A INTERNET COMO ESPAÇO DE CRIAÇÃO DE NOVOS ATORES SOCIAIS: O CASO THAYNARA OG

Tipo de documento:Artigo cientifíco

Área de estudo:Comunicações

Documento 1

Palavras-Chave: Internet; Redes Sociais; Olimpianos; Digital Influencer. INTRODUÇÃO A Internet tem ganhado cada vez mais espaço como meio de comunicação e informação. Nesse cenário, novos atores sociais surgem de diferentes maneiras, já que, com uma comunicação cada vez mais segmentada e por “bolhas”, cada um busca no ambiente web aquilo que lhe agrada. Essas ações têm, segundo estudos recentes, terminado por criar "filtros-bolha" onde apenas determinados conteúdos circulam (PARISER, 2011). Essas bolhas tendem a isolar os atores dentro de grupos onde apenas alguns tipos de informação circulam, criando uma percepção falsa de EP (onde "todos" falam) e de opinião pública (onde a "maioria" concorda)2. Tal método será importante na observação da figura de Thaynara Og como uma influenciadora digital.

A escolha pela Análise de Conteúdo se justifica devido a maior abertura e amplitude do método, que segundo Bardin está aberto a aperfeiçoamentos e não é uma metodologia fechada. O CONFLITO ENTRE MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E INTERNET Desde a criação da imprensa de Gutemberg, e posteriormente com o advento dos meios de comunicação ditos de massa, com destaque para o impresso, rádio e televisão, a mídia passou a possuir um papel fundamental na sociedade por se colocar como uma espécie de quarto poder, que fiscalizaria os três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Marcus Ianoni9 destaca que no Brasil esse papel dos meios de comunicação foi ainda mais intenso porque além de fiscalizar, a mídia passou a exercer influência sobre os três poderes a partir de uma agenda noticiosa que se ancorava em demandas da sociedade, se tornando “olhos e ouvidos” da população.

A ideia do Quarto Poder vem à tona como a de um poder fiscalizador dos outros três poderes, de modo a veicular aspirações da sociedade civil. Além disso, dados da última PNAD TIC Contínua de 201715, que fez um levantamento exclusivo sobre a Internet, afirmou que: 74,9% dos lares possuem o serviço em seus lares, um aumento significativo de 5,6 % em relação aos 69,3% da PNAD TIC Contínua de 201616, que apontou dados de todos os meios de comunicação17. Outro dado importante é que “em 93,2 % dos domicílios foi identificado a presença de celulares, sendo que 97% desse total utilizou o telefone celular para acessar a Internet”18. Massimo Di Felice19 afirma que as mídias digitais obrigaram as mídias tradicionais (meios de comunicação de massa) a redefinirem seu papel e sua função social, na medida em que a Internet se coloca com um ambiente novo e diferente de se construírem os fluxos comunicativos, que não mais dependem exclusivamente daquilo que a mídia tradicional produz, mais que agora passa a se expandir, inclusive com novos atores sociais que emergem no ambiente web e fazem frente às personalidades dos principais meios de comunicação, com destaque para a televisão e cinema.

A passagem de um modelo comunicativo baseado na separação identitária entre emissor e receptor e num fluxo comunicativo bidirecional para um modelo de circulação das informações em rede, no qual todos os atores desenvolvem simultaneamente a atividade midiática de emissão e de recepção, altera a prática e o significado do ato de comunicar20. E é a partir disso que as redes sociais, se colocam como o grande divisor de águas nesse ambiente da interação, já que agora quebra-se a lógica do conteúdo produzido e consumido em um mesmo momento, transformando-se para um consumo que pode ser feito a qualquer momento, e que pode alcançar pessoas de todo mundo por meio de curtidas, comentários e compartilhamentos. Pensando nesse ambiente globalizado e sem fronteiras que é a Internet, Henry Jenkins26 trabalha com o conceito de convergência como sendo a integração de várias mídias, e que ao se expandir de forma global, altera não apenas os modos com os quais temos contato com o mundo, como também as lógicas de comunicação entre as mídias e o público, transformando-se inclusive os modos de produção e de consumo de conteúdos, já que atualmente a Internet não está apenas nos computadores e notebooks, mais também em TVs, smartphones, tablets, etc.

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. Outra autora que trabalha com o conceito de convergência é Suely Fragoso28, que afirma que a convergência midiática, focada na questão da convergência de linguagens, já ocorria antes da Internet, tendo seu maior expoente nas narrativas televisivas como telenovelas e telejornal. A convergência de diferentes linguagens para um mesmo suporte, desde pelo menos a televisão, já catalisava a sinergia entre as diferentes mídias (como as conhecemos hoje).

E nesse sentido, as redes sociais se tornam um exemplo dessa Cibercultura, já que tanto os veículos de comunicação das mídias tradicionais ocupam esse local como forma de propagar ainda mais seus conteúdos, e ainda novos atores sociais também emergem de modo a influenciar os usuários dessas redes sociais. Além disso, a potencialidade da Internet de fornecer ferramentas para uma comunicação em tempo real, faz com que esses novos atores se apropriem das redes sociais para se transformarem em personalidades capazes de influenciar outros usuários que se identificam com essas pessoas por motivos diversos e passam a acompanhar suas rotinas justamente por meio de redes sociais. O PAPEL DAS REDES SOCIAIS NA DIFUSÃO DE CONTEÚDO As redes sociais digitais nascem justamente com o objetivo de cumprir uma das principais potencialidades da Internet que é a de conectar pessoas ao redor do mundo, sem barreiras físicas e territoriais e que possuem como característica a comunicação de pessoas no ambiente web.

Raquel Recuero36 define redes sociais como sendo um conjunto de dois elementos, os atores, que são os formadores dessas redes (pessoas, instituições, grupos), e as conexões, que são as interações ou laços que cada um cria a partir de seus interesses, construindo um grupo social capaz de gerar fluxos de informações. Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999). Dados do relatório publicado em 2018 pela “We are Social” e “Hootsuite: intitulado “Digital in 2018: The Americas”43 apontam o Instagram como a quarta rede social mais acessada do Brasil, com 40%, atrás apenas do YouTube (60%), Facebook (59%) e WhatsApp (56%)44.

A principal funcionalidade do Instagram é a postagem de fotos e “stories”, sendo que os stories ficam disponíveis por apenas 24 horas e só podem continuar visível para o público em geral por meio da função “Destaques”. Entretanto, o “stories” que hoje é o principal sucesso e potencialidade do Instagram, principalmente para quem utiliza essa rede social de forma profissional, só foi pensado a partir de outro aplicativo que tinha no envio de fotos e vídeos que só ficavam disponíveis por um período de tempo o seu principal diferencial. Trata-se do Snapchat, aplicativo criado em 2011 por Evan Spiegel, Bobby Murphy e Reggie Brown, que possibilitava aos usuários a interação por meio de mensagens, fotos e vídeos que sumiam após tempo determinado por quem compartilhou o conteúdo45.

O Snapchat, juntamente com o Instagram, passaram a ser duas das redes sociais mais utilizadas por pessoas que buscavam a exploração de suas imagens de forma pública, o que lhes permitia criar uma grande rede de contatos, e com isso passarem a exercer influência sobre esses usuários. Concentram-se nessa dupla natureza um complexo virulento de projeção-identificação. Eles realizam os fantasmas que os mortais não podem realizar, mas chama, os mortais para realizar o imaginário. A esse título, os olimpianos são os condensadores energéticos da cultura de massa. Outra característica que expõe Edgar Morin50 se concentra na desmistificação desses olimpianos e apresentação dessas personalidades como pessoas normais, estratégias utilizadas em busca do lucro, também são exploradas pelos Influenciadores Digitais, que ao abrirem suas vidas, principalmente por redes sociais como Snapchat e Instagram, que possuem a função “storie” em que é possível compartilhar absolutamente tudo das rotinas desses “ícones”, acabam conseguindo uma aproximação com esse público, que se identifica nessas rotinas e que busca imitá-las.

A partir disso, ocorre também a exploração comercial desses “novos Olimpianos”, por meio de patrocínios e convites para eventos (incluindo eventos que possam ser veiculados em meios de comunicação de massa), o que tornam essas personalidades cada vez mais conhecidas e reconhecidas por características muito específicas, se diferenciando de outros tantos produtores de conteúdos similares simplesmente por possuírem essa empatia e enaltecimento dos usuários. Após um sucesso meteórico, que se construiu entre os anos de 2015 e 2016, podemos destacar um episódio que comprova a influência de Thaynara Og. O episódio ocorreu durante a passagem da tocha de Genebra pelo Brasil nas Olimpíadas Rio 2016, em que a digital influencer foi escolhida por um dos patrocinadores oficiais da competição para carregar a tocha olímpica em sua cidade, São Luís do Maranhão.

A partir do Snapchat, Thaynara Og passou também a ocupar outras redes sociais como Facebook e Instagram. Atualmente, Thaynara possui 383. curtidas em sua página oficial do Facebook, e 3,4 milhões de seguidores no Instagram, rede social que utilizaremos como objeto de análise. Além disso, serão observadas questões relativas à interação do público da influenciadora digital e informações da conta de Thaynara Og. A categorização da investigação ocorrerá por meio de quatro eixos: convergência com outras mídias; engajamento; conteúdo das publicações; postagens com ou sem anunciantes. No período da primeira quinzena de 2013, foi observado quatro publicações no Instagram oficial de Thaynara Og, sendo as duas primeiras no dia 3 de janeiro e as duas últimas no dia 13 de janeiro.

As postagens desse período são três de Thayana sorrindo e uma, no dia 3 de janeiro, com Ludmila Og (@ludmilaog) em uma montagem com quatro fotos que além das duas mostra um ambiente de festa. No eixo convergência com outras mídias, não foi possível identificar nenhum traço, já que à época a influenciadora digital ainda não era reconhecida como uma personalidade. No eixo engajamento, observou-se que ele se dá tanto do público que curte e comenta as publicações de Thaynara Og, como também da influenciadora digital em relação ao seu público. Das nove postagens analisadas, em quatro delas diferentes Thaynara convoca seu público a interagir de alguma forma, seja nos comentários do Instagram, chamando para outra página no próprio Instagram em que a influencer é patrocinada, como por exemplo na publicação que chama para o IGTV da Coca Cola Brasil, em que no final a digital influencer dá uma dica: “Ah, aproveita e vende teu peixe aqui nos comentários! Vai que o amor da sua vida tá aqui!”, e chamando para seu evento “São João da Thay”.

No período analisado, foram identificadas um total de 531 mil 946 curtidas e 4214 comentários nas quatro fotos postadas, o que dá uma média de 132 mil 986 curtidas e 1053 comentários por publicação. Além disso, foram contabilizadas também o número de visualizações nos cinco vídeos publicados por Thaynara Og no período analisado, chegando a um total de 4 milhões 190 mil 737 visualizações e 21 mil 850 comentários. Observou-se ainda que a publicação de maior engajamento de Thaynara Og se dá a partir de uma postagem em que a digital influencer cita um filtro do Snapchat em um print de conversa no Whats App, identificando uma convergência entre redes sociais e ainda a utilização do Snapchat por parte de Thaynara Og, que se tornou reconhecida primeiramente por essa rede social.

Outra observação importante se dá no eixo engajamento em que observamos um grande crescimento de interações de Thaynara Og atualmente em relação às suas primeiras postagens. Além disso, identificamos que a postura de Thaynara também mudou, já que agora ela busca interagir com seu público, seja pedindo para que os usuários comentem em suas publicações, ou convidando para clicarem em links que levam a outro conteúdo que tem a participação da digital influencer. Além disso, foi possível observar que Thaynara Og se enquadra como uma potencial “nova Olimpiana”, a partir da definição de Morin (1997), na medida em que está presente não apenas na Internet, como também está na TV, seja participando de programas ou mesmo apresentando seu próprio programa, em outros espaços das redes sociais, como o IGTV, e ainda em eventos em que é convidada e recebe para estar nesses locais um valor que pode chegar a R$ 150 mil, segundo informações do site “Universa Uol”60.

Por fim, concluimos que apesar de Thaynara Og ter se tornado uma influenciadora digital, ela não abriu mão de suas origens e de ser ela mesma, já que foi possível identificar no período analisado postagens em que valoriza sua família, em que brinca com sua mãe e em que está ao lado de amigos. Nesse sentido, é importante destacarmos que é justamente essa originalidade e autenticidade que tornam Thaynara Og uma pessoa de grande reconhecimento não só nas redes sociais, como também na Internet de modo geral. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. FELICE, M. Redes sociais digitais, Epistemologias reticulares e a crise do antropomorfismo social. Revista USP, (92), p. Acesso em: 24/05/2019. IANONI, Marcus. Sobre o Quarto e o Quinto Poderes.

Revista Communicare, São Paulo, 2003. Disponível em: <https://casperlibero. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução: Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Cultura%20da%20Convergencia%20-%20Henry%20Jenkins. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Editora 34, 1ª edição: São Paulo, 1999. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: neurose. Tradução de Maura Ribeiro Sardinha – 9 ª edição. lume. ufrgs. br/bitstream/handle/10183/166193/001047200. pdf?sequence=1>. Acesso em: 06/06/2019. htm#a-fada-sensata-das-redes>. Acesso em: 26/05/2019. TUCUNDUVA, Rodrigo. principais] tipos de influenciadores digitais e o que eles oferecem. Lahar Blog, 02/01/2019. com. br/digital/a-era-dos-digital-influencers-na-comunicacao > Acesso em 24/05/2019.

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