Psicologia- Esquizoanálise
Tipo de documento:Projeto de Pesquisa
Área de estudo:Psicologia
O território na perspectiva da análise institucional. A abordagem cartográfica. As narratividades. Breve revisão histórica. OBJETIVOS. SANTOS, 2002) Milton Santos também entende o território como um objeto dinâmico, repleto de interações, vivo e não aquela visão da geografia tradicional que o trataria como algo estático e com apenas as formações naturais. O território influencia na sociedade e tem um papel fundamental no corpo social e também na vida individual. Dessa forma deve-se entender a organização de um território, que vai variar de lugar para lugar, ou seja, pensar na organização de uma escola em um bairro pobre e pensar na organização de uma escola no centro de uma grande cidade. São territórios distintos, cada qual com suas histórias sociais, políticas e econômicas de ocupação e usos dos espaços.
LIMA; YASUI, 2014) No mundo atual globalizado tudo tem seu espaço, vemos bairros nobres onde pobres não entram, a não ser para trabalho, as políticas públicas funcionam precariamente nesses mesmos bairros, o comércio se encontra em ruas movimentadas dos grandes centros, assim como belos parques, enquanto os bairros pobres são deixados de lado, são histórias sociais que trazem marcas de tristeza, pobreza, fome e miséria, grandes áreas sem hospitais, sem escolas, sem serviços essenciais a vida social e individual e tudo isso desdenha cada vez mais para uma sociedade pela qual Milton Santos vai chamar de perversa. A falta de políticas institucionais em um território é o principal fator que difere entre a constituição de uma região rica e outra pobre, fato que repercute no exercício de direitos sociais e no modo como são estruturadas as relações sociais e os comportamentos de uma sociedade (PUTNAM, 1996).
Pelo fato das práticas institucionais estarem dispostas em um contexto sócio- histórico, elas se relacionam com os processos de produção de subjetividades e agenciamentos coletivos que, por sua vez afirmam as micropolíticas de um território. Um campo de forças é constituído mediante a manutenção e a reprodução de dinâmicas sociais que se cristalizam ao longo do tempo, limitando ou expandindo o movimento dos corpos (poder de ação) e gerando efeitos sobre o paradigma ético-estético e político das cidades (LOURAU, 2004). Com isso, somente a partir da análise institucional é possível desconstruir as cristalizações e evidenciar os conflitos existentes entre a implicação do sujeito com as instituições (LOURAU, 1990). Segundo Guattari: Esses processos são duplamente descentrados.
Visto que a realidade se configura em um plano de forças e não em uma mera perspectiva pronta e acabada, o pesquisador cartógrafo se articula entre as singularidades dos atores de um mesmo plano coletivo de ação, e partindo da ideia de rizoma, se faz compreender a construção de uma rede de implicações e alianças com as múltiplas possibilidades de encontros para a realização de um trabalho em comum (DELEUZE; GUATTARI, 1997). Na cartografia há uma aposta em relações que ocorrem para além da verticalidade e da horizontalidade do trabalho exercido em um território, o pesquisador se apresenta juntamente com os seus objetos, não ficando distante deles. Dessa forma, afirma-se que o sentido de um corpo precisa ser construído, mediante as vivências transversalizadas entre os atores do processo.
Além disso, ressalta-se a legitimação que é dada ao objeto de pesquisa (coisas e pessoas) como fonte de saber e conhecimento que outrora poderia ser excluído. Assim, a produção de um trabalho em comum ocorre no tensionamento entre a prática universal reguladora de pesquisa e a experiência sensível que conecta os elementos constituintes desse corpo que partilha um modo de habitar o território (JULLIEN, 2009). É possível olhar para as subjetividades constituídas em um território, ou seja, perceber como os corpos, as casas e as construções estão dispostas e organizadas, verificar as características para além do plano concreto e os modos como as relações que os sujeitos produzem e são produzidos se tornam as narrativas de uma única história, a história de um bairro ou de uma comunidade.
Que história é a que emerge permitindo ser narrada e apresentada? O contexto em relação às histórias e a história que se materializa em um contexto representado como um objeto de conhecimento. Objeto que deve ser experimentado pela sensibilidade do cartógrafo e também do cidadão, sendo estabelecida por uma dimensão ética entre o exercício de saber – poder e do habitar um corpo que também é metaforizado e visto como cidade, tendo as ruas e avenidas como suas vias de circulação (JACQUES, 2008). Antes de tudo, com esse trabalho faz-se um convite para a construção de percursos Outros e o despertar das sensibilidades que não devem estar domesticadas e disciplinadas pelos hábitos rotineiros, mas abertas ao devir, ao estranhamento, a curiosidade e a admiração, ou seja, a novos modos de entrar em contato e a tecer dimensões estéticas de cuidado.
Através da perspectiva esquizoanalitica que pode ser compreendida como uma bricolage filosófica ou por uma filosofia da diferença e, ainda por uma clínica da diferença, observa-se que toda a materialidade das cidades e dos elementos que constituem o corpo-cidade ocorrem mediante a manutenção, a des(construção) e a criação de uma substancia imaterial e impalpável: a subjetividade (MACHADO, 1990). Mas é um espaço recalcado e só tem condição de reativar o que está recalcado se encontra um ambiente de forças ativas que afirma isso e se encontra possibilidade de sustentação para que isso se faça também na subjetividade (ROLNIK, 2010). A cidade e os objetos denominados pelo contexto social são, muitas vezes, reduzidos e compreendidos a partir de seus limites.
Limites esses que reduzem e minimizam o impacto da problemática urbana designada pelas desigualdades, injustiça, caos social, aglomerações, falta de saneamento, falta de acessibilidade e assistência em uma dimensão real para o campo das subjetividades. Faz-se necessário elucidar que esses limites não tornam as subjetividades passivas e tomadas como meras produções biopolíticas instituídas em uma determinada região. A história de uma região comunitária é composta pelo agir de diversas narrativas que protagonizam e enunciam seu espaço existencial, onde coabitam múltiplas vontades e interesses de grupos. Fato que evidencia uma carência no desenvolvimento de estudos que se utilizam do método cartográfico para investigação dos fenômenos urbanos relacionados às desigualdades socioeconômicas e à (des)organização do espaço.
Estes que não são reduzidos a consequências da produção capitalística, mas como processos, onde se perpassam e coexistem múltiplas formas de vida. Visto que esses fenômenos também se constituem por práticas institucionalizadas e produtoras de efeitos na produção de subjetividade e para a formação de identidades na sociedade brasileira, ressalta-se a necessidade de expandir o campo de pesquisa e promover a reflexão crítica acerca da realidade que se pretende investigar. Portanto, a proposta de pesquisa acerca da temática relacionada à questão urbana, aos movimentos sociais que emergem dos bairros e dos guetos como formas de resistência à exploração e decorrentes da falta de assistência e da afirmação de políticas neoliberais será tratada com base na perspectiva teórica dos autores já referenciados.
Visto a escassez de materiais publicados na área com essa temática, serão utilizados diversos outros estudos brasileiros que foram publicados a partir do referencial esquizoanalítico e que poderão ajudar a compor os fundamentos do estudo e a pensar o conceito de território em uma abordagem cartográfica. Quer tenhamos consciência ou não, o espaço construído nos interpela de diferentes pontos de vista: estilístico, histórico, funcional, afetivo. Os edifícios e construções de todos os tipos são máquinas enunciadoras. Elas produzem uma subjetivação parcial que se aglomera com outros agenciamentos de subjetivação (GUATTARI, 1992). OBJETIVOS Compreender a expressão e a organização urbana presente em São Pedro, um bairro da cidade de Chapecó, situado em Santa Carina.
Analisar o território em de seus múltiplos movimentos, fluxos e relações de poder que constituem os modos de funcionamento. O método cartográfico viabiliza a construção de uma experiência do comum e da diferença, visto que cada participante exerce um protagonismo singular na sua relação tecida com o cartógrafo, além de contribuir com o sentido da rede com a experiência que ela imprime ao trabalho proposto. Desse modo, será valorizado o processo dialógico, a linguagem e as expressões, a experiência da escuta, a percepção em torno dos sentidos e da abertura apresentada pelos participantes, além de suas histórias de vida e de suas histórias narradas e construídas na prática dessa pesquisa.
PLANO DE TRABALHO 5. REFERÊNCIAS ALVAREZ, J. PASSOS, E. BARROS, R. Grupos: a afirmação de um simulacro. Tese de doutorado. PUC. São Paulo, 1994. Trads. v. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996. DELEUZE, G; GUATTARI, F. Acerca do ritornelo. Campinas: Papirus, 1988. GUATTARI, F. Restauração da Cidade Subjetiva, in Caosmose, Rio de Janeiro, Ed. p. JACQUES, P. A. FERREIRA NETO, J. L. ARAGON, L. E. Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Rio de Janeiro, V. N102, P. LOURAU, R. Implication et surimplication. São Paulo: Hucitec, 2004. MACHADO, R. Deleuze e a filosofia. Rio de Janeiro: Graal, 1990. PASSOS, E. Cartografia como dissolução do ponto de vista do observador. In: PASSOS, E. KASTRUP, V. ESCÓSSIA, L. da (Org. T. Heterotopias urbanas: Espaços de poder e estratégias sócio-espaciais dos Sem-Teto no Rio de Janeiro.
Polis [En línea], 27, 2012. ROLNIK, S. Entrevista: Suely Rolnik.
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