudo que remete a sua raça é negativo? Está é uma das várias formas de violência que as crianças afro-brasileiras têm de conviver, desde o mais tenro período escolar, seja mandando que a mãe da criança prenda ou alise seu cabelo, quanto quando ela vai usar seu material escolar, e o lápis que lhe apresentam como “cor de pele” não lhe representa.
Que sofre perseguições desde que os primeiros navios negreiros aportaram neste país, que se hoje as nações do Candomblé, como Jejê, o Ketu, Nago e Angola, hoje existem, é mais um exemplo da resistência negra no país. Pelos planos do governo, seguindo uma onda eugenista, a população negra seria minoria em algumas décadas. A existência do povo negro é nosso maior sinal de resistência. Se já sobrevivemos a séculos de escravidão, racismo e violência, não será a opinião de alguns retrógrados que irá exterminar nossa cultura. REFERÊNCIAS ARAUJO, Patrício Carneiro. Da senzala à colónia / Emilia Viotti da Costa. ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. FIGUEIREDO, J. de e ALBUQUERQUE, J. Creche de SP pede alunas de cabelo liso e solto.
G1, 2015. Disponível em <http://g1. globo. com/sao-paulo/noticia/2015/12/creche-de-sp-pede-alunas-cabelo-liso-e-solto-em-festa-e-causa-polemica. de 2018. Mãe fantasia filho de escravo para festa de Halloween. G1, 2018. Disponível em < https://g1. globo. aprendiz. uol. com. br/2015/05/12/escola-e-o-espaco-onde-criancas-de-religioes-afro-mais-se-sentem-discriminadas-afirma-pesquisadora/>. Acesso em: 03 de dez.
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