TEOLOGIA E MISSÃO PASTORAL
A dinâmica que demarca a atualidade está minada pelo resfriamento das relações humanas, pelo crescente narcisismo e hedonismo, implicando na urgente necessidade de compor mecanismos concretos para lidar com esse quadro. Neste sentido, a missão pastoral colabora com a potencialização das chances de obtenção de melhores condições de vida para aquele indivíduo que necessita travar batalhas contra seus infortúnios. Somado ao crescente problema da fragmentação social, reconhecemos o descolamento da igreja em relação à esfera pública, sendo pertinente a aproximação desta com os ideais da cidadania. Palavras-chaves: Missão Pastoral; Cuidado pastoral; Teologia Prática; Agenda Teológico-Pastoral; Cidadania. ABSTRACT The present work of course conclusion seeks to bring contributions related to the importance of pastoral missions in times marked by social complexities.
O QUE VEM A SER MISSÃO PASTORAL 22 3. CAPÍTULO II - A MISSÃO DO BOM PASTOR 26 3. AS IMAGENS DO PASTOR NO POVO DE ISRAEL 26 3. A MISSÃO DO PASTOR NA SAGRADA ESCRITURA 27 3. JESUS É O BOM PASTOR 27 3. Em particular, a América Latina apresenta inúmeros problemas sociais, enfrenta dificuldades relacionadas à degradação de vida de seu povo, e a partir dessa realidade delineamos a importância das ações pastorais. Entretanto, é importante mencionar que a missão pastoral e demais ações de evangelização devem estar acompanhadas pelo mais profundo e convicto comprometimento com o Evangelho de Jesus Cristo, sendo este, o Bom Pastor, que realizou inúmeros atos em favor de seu povo, sempre em busca da justiça social e da libertação de seu povo.
Não é a libertação social, política e econômica que viabiliza a entrada no Reino de Deus, mas o compromisso com a construção deste, através da fé e do comprometimento com a Igreja. Esta, por sua vez, embora não seja o Reino de Deus, dele não está dissociada, pois a Igreja manifesta o anúncio da construção do Reino e auxilia esta construção. No decorrer da exposição do trabalho, embora estarão presentes contribuições teóricas de diferentes intelectuais do campo da teologia e das ciências sociais, a pesquisa também conta com a introdução de importantes passagens bíblicas que elucidam a temática em tela. a metodologia, É a discussão epistemológica sobre o “caminho do pensamento” que o tema ou objeto de investigação requer; b) como a apresentação adequada e justificada dos métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser utilizados para as buscas relativas à indagação; c) e como a “criatividade do pesquisador”, ou seja, a sua marca pessoal e específica na forma de articular teoria, métodos, achados experimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo específico de respostas às indagações específicas.
A teoria e o método, embora não sejam sinônimos devem ser tratados de forma integrada e apropriada quando escolhido um tema, um objeto, ou um problema de investigação (MINAYO, 2007). A necessidade de elaboração da pesquisa pode ser justificada em razão da existência de um contexto em que a crescente complexidade das questões sociais, políticas e culturais do país demanda a construção de uma fé cristã associada à cidadania. Dessa forma, ressaltamos a importância que atribuímos à atuação das missões, compreendendo a importância da fraternidade e da defesa da paz social. A vulnerabilidade das pessoas que necessitam de missões pastorais ganha traços ainda mais agudos em um contexto societário tão atravessado pelo egoísmo e consumismo, em que a racionalidade civilizatória pauta-se no fortalecimento do “eu”, na exaltação dos aspectos da vida privada.
Para tanto, cabe ao pastoreio abster-se de qualquer risco de contaminar-se pelos ventos egoístas que sopram da sociedade moderna. A missão pastoral compreende o envolvimento da comunidade cristã com os problemas e acontecimentos que assolam a sociedade. Uma igreja fechada em si mesma não tem nenhuma serventia para social. O compromisso com os aflitos é defendido pelas Escrituras Sagradas e constitui-se em passaporte para o Reino de Deus. A missão evangelizadora da igreja deve estar atrelada à justiça, solidariedade, ao bem comum e à paz social, considerando os laços fortes existentes entre evangelização e promoção humana. No entanto, conforme aponta Collins (2004), percorrer essa trajetória de auxílio ao próximo demanda a prática de uma análise crítica dos fatores que envolvem a vida da pessoa em questão.
Isso pode revelar as diversas origens do problema e, também, direcionar para os melhores caminhos a fim de solucioná-los. A estrutura social, econômica e política podem constituir-se como fatores capazes de desequilibrar o bem-estar dos sujeitos, daí a importância da intervenção por meio do aconselhamento pastoral, uma das expressões presentes na missão pastoral. Esta dimensão prática apresenta características pautadas na compreensão, no respeito, na tolerância, na empatia e no mais pleno cuidado. O aconselhamento pastoral integra uma das dimensões da poimênica. Entendemos que a missão pode ser realizada por qualquer pessoa, mas torna-se pastoral quando prestada com conotação de fé em Cristo. A perspectiva de missão é profunda, consiste na transformação integral por amor transformante, pacificador, de perdão e reconciliação.
Conforme preconiza o Documento de Puebla (1979), trata-se de uma atitude de extrema exigência para quem quer de fato, servir aos mais necessitados e aos marginalizados, ou seja, a todos que revelam a face sofredora do Senhor. No tópico que segue, debruçar-nos-emos em torno das perspectivas que a teologia adota em relação à missão pastoral. Dessa forma, será feita uma abordagem a partir de considerações bíblicas, principalmente as presentes no Novo Testamento, nas cartas de Paulo. Continua Paulo: “quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele” (1 Coríntios 12:26-27). Em nossas comunidades, quando um membro sofre, a comunidade eclesiástica deve voltar-se para as reais necessidades desse membro, com a missão de traduzir-lhes a boa nova do Evangelho.
Para o apóstolo Paulo (1 Tessalonicenses 4. a tarefa da missão pastoral pertence a todos os membros da comunidade: “dada a mensagem de conforto, cabia a comunidade acalmada a partir das palavras do Senhor passá-las ‘uns aos outros’, reconfortando-se mutuamente”. Podemos depreender da afirmação de Paulo, que a missão pastoral não se circunscreve apenas aos sacerdotes ordenados, mas pode envolver a comunidade eclesiástica como um todo. Lucas 4. Mateus 22. Marcos 12. João 18. A missão é organizada a partir da fé em Cristo, no seio da Igreja, e essa fé capacita os missionários a servir os povos, a penetrar com o evangelho em suas vidas, transformando corações e humanizando sistemas e estruturas (DOCUMENTO DE PUEBLA, 1979). Enquanto a prática provém da manifestação de determinadas agilidades que não necessariamente envolvem reflexões.
Na perspectiva marxiana, a ação ou práxis apresenta conotação revolucionária. Marx defende a supressão da sociedade de classes e a abolição da propriedade privada através de uma ação capaz de conformar uma nova forma de sociabilidade. No entanto, não se trata de uma ação descolada de uma base teórica, mas de uma realização que esteja alicerçada à consciência crítica de classe. O conceito de pastoral relaciona-se com o compromisso missionário da igreja, com uma ação que envolva todos os cristãos. Não é uma ação personalizada no pastor, pois pastoral não admite atos isolados, mas coletivos. Ministério é uma palavra bastante utilizada pelos evangélicos, que se aproxima do termo pastoral. Esta tradução esvazia o real sentido da pastoral, que para os católicos, possui conotação sociológica e política.
Por outro ângulo, ministério para muitos evangélicos volta-se para a edificação das igrejas locais (ministério do louvor; ministério da administração; ministério de liturgia e outros) e para a inserção destas na realidade social (ministério com meninos e meninas de rua; ministério com usuários de drogas; ministério de ação social, dentre outros (CASTRO, 2000, p. A motivação para a composição da agenda de ação pastoral é proveniente do chamado de Deus e esse chamado envolve toda uma coletividade, convocada a trabalhar pelos ideais de justiça social. Na ação pastoral, cabe a cada comunidade eclesial priorizar os que vivem nas periferias das cidades, os jovens, os trabalhadores, os mais pobres, etc. É de suma prioridade atentar-se ao crescente circuito da violência e do tráfico de drogas que assola muitas vidas e famílias.
Acrescentemos também a escalada do desemprego, as dificuldades de inserção profissional, que constituem experiências sociais extremamente dolorosas, causando fragilidade e constituindo a “desqualificação social” (PAUGAM, 2003, p. O processo de desfiliação continua, quando o indivíduo se torna assistido, tornando-se dependentes da assistência, culminando na fase final do processo que, é a ruptura, fruto do acúmulo de dificuldades, “afastamento do mercado de trabalho, problemas de saúde, falta de moradia, perda de contatos com a família, etc, produto de uma soma de fracassos que conduzem a uma acentuada marginalização” (SILVA, 2006). As mudanças ocorridas no final da década de 1970, Segundo Silva (2006), impulsionaram o número de uma “população flutuante”, levando várias pessoas aptas para o trabalho a ficarem sem ocupação, desencadeando várias situações de privações e pouco a pouco rompendo laços afetivos e sociais, conduzindo parte desse contingente a viver nas ruas.
Dentre os meios presentes na iniciativa pública, podemos mencionar a assistência social, que viabiliza o acesso aos direitos sociais para as famílias que se encontram na margem da pobreza. É claro que ao recorrer à iniciativa da esfera pública, o sujeito também tem a possibilidade de adentrar no espaço ofertado pela agenda do cuidado pastoral para potencializar as chances de cicatrizar as feridas carregadas durante uma fase da vida atravessada por privações e sofrimentos. A agenda pastoral deve envolver princípios de solidariedade, igualdade e justiça, consciência dos reais problemas sociais, econômicos e políticos. Precisamos chamar a atenção para a importância crucial de ações pastorais, principalmente em um contexto de ascensão das falsas pregações religiosas que exaltam a prosperidade econômica, o conforto e o luxo, em real apologia ao individualismo e ao enriquecimento pessoal, tal como faz a Teologia da Prosperidade (TP).
A preocupação dos pregadores da TP não está relacionada aos verdadeiros princípios que constam no Evangelho, ao compromisso com os mais pobres, mas com a acumulação indiscriminada de riqueza, luxo e bem-estar. Discutindo sobre a necessidade de construção de um processo metodológico de pastoral, com base no capítulo 6, do Evangelho de João (1-15) elencam-se cinco passos. O primeiro passo compreende a percepção da realidade como indispensável para o desenvolvimento do processo pastoral. Somente o conhecimento da complexidade da realidade possibilita o planejamento de eficazes ações de intervenção. O segundo passo corresponde ao ideal do evangelho, à imprescindibilidade do desenvolvimento de releituras e reinterpretações da realidade. O terceiro passo direciona-se ao planejamento da ação pastoral (DEBIASI, 2006, p. O plano da evangelização adotado com plena racionalidade deliberativa determina o bem da caminhada e permite trabalhar a relação entre teoria e prática.
É um método de evangelização para compreender os desafios do mundo moderno. A metodologia eclesial ultrapassa o mero processo participativo; visa aprimorar a caminhada pastoral com respaldo no Evangelho. O processo de planejamento participativo tornou-se um instrumental de aperfeiçoamento do modo de fazer pastoral. Brighenti (2000, p. Contudo, a missão pastoral, no âmbito da teologia prática não deve descolar-se de uma conjuntura social, política e econômica complexa tal como estamos discutindo no presente tópico. Para Sathler – Rosa (2004), ao considerar o campo da teologia prática, é preciso considerar que a teologia também examina os processos humanos que permitem o alcance do conhecimento de Deus e entre os acontecimentos que perpassam as relações entre os seres humanos e Deus e entre as pessoas em sua busca por sentido.
Um dos desafios da Teologia Prática, como ciência da práxis, é ser um ponto de interseção entre a teologia e as ciências empíricas que lhe são afins. A sua tarefa consiste em refletir, juntamente com essas ciências, sobre a forma mais eficaz de instaurar a utopia do reino de Deus neste mundo (HARPPRECHT-SCHNEIDER, 2005, p. O autor em estudo delineia alguns critérios de suma importância para a concretização da missão, na perspectiva da teologia prática. As injustiças sociais e a falta de esperança diante dessas injustiças produz adoecimento para os estratos sociais marginalizados. É claro que as ações pastorais, atuando no contexto em questão poderão trazer contribuições significativas para essas pessoas, a depender do empenho da liderança implicada nesse processo.
No entanto, estamos nos referindo à grande dificuldade em lidar com problemas que são provenientes de uma estrutura sistêmica tão marcada por injustiças. Salienta-se o compromisso das lideranças ordenadas para as missões de compor critérios de avaliação de suas próprias práticas, para que possam aprimorá-las sempre, já que o envolvimento com as práticas pastorais envolve a interferência em distintas situações apresentadas pelo aconselhado. Nessa esteira de análise, tecemos aspectos a serem sempre avaliados no trato ao cuidado pastoral, principalmente o moralismo e o preconceito, daí a importância da manifestação do amor, do respeito e do compromisso com a justiça. Do ponto de vista da Teologia Prática, não podemos deixar de situar a importância da resiliência.
Esta vem ao encontro do desafio de encontrar melhores perspectivas de compreensão e ação capazes de auxiliar as pessoas que passam por situações de sofrimento. Dessa forma, a resiliência convida a olhar de maneira positiva para as pessoas que enfrentam situações de risco e problemas sérios para modificar as práticas educativas, o trabalho pastoral, observando, identificando e usando os melhores recursos daqueles que padecem (HOCH; CARLOS et. al, 2007). Partiremos para a discussão sobre as imagens do pastor no Povo de Israel, onde Jesus anunciou a libertação dos povos oprimidos. Esta radicalidade permite que a conversão seja um processo nunca encerrado, tanto em nível pessoal quanto em nível social, uma vez que o Reino de Deus não se esgota em realizações históricas (DOCUMENTO DE PUEBLA, 1979).
A MISSÃO DO PASTOR NA SAGRADA ESCRITURA A missão do pastor é manifestar o imenso amor do Pai e o mais profundo compromisso com o Evangelho. O anúncio do querigma convida a tomar consciência desse amor vivificador de Deus que nos é oferecido em Cristo morto e ressuscitado (CELAM, 2004). Isso é o que por primeiro necessitamos anunciar e também escutar, porque a graça tem primado absoluto na vida cristã e em toda a atividade evangelizadora da Igreja: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1 Coríntios 15,10). Deve o pastor da Igreja anunciar com clareza e sem ambiguidades a verdade sobre o homem, revelada por aquele mesmo que “sabia o que havia no homem” (João 2, 25). Jesus comeu e bebeu ao lado de pecadores; permitiu que uma prostituta ungisse seus pés; tocou os leprosos com as mãos e convidou seus discípulos a optarem pelos mais pobres e necessitados.
AS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS As primeiras comunidades cristãs não dispunham de significativo prestígio cultural (1Coríntios 1. nem de consistência econômica. Desta forma, passavam despercebidas no contexto social. Não apresentavam locais fixos para a realização das celebrações, mas realizavam-na na maioria das vezes, em casas particulares (Romanos 16. Assim, desde os seus primórdios a Igreja é constituída por hierarquia, formada pelos apóstolos e por Pedro3. De acordo com Salvador Pié-Ninot (1998), a igreja cristã primitiva tornou-se fundamento para a igreja cristã de todos os tempos. Logo os cristãos se organizaram em comunidades, tornando-se respeitáveis (PIÉ-NINOT, 1998). Ainda de acordo com as postulações de Pié-Ninot (1998), o batismo era, ao mesmo tempo, o meio através do qual os seguidores de Jesus eram inseridos nessa comunidade cristã.
Segundo Brown (1986), no período sub-apostólico, a partir de 66 d. Deste modo, somente através de uma vida vivida no Espírito é que seria possível promover a caridade, a solidariedade, o amor ao próximo e a igualdade entre ricos e pobres. CAPÍTULO III – A MISSÃO DA IGREJA NO MUNDO 4. A Igreja continuadora da obra de Jesus Cristo Como continuadora da obra de Jesus Cristo, a igreja nos comunica a riqueza de vida e de graça, nos concebe pelo batismo, nos alimenta com os sacramentos e a palavra de Deus. Deve nos preparar para a missão e nos levar aos desígnios de Deus. Para tanto, a Igreja precisa ser amada e respeitada. É preciso, portanto, pôr de parte e superar as falsas e inúteis oposições, por exemplo, entre a missão espiritual e diaconia em favor do mundo (RELATIO FINALIS II, D, 6).
No centro da Igreja está presente o ministério de Cristo e a sua missão. Neste sentido, a Igreja pode ser considerada, a partir de sua origem, a continuidade do movimento iniciado por Jesus, de seus discípulos e da comunidade primitiva (HACKMANN, 2003). Logo, Como tal, a Igreja se torna o lugar do seguimento de Jesus Cristo em comunidade, em vista a alcançar a salvação eterna, o que faz a Igreja pretender ser uma comunidade messiânica de salvação, que vive da palavra de Deus, inspirando-se e guiando-se pela vida e pela prática de Jesus Cristo (HACKMANN, 2003, P. Podemos afirmar que a Igreja anuncia o Reino e o constrói no mundo. Em contraste com o passado, a comunidade messiânica hoje transforma o mundo, não por meio da separação e dicotomia pregada pelos antigos cristãos da reforma radical, mas sim pela transformação das culturas à luz da cosmovisão bíblica.
A igreja é guiada pela ação do espírito de Deus e sua missão não é orientada sociologicamente, mas por determinação da bíblia. O conceito bíblico orienta a missão cristã. A estrutura da Igreja não é determinada por elementos humanos, mas por padrões bíblicos de transformação embasados no mandato cultural (DRIVER, 1992). Para o autor, a missão em comunidade exige o ato de despir-se do pecado e resgatar a importância da missão para romper com a dicotomia entre o sagrado e o secular. A declaração do cardeal foi alvo de críticas por parte das instâncias que defendem o ecumenismo e o diálogo inter-religioso (TEIXEIRA, 2013). De acordo com Teixeira (2013), o pontificado de Bento XVI é marcado pela defesa da identidade da igreja católica e pela crítica ao relativismo.
Sua atuação em Roma consiste na linha de continuidade ao passado. Seu tempo de pontificado foi breve, iniciado em 2005 e encerrado em 2013. Sua atuação foi marcada por tensões religiosas e crises no campo da geopolítica. O amor ao próximo adquire centralidade no pensamento do pontífice, por meio do qual pode ser encontrado o caminho da salvação e da bem-aventurança. Preocupa-se com a globalização da indiferença, com o recrudescimento do egocentrismo e com o resfriamento das relações fraternas. Sendo mais que urgente, promover formas de rejeição à cultura do bem-estar egoísta. Francisco, diferentemente de Bento XVI, não se identifica com a figura do disciplinador, mas com a de um pastor que sonhou com uma igreja despojada, pobre e voltada para o povo.
Volta-se para os pobres, miseráveis, refugiados, moradores de periferia, mostrando-lhes a importância de manterem acesas as chamas da esperança. Necessita também de leigos que tenham consciência da missão que lhes cabe no interior da Igreja e na construção da cidade secular (DOCUMENTO DE PUEBLA, 1979). NOVAS PERSPECTIVAS DA AÇÃO PASTORAL DOS CRISTÃOS NOS DIAS DE HOJE Antes de abordarmos acerca das novas perspectivas da ação pastoral nos tempos de hoje, consideramos de suma pertinência tecer desdobramentos relacionados ao aspecto vocacional, fator crescentemente desvalorizado na atualidade. Conforme elucida Cortés Solís (2008), a vocação envolvendo as questões religiosas hoje é desvalorizada na sociedade pós-industrial. Necessitamos perguntar-nos se a nossa tarefa consiste em salvar a humanidade ou em dar sentido pastoral às suas crises, e neste ponto o diálogo inter-religioso é de suma importância.
Então, se faz necessário um novo estilo de liderança pastoral, que seja capacitado e com o compromisso de dar sentido à existência humana e às suas aflições a partir da Palavra de Deus. Essa proposta procura reverter o quadro grave e dramático do processo de fragmentação social e de isolamento provocado pela crescente individualização dos sujeitos e indiferença com relação aos problemas/infortúnios apresentados pelo próximo. Para Bessa (2013), enquanto expressão de cuidado, a igreja contribui para promover a saúde e o bem-estar bio-psico-sócio-espiritual de seus membros. Há espaço para acolhimento e escuta do outro, além de valorização do ensino e da comunhão. Além disso, a igreja colabora com a recuperação e/ou aprimoramento da espiritualidade do acolhido, que pode apresentar sinais de estremecimento em meio ao caos enfrentado em seu cotidiano.
Deve prevalecer nesse processo de cuidado, a fraternidade, a compaixão pelo outro, o compromisso com a recuperação da sua autoestima e o acompanhamento do seu quadro de melhoria. Os holofotes midiáticos estão abarrotados por personalidades religiosas, que no lugar de assumir os compromissos com o Evangelho e com as reais necessidades do povo, buscam a fama, o lucro, o prestígio e o espaço cada vez mais extenso na popularidade midiática. Não é esse tipo de pastoreio que deve compor o conteúdo da agenda teológico-pastoral. É claro que os frutos gerados por um pastoreio comprometido com a justiça social podem gerar admirações por parte da sociedade, podendo a ação pastoral, inspirar outras lideranças religiosas, no entanto, não se trata de um cuidado que deva proporcionar a promoção pessoal de quem o pratica, já que o protagonismo daí decorrente é de natureza coletiva.
A atualidade exige missões pastorais capazes de promover a cidadania. A cidadania pressupõe um conjunto de direitos e deveres para o povo, garantindo-lhe a participação nos processos decisórios que dizem respeito à vida pública. As afirmações do autor são construídas para respaldar discussões em torno do percurso brasileiro em direção à cidadania. Para ele, a sociedade brasileira não logrou grande protagonismo na luta pela conquista de direitos e dignidade, já que as nossas experiências de insurreição contra os abusos do patronato vieram de experiências europeias, sobretudo, dos imigrantes, e os três obstáculos estruturais mencionados acima ainda influenciam fortemente a efetivação do acesso aos direitos. As nossas experiências de obtenção de cidadania esbarram-se sempre nos postulados do passado colonial, em uma conjuntura atravessada por resquícios de uma estrutura econômica caracterizada pela subordinação aos interesses estrangeiros.
E também em experiências ditatoriais, a contar com a ocorrida com a iniciativa de Vargas (1937-1945) e com o golpe instaurado em 1964, que durou duas décadas. A parcela populacional mais pobre lida com os impasses de um sistema subdesenvolvido e incompleto em termos de formação de uma identidade nacional e de incorporação dessa parcela populacional aos rumos do acesso a direitos sociais, políticos e civis. Nesse sentido, o compromisso com a cidadania não está descolado das Escrituras Sagradas. O cuidado pastoral, contudo, representa uma forma de prática pastoral que pode promover a cidadania, superando a dicotomia existente entre cristão e cidadão. Silva defende o papel da liturgia como geradora de: 1) atos de alegria, 2) atos de compromisso, e 3) atos de serviço.
Dessa forma, para Silva, o espaço da liturgia pode constituir-se em momento oportuno para a reflexão acerca da cidadania. “Vivemos uma época na América Latina em que nossas liturgias precisam ser criadoras de ações que fortaleçam as ações das comunidades. Nesse árduo percurso de um século dramático na história da Igreja cristã, a teologia percebeu a urgente tarefa de colocar-se em defesa e a serviço da humanidade. No entanto, há uma crescente onda de surgimento de novas igrejas acopladas a um circuito fechado e sem interlocução com as manifestações que extrapolam o seu muro. Esta manifestação encontra respaldo na atual conjuntura social, marcada por um severo egoísmo. Na mesma proporção em que cresce o egoísmo do cristão, cresce o seu senso de condenação e julgamento com relação aos comportamentos do outro.
Tais tendências não podem ser consideradas irreversíveis, porém, cabe o esforço dos cristãos e lideranças religiosas em direção ao resgate dos pilares que sustentam o Evangelho, considerando o cuidado pastoral enquanto ferramenta essencial. Em tempos de insegurança social, a elevação das taxas de pobreza, desemprego, marginalização social, crescente envolvimento da juventude com a criminalidade acabam por minar o tecido social, que clama por intervenções em direção às transformações sociais, políticas, econômicas e culturais. Nesse sentido, a missão pastoral apresenta importante relevância ao demonstrar comprometimento com as prerrogativas apresentadas pelo Evangelho. Em tempos de exacerbação do sentimento egoísta, de sobreposição da vida privada em relação ao compromisso com a coletividade, do crescimento das congregações religiosas alicerçadas à comercialização da fé, faz-se primordial prezar pela defesa do cuidado pastoral em rejeição à tendência do esvaziamento social de sentimento de senso de justiça e solidariedade ao próximo.
A América Latina apresenta graves desníveis sociais, com uma assustadora concentração de renda e uma forte submissão aos ditames da política econômica internacional. Nesse sentido, a Igreja não pode deixar de lado a sua vocação para com as reais situações do quadro social. Contrariando as crenças de que voltar a Igreja pra as necessidades sociais constitui-se em antropocentrismo, a base teórico-teológica para o cuidado pastoral é o Reino de Deus. Ou seja, o envolvimento com as causas sociais tem respaldo no Evangelho. Em se tratando dos problemas da atualidade, consideramos pertinente lançarmos discussões acerca da elaboração de uma agenda de ação pastoral que esteja comprometida com o real quadro social, político, econômico e social.
Dessa forma, delineamos que essa agenda compactue com a luta em prol da justiça e igualdade social, com o enfrentamento as mais diversas formas de violência, com a rejeição à idolatria ao lucro e ao consumismo, com a promoção da cidadania e participação social, etc. Discutimos sobre o papel da ação pastoral, a qual insere o povo no espaço público. De acordo com Bonino (1985), considerando as regiões geográficas onde mais estão concentradas as penúrias sociais, salienta-se que na América Latina e na África, as necessidades humanas são modeladas pelo colonialismo, pela rivalidade da guerra fria dos superpoderes, pelo sistema de comércio mundial e por uma grande carga de dívida. Vivenciamos uma época da superficialidade, de egoísmo, niilismo, narcisismo.
Vivemos em uma cultura pós-moderna, em que impera a indiferença com os acontecimentos que assolam a humanidade. Com o recrudescimento de um universo que se volta para o individualismo exacerbado, as catástrofes humanas adquirem espaço privilegiado, por meio da corrupção generalizada, do aumento violência, dos crimes de ordem econômica, etc. ARENDT, 2016). É arte de participar no bem-estar já oferecido, na salvação graciosamente ofertada, no amor derramado. É, então, e antes de tudo, arte de ser pastoreado. Para cuidar é necessário ser cuidado (ZABATIERO, 2009). É evidente que quanto mais o discurso for destoado da prática, mais distante a humanidade ficará do resgate dos laços de pertencimento a uma coletividade. Esta afirmação não compreende uma perspectiva pessoal, mas sim, um fato inegável.
A igreja jamais deve desconsiderar a importância do senso de comunidade. A Igreja por sua vez, tem o dever de anunciar a libertação de milhões de seres humanos, tal como anunciou Jesus Cristo. Libertação de tudo aquilo que oprime e aprisiona o homem: pobreza, miséria, desemprego. E também a libertação do pecado, feita de perdão e reconciliação. A libertação cristã não apresenta relação com ideologias, o que faria com que a Igreja perdesse o seu significado. dez. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2017. BONINO, José Miguez. n. p. jan. dez. BRIGHENTI, A. Por uma fé cidadã: a dimensão pública da igreja. Fundamentos para uma pastoral da cidadania. São Paulo: Loyola.
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