HOJE É DIA DE FEIRA

Tipo de documento:Análise

Área de estudo:Finanças

Documento 1

Aprovada em: _____/_____/_______ Comissão Examinadora: Prof. Dr. José Colaço Dias Neto – UFF - Orientador Profa. Dr. Andréa Lúcia Paiva - UFF Prof. Obrigada a todos, cada um de vocês contribuíram para que eu chegasse até aqui. Aos meus interlocutores da feira, Leny, Neiva do chapéu e seu marido Diorlênio, Carmem, e em particular a Angélica e sua filha Ângela, que são de uma simplicidade e carisma inexplicável. Ao presidente da feira da roça, Eraldo Vieira e ao presidente da feira do peixe, Jony Marcos Narciso, agradeço pelas entrevistas na Superintendência de Pesca e Agricultura de Campos dos Goytacazes. Agradeço a todos! 6 RESUMO O trabalho apresentado é baseado nas observações realizadas na Feira da Roça e na Feira do Peixe no município de Campos dos Goytacazes no estado do Rio de Janeiro, tomando como perspectiva o ponto de vista de gestores e, em especial, de mulheres comerciantes associadas direta ou indiretamente ao universo da pesca artesanal.

A Feira da Roça é realizada em vários pontos da Cidade, mas o lócus de observação desta pesquisa foi sua edição semanalmente realizada na Praça da República, no centro da cidade. CAMPOS DOS GOYTACAZES E SEUS MERCADOS. A FEIRA DA ROÇA (O COTIDIANO). A FEIRA DO PEIXE (O ESPETÁCULO). CONSIDERAÇÕES FINAIS - AS FEIRAS ENTRECORTADAS. BIBLIOGRAFIA. Campos é uma cidade/mercado na qual pessoas de diferentes localidades do município se encontram em espaços como as feiras livres, o camelódromo, o Mercado Municipal, o centro comercial com seus diversificados estabelecimentos e serviços. Mestre de várias gerações de professores e especialistas no vasto campo das Ciências Sociais, Luiz de Castro Faria formou gerações de antropólogos brasileiros na UFRJ e na UFF.

No ano de 2015 o Prof. José Colaço reinaugurou o Núcleo de Estudos Antropológicos do Norte Fluminense Luiz de Castro Faria, Neanf/UFF, cadastrado no Diretório de Grupo de Pesquisa do CNPq, que anos antes, foi coordenado pelo Prof. Arno Vogel no Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Aqui os dados e as principais características das duas feiras são colocados sob comparação. O resultado deste exercício foi a identificação de que as duas feiras são estruturas complementares que nos dizem muito sobre as trajetórias das famílias de pescadores e pescadoras da região, bem como sobre a centralidade da economia pesqueira na cidade de Campos dos Goytacazes. O INÍCIO DO CAMPO E O ENCONTRO COM LENY Alguns fatores foram decisivos para a escolha da feira da roça e da feira do peixe como tema de pesquisa.

Mas a questão que inicialmente norteou esta curiosidade por famílias de pescadores artesanais visava compreender o fenômeno do baixo nível de escolaridade/ analfabetismo em um povoado específico, este caso em Ponta Grossa dos Fidalgos 2. Os casos de confronto armado entre facções rivais associadas ao tráfico de drogas ilícitas que disputam o controle de território nesta localidade me causou sensação de insegurança para realizar o trabalho de campo e, por este motivo, a pesquisa acabou tomando outros caminhos. COLAÇO, José; VOGEL, Arno e VALPASSOS, Carlos. História de Pescador: O direito do ponto de vista nativo. In: Revista arquivo de direito, Ano 7, n. v. Nova Iguaçu, 2007; COLAÇO, José. Carlos Abraão no ano de 2002, ainda no início da pesquisa de campo deles em Ponta Grossa dos Fidalgos.

O objetivo era estabelecer uma primeira aproximação minha com a família pontagrossense, ou seja, dar um “ponta pé” em meu próprio trabalho de campo. e Conflito no povoado pesqueiro de Ponta Grossa dos Fidaldos, Rio de Janeiro. In: Cuaderno de Antropologia Social. In: 31. Como por exemplo, os integrantes, Grazieli de Oliveira Soares (UFF), Mayra Rosestolato (UFF), Erick Sobral (UFF), Caio Busani (UENF) E Jéssica Felipe (UFF). Fig. – Zezinho fazendo rede. Carlos Abraão, 2002. No dia 16 de junho de 2015, iniciei a minha pesquisa de campo, na Feira da Roça que se localiza na Praça da República, atrás da Rodoviária Roberto Silveira, à procura da Leny, para entregá-la a fotografia enviada pelo Prof. Sendo assim, tirei o envelope com a foto da bolsa e a entreguei, explicando-a que era uma lembrança enviada pelo professor.

Ao abrir o envelope e visualizar a foto, de imediato lembrou-se do mesmo, e começou a chorar de emoção falando: Não tenho nenhuma foto como meu pai! Ela me abraçou falando: Obrigada! Obrigada! Ai meu pai, ai meu paizinho! Obrigada por vocês tornarem o meu final de expediente na feira mais feliz, essa fotografia foi o melhor presente que já recebi. Leny não parava de chorar, sua filha Fernanda, que eventualmente trabalha na feira com eles, se aproximou e quando visualizou a foto se emocionou dizendo: Meu vô! Que saudades! Irei fazer uma cópia da foto, colocar em um quadro e pendurar na parede de minha sala. Emocionada chama seu pai Zé, que já estava desmontando a banca e guardando os produtos e instrumentos de trabalho dentro do carro , Pai! Pai, Zé se aproxima e Fernanda diz: olha aqui a foto do vô! (choros.

e os três se emocionaram. Rafaela, 2015 Ela, além de pescadora, sabe fazer rede, trocar motor de embarcações e sabe remar. Sai para pescar com seu marido Zezinho na Lagoa Feia, mas no período de cheia, eles se deslocam as pontes que ficam nas proximidades da praia campista de Farol de São Tomé, onde eles ficavam acampados durante a semana e retornavam para sua casa em Ponta Grossa dos Fidalgos no final de semana. Os peixes pescados eram vendidos por um preço mais baixo para o atravessador9 pretinho, que já tinha sua clientela certa na “praça de mercado”. Leny, mãe de três filhos, duas mulheres e um homem, os seus filhos tem a pesca com uma atividade profissional, tanto as mulheres, quanto o homem, pescam, e realizam serviços pesados, e não há divisão de trabalho por sexo.

Leny, mesmo grávida permanecia pescando, e ao passar o período do resguardo, voltou a pescar para ajudar seu marido Zezinho, mas retornou em um ritmo mais lento, pois levava a sua primeira filha Fernanda para os acampamentos. e 6 – Leny e Zezinho trabalhando na Feira da Roça. Rafaela, 2015. Leny relatou que seu diferencial na feira em relação a outros comerciantes, que vendem o mesmo produto, são as variedades de espécie de peixe que comercializa, com isso, conquista mais clientes. Eles não vendem apenas espécies de peixes de água doce, mas levam espécies de água salgada, que compram a atravessadores para atender a demanda da feira. Ela me explicou que o período que consegue pescar e vender mais peixes, é no período da piracema, em que a pesca para a comercialização está proibida, e quando se encerra este período, é que eles estão autorizados a pescarem, e conseguem pescar em grande quantidade10, principalmente a espécie de peixe robalo, para comercializar na Semana Santa, que é uma tradição religiosa católica que celebra a Paixão, a Morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O Presidente da Associação comunica ao Ministério da Pesca, que disponibiliza a inscrição do pescador, logo após, tem que fazer um curso de salvatagem no Rio de Janeiro, para receber orientações de normas de segurança em alto mar e lagoas. A sua modalidade de pesca é a Minjoada, muito comum nas pescarias de beira de praia e águas interiores da região, e a sua categoria de pescadora no registro profissional lhe dá o direito ao Seguro Defeso, no valor de um salário mínimo mensal nos meses de pesca proibida durante o período da piracema. Em uma manhã ensolarada, cheguei à Feira da Roça para conversar com a Leny. A circulação de clientes não era intensa, chegando próximo à barraca dela, percebi que ela estava bem triste e tinha emagrecido.

O motivo era que sua filha estava internada com hepatite, seus pais e irmãos estavam todos preocupados e, por este motivo, ninguém estava pescando muito. Leny, com a prática de anos trabalhando na feira afirma: só em olhar para o freguês, já conheço quando vai comprar ou não, o segredo é saber dialogar e conquistar o cliente, pois não é só apresentar um bom produto, mas é preciso ter simpatia e diálogo. O conhecimento de cada espécie de peixe é fundamental para a venda. Sempre tem clientes que perguntam melhor forma de preparo, se o peixe é “de cativeiro” ou não. “Essa frequentação tem implicações para o próprio negócio. Em primeiro lugar porque estabelece desse modo um nexo necessário e fundamental entre um fornecedor e seus possíveis clientes.

As maiores dúvidas eram se eu estava observando e tomando nota de coisas que “realmente” importavam para o meu trabalho, ou se eu estava desperdiçando páginas e conversas sobre questões que não me ajudariam na monografia. Por fim, o caderno de campo se tornou um recurso de memória: algo que eu pude me remeter todas as vezes que enxergava ambiguidades ou inconsistências em minha pesquisa – principalmente durante a escrita desta monografia. Outra grande novidade que esta pesquisa empírica me ofereceu, foi a possibilidade de perceber, pela primeira vez em minha vida, que as feiras livres apresentam uma diversificação de culturas e atividades na área urbana. Um espaço no qual circulam pessoas de diferentes estilos e diferentes classes sociais. Lugar onde encontram-se todos os tipos de profissionais, desde os pequenos produtores, os distribuidores de alimentos, o montador e desmontador das bancas, entre outros.

Mapa de Campos dos Goytacazes tirado do blog do Mansieur, 2011. Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. Possui graduação em Museologia-Museu Histórico Nacional (1976) e mestrado em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2006). FREITA, Carlos. O Mercado Municipal de Campos dos Goytacazes: A Sedução Persistente de Uma Instituição Pública. Ao redor da Praça, ainda possui algumas arquiteturas “antigas”, disputando com as arquiteturas “modernas”, característica do início do século XX, período onde as construções mais “antigas”, perdem lugares para novas construções “modernas” e comércios. A Região se obtém de várias igrejas22, do século XVIII e XIX, de solares e usinas, muitas delas estão abandonadas, em seu estado de ruína e até em risco de desabamento, colocando em risco os pedestres que circulam próximo ao local de risco.

Canal Campos Macaé, era considerado como uma das grandes obras de engenharia do século XIX Além da navegação contribuía ainda com a drenagem e a regularidade no nível do sistema lacustre local e possui uma grande importância histórico-cultural para Campos dos Goytacazes. Como por exemplo, os doces caseiros em conserva, especialmente o chuvisco, doce tradicional de Campos dos Goytacazes. Idem, 2006. Há grande circulação de pessoas durante o dia, caminhando pelas ruas da cidade; é uma cidade que há grandes números de moradores de rua nas calçadas, dormindo, pedindo colaboração, como dinheiro, dividindo-se o espaço com os moradores, na correria indo para o trabalho, ao cair à tarde começa uma movimentação, onde as pessoas que trabalham nos comércios começam a fechar os comércios, e se deslocam para os pontos de ônibus, que ficam lotados, as pessoas disputam um lugar no transporte coletivo, um “empurra daqui, um empurra dalí”, para entrarem no transporte, pois já estavam cansados e muitos tendo que chegar a casa e fazer seus afazeres de casa.

No período noturno na cidade, a sociabilidade reaparece nas mesas de bares, lanchonetes e churrasquinhos, onde as pessoas, principalmente os estudantes que saem da 23 IFF (Instituto Federal Fluminense); UFF (Universidade Federal Fluminense) e a UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro). Universidade Cândido Mendes; UNIVERSO (Universidade Salgado de Oliveira); FAFIC (Faculdade de Filosofia de Campos); Universidade Estácio de Sá e a FMC (Faculdade de Medicina de Campos). faculdade, do trabalho, se encontram e “batem um papo”, geralmente essa movimentação aumenta a partir de quinta-feira. No centro da cidade há um forte e diversificado comércio popular, na Rua João Pessoa há um grande, está à maior concentração de lojas de roupas populares. Quatro boxes, separados dos demais, num corredor junto à Av. Visconde do Rio Branco, comercializam caranguejos, provenientes de Gargaú188.

São diferentes dos demais, pois, além de menores, não apresentam o tampo de mármore e possuem um depósito para os caranguejos junto à parede do corredor (1m x 040m x 060m de profundidade), revestido de cimento áspero. No fundo do box há uma pia com água corrente. ”25 25 Idem, 2006. No período que antecede a Abolição, o município tinha 35. escravos com um total de população de 56. habitantes, sendo assim, considerada a região com maior número de escravos de toda a província do Rio de Janeiro. Após a abolição, muitos de escravos continuaram trabalhando como cortadores de cana nas fazendas da região. A fazenda Novo Horizonte, localizada nas proximidades de Conceição do Imbé, era uma das maiores e tinha uma grande quantidade de escravos, que trabalhavam no corte de cana e viraram cortadores assalariados, passando a residir nas dependências da usina.

agrícola da fazenda Novo Horizonte é desapropriada, e suas terras são distribuídas para trabalhadores rurais. Em 1990, foram assentadas mais ou menos cento e trinta famílias, sendo a maioria das famílias mais antigas. A Feira da Roça, à princípio, surge como uma política de auxílio aos grupos de pequenos agricultores da região do Imbé, que extraíam seus produtos in natura. Isso porque, como acontece em vários lugares do Brasil, o pequeno agricultor e o pescador artesanal têm dificuldades de comercializar seus produtos – sobretudo os que residem e trabalham longe dos centros das cidades – e as negociações com os atravessadores nem sempre são vantajosas, uma vez que estes últimos tem autoridade para fixar os preços. Assim, o objetivo deste projeto da Prefeitura Municipal de Campos, ao criar as Feiras da Roça, foi fazer com que os pequenos produtores pudessem, eles mesmos, entrar em contato direto com os consumidores.

O local da feira na Praça da República foi melhorando ao longo dos anos, de acordo com meus interlocutores. As mudanças que foram feitas, tiveram que ser aprovadas pela Câmara Municipal, uma dessas aprovações, foi o afastamento da calçada que era de 2,5 metros, passou para 6 metros, com o objetivo de terem um espaço maior para a exposição dos produtos e para melhor circulação dos consumidores. Com o crescimento da feira a Prefeitura forneceu aos comerciantes as bancas que tem sua estrutura de alumínio, o tabuleiro para melhor exposição dos produtos. A princípio a Feira da Roça, surgiu com a ideia de comercializar apenas produtos agrícolas, mas com o tempo, foi surgindo a seguinte questão: pessoas que comercializavam produtos agrícolas passaram a pescar, ou comprar peixes e comercializa-los, para aumentar a sua renda.

A partir de então, a feira ganhou crescimento e diversificação de seus produtos. Editado por Rafaela, 2016. A Feira da Roça tem o seu funcionamento nos dias de terças e sextas-feiras, das 05 horas da manhã às 12 horas da tarde. Possui um total de 130 bancas, sendo que, na terça-feira o número de clientes na feira é reduzido em comparação à sexta-feira, mas por opção dos comerciantes, por não terem produtos suficientes para atender os compradores nos dois dias de feira da semana. Sendo assim, alguns comerciantes preferem trabalhar apenas na sextafeira, por ser mais próximo do fim de semana, as pessoas compram mais para realizarem almoços e receber pessoas em casa. Fig. A feira ocorre em vários lugares da cidade, se espalhando pela região urbana e periferia da cidade, tentando abraçar todo o público que necessita comercializar seus produtos.

A Feira da Roça em seus diversos pontos da cidade: Dia da semana Local Anos de existência Praça do Turf Club (Próximo a Record) e Terça- feira na Praça da República (próximo a Praça da República 24 anos Rodoviária Roberto Silveira). Quarta- feira Praça do Parque Tamandaré (Próximo ao 5 anos Colégio Salesiano). Quinta- feira Praça do IPS Sexta- feira Praça do Jardim Carioca e Praça da 5 anos 3 anos / 24 anos República Sábado Praça do Parque Leopoldina (Próximo a 21 anos Igreja Nossa Senhora do Rosário do Saco) Com o crescimento da Feira da Roça, para sua melhor organização, cria-se a associação APROFER33, que tem seu objetivo de criar normas de funcionamento da feira, para ajudar a Secretaria Municipal de Campos dos Goytacazes, fazer uma gestão mais participativa, mais próxima do produtor.

A Associação tem Diretoria, Presidência e Tesouraria. Trata-se, portanto, de uma organização semanal do calendário de atividades comerciais que une os feirantes e os consumidores. As pessoas oriundas de várias localidades da região de Campos ou até mesmo de outras regiões, se reúnem nessa praça de mercado para comercializar seus produtos. Fisicamente, a feira é constituída por uma estrutura de sustentação de perfis de alumínio com o teto forrado de lona para cobrir do sol e da chuva, possibilitando a entrada de luz e a ventilação natural. Apresentam-se, portanto, bancas de pescados, frutas, grãos, legumes, verduras, carnes, doces e biscoitos. O espaço tem uma grande circulação de pessoas que são atraídas pela grande variedade de produtos comercializados.

Os clientes ficam na frente das bancas disputando espaço para compras. A feira apresenta uma relação entre os comerciantes e compradores, onde trocam receitas e apalpam os alimentos que estão expostos acima do tabuleiro das bancas, diferente dos supermercados. Apresenta também o cheiro das frutas e verduras. O cheiro dos pescados são minimamente percebidos, pois os peixes são levados limpos para a feira. A seguir, apresento ao leitor, algumas mulheres que se tornaram minhas interlocutoras. A nova demanda foi incluir novas famílias – que não estavam ligadas diretamente ao antigo assentamento de Novo Horizonte – que tinham a necessidade de comercializar seus produtos. Com essa situação seu vizinho viabiliza uma vaga na Feira da Roça. Para ter pescado suficiente para levar para a feira, passou a pescar todos os dias, não tinha sábado, domingo e feriado, era tempo dedicado especialmente à pesca.

Com isso, sua família passa a ter mais lucros, pois eles pescavam e vendiam seus produtos por um preço justo, e já tem seus clientes fixos, que vai de dona de casa a donos de restaurantes que compram em grande quantidade. Carmem relata que: Ponta Grossa é um lugar pequeno e muito perigoso! A um forte movimento de trafico de drogas, Com isso eu coloco meu filho para pescar de manhã e estudar à tarde, pelo menos, sei que ele está trabalhando com o pai e não está na rua aprendendo coisas que não sou de acordo, ele pescava de manhã e estudava à tarde, mas atualmente cursa o curso de logística de manhã e trabalha como jovem aprendiz no super bom à tarde. Com isso, desde criança pescava com seus pais.

Os peixes mais pescados são a Piaba e o Sairú e outras espécies pesca em menos quantidade. Ela conseguiu uma banca na feira através de sua amiga que morava no Imbé e comercializava seus peixes na feira da roça, e a Angélica passava na feira todos os dias, pois 39 era caminho para ida do seu curso de enfermagem. Ela comentou com essa amiga que tinha o desejo de trabalhar na feira, e sua amiga lhe disse que já não queria trabalhar mais no local, e passou a sua banca para a Angélica, que ficou muito feliz, de saber que ela poderá comercializar seus pescados, pois antes ela vendia para os atravessadores de Lagoa de Cima e não tinha muito lucro. A sua modalidade na pesca é a de rede e anzol, e pesca apenas na Lagoa de Cima.

Neiva do chapéu – conhecida na feira, como baixinha do chapéu, pescadora de Ponta Grossa dos Fidalgos, casada com o Diorlênio, com quem tem dois filhos, o Tiago de 30 anos que tem o 2º grau completo, segue o ofício de pescador e a Amanda, filha mais nova do casal, faz faculdade de nutrição e já é formada em técnica em química, se dedica integralmente à faculdade. A “baixinha do chapéu” vem de família de pescadores, mas anteriormente à pesca, trabalhava cortando cana na região. Ao se casar com Diorlênio, passou a pescar com seu marido, que antes pescava com um amigo. A modalidade de pesca utilizada pelo casal é a Minjoada34. A pesca em casal aumenta o lucro da família. É a primeira a acordar de madrugada para agitar o pessoal para ir pescar, enquanto eles vão pescar, Neiva fica em casa realizando as atividades domésticas, pois quando chegarem tem o peixe para limpar e coisas para organizar relativas à feira.

No final de feira, se sobrar peixe, vendem por mais barato, pois os peixes que sobram não poderão ser vendidos na próxima semana, pois o produto perde a sua qualidade. Fig. e 18 – Baixinha do chapéu (a que está sentado) e Elisa na feira da roça lendo o livro do professor José Colaço, Quanto custa ser pescador artesanal? 36 Instituto Nacional do Seguro Social. A FEIRA DO PEIXE (O ESPETÁCULO) O primeiro contato com o Jony se deu através de uma reunião para organizar as coisas para a 8º edição da feira do peixe, no Centro de Educação Ambiental da Petrobrás, localizado na Rua Benta Pereira, 47, Centro – Campo dos Goytacazes. Nas conversas com Jony, uma das questões mais importantes sobre as possibilidades de organização da Feira do Peixe era como conseguir manter o peixe fresco conservado? Até então, na época o Jony, não se obtinha de nenhuma especialização na área da pesca, mas em meio a esse processo, o mesmo começa a se especializar e conclui seus estudos e consegue o seu título de biólogo, e passa administrar melhor os problemas apresentados no início da instalação do projeto da feira do peixe.

O problema da conservação do peixe é solucionado, com a especialização em biologia, passa a compreender como conservar o pescado por um determinado tempo, então deparando com a resolução desses problemas, ele resolve dar continuidade ao projeto, mas tinha “um pé atrás” e ao mesmo tempo criava-se uma expectativa. O Jony relatou que o objetivo do projeto é de tirar a figura dos atravessadores de circulação, pois tinham um grande poder de barganha nas praças de mercado, tirando a autonomia dos pescadores de venderem seus pescados por um preço justo e outro objetivo, era de estarem ajudando esses pescadores artesanais, na entrada e saída do defeso, que é um período de grandes transtornos para os pescadores, gerando conflitos. Nesse sentido o defeso trás conflitos entre pescador e a política do IBAMA 38, a política é estabelecida através de Algumas Portarias Normativas, deixando claro que a captura de qualquer espécie aquática com uso de rede, durante o período de novembro a fevereiro, argumentando, que é o período de crescimentos dos peixes na lagoa.

Neste período os pescadores recebem um incentivo para não executar suas atividades, que é o recebimento de um salário mínimo por mês ao longo do período e quem for pego pescando são autuados e seus materiais são apreendidos. Na reunião, estavam presentes os pesquisadores do PESCARTE39, o Eraldo, o Jony e 15 pescadores40, muitos desses pescadores chagaram atrasados, fazendo com que o Jony, repassasse as informações mais de uma vez, os pescadores se reuniram em uma sala, com as cadeiras arrumadas em círculos e o Jony como uma figura central ao meio passando as instruções que tinha o objetivo de mostrar as responsabilidades que os comerciantes teriam. O Jony inicia a reunião querendo saber quem poderia ficar responsável para escolher o fornecedor de gelo, pois mediante do estatuto que foi elaborado, que era de responsabilidade dos consumidores de ficarem responsável pelo fornecimento do gelo.

O mesmo ressalta também a questão da higiene, orientando: Quem manusear o pescado não poderá manusear o dinheiro e vice e versa o plástico para forrar a mesa, seja de preferência incolor, é importante e indispensável o uso dos EPI´s 41, como luva, máscara e toca não se esqueçam dos galões de água, para estarem molhando o pescado frequentemente. Outra 39 Rafael, Luciana (Coordenadora), Felipe (Assessor técnico) e a Patrícia (Coordenadora). A 1- Carmem Lucia (feira da Praça de República); 2- Rosilane (feira da Praça da República); 3- Leandro (feira da Praça da República); 4- Neiva Márcia (feira da Praça próxima a Record); 5- Aldenir (feira da Praça da República); 6- Liliam (feira da Praça de República); 7- Patrícia (feira da Praça da República terça-feira, feira da Praça próxima a Record e no Salesiano); 8- Cláudia (feira da Praça da Republica); 9- Mariana (feira da Praça da República); 10- Nádia (feira da Praça da República); 11- Angélica (feira da Praça de República, Salesiano e Praça próxima a Record); 12- Arialda (feira da Praça da República); 13- Fabiano (feira da Praça da República); 14- Domingos (feira Praça da República) e 15- José Edilson (feira da Praça do IPS).

Rafaela, 2015. Fig. – Reunião para a organização da feira do peixe. Da esquerda para a direita, Patrícia (PESCARTE), Neiva, Eliza, Eraldo, Leny, Rosilany e Jony. Jony orienta aos comerciantes para que eles não eviscerarem o pescado no local, não escamar e descartar os resíduos de qualquer jeito no ambiente, com isso, não só convidar os comerciantes para participar da feira, também participa de cursos que os orientam tudo sobre a pesca. A Feira do Peixe, como um grande acontecimento, agrega diferentes pessoas da cidade nos dias de sua realização. Como mencionado, ela ocorre duas vezes ao ano em um período de três dias consecutivos. Realiza-se, geralmente, das cinco da manhã ao meio dia. Há um tratamento cuidadoso em relação à preparação do espaço.

A reunião mencionada foi para tratar da questão da organização da 8º edição da Feira do Peixe que aconteceu no dia 29/10/2015 (Quinta-feira), além do dia 30/10/2015 (Sextafeira) e no dia 31/10/2015 (sábado), no final da Rua das Palmeiras, próximo da Avenida 28 de Março. Editado por Rafaela, 2016. A Feira do Peixe é um evento agendado e estruturado. A organização dos pescadores se dá independente da localidade que mora e associação que está cadastrado. Pelo que observei, a Feira do Peixe está marcada pela tentativa de “refinar” o uso do peixe na culinária 50 local, no que diz respeito à apresentação do pescado para venda, bem como sua manipulação durante a realização da feira. A partir dessa concepção, a Comissão da Superintendência de Pesca e Agricultura estabelece um estatuto com normas a serem seguidas.

Ângela – Uma adolescente de 20 anos, estudante de graduação do curso de telecomunicações no Instituto Federal Fluminense. Ela é filha da pescadora artesanal Angélica, uma de minhas interlocutoras, moradora de Lagoa de Cima, na beira da lagoa, desde criança presenciava sua família pescando. Ângela se dedica totalmente aos seus estudos, mas quando está de férias escolares ou quando não vai para a Universidade, fica responsável por cuidar de seus irmãos, uma menina de 16 anos e um menino de 8 anos e ficar encarregada de ir à feira para ajudar sua mãe. A mesma, uma menina comunicativa, que sabe se expressar nessa praça de mercado, conquistando clientes pela sua simpatia e pela qualidade do produto oferecido. Ela relata que: a Feira do Peixe muita das vezes é a salvação dos pescadores! Muitos já não estavam tendo boas vendas, chega o período da Piracema que ficam proibidos de pescarem, e a feira chega como o complemento da renda, às vezes o lucro é maior do que período da não proibição.

Ela está sempre sentada em um banquinho picando couve e embalando em um saquinho, atendendo a necessidade dos consumidores que preferem comprar os produtos prontos para seu preparo. Ela relata: Amo trabalhar na feira! Amo o contato com o público! Quando trabalhamos com amor o resultado é mais satisfatório, conquistamos mais clientes. Para além da simpatia, do bom atendimento, conta-se com o produto de qualidade, o verde das verduras atrai os clientes. AS FEIRAS ENTRECORTADAS O objetivo deste capítulo final é apresentar a relação de complementaridade que existe entre a Feira da Roça e a Feira do Peixe. Tanto no que diz respeito aos atores sociais envolvidos com as feiras – mais propriamente as famílias de pescadores e gestores públicos –, bem como, de uma maneira mais geral, para a economia pesqueira da região de Campos dos Goytacazes, organizada, como esta monografia tenta evidenciar, a partir de um calendário que atualiza diferentes temporalidades.

Posso afirmar que, além de pesquisadora, me tornei próxima de Nely, Angélica e Neiva. Talvez não tenhamos tido tempo para estabelecer relações de amizade – no sentido estrito do termo –, mas certamente, eu e estas mulheres nos unimos por uma espécie de empatia mútua, por confiança e, por que não dizer, por fidelidade. Como sabemos, estas são três características encontradas em relações comerciais, mas que vão para além delas. Pude perceber que na Feira da Roça, realizadas na Praça da República nas terças e sextas-feiras, é marcada por intensa sociabilidade. Os feirantes organizam-se nos dias de feira e alguns mantém suas bancas nas edições da Feira da Roça realizada em outros dias e em outras regiões da cidade.

A Feira do Peixe é marcada por uma regularidade de natureza diferente da que marca a Feira da Roça. Trata-se de um acontecimento com edições previamente agendadas que conta com uma organização na qual se envolvem, facultativamente, pescadores, profissionais ligados à economia pesqueira e gestores. Desde seu início, ela acontece em duas edições anuais. No primeiro semestre a feira é realizada em datas próximas à Semana Santa, ou seja, entre os meses de março e abril. Sua edição do segundo semestre geralmente é realiza em setembro. Afinal, como ouvir de alguns de meus interlocutores, “Hoje é Dia de Feira!”. Por sua vez, a Feira do Peixe acontece apenas duas vezes ao ano, uma a cada semestre, o que confere a ela o caráter de empreendimento extraordinário. Tanto assim que, como pude observar na reunião de preparação para a edição do segundo semestre de 2015, há um cuidado todos especial compartilhado entre os promotores da Feira do Peixe, em especial, aos gestores ligados à Prefeitura, bem como por parte dos participantes, em sua maioria, feirantes oriundos de família de pescadores que também participam, ordinariamente, ou seja, semanalmente, da Feira da Roça.

Enquanto a Feira da Roça se desenvolve, em termos de sua organização, como uma feira livre mais convencional – tal como descrito no capítulo três –, ou seja, sua ocorrência se dá em pontos chaves da cidade, tais como praças públicas e centros de bairro, a Feira do Peixe ganha, em suas edições, tendas que reproduzem a ideia de um grande galpão fechado onde o consumidor pode, ao abrigo do sol, do vento ou da chuva, apreciar com comodidade as bancas e suas variadas qualidades de pescado. O que esta pesquisa sugere, portanto, é que as feiras, por mais distintas que possam parecer no primeiro olhar, estabelecem uma relação de complementaridade, articulada pelas relações pessoais entre seus gestores, os comerciantes e famílias de pescadores da região que estão associados a uma, à outra, ou, como os dados de campo evidenciaram, às duas.

pp. BIBLIOGRAFIA BOURDIEU, Pierre (2004 [2001] ), Para uma Sociologia da Ciência. Lisboa. Edições 70. BRONISLAW, Malinowski. Vol. n. quadrimestre julho-dezembro. Rio de Janeiro, 2006. Variações Sazonais e Conflito no povoado pesqueiro de Ponta Grossa dos Fidalgos, Rio de Janeiro. CONRADO, Mônica; ALENCAR, Breno. Família de feirante, feirante também é: mães, pais, filhos e netos da feira da Prainha do Belém do Pará. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA ORAL DO NORDESTE: MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADES, 2005, São Luiz. Rio de Janeiro: ED. Biblioteca Nacional, 2005. Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, com exigência parcial para obtenção do título de mestre em Políticas sociais. GEERTZ, Clifford “A Interpretação das Culturas”. Rio, Zahar, 1978.

GEERTZ, Clifford. “Uma Descrição Densa: por uma Teoria Interpretativa das Culturas”. São Paulo: COSACNAIFY. Pp. MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo, Abril Cultura, 1976. Niterói: Eduff, 1997. SATO, Leny. Feira Livre: organização, trabalho e sociabilidade. Tese de Livre – Docência, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2006. VALPASSOS, Carlos Abraão Moura.

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