O papel do ensino de geografia
Tipo de documento:Redação
Área de estudo:Engenharia mecânica
Febvre chegou a denomina-la de “manual de imperialismo’”(MORAES, 1984:52). Com a geografia pragmática: “os trabalhos geográficos se transformaram em armas que facilitaram a penetração do capital no meio colonial, promovendo a formação de cidades e forçando as populações que viviam em um estágio comunitário a entrar na economia monetária, de consumo” (ANDRADE, 2002:17). Porém, como nos alerta Lacoste, Andrade e outros, a geografia pode servir para fins mais nobres. Afirmou Yves Lacoste que “ a geografia serve para fazer a guerra”, mas os geógrafos, se se conscientizarem do poder que têm e da contribuição que podem dar, podem fazer com que a geografia contribua para “fazer a paz e garantir a justiça social” “ (Andrade apud Lacoste, 2002, pág. Castellar chama a atenção para reflexões realizadas por Yves Lacoste em relação à geografia escolar, que foi denominada por ele como “Geografia dos Professores”, enfatizando que a geografia enquanto disciplina está centrada na memória e na informação.
Contudo, ela nos chama a atenção para o fato de que o discurso praticado nos séculos XIX e XX continua a ser reproduzido até hoje. Contudo, Castellar nos diz sobre a prática pedagógica que, o diálogo existente entre o pensar pedagógico e o saber geográfico permite afirmar que o aluno vai para a escola e aprende a ler escrever e contar, o que se ensina com mais competência; no entanto o que menos se ensina é a ler o mundo. Nesta perspectiva, defendida por Castellar, é no ensinar a fazer a leitura do mundo que se pode contribuir para que o aluno consiga explorar os elementos naturais e construídos presentes na paisagem, não se atendo apenas à percepção das formas, mas sim chegando ao seu significado mais amplo.
Assim, a leitura do lugar de vivência está relacionada, entre outros conceitos, com os que estruturam o conhecimento geográfico, como, por exemplo, localização, orientação, território, região, natureza, paisagem, espaço e tempo. Castellar enfatiza que para orientar-se, perceber as distâncias, localizar-se e compreender os fenômenos o aluno deve ler a paisagem e não apenas desenhar mapas. A observação e a análise dos espaços construídos encaminham para compreender como a materialização e concretização das relações sociais configuram um lugar, bem como este coloca limitações ou possibilidades à sociedade. Portanto a contribuição da geografia no nível inicial do ensino, no qual a criança passa pelo processo de alfabetização, não se dá como acessória, mas como um componente significativo (assim como as demais áreas) na busca do ler e do escrever.
Ao dirigir o olhar para o espaço, a criança estará lendo a sua própria história, representada concretamente pelo que resulta das forças sociais e, particularmente, pela vivência de seus antepassados e dos grupos com os quais convive atualmente. Cavalcanti (1998), também chama a atenção para o ensino de geografia e sua relação com as reflexões no campo da Pedagogia e da didática. Para ela o papel da geografia no ensino é o de alfabetizar o aluno na leitura do espaço geográfico em suas variadas configurações. Ela explica que para entender o processo de formação de conceitos, via escolarização é preciso levar em consideração as especificidades e as relações existentes entre conceitos cotidianos e conceitos científicos e neste sentido, o pensamento de Vygotsky auxilia-nos para obter tal entendimento.
“O desenvolvimento do pensamento conceitual, entendendo que ele permite uma mudança na relação cognoscitiva do homem com o mundo, é função precípua da escola (evidentemente não única)” (Cavalcanti, 1998:27). Sobre o papel do ensino de geografia, Straforini (2004) nos diz que ensinar geografia para as séries iniciais significa contribuir com a possibilidade de um mundo melhor, pois, esta disciplina permite dirigir o olhar para o espaço enquanto categoria filosófica, proporcionado uma visão mais ampla para o alunado, além do que, o estudo de geografia permite um maior entendimento do período atual. Straforini ainda ressalta que o objetivo maior de ensinar geografia, acaba sendo o de fornecer ao aluno condições para que seja construída a sua cidadania. Contudo, o autor nos alerta para uma importante questão que diz respeito aos ideais de uma geografia crítica, que é precisamente a necessidade de romper com a estaticidade, a fragmentação e neutralidade da educação tradicional.
E, para isso, é necessário aprender a ler o espaço, que significa criar condições para que a criança leia o espaço vivido. Fazer essa leitura demanda uma série de condições, que podem ser resumidas na necessidade de se realizar uma alfabetização cartográfica, e esse é um processo que se inicia quando a criança reconhece os lugares, conseguindo identificar as paisagens. Para tanto, ela precisa saber olhar, observar, descrever, registrar e analisar. “Resta saber como o professor pode exercer influência sobre o processo de construção do conhecimento pelo aluno, atuando como mediador entre ele e o conteúdo da aprendizagem. Um aspecto necessário na construção do conhecimento é a definição da concepção de aprendizagem que o professor irá articular com a didática para torná-la significativa (Castellar, 2006: 43).
É preciso obter informações que permitam compreender as crianças nos aspectos relativos à educação, principalmente, sobre o seu desenvolvimento cognitivo, psicológico, percepção do espaço e padrão de linguagem. Nessa abordagem, defende-se que a Geografia é uma ciência fundamental para o entendimento das questões sociais, sendo necessária uma relação com outras ciências que possuem como categoria de análise a sociedade. Assim, a Geografia poderá contribuir para o entendimento e intervenção na realidade concreta, construída pelos sujeitos históricos. A prática pedagógica dos professores do ensino da geografia das séries iniciais do ensino fundamental é um tema que merece ser pesquisado, pois a criança começa a conhecer o mundo que a cerca de maneira sistemática na escola, e passa a ter um novo olhar sobre o mesmo.
É no ensino fundamental que os alunos começam a sistematizar seus conhecimentos, buscando se integrar com o mundo e consigo mesmo. Neste sentido, Straforini vê no ensino de geografia para crianças uma das possibilidades da formação do cidadão através de um posicionamento crítico em relação às desigualdades sociais identificáveis na realidade concreta das crianças. Cabe ao alfabetizador provocar no aluno a sensibilidade e a construção de significados, por isso sua relação com a construção da noção de cidadania. Milton Santos em seu livro O espaço cidadão aponta para a questão da cidadania da seguinte forma: Ele Distingue os consumidores dos cidadãos, escrevendo que o consumidor não é cidadão. Neste sentido, nao é cidadão, “nem o consumidor de bens materiais, ilusões tornadas realidades como símbolos: a casa própria, o automóvel, os objetos, as coisas que dão status.
Nem o consumidor de bens imateriais ou culturais, regalias de um consumo elitizado como o turismo e as viagens, os clubes, e as diversões pagas; ou de bens conquistados para participar ainda mais do consumo, como a educação profissional, pseudo-educação que não conduz ao entendimento do mundo” (SANTOS, 2007:56). Não uma geografia que diga ao indivíduo quem ele é, como ele é, como é o espaço que ele habita, como ele se relaciona com o espaço. sim, uma geografia que dê condições do indivíduo perceber por si próprio quem é, dentro das relações com o outro, como se constitui o espaço que habita e os diversos espaços geográficos e, quais suas relações com o mesmo e com o outro; através do desenvolvimento de habilidades no que diz respeito à aquisição de linguagens geográficas que lhe dêem autonomia para a compreensão e leitura do mundo.
Portanto, esta vem em oposição à geografia descritiva, que tanto tempo se fez presente no contexto escolar brasileiro - no intuito de afirmar e confirmar como deveríamos ser – através de eternas descrições, embutindo nos indivíduos sentimentos de pertencimento, com propósitos de formação e construção de uma identidade nacional. Essa geografia, portanto, foi assim solidificando a geografia da classe dominante, servindo aos interesses do Estado, mantendo e reforçando as desigualdades sociais, a miséria, a exploração e a exclusão, inerentes ao sistema capitalista de produção. “Vale lembrar que a forma de ensinar cumpre uma função social específica, em termos de possibilidades de apropriação de conhecimentos e de reconstrução do saber que suscita. Assim, eles explicam que o trabalho com o conceito de espaço só é alcançado na sala de aula gradativamente.
Primeiro a criança toma contato com o espaço de ação, que é o espaço vivido e a partir daí, vai construindo a noção de espaço percebido que não é vivenciado diretamente, percebendo as distâncias curtas sem que precise percorrer o espaço. Por isso, nas séries iniciais, o trabalho com espaço envolve a noção de orientação e localização (em cima ou embaixo, perto ou longe, direções cardeais, etc. Nesta perspectiva, isso implica, segundo Kozel e Filizola (1996), em uso de mapas, globos ou maquetes, assim como, implica no estudo dos elementos do espaço, como o clima, vegetação ou relevo e também nos aspectos culturais, como cidade ou bairro. Castellar (2006) ao questionar sobre a relação entre as teorias de aprendizagem e a importância de se ensinar e aprender geografia explica que na vertente denominada “construtivismo epistemológico” o conhecimento “é visto não como uma mera cópia do mundo exterior, mas como um processo de compreensão da realidade, a partir das representações que as pessoas têm dos objetos e fenômenos (significados), em consonância com seus próprios conhecimentos e experiências (ações)” (Castellar, 2006: 38).
Apesar das diferenças entre as concepções teóricas desses autores sobre o construtivismo, há elementos comuns que são fundamentais. Talvez o mais marcante seja a consideração do indivíduo como agente ativo de seu próprio conhecimento, o que no contexto educativo desloca a preocupação com o processo de ensino para o processo de aprendizagem. A educação brasileira tem convivido intensamente com o construtivismo estabelecido por Piaget desde a década de 70, sendo a principal abordagem teórica que fundamenta as diretrizes e medidas oficiais na área educacional. César Coll (1987), que defende a tendência construtivista, descreve essas tentativas, acrescentando algumas críticas pertinentes à inviabilidade de se aplicar Piaget de forma mecânica. Deste modo, é importante ressaltar que no referencial construtivista, o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade, sendo o sujeito considerado ativo.
Assim a criança vivenciará o processo de letramento cartográfico, uma vez que, além de compreender as noções, fará leituras e elaborará mapas mentais, experimentando atividades simbólicas como, por exemplo, compreender o significado dos símbolos e signos que corresponderão aos fenômenos que serão representados nos desenhos e que estarão relacionados e agrupados para que possa ser organizada uma legenda. Regina Rizzo Ramires (1996) explica que nas situações de ensino escolar pode-se observar em diversas ocasiões uma dificuldade com relação ao uso da representação gráfica expressa pelo mapa. Para expressar seu ponto de vista a autora discute sobre conceitos como: representação do espaço, representação da realidade espacializada e representação simbólica, abordando também a relação entre os conhecimentos e os pressupostos metodológicos da cartografia e da representação do espaço via mapa e os processos cognitivos referentes a simbolização e a noção de espaço.
Ramires observa como as crianças se tornam capazes de codificar decodificar significantes e significados, elementos essenciais para a compreensão de mapas. “Enquanto ‘mapeadoras’, as crianças estão codificando a realidade, uma que se estabelecem regras, códigos de representação. Straforini cita Callai e Callai (1998) explicando que eles entendem “a leitura e a escrita não só como uma habilidade mecânica, mas como uma manifestação da cidadania. Neste sentido, a alfabetização do ler e do escrever é um meio para a construção do cidadão que sabe o quê, por quê, lê e/ou escreve” (STRAFORINI, 2004:120). Assim, se os atos de ler e escrever são atividades que vão propiciar ao aluno situar-se no mundo como cidadão, a geografia pode ser considerada como pano de fundo que embasa todo o processo de alfabetização.
Nesta perspectiva, “a geografia é um meio de enriquecer o processo de alfabetização porque é no espaço geográfico que as crianças têm as múltiplas possibilidades da realidade” (STRAFORINI, 2004:120). Para Milton Santos, a interdisciplinaridade vai além de uma mera colaboração entre disciplinas, ela deve ser o resultado da integração entre elas, sendo possível somente “por meio de uma imbricação entre disciplinas diversas ao redor de um mesmo objetivo de estudo e da interpenetração das diferentes disciplinas nas mais diversas dimensões” (SANTOS, 2008:133). Segundo Milton Santos, para realizar um trabalho interdisciplinar no âmbito da Geografia, é preciso reconhecer quais as outras disciplinas científicas que podem auxiliá-la. Neste reconhecimento, deve-se julgar que tipo de colaboração pode cada uma delas nos oferecer e também que uso podemos fazer de seus ensinamentos, pois não são todas as ciências particulares que entram como componentes da interdisciplinaridade própria a cada ciência, já que como a realidade está em permanente movimento e mudança, a lista de disciplinas que participam da elaboração de um enfoque interdisciplinar está sempre mudando.
As razões apontadas por Milton Santos para estas mudanças são o progresso científico, a posição filosófica e ideológica do pesquisador e o momento histórico. Neste caso, será o conhecimento dos diversos aspectos dessa realidade que nos permite, a um dado momento da evolução do pensamento científico, definir melhor cada aspecto e, paralelamente, toda a realidade. Para Milton Santos, o espaço deve ser estudado, analisado e interpretado por geógrafos, arquitetos, economistas, sociólogos, filósofos, cartógrafos e historiadores, cada um com pontos de vista diversos (das diversas disciplinas), porém com pontos comuns por se tratar da mesma realidade estudada. Assim, os conteúdos do ensino desses campos disciplinares, colocados em segundo plano nas séries iniciais, têm sido marcados pela organização essencialmente disciplinar, ou seja, deixando de lado a relação interdisciplinar.
Desse modo, o processo de ensino-aprendizagem mostra-se fragmentado, descontextualizado e não extrapola os limites de cada campo disciplinar. Isso pode ser notado nos próprios livros didáticos. Segundo Santos (2008), é importante perceber que o homem é portador de uma história, situa-se em um espaço geográfico e estabelece relações com o mesmo, ou seja, com o social. Neste sentido, o homem modifica esse espaço transformando-o e, conseqüentemente, é também transformado por ele, haja vista que estabelece relações com os diferentes grupos sociais, constitui comunidades, constrói cidades, desenvolve o comércio e a economia, demarca seu território ao agir politicamente na paisagem, por isso é importante situar o aluno em um contexto interdisciplinar para que ele possa compreender melhor toda essa problemática. De acordo com a perspectiva construtivista de Freire (1997), a questão da identidade cultural, é fundamental na prática educativa progressista, sendo um problema que não pode ser desprezado.
Neste sentido, o professor que não propicia ao seu aluno uma experiência para pensar seu próprio espaço, assumir seu papel de sujeito transformador na comunidade em que vive, apenas treina esse aluno e torna muito pragmático o processo educativo enquanto poderia promover discussões, análises, críticas sobre as relações que se estabelecem. Os alunos das séries iniciais do ensino fundamental aprendem a ler interpretar e analisar textos geográficos estabelecendo comparações com outros espaços geográficos e paisagens. Por meio de relatos de experiências, seminários, debates, desenhos, produção de textos, mapeamento do espaço, os alunos apreendem a vida existente na sociedade, as dificuldades e desafios enfrentados pelo homem, podendo, assim, vivenciar saberes. Produzir novos saberes é o desafio que encontramos no decorrer do processo ensino-aprendizagem, e a meta é solucioná-los.
Esse relacionamento de mão dupla entre o ensinar e o aprender, entre o discente e o docente, é indispensável para uma aprendizagem significativa. A música, a arte, a cultura deixam de ser consideradas conteúdos fragmentados e passam a ser incorporadas nas experiências de vida do homem. A idéia é fazer com que os alunos vivenciem a complexidade da sociedade na aula de Geografia de forma dinâmica, processual e contínua, estabelecendo comparações e que os professores eliminem a dicotomia entre a teoria aprendida e a realidade vivida. A prática pedagógica do professor de geografia das séries iniciais do ensino fundamental é, pois, de grande relevância para o sistema educacional. O estudo da linguagem cartográfica tem reafirmado, cada vez mais, a sua importância enquanto um instrumento básico para aprendizagem da Geografia.
Segundo esse autor, o saber geográfico manifesta-se em dois planos: a “Geografia dos Estados-Maiores” e a “Geografia dos Professores”. Para ele, esta primeira Geografia sempre esteve ligada à prática do poder, uma vez que pode fornecer informações que facilitem as estratégias de domínio num dado território. Por outro lado, segundo esse autor, a Geografia dos Professores, se aqui for considerada a tradicional, tem dupla função: primeiro, mascarar a existência da 'Geografia dos Estados-Maiores apresentando o saber geográfico como algo neutro e inútil, tornando-o desinteressante para a maioria dos alunos: segundo, levantar, de uma forma camuflada, dados para a 'Geografia dos Estados-Maiores. Dessa forma, os professores fornecem informações precisas sobre os mais variados lugares da Terra, sem despertar suspeitas, pois se trataria de um conhecimento apolítico.
Na realidade, a Geografia Crítica abre um leque bastante extenso de defensores, com posturas diversas, mas com o mesmo propósito: o de colocar a Geografia no combate e busca por melhores condições sociais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. O espaço cidadão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Piaget e a Escola de Genebra. São Paulo: Cortez, 1987, p. PIAGET, J. Problemas de Psicologia Genética, Rio de Janeiro: Forense, 1973. Psicologia e Epistemologia: por uma teoria do conhecimento. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências humanas: Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. CARVALHO, M. B. A Natureza na geografia do ensino médio in OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (org.
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