Relatório de Clinica

Tipo de documento:Relatório

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

M. S. Data de Nascimento: 22/01/1996 - Idade: 22 anos - Pais: T. A. M - Conjugue: G. Sofreu assédio pelo pai dos 6 aos 11 anos e estupro dos 6 aos 8 anos. Irmão tentou estuprá-la nesta mesma fase, mas não conseguiu. Tinha ódio do pai e depois de sua morte sente remorso. Possui 8 irmãos e acredita que todos foram estuprados pelo pai. Quando Alessa tinha 8 anos o pai levou todos os filhos embora para o Paraguai, dizendo que sua mãe havia morrido. Já pensou em suicídio mais de uma vez. Última vez tem duas semanas. Nunca conseguiu falar com o pai sobre os estupros que sofria. Amava muito o pai. Sente ao mesmo tempo tristeza por todo sofrimento que passou e saudades do pai pela sua morte. Podemos ter pensamentos ou gestos mais ou menos nocivos, prejudiciais ou negativos, mas isso não faz com que toda nossa pessoa seja assim.

Utilizei a metáfora da ansiedade: ansiedade é como estar sobre a areia movediça, quanto mais você luta contra ela para sair dali, mais ansiosa fia e mais desesperada e enérgica é essa luta. Assim o que esta metáfora recomenda é que quando você estiver em um estado de ansiedade, procure relaxar e agir contra o que seu corpo está pedindo. Pois na hora da ansiedade, nosso corpo é enganado por emoções passageiras. Não fez a tarefa da sessão anterior. • 6° atendimento – 17 de setembro de 2018 - Foi confirmada a sessão, porém no dia a paciente não compareceu. • 7° atendimento – 24 de setembro de 2018 - Preparei um material onde a paciente poderia planejar o seu futuro, com objetivos a médio e longo prazo. Neste material ela pode expressar e visualizar o que almeja nas seguintes áreas: crescimento pessoal, prazer, espiritualidade, saúde, trabalho, ambiente e comunidades, relacionamento familiar, relacionamento íntimo e relacionamento social.

A paciente teve muita dificuldade para saber o que deseja de um relacionamento íntimo. Ficamos a sessão inteira nesse ponto, mas algumas reflexões ela conseguiu escrever algumas coisas que almejada. A triagem, para o psicólogo, é um processo de conhecimento de quem procura por atendimento e que busca, muito além dos sintomas, saber qual é o sofrimento e onde estão suas causas. O processo de triagem pode ser contínuo à psicoterapia quando o quem faz a triagem é o mesmo que atenderá o paciente, ou pode constituir uma etapa à qual se seguirá outra nova, com outro profissional, quando houver encaminhamento. Outra possibilidade é que a alta ocorra durante o processo de triagem. Pois a triagem é um processo psicodiagnóstico que tem início, meio e fim, mas cujo fim não será percebido pelo cliente quando for um processo contínuo, mas somente quando houver necessidade de que o paciente seja encaminhado.

Quando um paciente chega para a consulta psicológica, ele não chega sozinho. Para tanto, existem três perguntas chaves, quais sejam: “O que o cliente quer?”, “O que eleja tentou” e “Como funcionou?” Além disso, perguntas como “O que te trouxe para a terapia?”, “Qual seu objetivo com a terapia?”, “O que gostaria de mudar na sua vida?” e “O que você acha que é o problema?” podem evidenciar a queixa do cliente, bem como os comportamentos que estão produzindo consequências aversivas. Posteriormente, com os comportamentos identificados, será necessário descrever as contingências para realizar uma análise funcional a fim verificar seus antecedentes e consequências, para em seguida questionar o cliente sobre suas atitudes com o objetivo de resolver o problema. Desta forma, uma vez que o terapeuta esteja em posse das informações relacionadas às estratégias de controle dos eventos privados, e o cliente constate a ineficiência de suas estratégias, poderão, através do diálogo fluido e livre de julgamentos, promover mudanças que irão gerar condutas mais adaptativas.

Diante disto, esta seria uma técnica eficiente para a cliente A. pois, embora sua queixa principal seja a sensação de nojo diante do ato sexual, parece estar relacionado ao seu problema primário de abuso sexual por parte de seu pai. Neste sentido, deve conduzir o cliente a conhecer, através das suas próprias experiências, o porque e o que mantêm seus problemas, ou seja, a sua experiência diante dos fatos deve guiar o cliente a tirar conclusões sobre o motivo de seu sofrimento. Segundo Saban (2015), o cliente demonstra que está pronto para a próxima fase da psicoterapia quando consegue passar pela Desesperança Criativa e deixa de tentar controlar os eventos encobertos passando a aceita-los como são, além de prestar atenção nas variáveis destes eventos, tal como os sentimentos que estão relacionados à ele, bem como consegue se manter no momento atual.

No entanto, pode ser que o cliente demonstre alguma dificuldade de passar por esta fase, e, diante disto, o terapeuta poderá solicitar que o cliente realize uma lição de casa, tais como O diário das vivências cotidianas e O diário da aceitação cotidiana. O diário das vivências cotidianas consiste em solicitar que o cliente anote, em todos os dias da semana, os seguintes itens: Qual foi a vivência, o que ele estava sentindo no momento, por quais pensamentos fora tomado no momento, quais foram as sensações corporais no momento e o que o cliente fez para lidar com os sentimentos, pensamentos e sensações corporais do momento. Por outro lado, no diário da aceitação cotidiana o cliente deverá dar, no final de cada dia, uma nota de 1 (nada) até 10 (extremamente), para os seguintes aspectos do dia: chateações (tais como ansiedade, preocupação e depressão), luta que demanda esforço para esquivar de sentimentos, pensamentos e sensações corporais, bem como atribuir nota a questões como: Se a vida fosse sempre como este dia, quanto você faria o que fez hoje?; Faz parte de uma forma de viver vívida e funcional? Estes exercícios poderiam contribuir grandemente para a cliente A.

Por isto, está relacionado à aceitação e é uma consequência dela, visto que é durante a aceitação que o indivíduo é treinado para conviver com estes eventos, aceitando-os como são. Desta forma, as fases de aceitação e desfusão são os momentos em que o cliente aprende a conviver, sem qualquer tipo de defesa, com os eventos privados, ou seja, com os pensamentos, sensações corporais e sentimentos que ficam encobertos pela pele. Segundo Saban (2015), é muito comum que o cliente chegue a terapia após ter passado por situações que o afetaram de tal maneira que alteraram sua maneira de se comportar no futuro. Quando essas contingências são aversivas, o indivíduo passa a evitar os efeitos destes eventos, os próprios eventos aversivos, respondentes desagradáveis, tal como o choro, e contra controle, que é a fuga dessas consequências.

Porém, pelo fato de o indivíduo ser capaz de criar relações arbitrárias entre estímulos diferentes e pela capacidade de relembrar eventos passados, inclusive os aversivos, este é capaz de avaliar e comparar os estímulos, ampliando o conjunto de situações aversivas e, consequentemente, seus efeitos. é acometida pela lembrança frequente do abuso sofrido e como consequência chora, sente-se triste e pensa em suicídio, ao passo que a relação sexual com o marido, que deveria ser considerada como um ato normal entre cônjuges, tornou-se aversivo também. Se a cliente tivesse permanecido na psicoterapia, poderíamos ter avançado até as fases de aceitação e desfusão para que deixasse de se engajar em comportamentos de fuga e esquiva dos eventos aversivos relacionados aos abusos sofridos pelo pai e passasse a aceita-los como são, apenas lembranças e sentimentos.

Além disso, a aceitação e o consequente abandono de meios para evitar a dor poderiam viabilizar o rompimento da generalização de estímulos relacionadas ao ato sexual, além de proporcionar uma melhora de sua vida conjugal, e, ainda melhor do que isto, aprender a lidar com os pensamentos e lembranças dos eventos passados que culminam em pensamentos potencialmente suicidas. Saban (2015) refere que o ser humano é capaz de relacionar estímulos de forma desmedida, e, por isto, consegue avaliar o mundo, as pessoas e a si mesmo. A capacidade de reflexão, aliada a capacidade de avaliação, viabiliza o surgimento de um auto concepção, ou seja, o indivíduo se auto define através de adjetivos valorativos e conceitos tais como: sou simpática, sou teimosa, sou extrovertida, etc.

Diante do exposto acima, podemos considerar que o conceito de self como contexto seria uma alternativa para ser trabalhada durante a psicoterapia com a cliente A. Isto se justifica, pois, de acordo com as avaliações feitas nos poucos atendimentos em que A. compareceu, foi possível verificar que a cliente possui um self conceitual, pois se encontra fragilizada e incapacitada para a mudança, procurando alívio para a dor nos pensamentos inapropriados e iminência de suicídio. Desta maneira, com o decorrer do processo terapêutico, A. poderia aprender a se enxergar como expectadora dos acontecimentos passados e atuais, no entanto, não de forma passiva como se considera diante dos fatos e sentimentos pelos quais é acometida, pelo contrário, como sujeito capaz de passar pela experiência, ainda que traumática e aversiva e aceitar suas consequências, tais como os sentimentos e pensamentos inapropriados, considerando-os apenas como sensações corporais e mentais, pois é uma pessoa capaz disso.

Contudo, é necessário que o cliente compreenda o que é um valor para que consiga definir os seus, e, em vista disto, a autora afirma que são necessárias algumas distinções, quais sejam: valor como direção de ação versus sentimento, que significa que possuir um valor é ter uma direção de ação e não um sentimento que valoriza algo; escolha versus julgamento, que postula que os valores são escolhas estabelecidas através das razões históricas, ao passo que o julgamento é uma escolha embasada pela razão; escolha versus ações derivadas da lógica, onde as escolhas são ações baseadas pelo histórico e as ações derivam unicamente da lógica; e valores versus pressões sociais, onde as pressões sociais estão associadas ao julgamento e moral.

Desta maneira, diante do esclarecimento do conceito “valor”, o psicólogo deverá ajudar o cliente a identificar os seus valores. No entanto, aqueles clientes que tenha passado por muitos eventos aversivos apresentarão maior dificuldade em identificar seus valores, tendo em vista que poderá evocar comportamentos respondentes desagradáveis diante da lembrança dos momentos em que tentaram agir para alcançar seus objetivos e, no entanto, tiveram como consequências eventos punitivos que colocaram seu comportamento em extinção. Assim, as fases de desfusão e dos valores estarão conectadas pois é no momento em que o cliente se encontra mais fundido que conseguirá encontrar seus valores. Conforme o exposto acima sobre o conceito de valores, é comum que pessoas com histórico de contingências aversivas apresentem dificuldades de identificar seus valores.

O mesmo autor acima citado refere que a psicoterapia pode ser diferenciada em dois enfoques subjacentes, a saber: o enfoque majoritário que é centrado no problema atual e tem como objetivo eliminá-lo, e o enfoque construtivo ou sistêmico que embora seja pouco mencionado na literatura, postula que as metas da psicoterapia nem sempre coincidem com as demandas do paciente. Desta forma, o enfoque construtivo visa construir uma nova maneira de ser e de se comportar do cliente, bem como de se relacionar com seu meio, ao invés de eliminar o problema. Deste modo, o enfoque construtivo não postula a eliminação de um comportamento problema imediatamente, mas sim de ensinar o cliente diversas ferramentas comportamentais que poderá utilizar no seu dia a dia. Estas ferramentas poderiam ser utilizadas no processo terapêutico de A.

visto que aliado à fase de aceitação do problema e desesperança criativa propostos pela Terapia de Aceitação e Compromisso mencionados por Saban (2015), a cliente poderia aprender a lidar de maneira mais assertiva com os pensamentos e sentimentos decorrentes dos eventos aversivos que fazem parte do seu histórico de vida.  Interações: Estudos e Pesquisas em Psicologia; 1(1):47-57, (1996, jan/jun). Disponível em <http://pepsic. bvsalud. org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S151636872016000300002>. Rio de Janeiro. Editora Vozes, 1999. SABAN, M. T. Introdução à terapia de aceitação e compromisso.

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