A IMPORTÂNCIA DA ALMA EM PLATÃO NA OBRA FÉDON E SUA INFLUÊNCIA NA FILOSOFIA C
É a alma somente no sentido de que é a vida do corpo. A imortalidade da alma não é perpetuidade da mesma no tempo, mas além do tempo, onde encontrará sua realização. Platão cita três argumentos para a imortalidade da alma: geração dos contrários (os contrários nascem dos contrários: da vida a morte, e em sentido inverso, da morte se gera a vida), reminiscência (só é possível o conhecimento se a alma tiver existido em algum lugar antes de gerar-se na forma humana) e simplicidade (declara que a alma não é composta por ser simples). Tendo-se admitido a imortalidade da alma, percebe-se que a sua única salvação está em que ela se torne a melhor e a mais sábia possível. A alma na concepção cristã é o pensar que se conhece a si mesmo, tendo como existência uma entidade espiritual, e não tanto como parte ou princípio do corpo; a alma é uma entidade pessoal.
RELAÇÃO DA ALMA COM O CORPO 20 3. A IMORTALIDADE DA ALMA 21 3. argumentos para a imortalidade da alma 23 3. simplicidade da alma 23 3. ESCATOLOGIA 24 CAPÍTULO IV INFLUÊNCIA PLATÔNICA NA FILOSOFIA CRISTÃ 26 4. Por meio deste estudo pretende-se obter um conhecimento maior da concepção da alma dentro da filosofia platônica e como tal concepção influenciou os padres da Igreja, como Santo Agostinho, nas suas formulações sobre a alma. Para tanto serão abordados temas como a imortalidade da alma e a relação da alma com o corpo. O conceito de alma, em Platão, na obra Fédon, é formulado por volta do ano 399 a. C quando Sócrates foi condenado à morte. Na prisão acontece o diálogo de Platão com seus discípulos, Símia e Sebes – que têm como interlocutores Equécrates e Fédon –, e que fundamentará esta pesquisa, usando para isso o estudo das ideias, o conceito de corpo, alma e espírito, partindo muitas vezes da ideia reencarnacionista de sua época para chegar ao conceito cristão da alma que se coloca contra a visão platônica em algumas posições.
No cristianismo a alma é pessoal, e como tal, tem uma relação filial – e não só intelectual – com a Pessoa Divina. Assim, Santo Agostinho chega a conceber a alma como a unidade do pensamento da vontade e do afeto, e coloca o problema da alma de acordo com a concepção cristã, como o problema da pessoa. Por isso para o cristianismo não existe o sepulcro da alma, nem purificação do caráter, pois a corrupção é mortal – do corpo – e poderá chegar a salvar um dia sua corrupção na ressurreição da carne. A alma na Bíblia não corresponde a uma parte do ser humano, mas ao homem em sua manifestação de ser vivo, não no sentido biológico simplesmente, porque a alma é a vida humana de um ponto de vista individual.
Nessa perspectiva, O teólogo suíço Karl Barth é ao mesmo tempo aristotélico e bíblico, quando afirma que o homem é a alma de seu corpo, a alma racional guiando o organismo vegetativo e animal que está a seu serviço. VIDA Platão nasceu em Atenas no ano de 427 a. C. Sua família era uma das mais antigas e ilustres das cidade. Sua mãe, Perictione, era parente do grande legislador ateniense Sólon. Seu pai, Aristo, morreu quando Platão ainda era criança. Mas Platão recusou, porque estava revoltado com suas práticas cruéis e antiéticas. Platão tornou a pensar em entrar para a política, mas rejeitou novamente esta ideia quando seu amigo, o filósofo Sócrates, foi levado a julgamento e condenado à morte em 399 a.
C. Profundamente desiludido com a vida política, Platão deixou Atenas e viajou pelo mundo antigo durante vários anos. Em 387 a. OBRAS Platão escreveu em uma forma literária chamada diálogo, isto é, uma conversa entre duas ou mais pessoas. Platão criava um clima teatral através da interação das personalidades e opiniões de seus interlocutores. Estas peças tratam de ideias que têm grande mérito literário. Seus escritos, em forma de diálogos, podem ser divididos em três etapas de composição. A primeira representa o desejo de divulgar a filosofia e o estilo dialético de Sócrates. Ele estava interessado em saber como é possível aplicar uma única palavra ou conceito a várias coisas diferentes e decidiu que várias coisas podem ser chamadas pelo mesmo nome porque têm algo em comum, e deu a este fator comum o nome de ideia ou forma das coisas.
Esta doutrina central da filosofia de Platão é conhecida como teoria das ideias ou teoria das formas. Platão baseou sua teoria na proposição de que todos os homens desejam a felicidade. Assim, para Platão, o problema básico da ética é um problema de conhecimento. Platão se distingue de muitos filósofos cristãos, que tendem a encarar o problema básico da ética como um problema da vontade. O diálogo se divide em duas grandes partes construídas em perfeita simetria entre si. Ambas as partes se articulam em três tempos: demonstração da imortalidade da alma, anotações biográficas e mito da metempsicose e da condição das almas depois da morte. O diálogo entre Sócrates e seus amigos, em particular com Símia e Sebes, dois pitagóricos, coloca-se num contexto mais amplo, que tem como interlocutores Equécrates e Fédon.
Fédon é o mais popular dos diálogos de Platão, o mais lido, citado e comentado. Este diálogo narra a última conversa de Sócrates com alguns de seus discípulos e amigos, na própria prisão e no próprio dia em que seria executada a sentença a que fora condenado. Em Fédon, Platão quis desenhar a figura do filósofo que sentindo profundamente a dor, é capaz de superá-la porque é capaz de compreendê-la. Na cena trágica em que Sócrates bebe a cicuta que lhe traz o carcereiro, há de fato uma verdadeira e comovedora serenidade, que se estabelece no pungente contraste que a mesma apresenta. CAPÍTULO III IMPORTÂNCIA DA ALMA EM PLATÃO 3. ORIGEM DA ALMA Para compreender a concepção platônica sobre a natureza, dignidade e imortalidade da alma, importa estudar primeiro qual a origem que o autor do Fédon lhe atribuía.
A seguinte passagem do Fedro, ainda que sob a forma mitológica, poderá tornar mais diáfano o pensamento de Platão sobre a existência da alma, antes da sua união com o corpo: A alma assemelha-se a um composto natural de dois cavalos alados e de um cocheiro. natureza Platão confessa sua impotência diante da formulação definitiva da natureza da alma: “Pelo que respeita à natureza da alma, escreve no Timeu, e sobre o predomínio que nela tem o elemento mortal e divino, só ousaremos garantir que estamos em posse da verdade, quando Deus no-là assegurar” (PLATÃO, apud FREIRE, 1954, p. Em Fedro, reconhece que, para declarar a natureza da alma, seria preciso um discurso longo e divino, mas para exprimir, mediante uma imagem, aquilo a que a alma se assemelha, basta uma exposição humana e mais breve.
Em Crátilo, observa o seu autor que a alma é o que anima o corpo e lhe comunica a vida e o movimento. Nas Leis, o último diálogo do filósofo, propõe-se a seguinte definição da alma: “um movimento capaz de mover-se a si mesmo” (PLATÃO, apud FREIRE, 1954, p. O conceito de movimento pugna, intrinsecamente, com a idéia da essência da alma. A noção espiritual a respeito da alma humana significa que esta pode existir e agir sem dependência intrínseca da matéria: a nossa alma é forma subsistente, se bem que incompleta. A espiritualidade da alma não exclui dependência intrínseca da matéria, nem mesmo, o concurso intrínseco dela, para a realização de certas operações. Para Platão a alma é ser puramente espiritual; não nasceu unida ao corpo, é mais antiga do que ele; o corpo representa para a alma, lôbrego cárcere, que a arrebatou à sua existência de espírito e a arrastou para o reino da matéria, onde vive constrangida, dominado e dirigindo o corpo, sem precisar, nem lhe estar subordinada em coisa alguma.
A sensação era para Platão, como também para Santo Agostinho, Descartes e outros, operação exclusiva da alma: os órgãos corpóreos, como a vista, o ouvido, etc. são apenas canais transmissores das impressões; estas não passam de mera ocasião do conhecimento sensitivo: a ciência não reside nelas, mas na alma, pois só ela possui a faculdade de confrontar; só ela pode trabalhar, diretamente sobre estas realidades. Em razão da sua afinidade com ele, a ele adere sempre que pode. A alma purificada, que nada arrasta consigo de corpóreo, pois que nada quis ter de comum com o corpo, a alma isolada e concentrada em si mesma, na meditação antecipada da morte, vai juntar-se ao que lhe é semelhante, ao ser invisível, divino, imortal e sábio, e uma vez chegado ao termo, toma posse da felicidade.
Nenhum ato da vida nem da existência esgota ou contém o espírito, que os ultrapassa a todos, isto é: está sempre mais além de toda especificação ou conteúdo finito. Lê-se na obra Fédon de PLATÃO (1955, p. Enquanto possuirmos este corpo e a alma estiver mergulhada na corrupção, impossível nos é alcançar o que desejamos, isto é, a verdade. Sendo o espírito o princípio animador ou vital que dá vida aos organismos físicos e a alma a substância incorpórea, imaterial, invisível, criada por Deus à sua semelhança; fonte e motor de todos os atos humanos o corpo recebe a denominação de ser tudo o que tem extensão e forma; neste caso que tenha espírito e alma; vida.
A IMORTALIDADE DA ALMA A esperança convicta da sobrevivência da alma após a morte constitui um dos pontos mais acentuados da doutrina psicológica de Platão. Mesmo se a alma humana se prolongasse ao infinito, o espírito não poderia atuar na sua plenitude. O conhecimento da morte faz com que a alma seja transcendida pela consciência: ela é essencial ao homem, mas precisamente esta essencialidade é sinal de imortalidade. Se a morte é humana enquanto ato espiritual e não puro fato físico ela está contida na consciência, da qual, é experiência interior, que concerne direto e essencialmente à atualização dos fins do espírito, isto é: a toda sua atuação desenvolvida. Estribando-se numa velha tradição, Sócrates lembra que as almas dos mortos partem deste mundo para o outro, mas de novo voltam e renascem dos mortos.
Se for certo que a morte é o contrário da vida, que da vida se origina a morte, forçosa é a confissão de que da morte renasce a vida (PLATÃO, 1955, p. O segundo argumento é extraído da doutrina da reminiscência, que só é possível se nossa alma tiver existido em algum lugar antes de gerar-se na forma humana. De tal modo, também por este raciocínio, resulta que a alma é algo imortal. A reminiscência das ideias postula a preexistência da alma. Só o composto se pode decompor; o que é simples, não. A alma permanece sempre idêntica, imutável e simples. PLATÃO (1955, p. descreve em Fédon: A transmigração das almas far-se-á segundo o mérito de cada uma. As daqueles que se entregam a comezainas e bebidas, encarnam em burros e animais semelhantes.
Por fim, as almas que viveram em santidade eminente, estão livres de tais lugares: “Há outras almas, cujo estado não terá remédio, pela enormidade dos seus pecados: autoras de roubos, sacrilégios, repetidos e graves, de homicídios sem conta, injustos e ilegais, e de outros crimes semelhantes, a sua sorte é serem precipitadas para sempre no Tártaro, donde jamais sairão”. O Tártaro na concepção platônica era o maior golfo que atravessa a terra, de um lado a outro. Terminada a narrativa, Platão adverte que um sábio não deverá aferrar-se a esta doutrina mitológica com teimosa credulidade. E para fechar a curiosa dissertação escatológica, profere estas palavras, em que transparece o bom senso de um coração nobre e sincero: “Do que acabamos de expor, se conclui que devemos empregar todos os esforços para alcançar a virtude e a sabedoria; a recompensa é bela e a esperança grande”10.
CAPÍTULO IV INFLUÊNCIA PLATÔNICA NA FILOSOFIA CRISTÃ 4. A Igreja ensina que cada alma é diretamente criada por Deus e é imortal, ou seja, ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao corpo na ressurreição final. Embora ela tenha diversas funções (memória, inteligência e vontade), todas elas são o que são por referência a uma função principal, que é uma realidade espiritual indivisa, manifestada na “atenção vital”; é só neste sentido que a alma é princípio animador do corpo. Através da fé cristã e da inteligência, Agostinho postula com insistência que a alma surgiu do nada pela vontade criadora de Deus; sendo uma essência imortal, não perde nunca o caráter individual.
Neste ponto de vista, distingue-se do platonismo em geral. A grande tendência do cristianismo platônico vai no sentido de uma cada vez maior espiritualização da alma humana e, sobretudo, da sua personalização. RELAÇÃO ENTRE CORPO E ALMA Com relação ao corpo e à alma, Santo Agostinho em sua abordagem ressalta que o homem é: “substancia racional, resultante de corpo e alma criados por Deus”. Sendo que a alma mostra-se preocupada com o corpo, porque esta sob uma condição de ser ela que tem a responsabilidade de zelar do corpo e discipliná-lo devido a sua ligação com o infinito, com o transcendente e Sumo Bem. Na tradição cristã, é o homem todo que desempenha um papel insubstituível, e as questões que mais se notam são as relativas a união da alma com o corpo, a natureza da imortalidade e as chamadas partes da alma.
A alma é simples, presente em toda parte do corpo humano. ela não está dentro de um corpo, como para os gregos, mas está unida ao seu corpo. Essa relação não deve tornar-se dominação; isso quer dizer que ambos devem viver em harmonia. Por motivo da transcendência da alma, não se quer dizer que o corpo não tenha nenhuma função ou que seja o mal. Assim diz Agostinho, referindo-se ao valor do corpo: “o corpo não é mal, é bem, a alma nele se encarna, vive a sua vida, protege e guia”. A alma é que toma a iniciativa, que tem a função sensitiva e, no entanto, tem uma atividade espiritual. Por ser a alma regente ao corpo, o corpo não é mau. A espiritualidade da alma é confirmada pelo que ela conhece de si mesma, descobre que é uma substância que vive, que recorda, que quer, etc, e isto não tem nada com o que é corpóreo.
Agostinho afirma: “É inegável que a verdade está presente na alma e que tal presença determina uma união entre a mente que a contempla e a verdade que é contemplada, e que esta união não pode cessar, porque nada pode separar a alma da verdade”. Com essas ideias Agostinho deixa claro que a alma tem um profundo reconhecimento e uma atração em relação ao seu criador, que é Deus. Da verdade contemplada por algo que simplesmente admira o criador, brota uma ligação de unidade, que é imutável e eterna. Portanto, a alma é eterna. O homem não pode, enquanto está na carne, evitar todos os males que o afastam da verdade suprema, pelo menos os pecados leves. Mas esses males que são chamados leves, não podem ser considerados insignificantes.
Um grande número de objetos leves faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos faz um montão. A condenação eterna está em acumular estas massas ou esses grãos que afastam o homem da verdade a qual aspira em sua alma. Portanto, no fim dos tempos, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo material será transformado. O cristianismo, mais especificamente, a filosofia cristã discorda de Platão no tocante a reencarnação quando afirma que Deus concede uma alma pessoal para cada indivíduo a qual com a morte retorna a Deus e não a outros corpos para buscar a purificação necessária por suas faltas.
Este estudo alcançou os seus objetivos porque possibilitou um conhecimento maior sobre a dimensão sobrenatural do ser humano formado de corpo e alma, além de uma reflexão sobre o destino da alma após a morte do corpo com base no Fédon e sua projeção na filosofia cristã. Dada a importância que esta monografia possui reconhece-se que ela ajudará aqueles que desejam conhecer e analisar outros pontos de vista sobre o assunto em pauta, ou seja, este trabalho agora poderá ser aproveitado para futuras pesquisas e ainda como base para um estudo do assunto em outros autores e campos de reflexão ao longo da história, além de ser uma contribuição fundamental para a monografia filosófica a ser entregue no final deste curso.
Para um desenvolvimento maior do assunto tratado recomenda-se a leitura do livro de Michele Frederico Sciacca sobre a Existência de Deus e a Imortalidade da alma, onde o assunto é abordado sob o ponto de vista de vários filósofos, mencionando exemplos e citações da filosofia platônica. A alma unida ao corpo não pode realizar um ato de inteligência sem recorrer às imagens do mundo; ela se informa com a matéria; para reconhecer o mundo, a alma terá de reencontrar a matéria, uma vez destruído o organismo, a alma fica morta no sentido de que não pode mais agir sobre o corpo, não tem mais corpo; entretanto, ela continua sendo e não pode deixar de ser viva e muito inteligente.
Communio: revista internacional católica de cultura, Rio de Janeiro, 3 (1), p. mai. jun. BRUGGER, Walter. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Ed. Paulinas, 1980. PLATÃO. Os pensadores. São Paulo: Ed. Iniciação a filosofia. São Paulo: Editora do Brasil, 1968.
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