Historiografia de São Paulo colonial: tradição às novas perspectivas

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:História

Documento 1

Contudo, até então, seu conhecimento sobre a terra com a qual se depararam através do oceano Atlântico se limitava ao que seus olhos podiam enxergar. E foi então que se deu a necessidade de encontrar maneiras de adentrar no território e analisar como ele poderia ser explorado da forma mais adequada, que rendesse maior lucro. Foi durante os séculos XVI e XVII que os 8,500 km2 do território brasileiro foi sendo, aos poucos, conquistado. E essa conquista não poderia ter sido feita sem a ajuda da população nativa. Após meses de viagem de navio, nas condições que a época proporcionava, os portugueses chegaram à costa brasileira completamente debilitados. Trabalho este, sem dúvida, a favor dos interesses portugueses. “É difícil estabelecer com muita clareza até que ponto os paulistas procuravam doutrinar os índios na fé católica.

Com certeza, porém, a religião dos senhores reafirmava as relações de dominação e servia como arma para a manipulação dos mesmos. …) Contudo, para que tais ameaças ganhassem sentido, foi antes necessário introduzir os índios no mundo católico através do batismo e da adoção de nomes cristãos” (MONTEIRO, 1994). A ajuda voluntária dos indígenas foi fundamental na investigação das novas terras descobertas. “Era uma área de colinas arredondadas, de origem sedimentar, separadas, por fortes declives, das várzeas frequentemente inundáveis. O solo pobre e pouco profundo, constituído por depósitos argilo-arenosos, não desenvolvera uma vegetação de porte denso e não haveria de constituir o principal motivo para a fixação do povoamento. Daria, entretanto, possibilidades para que aí fosse instalada, tempos depois, uma agricultura de subsistência” HOLANDA (2007).

O clima do planalto paulista, como discorrem os autores na obra organizada por Sérgio Buarque de Holanda, História da Civilização Brasileira (2007), era “um clima tônico, pelas variações bruscas de temperatura, em reduzidos espaços de tempo, estimulante e renovador de energias, favorável ao desenvolvimento da eficiência humana propicio ao povoador europeu, não só por essas particularidades, como por ser eliminador das grandes endemias tropicais, fato de importante significação numa época em que o homem não dispunha dos modernos recursos da civilização para dominar certas condições do meio. ” Ainda de acordo com os autores, essas características facilitaram o estabelecimento do europeu na região e o desenvolvimento demográfico; favoreceu a constituição física do paulista, explicando em grande parte a sua vitalidade e sua eficiência de homem afeito às incursões ao sertão.

Neste momento, já escravizados pelos colonizadores, os indivíduos nativos tiveram um papel fundamental tanto de orientação geográfica, quanto para o carregamento de alimentos, armamentos e outros diversos produtos. O uso do termo descobrimento para definir a chegada dos colonizadores no Brasil é duvidoso, devido ao fato de que o território nacional não era, como se diz, uma “terra de ninguém”. Muito pelo contrário, a área era repleta de comunidades indígenas de culturas diferenciadas. E essas comunidades nem sempre tinham uma relação pacífica. Lutas por território já eram uma realidade entre essa população, e os colonizadores exploraram essa realidade a seu favor. Escravos africanos também já faziam parte do sistema de produção agrícola no Brasil colônia, pela drástica redução populacional indígena ao longo dos anos.

“A taxa de sobrevivência dos cativos permaneceu sempre muito baixa no período imediatamente posterior ao apresamento. As longas marchas a que os índios cativos eram submetidos, desde as aldeias de origem até São Paulo, nas quais os suprimentos eram sempre reduzidos, surgem logo como um dos motivos da alta mortalidade” (MONTEIRO, 1994). A fome e os maus tratos, combinados às doenças trazidas pelos europeus, foram responsáveis por dizimar uma enorme parte da população nativa. A introdução de escravos africanos provocou o nascimento de uma nova raça de escravos: os mulatos. …) Seja, porém, como for, a verdade inconcussa é que os mamelucos paulistas constituíram uma sub-raça fixa, eugênica, com os seus atributos inigualáveis de grande fecundidade, magnífica longevidade e espantosa varonilidade.

Foram eles, sem dúvida. os coeficientes causadores da grandeza dos feitos: uma raça de gigantes. ELLIS, 1936) * * * Durante a segunda metade do século XVII, Portugal enfrentava uma grave crise econômica e financeira, tendo saído recentemente do domínio da coroa da Áustria. O período que sucedeu a saída do domínio austríaco foi a chamada União Ibérica (1580 a 1640). HOLANDA, 1997) Mesmo depois da descoberta do ouro, a produção e exportação de açúcar permaneceram como as principais atividades econômicas até o apogeu do Ciclo do Ouro, na segunda metade do século XVIII. A partir da segunda metade do século XVII, a relação escravista entre colonos e indígenas foi tomando proporções cada vez mais insustentáveis.

No início da colonização, as relações de troca e as alianças mediaram a exploração do trabalho nativo. Porém, uma vez firmadas as relações escravistas, no decorrer do século XVII reverteu-se este quadro, inserindo-se a população indígena numa nova realidade social. Os índios, por seu turno, sem condições de reproduzir plenamente as formas pré-coloniais de organização, procuravam forjar espaços próprios no interior da sociedade colonial. Os indígenas rebeldes usavam das táticas de guerra que foram exploradas pelos portugueses na sua chegada, dessa vez, contra eles. Sérgio Buarque de Holanda comenta, em Caminhos e Fronteiras (1957), de uma técnica específica que era utilizada para disfarçar suas pegadas mata adentro. “É para cristão não saber da viagem”, diziam.

A aparência deixada na terra era que eles andavam com os pés ao contrário, gerando lendas nacionais como a do Curupira, conhecida até hoje no interior de São Paulo e do resto do país. Por mais que os colonos buscassem uma motivação externa para a inquietação dos índios, tornava-se cada vez mais claro que o problema tinha suas raízes no próprio planalto. SILVA E MENEZES, 2019) Levando em conta a grande quantidade de áreas amazônicas já desmatadas, é necessário refletir o quanto as comunidades indígenas realmente representam um obstáculo para o crescimento econômico nacional, e o quanto essa disputa por território ainda reflete a herança colonial do país. SILVA, Cristian Teofilo e MENEZES, Gustavo Hamilton de Sousa.

Indígenas têm suas identidades invisibilizadas nas prisões do Brasil. Junho de 2019. Disponível em: <https://diplomatique.

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