História Antiga- Atenas, Esparta e Roma
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Área de estudo:Estatística
c. A conformação geográfica do território da Grécia exerceu profunda influência no seu desenvolvimento histórico, principalmente no que diz respeito à formação das cidades-Estado ou das polis, tipo de organização política dominante. O território grego, extremamente montanhoso, apresenta depressões cercadas por montanhas, cujo acesso só é possível pelo litoral. Formam-se assim inúmeros cantões, cada um dos quais é o receptáculo natural de uma pequena sociedade1. Esse particularismo geográfico acabou por facilitar a autonomia política, fazendo com que os gregos desenvolvessem a idéia do que seria um Estado autônomo e soberano: um vale fechado, com pastagens banhadas por riachos, bosques sobre as colinas, pradarias, vinhedos e olivais que dêem para alimentar algumas dezenas de milhares de habitantes, raramente mais de cem mil, e, mais adiante, um outeiro que pode servir de refúgio em caso de ataque e um porto para o contato com o exterior2.
cit. p. GLOTZ, Gustave. Op. cit. No início da história da Grécia, a formação social básica era a chamada comunidade gentílica ou genos, espécie de família ampliada, onde todos os membros descendiam do mesmo antepassado e adoravam o mesmo deus. Segundo Glotz, não há necessidade de precisar o grau de parentesco dos gennêtai, já que todos se consideravam irmãos por terem um ancestral em comum. A lembrança de grandes habitações, onde viviam várias centenas de pessoas ligadas por laços de parentesco consangüíneo e por afinidade foi conservada por muito tempo. Homero, na Ilíada, nos fala da casa de Príamo, na qual viviam juntos 50 irmãos e 12 irmãs, acompanhados de suas mulheres e de seus maridos, além dos filhos.
Logo, cada genos era o núcleo em torno do qual se organizava uma “casa real” ou nobre, o oikos, que reunia pessoas – além da família, diversas categorias de agregados livres e de escravos – e bens variados (terras, rebanhos, o “palácio” – de fato bem modesto -, um “tesouro” constituído por reservas de vinho e 4 ARENDT, Hannah. Detinha o poder religioso, pois era o sacerdote do deus familiar e a sua encarnação, presidindo todas as cerimônias que reuniam os membros dos genos em torno do lar. Dispunha de poder absoluto sobre sua mulher, a quem podia repudiar, vender ou matar, sem ter de justificar-se, além de autoridade ilimitada sobre todos os membros do seu grupo. Cabia a ele, no sentido de assegurar a paz dentro das fronteiras do genos, proclamar, interpretar e fazer cumprir a vontade divina, como também aplicar a justiça – thémis – utilizando a thémistes, código misterioso e sagrado da justiça familiar, que lhe foi revelado por sonhos ou oráculos ou lhe sugere no fundo da sua consciência, e que era transmitido de pai para filho desde a origem dos tempos, sendo enriquecido de geração para geração.
O crescimento demográfico dos genos não foi acompanhado pelo da área plantada, o que começou a mergulhar a comunidade gentílica numa crise, pois o pater famílias começou a perder autoridade sobre os parentes mais afastados, que passaram a se dedicar a outro tipo de atividade econômica. O aumento da população criou nos genos um excedente de mão-de-obra que, apesar de não ser necessário à produção, continuava a receber alimentos na mesma proporção daqueles que trabalhavam, o que gerou discórdia e confusão. De acordo com o Profº Ciro Flamarion Cardoso, as principais características comuns a todas as Cidades-Estados clássicas eram: 1) do ponto de vista formal, a tripartição do governo em uma ou mais assembleias, um ou mais conselhos, e certo número de magistrados escolhidos – quase sempre anualmente – entre os homens elegíveis; 2) a participação direta dos cidadãos no processo político: a noção de cidade-Estado implica a existência de decisões coletivas, votadas depois de discussão (nos conselhos e/ou nas assembleias), que eram obrigatórias para toda a comunidade, o que quer dizer que os cidadãos com plenos direitos eram soberanos; 3) a inexistência de uma separação absoluta entre os órgãos de governo e de justiça, e o fato de que a religião e os sacerdócios integravam o aparelho de estado.
ESPARTA: 3. LOCALIZAÇÃO E ORIGEM: A cidade de Esparta foi fundada na planície da Lacônia ou Lacedemônia, localizada no vale do rio Eurotas, entre os montes Taigeto e Parmon, no sul do Peloponeso. Protegida naturalmente, nunca precisou construir muralhas. Os Dórios, fundadores de Esparta, seriam a mais belicosa das quatro tribos indoeuropéias que invadiram a Península Balcânica e os responsáveis pela introdução do ferro e de novos costumes (uso de túnicas e incineração de cadáveres) na região. A constituição espartana, conhecida como “Grande Retra”, tinha a sua origem atribuída pelos próprios espartanos e seus contemporâneos da Época Clássica a uma época muito antiga, e a sua elaboração a um legislador mítico inspirado pelo deus Apolo, chamado Licurgo.
Entretanto, os estudos arqueológicos demonstram que Esparta teve uma evolução semelhante à da maioria das cidades gregas, principalmente em termos de lutas sociais, e só passou a ter a forma política e social que conhecemos entre 600 e 500 a. C. ou seja, durante o século VI a. c. Espartanos ou Espartiatas ou Esparciatas – considerados como descendentes diretos dos Dórios, por isso constituíam-se nos “iguais” (homoioi), eram os únicos cidadãos, logo monopolizavam os direitos políticos. Proibidos de exercer quaisquer atividades produtivas, os esparciatas deviam se dedicar exclusivamente à guerra e à política. Por isso, a sobrevivência das famílias espartanas era garantida pelo Estado que entregava a cada uma delas um lote de terra, denominado de kleros, e um determinado número de hilotas, escravos públicos.
O celibato era proibido para os espartanos, que, no entanto, só poderiam constituir família e exercer o direito de cidadania a partir dos 30 anos. Os chefes de família esparciatas com condições de portar armas e com lotes de terras sempre foram pouco numerosos e seu número diminuiu continuamente. Periecos ou Lacônios – homens livres, descendentes da população encontrada pelos dórios na Lacônia, que, embora, não gozassem do direito de cidadania, não eram considerados como “metecos”, ou seja, estrangeiros. Monopolizavam o comércio e o artesanato, podendo ser proprietários de terras que não interessassem ao 8 CARDOSO, Ciro F. S. Op. cit. Suas revoltas – cruelmente reprimidas mas sempre recomeçadas – e o fato de que eles e os periecos com o tempo passassem a constituir a grande maioria do exército espartano foram fatores de enfraquecimento do regime tradicional.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA: A constituição espartana estabeleceu como regime político dominante a oligarquia, caracterizada por ser o governo de poucos ou dos ricos ou de um grupo aristocrático, cuja estrutura de poder era constituída da seguinte forma: B. Diarquia – exercida por dois reis tirados de forma hereditária, mas não necessariamente em linha direta e em acordo com o princípio da primogenitura, de duas famílias – Ágidas e Euripôntidas -, que possuíam altas funções religiosas e militares, mas não tinham poderes políticos efetivos, a não ser como membros ex officio da Gerúsia. Eram obrigados a jurar a constituição e controlados pelos éforos. B. Op. Cit. pp. e 55. poder de julgar os reis. Vestia uma única túnica por ano, o que o mantinha sujo, e tinha a cabeça raspada, passando a usar um boné.
Nesse período de formação, o jovem espartano ficava entre o hilota e o cidadão. Quando atingia a cidadania aos 30 anos passava a poder usar o cabelo longo. A homossexualidade, prática corrente na Grécia antiga, pois estaria enquadrada nas práticas que, segundo o historiador grego Éforo, regem a Paidéia, desempenhava importante papel na formação dos jovens guerreiros, junto com outras atividades juvenis, como ginástica, caça, equitação. A originalidade profunda da homossexualidade não é tanto a sua difusão mas seu reconhecimento social (. Geschichte Hellenistischer Stämme und Städe. Die Dorier (2 vls. Breslau, 1844). Citado por SCHNAPP, Alain. “A Imagem dos Jovens na Cidade Grega. Creio dever falar também do amor entre os meninos, porque esse ponto concerne à educação. Entre os outros gregos, por exemplo entre os Beócios, os homens e os jovens formam casais que vivem juntos; entre os Eleatas, compram-se com presentes os favores dos mais jovens [.
Licurgo tinha certas objeções quanto a essas relações. No caso de um homem honesto se encantar com a alma de um jovem, e querer ser seu amigo e viver com ele, (Licurgo) louvava e via nessa amizade um meio de formar o jovem. Mas se alguém só se encantasse do corpo, seria declarado infame. ATENAS: 4. LOCALIZAÇÃO E ORIGEM: Cidade cuja fundação foi atribuída aos Jônios, Atenas localiza-se na Ática, planície com 2. km2 no litoral do Mar Egeu. Região de relevo montanhoso, principalmente a oeste, onde os montes Citéron e Parneto chegam a 1. metros, e a leste, onde os montes Pantélico e Himeto atingem 1. OLIGARQUIA OU ARCONTADO (séculos VIII e VII a. c. Regime político implantado pelos Eupátridas, através da transferência gradual dos poderes do Basileu pra um grupo de nove magistrados, denominados Arcontes, por eles nomeados e que inicialmente eram vitalícios, depois passaram a ter um mandato de dez anos e por fim de um ano.
Havia três arcontes principais: o Arconte Epônimo, que dava seu nome ao ano e exercia o poder político ou civil, tendo funções religiosas e judiciárias; o Arconte Polemarco, que passou a exercer o poder militar; e o Arconte Rei ou Basileu, a quem restou apenas o poder religioso. Os seis arcontes auxiliares, denominados de Thesmothetae, aplicavam as leis. Apesar de eupátrida por nascimento, Sólon fez fortuna como comerciante, o que distanciava seus interesses dos de sua classe. Embora suas reformas tenham sido amplas, Sólon não afetaram a estrutura fundiária de Atenas, pois não resultaram na redistribuição da propriedade das terras. REFORMAS SOCIAIS: Promulgação da Seisachteía, lei que proibiu os empréstimos em que se pedisse como garantia de pagamento a liberdade do devedor.
Além de abolir a escravidão por dívida, essa lei anulou as dívidas, revogou o direito do credor mandar prender o devedor e permitiu o retorno daqueles que foram vendidos como escravos para o exterior, comprados e alforriados pelo Estado ateniense. Estabelecimento de uma nova divisão social em Atenas, a partir de um critério censitário, com o objetivo de definir os encargos políticos e militares de cada cidadão, que resultou na criação de quatro novas classes sociais: pentacosiomedimnos, aqueles cujas terras rendessem 500 medidas de cereais e/ou azeite, ou tivessem uma renda anual de 500 Dracmas e que na guerra lutariam em carros de combate; hippeis, aqueles cujas terras produzissem 300 medidas de cereais e/ou azeite, ou tivessem uma renda anual de 300 Dracmas e que na guerra seriam os cavaleiros; zeugitas, aqueles cujas terras rendessem 200 medidas de cereais e/ou azeite, ou tivessem uma renda anual de 200 Dracmas e que na guerra seriam os hoplitas componentes da infantaria; tetas, aqueles com rendimento inferior a 200 medidas de cereais e/ou azeite ou a 200 Dracmas anualmente e que na guerra formariam a infantaria ligeira ou pertenceriam à marinha, como remadores dos barcos.
As terras distribuídas haviam sido confiscadas aos aristocratas exilados ou executados; • criação de um sistema estatal de empréstimos aos camponeses; • estímulo ao cultivo da vinha, realizado em pequenas e médias propriedades, que alcançou bons preços no comércio externo e garantiu lucros maiores do que os obtidos com o trigo produzido nos latifúndios, enfraquecendo os grandes proprietários escravistas; • realização de obras públicas (construção de templos, como o Partenon, aquedutos, rede de esgotos) que acentuaram o caráter urbano de Atenas e diminuíram as taxas de desemprego; • instituição de juízes intinerantes para o território rural da Ática; • transformação de Atenas no centro cultural da Grécia, que passou a atrair artistas e poetas de várias outras cidades.
Nesse período houve uma primeira compilação dos poemas homéricos e a inauguração oficial das primeiras representações teatrais (tragédias), oriundas do culto ao deus Dionísio; • expansão do comércio ateniense para o Mar Egeu e para a região dos Estreitos de Bósforo e Dardanelos, como também para o Egito e regiões do Mar Negro; • estímulo ao desenvolvimento da indústria da cerâmica, que cresceu junto com a expansão do comércio. Psístrato manteve-se no poder até morrer em 528/7 a. C. e, segundo Claude Mossé: a tradição unanimemente conservou na lembrança a magnanimidade do tirano, bem como sua moderação no exercício do poder e seus favores. MOSSÉ, Claude. Atenas. A história de uma democracia.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1997, p. CLÍSTENES E A DEMOCRACIA: 509-507 a. Embora igualasse politicamente todos os cidadãos em termos de direitos políticos, a democracia ateniense preservava as diferenças sociais e econômicas, não garantindo, a todos, acesso à educação plena. PÉRICLES E O APOGEU DE ATENAS: 460-429 a. c. Os 30 anos em que Péricles governou Atenas caracterizaram-se pelo aprimoramento das suas instituições políticas, econômicas, sociais e culturais, que os transformaram no Século de Péricles. Sobrinho-neto de Clístenes, juntava a uma inteligência privilegiada uma eloquência, uma autoridade, uma habilidade na condução dos homens, que lhe permitiram servir o povo e, ao mesmo tempo, domina-lo. República – 509 a 31 a. c. e Império – 31 a.
c. a 476. para começar, um período de 250 anos ocupado continuamente por apenas sete reis é uma improbabilidade demográfica, talvez uma impossibilidade; os primeiros sete imperadores do Principado reinaram durante um total de cem anos. Assim, os períodos da história romana que vão nos interessar são o da República e o do Império, dos quais há informações mais confiáveis, graças ao volume de fontes existentes sobre ambos. A REPÚBLICA ROMANA: 509 – 31 a. c. O período republicano pode ser dividido em dois momentos: a República aristocrática ou oligárquica (século VI ao III a. Eleitos anualmente pela Assembléia por Centúrias, os Cônsules tinham o poder de veto sobre as decisões um do outro. FINLEY, Moses.
História Antiga, testemunhos e modelos. São Paulo: Martins Fontes, 1994, pp. e 15. • Ditador – magistrado especial que assumia o governo com plenos poderes em situações de anormalidade, tais como guerra civil, guerra externa, calamidade pública, tendo um mandato improrrogável de seis meses. O Senado era o órgão principal da República romana, sendo formado por 300 senadores vitalícios e descendentes dos antigos chefes de gens. Os cônsules e os censores, findo seus mandatos, tornavam-se senadores. Tinha amplos poderes, como a elaboração das leis e a decisão sobre todas as questões de política interna e externa do Estado, o que colocava em suas mãos o governo de Roma. Suas decisões eram denominadas de senatus consulta. c. – a primeira lei escrita de Roma, que garantiu aos plebeus igualdade jurídica; • Lei Canuléia (445 a.
c. – permitiu o casamento entre patrícios e plebeus, o que representava para a plebe igualdade civil; • Leis Licínias-Sêxtias (367 a. c. Ao mesmo tempo em que a política expansionista romana fortaleceu os latifúndios, também provocou um grande desenvolvimento do comércio, que enriqueceu comerciantes e usurários plebeus, que intensificaram as lutas sociais por direitos iguais aos dos patrícios. A política expansionista romana pode ser dividida em duas fases: a da pequena expansão, na qual Roma unificou a Península Itálica, depois de submeter os povos itálicos (etruscos, samnitas, sabinos, équos, volscos, úmbrios, etc), e a da grande expansão, 17 quando Roma impôs seu domínio sobre o Mediterrâneo, transformando-o no Mare Nostrum, depois de destruir Cartago nas Guerras Púnicas (264-146 a.
C. dominar o Mediterrâneo Ocidental e submeter os Estados Helenísticos (Macedônia, Grécia, Síria e Egito), dominando o Mediterrâneo Oriental. Ao constituir seu império, os romanos transformaram as regiões dominadas em províncias, integrando-as a um sistema de federação, no qual eram consideradas como aliadas, garantindo-lhes autonomia interna, mas não externa. O agravamento do clima de tensão social fez com que alguns membros da aristocracia vissem os movimentos camponeses e as rebeliões escravas como ameaças à própria sobrevivência do Estado romano, levando-os a ansiarem por reformas. Nesse contexto histórico ocorreram as tentativas de reformas dos irmãos Graco, cujo objetivo era mudar a estrutura fundiária da sociedade romana, redistribuindo a propriedade da terra. Tibério Graco, eleito como Tribuno da Plebe no ano de 133 a.
c. propôs a Lei Semprônia ou Agrária, que proibia a ocupação, por qualquer cidadão, de mais de 500 jeiras de terras públicas, o que resultaria na redistribuição das ager publicus. Com a morte de Caio, formaram-se em Roma dois partidos: o democrático, constituído por elementos populares, e o senatorial, composto pela aristocracia dos optimates (os melhores). AS GUERRAS CIVIS: Após as tentativas de reformas de Caio Graco, o Senado reiniciou a política expansionista, dirigindo-a para a Gália e para o Norte da África, com o objetivo de desviar as atenções populares dos graves problemas internos da República romana. Nessas novas guerras, que levaram à conquista da Gália Narbonense e do Reino da Numídia, no norte da África, governado pelo rei Jugurta, destacou-se um general chamado Mário, pertencente à classe equestre e chefe do partido democrático, que foi eleito como Cônsul de 107 a 100 a.
c. Nesse período, foi realizada uma reforma militar que profissionalizou o exército romano, estendendo o serviço militar para 16 anos, estabelecendo o pagamento de soldos aos soldados e ampliando o recrutamento militar a todos os cidadãos, mesmo aos que não possuíam terras. Formado por um acordo entre os generais Pompeu, Crasso e Júlio César, com o objetivo de tomar o poder, o 1º Triunvirato culminou numa acirrada disputa política entre Pompeu, a quem o Senado, temendo César, entregou o governo de Roma e da Espanha, e Júlio César, que, depois de cinco anos de luta, conquistou a Gália Transalpina, depois de um longo período de guerra, devido a feroz resistência dos gauleses. A morte de Crasso no Oriente, combatendo os Partos, e a visível preferência do Senado por Pompeu, levaram 20 César a reiniciar a guerra civil, cujo resultado foi a sua vitória e o seu reconhecimento como Ditador Perpétuo de Roma.
A DITADURA DE CÉSAR: 46-44 a. c. Como ditador, César anulou o poder do Senado, concentrando excessivos poderes em suas mãos, a ponto de não somente aceitar honras excessivas, como o Consulado permanente, a Ditadura perpétua e a Prefeitura dos costumes, sem contar o prenome de ‘Imperator’, o sobrenome de Pai da Pátria, uma estátua entre os Reis e um trono na orquestra (lugar reservado aos Senadores), mas ainda se deixa conceder privilégios que ultrapassam as dimensões humanas: uma cadeira de ouro na Cúria e diante do tribunal, uma carruagem e uma liteira para as pompas do Circo, templos, altares, estátuas, próximas àquelas dos deuses (. No acordo feito entre os triúnviros ficou decidido que Otávio governaria o Ocidente, Marco Antônio, o Oriente, e Lépido, a África.
A disputa pelo poder teve início quando Otávio exigiu que o Senado destituísse Lépido de seu poder e do comando de suas legiões, tornando-se senhor absoluto do Ocidente. Marco Antônio aliou-se a Cleópatra, rainha do Egito, tentando garantir o controle do Oriente, mas foi acusado por Otávio de traição por se aliar à rainha de um país inimigo. Exigindo tropas do Senado, Otávio foi ao Oriente e, no ano de 31 a. C. Além disso, Otávio purificou o quadro de cidadãos, garantindo a predominância de romanos e italianos ao revogar o direito de cidadania concedido por César às populações de algumas províncias. Durante o Principado limitou-se a concessão da liberdade aos escravos e fundouse várias colônias agrícolas na Itália e nas províncias, cujas terras foram distribuídas aos soldados veteranos de guerra, como também foi intensificada a Política do Pão e Circo (Panem et circensis), com o objetivo de desviar a atenção das massas populares das suas verdadeiras necessidades – terra e trabalho.
Com o objetivo especial de proteger a pessoa do imperador, Augusto criou a Guarda Pretoriana, composta de dez coortes (divisões), cujos oficiais – o prefeito pretoriano e os tribunos a ele subordinados – pertenciam à classe equestre. Tal destacamento permanecia dentro da cidade de Roma, também cumprindo a tarefa de policiar a cidade. Ainda no que dizia respeito à organização militar, Augusto promoveu uma segunda inovação, perpetuando uma prática a que o Senado recorrera algumas vezes, em situações de grande emergência, no período republicano: a formação de um segundo exército, constituído inteiramente de provinciais, no qual havia regimentos de infantaria e de cavalaria formados de mil ou quinhentos soldados, comandados por oficiais romanos da classe equestre. No período da dinastia dos Antonino, principalmente a partir do reinado de Trajano, já se nota uma tendência marcante no desenvolvimento da economia romana: a transformação das grandes propriedades exploradas com trabalho escravo em “villae” auto-suficientes, trabalhadas por colonos.
Essa tendência de transformação das grandes propriedades em autarquias, ou seja, que se bastavam a si mesmas, contribuiu para a 23 redução do comércio interprovincial, pois a produção agrícola e artesanal passou a estar voltada para as necessidades do consumo interno de cada região. Além disso, a exploração das províncias aumentou expressivamente a riqueza da elite romana, reduzindo mais ainda a qualidade de vida da população pobre, já que a concorrência do trabalho escravo provocou acentuada queda do valor dos salários dos artesãos, assim como a intensificação da concentração da propriedade da terra degradou profundamente as condições de vida dos camponeses. A dinastia dos Antonino encerrou-se no reinado de Cômodo, havendo, a partir de então o agravamento da crise econômica, política e social, pois nessa dinastia, após o governo de Trajano, a política expansionista romana foi interrompida, o que acirrou as contradições internas do sistema escravista, cujos sinais de esgotamento já eram evidentes.
A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE: 7. Os princípios cristãos, baseados no igualitarismo e na crença na vida após a morte, exerceram profunda influência sobre as camadas populares dentro e fora da 24 Palestina, o que possibilitou ao Cristianismo assumir, gradativamente, um caráter universal. Ao ser propagado em Roma, foi considerado uma religião subversiva, pois seus princípios, como a igualdade, a liberdade e a fraternidade, iam de encontro à estrutura da sociedade romana, baseada na escravidão e na subjugação de centenas de povos através da conquista militar, além de não admitir o culto ao César-Deus por defender o monoteísmo. A colocação do Cristianismo na ilegalidade pelo Estado Imperial romano fez com que os cristãos fossem alvos de inúmeras perseguições em Roma, sendo a primeira ordenada por Nero, que os responsabilizou pelo incêndio de Roma, e a última por Diocleciano.
Apesar das perseguições, o Cristianismo foi penetrando na sociedade romana, ganhando a adesão primeiro das massas urbanas e depois dos camponeses e dos grandes proprietários. O fortalecimento do Cristianismo levou o Estado romano a perceber que poderia transformá-lo num eficiente sustentáculo ideológico, capaz de legitimá-lo junto às massas populares. Uma das soluções propostas por alguns estudiosos da Antiguidade GrecoRomana para tal paradoxo consiste na afirmação de que a existência da escravidão se justificava pela necessidade de tempo ocioso exigida pela Política. Logo, para que os homens livres pudessem exercitar plenamente sua cidadania, ou seja, o direito de participação na política, precisavam não se preocupar com o trabalho, ficando este a cargo dos escravos. Aristóteles propunha dois critérios essenciais para diferenciar senhores e escravos.
O primeiro critério é de ordem política: o homem é, por natureza, um animal político, um ser cívico (1, 2, 9-10); por conseguinte, só o homem livre é totalmente homem porque só ele está apto para a vida política (1, 5, 10). O senhor coincide com o cidadão. Segundo Yvon Thébert, a maioria dos escravos que trabalham nos campos são encarregados de tarefas produtivas. Pouco em contato com o senhor, estão sujeitos, na maioria das vezes, a uma severa disciplina que tende a explorar ao máximo as suas capacidades de trabalho. Situação semelhante também era a dos escravos utilizados no trabalho das minas, que, de fato, era quase um condenado à morte. Nas cidades, a organização do trabalho escravo é radicalmente diferente. Segundo ainda Thébert, há, nas cidades, numerosos escravos que escapam a qualquer THÉBERT, Yvon.
No entanto, não devemos romantizar demasiadamente a situação dos escravos domésticos, pois um escravo é um escravo, ou seja, alguém que não é senhor do seu destino, que perdeu totalmente o controle da sua vida. Nesse sentido, pesa sempre sobre ele a ameaça de cair em desgraça e, por mera decisão do proprietário, sofrer castigos corporais e ser encarregados de trabalhos pesados. Alguns exemplos ilustram situações de extrema violência praticada pelos senhores contra escravos domésticos: um vilicus, escravo que administra a propriedade do senhor, cuja presença é apenas esporádica, culpado de infidelidade para com a esposa que lhe fora concedida, fato que tinha causado prejuízos aos bens do senhor, é barrado com mel e entregue às formigas, que lentamente lhes roem as carnes e as vísceras (8, 22).
Um senhor ciumento encarrega um escravo de vigiar a sua amante e, embora conheça a excepcional fidelidade desse escravo, não deixa de o ameaçar com a prisão, as cadeias e, por último, uma morte lenta, à fome. Na Antiguidade, a escravidão teve a sua máxima difusão apenas em algumas cidades, aquelas onde grandes reformas fizeram desaparecer a multidão de escravos locais, abolindo a escravidão por dívida, como em Atenas, através da lei Seisactheia, e Roma, pela lei Poetelia. Todavia, estes defeitos deviam acabar por não ter grande importância, tendo em conta o tempo que se ganhava. O que prevalece é o automatismo do gesto, a supressão da reflexão, das inovações, das hesitações, dos arrependimentos. Desaparecem os artesãos que podem sentir um certo orgulho com a obra que conceberam integralmente, que podem ser sensíveis às necessidades e aos desejos dos clientes e surgem verdadeiras máquinas humanas cuja justaposição num mesmo local produz cerâmicas feitas em série e a um preço de custo muito menos elevado, já que é abolida toda a iniciativa.
Desse modo, realiza-se a separação radical do trabalhador em relação ao seu trabalho, na medida em que deixa de concebe-lo para apenas executá-lo, o que corresponderia, segundo Thébert, a aplicações do taylorismo ante litteram. Nas áreas urbanas também encontramos escravos de aluguel, alugados, dentre outras coisas, para trabalhar nas obras públicas e nas minas, e os escravos de ganho, que tinham ampla liberdade de iniciativa e movimento para buscar tarefas remuneradas sob a obrigação de uma renda periódica pré-fixada ao senhor. De acordo com Mário Maestri, o pecúlio foi instituição que conheceu importante papel econômico na Antiguidade greco-romana. Considerado como propriedade do escravo, ele permitia que o cativo se envolvesse em operações comerciais ou afins sem comprometer os bens do senhor.
Não raro, escravos prestamistas ou comerciantes movimentavam elevadas somas monetárias. Alguns deles alcançavam a alforria e tornaram-se opulentos metecos. Em Atenas e outras regiões da Grécia, escravos comprados pelo Estado foram utilizados como “funcionários públicos”, trabalhando como varredores, agentes policiais, carrascos, verificadores de pesos e medidas, escrivãos etc. O caráter mais marcante do mito grego é a sua integração em todas as atividades do espírito, seja a literatura, as artes plásticas etc. o que demonstra que, para os gregos, o mito não tem fronteira, sendo tão essencial ao seu pensamento quanto o ar ou o sol à sua própria vida. Os poetas trágicos buscaram no mito seus temas e os líricos suas imagens, pois Prometeu, Édipo, Orestes foram, inicialmente, heróis de lenda.
Até mesmo os filósofos recorreram ao mito, considerando-o capaz de revelar o icognoscivel, ou seja, o que não está ao alcance da razão humana. Os mitos são construídos sempre sobre fatos concretos, contribuindo para que os mesmos sejam preservados na memória coletiva da sociedade, conservando testemunhos inesperados sobre situações que, se não fosse o mito, estariam esquecidas. C. apresenta como características: o politeísmo, o que a torna estranha a toda forma de revelação, já que não conhece nem profeta, nem messias; o antropomorfismo, representação humana dos deuses, fazendo com que suas raízes estivessem mergulhadas numa tradição que engloba ao lado dela, intimamente mesclados a ela, todos os outros elementos constitutivos da civilização helênica, ou seja, o que dá às cidades gregas sua fisionomia própria: a língua, o gestual, os modos de viver, sentir, pensar, o sistema de valores e as regras da vida coletiva.
Sem uniformidade, essa tradição na possui caráter dogmático, o que faz com que a religião grega não implique em nenhum credo que imponha aos fiéis um conjunto de crenças coerentes e concernentes ao além, em casta sacerdotal, clero especializado ou igreja. Para os gregos, os deuses se diferenciam dos homens pela imortalidade. No entanto, não são concebidos como os criadores do mundo e sim como Potências, sendo superiores aos homens porque encarnam a plenitude dos valores que constituem o prêmio da existência sobre esta terra: beleza, força, juventude eterna, esplendor permanente da vida. VERNANT, Jean-Pierre. Mito e Religião na Grécia Antiga. Campinas: Papirus, 1992, p. São os poetas que trazem o mundo dos deuses à presença dos humanos, por meio de narrativas que põem em cena as potências, tornando-as familiares e inteligíveis.
Aí está a intrínseca relação da religião com o mito, que se constitui em seu elemento fundamental, na medida em que a experiência religiosa dos gregos se manifesta através de três modos de expressão: verbal (mito), gestual (rito), figurada (representação figurada). Cit. pp. e 54.
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