REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:História

Documento 1

O trabalho trata-se de uma análise tanto em revisão bibliográfica, além de verificação de dados publicados pelo IBGE e outras fontes de dados, bem como consideração qualitativa das letras de músicas diante de uma dissertação didática e corroborativa para o estudo da cultura da população negra e da representatividade. Palavras-Chave: Representação. Negro. Música. Brasil. Education. INTRODUÇÃO A problemática pauta-se sobre a análise da representação do negro inserida na Música Popular Brasileira (MPB) em razão das formas direcionadas para a figura do negro em constituição nomeada a partir de uma representação depreciativa, sexualizada e consolidando os pensamentos racistas e desiguais social e racialmente atribuídos, e a busca por atrelar a representatividade do negro dentro de uma contraposição existente na reação entre os músicos e compositores do ramo.

A metodologia utilizada pautou-se em análise qualitativa por meio de revisão bibliográfica de dados, doutrinas e obras publicadas em meio eletrônico e físico, passando para a verificação de dados publicados pelo IBGE e, posteriormente, a apresentação da interpretação das músicas selecionadas para a apreciação do presente estudo. Para se chegar ao completo desenvolvimento do trabalho, buscou-se trazer inicialmente o significado e os estudos acerca da representação social, acentuando as marcas da origem e do conceito de representação principalmente sobre as considerações de Roger Chartier e Sandra Jatahy Pesavento. A inserção do assunto foi de extrema importância ao se constatar que a representação dentro de uma situação concreta se dá em razão da mudança de paradigmas que ocorreu a partir dos estudos históricos da Escola dos Annales.

A noção de representação adquire uma importância fundamental no discurso dos especialistas da história cultural, seguidos dos adeptos da história política. Com relevância a emergência desse conceito, amplamente utilizado por outras áreas do conhecimento, volta-se para as mudanças do paradigma intelectual e o consequente abandono dos grandes sistemas totalizantes e explicativos, abrindo caminho para a adoção de novas correntes de pensamento, a exemplo do subjetivismo e da fenomenologia que passaram a influenciar diretamente a produção histórica cultural e política. Assim, a noção de representação coletiva ao lado da noção de representações mentais individuais abriria novas pistas de investigação. De acordo com a estruturação da sociedade, modificações históricas que corroboraram com a movimentação da população, Chartier (2002, p.

afirma, portanto, que a noção que se pode atribuir para a “representação” está voltada para a construção dada por acepções anteriores e mais antigas, já que se considera como um dos conceitos mais importantes que foram remontados a partir de definições sociais sobre as operações intelectuais que permitem apreender diante da construção de uma sociedade mundial. Nessa perspectiva, a percepção dominante acaba ganhando força de realidade, de verdade, sendo, portanto, naturalizada. Por essa razão, “(. imagens dotadas do poder mágico de fazer crer, de parecerem verdade, de se substituírem ao real, de serem capazes de inverter as relações sociais, fazem com que os homens vivam por e no mundo das representações” (PESAVENTO, 2007, p. A autora acrescenta ainda ao estudo a concepção de afirmação no que se funde que é um conceito que ao mesmo tempo que é claro e assumido por todos, a resposta, de modo geral, seria que não se pode afirmar que é uma resposta justa para somente essa significação (PESAVENTO, 2007, p.

Entretanto, entendemos que, de uma forma geral, todos trabalham com a mesma ideia do resgate de sentidos conferidos ao mundo, e que se manifestam em palavras, discursos, imagens, coisas, práticas. O autor menciona, portanto: (. o impacto dos Annales sobre a historiografia ocidental como um todo, e sobre a historiografia brasileira em particular, não deixa de ser produzido por uma parte efetiva de contribuições substanciais e extremamente inovadoras para a historiografia, e também por uma parte não menos significativa de recepção favorável do ‘mito’ construído pelos primeiros líderes do movimento em sua ascensão ao domínio do território institucional (BARROS, 2012, p. Os Annales passam a representar, como bem explicou o autor acima em destaque, um contraponto entre a “Nova História” e a “Velha História”, postulando as primeiras concepções sobre o movimento para representação e autopercepção.

Barros (2012, p. constitui como percepção do seu estudo que os estudiosos têm o recebimento de outros movimentos e correntes para a formação do estudo relativo aos historiadores dos Annales, voltando-se para a relação entre a influência e as correntes dadas pelos teóricos para o movimento estruturante do diálogo constituído no movimento, solicitando diversas reflexões sobre os entusiastas do próprio marxismo e da visão que procuram pontuar as diferenças entre a complexidade da sociedade e da historiografia ocidental. A sexualização das mulheres negras em detrimento das mulheres brancas ou mestiças e a inserção dentro das músicas constata como um exemplo sobre a influência a qual se viveu no período escravagista e que permaneceu incrustrado na cultura da população.

O cenário musical de inserção sexualizada, criminalizada ou pouco representativa dentro da música no Brasil é o claro reflexo do contexto social o qual o negro passou a ser inserido a partir da escravidão, ou bem antes disso, com as concepções criadas pelos países europeus que incisivamente participaram do processo de formação da população brasileira. Isso retrai-se também ao que não se pode comparar com outros países – que também persistem em seguir com problemas raciais, como é o caso dos Estados Unidos –, pois o Brasil é fruto de colonização para exploração diferente daquele que foi um país criado para a moradia e população que seguia para um novo local de oportunidades –, o que determinou ao Brasil como local pouco importante para população, no início, em ser colonizado para novas oportunidades, criação de um novo sistema econômico apartado da Europa ocidental e diversas outras menções já constatadas dentro dos estudos sobre o preconceito e a desigualdade social.

Como dado por justificativa, o reflexo atribuído às músicas populares, incluindo os folclores e lendas indicados ao longo da história brasileira, atribui-se ao cenário desigual o qual o negro, por sua vez, injustamente, passou a ser inserido. Diante disso, Munanga (2019, p. A representação do negro na música muda de atribuição, a partir da afirmação: Além disso, o hip-hop expressa a rebeldia da juventude afrodescendente, tendendo a modificar o perfil dos ativistas do movimento negro; seus adeptos procuram resgatar a autoestima do negro, com campanhas do tipo: Negro Sim!, Negro 100%, bem como difundem o estilo sonoro rap, música cujas letras de protesto combinam denúncia racial e social, costurando, assim, a aliança do protagonismo negro com outros setores marginalizados da sociedade.

E para se diferenciar do movimento negro tradicional, seus adeptos estão, cada vez mais, substituindo o uso do termo negro pelo preto (. é precoce decretar que a agitação do hip-hop sela uma ruptura na plataforma do movimento negro. Primeiro, porque ele ainda é um movimento desprovido de um programa político e ideológico mais geral de combate ao racismo. Segundo, porque o hip-hop no Brasil não tem um recorte estritamente racial, ou seja, não visa defender apenas os interesses dos negros (DOMINGUES, 2007, p. O que reflete claramente que a população tanto negra como parda, está em maior número de concentração no Brasil denotando-se que mais da metade da população brasileira é negra ou parda, porém, ainda é possível ver o déficit da população em razão das oportunidades, preconceitos e impulsividades raciais que ocorrem e ocorreram nos últimos anos no país.

TABELA 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, SEGUNDO A COR ENTRE 1872 A 1991 FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.  Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. Dada essa demonstração de representatividade do negro e do pardo no Brasil, a seguir, trata-se sobre a representação do negro na MPB, tanto pela apresentação dos negros inseridos e relatados dentro das músicas de forma pejorativa e preconceituosa, e enquanto a representatividade para valorização e contraposição ao preconceito racial no cenário nacional. Qual é o pente que te penteia?”. Aqui se verifica a paráfrase sobre a abordagem estética do negro ou da negra especificamente de forma que retrata o preconceito contra a mulher negra, sentimento atrelado à humilhação e objetificação da mulher negra e da população nacional e, dessa forma, à época em que foi lançada a música, pouco se refletiu sobre a temática e pouco causou alarde, tema que atualmente, diante da globalização e redes sociais, provavelmente haveria maior movimentação da população de forma geral como militantes, o próprio Movimento Negro e movimento das mulheres contra essa composição.

Sob outros aspectos, letras de músicas que poderiam parecer inofensivas, causam ainda sérios desconfortos perante o preconceito racial e a segregação de raças, o que demonstra em letras “Aquarela do Brasil” (letra de 1939 e com composição de Ary Barroso, interpretado por diversos artistas como Francisco Alves, Elis Regina, Frank Sinatra e outros); “Morena Boca de Ouro” (composição por Ary Barroso em 1941 interpretado por Silvio Caldas, Roberta Sá e outros); e “Teu Cabelo Não Nega” (composição de Lamartine Babo e Irmãos Valença em 1932, interpretado por Bando da Lua), encontrando-se uma contradição entre a própria admiração disfarçada de fenótipos criados para desvalorizar o negro, inserindo o preconceito em torno da figura da mulher negra ou parda. A cor se dá como algo a ser especificamente negativo, mas que não se perde a todo custo o momento de sua apreciação.

Novamente, ressalta a sexualidade e a objetificação das mulheres negras igualadas a nada, somente como objetos de apreciação, como uma peça de museu ou uma animal dentro de uma gaiola, o que retrata um erotismo e até uma menção de “pecado” que seria a pele e a sensualidade de uma mulher negra. Isso porquê em outra estrofe refere-se “E quando você me responde / umas coisas com graça/ a vergonha se esconde/ porque se revela a maldade da raça”. É por essas contradições que se insere a análise da música em uma contra e disposição em razão do racismo, pois opõe-se à uma forma de combate e manifestação contra o preconceito ao mesmo tempo que exalta a figura do negro. A música ganhou tema da novela da Rede Globo em 2004 dirigida por João Emanuel Carneiro, com o repertório a demonstrar as dificuldades e preconceitos que a mulher e a família negra de forma geral passa a conviver em uma sociedade predominantemente machista, sexista e segregatória, momento em que retrata as famílias ricas como as representadas pelos brancos e os pobres segregados e que ocupam cargos menores e com pouco aferição de renda.

A canção reforça o estereótipo da sensualidade associada à pessoa negra. A aparente tentativa de valorização da beleza, acaba por reforçar mitos racistas que resvalam na objetificação do negro em detrimento da sua capacidade intelectual, como aqueles que “veem no negro bom desempenho apenas no que diz respeito à força física, ficando a emoção e a inteligência como privilégio de branco” (LIMA, 2001, p. Ainda sobre a contraposição de letras voltadas em objetificação do negro, “Meu Ébano” composta por Alcione é o retrato da composição em busca de não causar qualquer constrangimento à figura do negro, e sim, a referência do negro como o negro: a figura do homem como uma forma sensual e agradecimento à miscigenação brasileira. A letra que acena-se na menção que “você é um negão de tirar o chapéu”, supre a posição de inserir a figura da população negra sob a análise da beleza real, não sensualizada ou objetivada como outras letras já analisadas, buscando as explicações acerca de uma linguagem expressiva e a utilização de sotaques e gírias próprias do Movimento Negro no Brasil.

Diferente de outras músicas interpretadas por Alcione, como é o caso de “Além da Cama”, coloca-se “Meu ébano” como a forma respeitosa e orgulhosa da pele negra, a representatividade neste momento ganha força a partir de outras interpretações que surgem além da letra da música, conseguindo alcançar diversas searas de entendimento. Alcione também reproduz outras letras de grande sucesso voltadas para o Movimento Negro e a exaltação da população negra como é o caso de “Nega Nina” em 1982 com a letra “quando eu for lá vou fumar meu cachimbo de barro/oferendar um chibarro no pé de cajá/pra ter sempre força/pra poder lutar/tanto faz, na terra, na guerra/tanto faz, no mar”. Dentre diversas músicas que retratam a contraposição com o racismo e o preconceito racial, encontram-se diversos títulos que podem ser melhores expostos, como é o caso da letra de “Negróide” de Taiguara em 1968, que se refere “(.

Músicas do rap nacional e outros gêneros também passam a exaltar a figura do negro, como é o caso de Racionais Mc’s em um “Diário de um Detento” e “Negro Drama”. A diversidade musical no Brasil é significativa na mesma medida que o território do país é extenso e que possui diversos tipos de culturas, músicas, estilos musicais e dificuldades unânimes atribuídas pela herança da escravidão e colonização no país, incluindo com o sofrimento do negro em exclusão social e desigualdade racial na mesma medida que indígenas ainda lutam por terem suas terras preservadas, assistência pelo governo federal e a utilização de boas comunicações entre a população. CONCLUSÃO O presente trabalho buscou retratar a situação referida à Música Popular Brasileira (MPB) em razão da representatividade do negro em contraposição ao preconceito racial encontrado ainda em diversas letras de músicas.

Segue-se a um dos objetivos específicos traçados no artigo, apresentou-se o negro dentro do cenário social brasileiro, sobre uma análise estatística e social dentro de uma constituição de representatividade, chegando até as estatísticas no Brasil que passaram a retratar que a população cerca de mais de 50% é negra ou parda, mas ainda é forte a presença de preconceito, discriminação e casos de racismos em diversas searas de atuação. A desigualdade social não somente é encontrada nos dados como é vista dentro de um cenário racista de análise de músicas que inserem os negros em situações dos temas das letras de músicas, como foram analisadas. edu. br/index. php/historiaemreflexao/article/view/953. Acesso em 03 fev. BOECKEL, Cristina. Portugal: Difel, 2002.

DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: Alguns apontamentos históricos. Niterói: Revista Tempo, vol. n. gov. br/territorio-brasileiro-e-povoamento/negros/populacao-negra-no-brasil. html. Acesso em 04 fev. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. scielo. br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452006000200003. Acesso em 03 fev. MUNANGA, Kabengele. ufg. br/fchf/article/view/515/464. Acesso em 03 fev. NUNES, Ranchimit Batista. História da Educação Brasileira: O Negro no Processo de Constituição e Expansão Escolar. huffpostbrasil. com/entry/29-musicas-que-refletem-o-que-e-ser-negro-no-brasil_br_5c33ac33e4b0535217f642d8. Acesso em 04 fev.

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