O circuito das folias de Santos no Marajó

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Religião

Documento 1

INTRODUÇÃO Do ponto de vista histórico, fundamental para a compreensão da dinâmica religiosa dessa região, a expansão colonial operou massivamente no arquipélago desde o século XVII, embora seja datada pelo menos um século antes disso (IPHAN, 2010). Através da concessão de sesmarias, povoou a região, utilizando mão de obra escrava dos indígenas para tornar a área parte da exploração mercantil. É importante destacar a sofisticação civilizatória dos povos indígenas que habitaram a região desde muito antes do período escravocrata, explorando os recursos hídricos e manejando a terra na região. Esses pontos são levantados pelo IPHAN na exposição dos sítios arqueológicos do arquipélago, com foco principal na preservação do patrimônio, resgate da histórica local e divulgação das sociedades complexas que povoaram o Marajó desde o século 5 a.

C. Assim, é necessária certa sensibilidade para mostrar que, apesar da existência de santos que dominam as manifestações religiosas por todo o território marajoara, existem vários Marajós, divididos tanto do ponto de vista físico e de suas características geográficas, quanto num sentido social (SARRAF-PACHECO & SILVA, 2015). Os Marajós não são apenas uma paisagem sociológica, conceito esboçado por Azevedo (1988), mas sim territórios que envolvem história, lutas, contradições e uma gama de fatores que não podem ser descartados das análises. Sarraf-Pacheco (2018) defende os Marajós como territórios tão complexos e multifacetados que, se pensarmos nas peculiaridades dos municípios que compõem os Marajós, há realidades desconhecidas mesmo para os marajoaras: A pluralidade de realidades físicas, humanas, sociais e energias espirituais que perfazem os dezesseis municípios do arquipélago, especialmente quem habita na parte florestal e precisa chegar aos campos, faz da Amazônia Marajoara, um país “estrangeiro” para seus próprios habitantes.

Certamente, muitos marajoaras não conhecem os Marajós. SARRAF-PACHECO, 2018, p. Essa estrutura permite a compreensão da devoção aos santos, que são, além de símbolos de adoração, intermediários entre a fé, a celebração oferecida e a ligação com Deus. O IPHAN, no levantamento em função da preservação imaterial das festividades de São Sebastião, relata que “Sebastião foi um dos soldados romanos morto no século III a mando do imperador Diocleciano no contexto de perseguição romana aos cristãos” (IPHAN, 2010, p. A história de São Sebastião, assim como a de outros santos católicos, é marcada pela noção de bravura e coragem, sendo também uma trajetória de dor e perseguição, pois diferente de outros soldados, ele não maltratava os cristãos nas caçadas.

Foi condenado pelo imperador a ser alvejado por flechas e, mesmo assim, não morreu. A partir daí, se tornou cristão e é adorado fortemente a partir do século XV, tendo influência religiosa nos Marajós desde a colonização. A prática de esmolação não tem meramente uma função financeira, ela existe para aproximar os fiéis do ethos religioso católico, se constituindo como uma estratégia de perpetuação da devoção pelo Glorioso (GOMES, 2016; IPHAN, 2010; PANTOJA, 2011). A peculiaridade da festa em Cachoeira do Arari está na dualidade entre o sagrado e o profano que marcam os dias de festividade. Os festejos movimentam a economia local e, muitas vezes, os comerciantes aproveitam o clima de festa para elaborar programações em seus bares.

Atualmente, a utilização das aparelhagens de som também está presente na dinâmica que compõe a parte profana da festa: “As casas noturnas colocam faixas por todo o município anunciando a realização de festas dançantes com a apresentação de aparelhagens” (GOMES, 2016, p. A igreja tenta, há muito tempo, coibir essas práticas, assim como disciplinar e controlar as manifestações que aparecem na festa para além do religioso, sem sucesso. Essa proibição existe desde os anos 2000 e é garantida a partir de um decreto da prefeitura, em parceria com a igreja (GOMES, 2016). As folias de São Sebastião nos Marajós têm um caráter notadamente familiar. A oralidade revela que a tradição se perpetua através da herança religiosa que as famílias proporcionam a outras gerações.

Além disso, algumas das imagens dos santos utilizadas nas peregrinações e procissões são frutos de doação de uma família, destaca o IPHAN: Normalmente as imagens constituem o eixo principal da festividade, ou por serem antigas e pertencentes às primeiras famílias realizadoras das festividades na localidade em questão, ou por pertencerem, na atualidade, às famílias que realizam as festividades. Nos primeiros casos, pode ocorrer da imagem ainda estar de posse da mesma família ou ter sido doada para a paróquia local, como no caso da festividade na cidade de São Sebastião da Boa Vista. pessoas, no mesmo período. Apesar disso, São Miguel Arcanjo é o símbolo religioso mais importante da cidade e padroeiro do município. Sua folia ocorre em setembro, mais precisamente no dia 29, e há explicações diversas para o surgimento da devoção ao santo na região.

Uma narrativa, segundo Sarraf-Pacheco, conta que a imagem do santo veio de Portugal na bagagem de um colono, que passou a administrar a região: A primeira, com foco exógeno e colonialista, assinala que o santo veio na bagagem de Miguel Siqueira de Cardozo, colono português, responsável pela administração da antiga aldeia de denominação indígena, Guarycuru, transformada em vila de denominação portuguesa, Vila São Miguel de Melgaço. Miguel teria nascido dia 29 de setembro, data em que se celebra o oráculo sagrado, portanto, São Miguel seria seu anjo protetor. Curiosamente, há a hipótese explorada pela autora de que a relação entre os fieis e o padre que chegou ao município em 2008 é permeada por conflitos em relação à dicotomia sagrado x profano na festa de São Miguel.

Diante de um catolicismo típico da Amazônia Marajoara, com uma interessante mistura entre algo festivo, mas cheio de fé, um impasse se instaurou na cidade. A partir daí, passou a ser proibido o comércio de bebidas alcoólicas tanto na sede do município como nas vilas onde acontece a peregrinação anterior à festa de São Miguel Arcanjo (PANTOJA, 2011). O padre ocupa, como explica Soares (2013) em seu trabalho sobre A encomendação das Almas no Baixo Amazonas, uma importante função de liderança ao encabeçar as ações religiosas nas comunidades. No caso das folias nos Marajós, no entanto, o que se destaca é a participação significativa da comunidade no processo tanto de concepção quanto de culminância das festas, mesmo na ausência dos líderes religiosos, sendo protagonistas tanto das folias quanto da parte sagrada especificamente.

pessoas. É um dos municípios mais populosos de toda a mesorregião. Afuá tem o festejo de Nossa Senhora da Conceição, celebrado desde a fundação do município, no século XIX. As festividades ocorrem no mês de Novembro (PANTOJA, 2011). Segundo a autora, há uma expressiva intolerância aos evangélicos na cidade, com raízes históricas bem demarcadas no conflito: Afuá foi o município onde mais se percebeu uma relação de intolerância por parte dos católicos em relação aos evangélicos. pessoas segundo o IBGE (2019). Dentre os festejos religiosos católicos, destaca-se a festa de Nossa Senhora da Luz, a padroeira do município, e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, respectivamente em janeiro e agosto (PANTOJA, 2011). Conclusão A religiosidade majoara é bastante diversa, como destacado neste trabalho de revisão bibliográfica, e tem características peculiares em cada município.

Há um diálogo interessante entre as comunidades do campo e as da sede dos municípios, fato demonstrado pelas práticas de peregrinação com as imagens dos Santos por todo o território. As festividades compõem um complexo circuito de festas católicas no território dos Marajós, possibilitando um panorama não apenas histórico, mas também um relatório sobre as mudanças das tradições ao longo do tempo e as realidades sociais que se apresentam. IBGE. Pará – Afuá. Disponível em: https://www. ibge. gov. Pará – Gurupá. Disponível em: https://www. ibge. gov. br/cidades-e-estados/pa/gurupa. Disponível em: https://www. ibge. gov. br/cidades-e-estados/pa/portel. html Acesso em: 27 fev. Disponível em: http://portal. iphan. gov. br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossi%C3%AA_S_SEBASTI%C3%83O.

pdf Acesso em: 27 fev. br/download/ra/ra129. pdf Acesso em: 27. fev. PANTOJA, V. Santos e Espírito Santo, ou católicos e evangélicos na Amazônia Marajoara. SARRAF-PACHECO, A. A FOLIA DA CIDADE-FLORESTA: Patrimônio do Afeto e Lutas pela Memória em Melgaço-PA. ANPUH. Unb, 2017. SOARES, M.

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