AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM DA CRIANÇA SURDA EM LARES OUVINTES: A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
Tipo de documento:Artigo acadêmico
Área de estudo:Linguística
Este trabalho se utilizou da legislação vigente, um apanhado sobre o papel da família e de que forma funciona o bilinguismo, na ânsia de dar subsídios sobre a temática e a importância da inclusão dos surdos, não somente na sociedade ouvinte, mas também nas famílias ouvintes. Foi possível constatar que a família é a base não somente da criança surda, mas também da sociedade. Para termos uma sociedade mais inclusiva e igualitária, necessitamos primeiro de famílias mais dispostas a se adequar e a aprender a Língua Brasileira de Sinais. Palavras-chave: Surdo. Língua Brasileira de Sinais. Para contribuir com a presente discussão este texto tem por objetivo compreender a importância da família ouvinte na aquisição da Língua Brasileira de Sinais pela criança surda.
Abordando também a legislação vigente e o bilinguismo na vida do sujeito surdo. Para abordar esta temática foi utilizada a revisão bibliográfica já que segundo Lakatos e Marconi (1992, p. a pesquisa bibliográfica tem por finalidade “colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto (. ”, sem a intenção é claro de esgotar o tema, mas sim de contribuir para a discussão em busca de novos olhares e perspectivas sobre o tema. º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990).
Analisando o ECA vale ressaltar a responsabilidade compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado, visando assegurar que todos os direitos de crianças e adolescentes sejam respeitados e que possam efetivamente se desenvolver de forma plena nesta faixa etária em que necessitam de mais proteção. Como sujeitos detentores de todos os direitos as crianças surdas também estão aqui amparadas. Cabe salientar que um dos conceitos que comumente são tratados com descaso é o termo “Surdo”, já que com a utilização de termos equivocados podemos acabar menosprezando estes sujeitos que têm não somente um idioma próprio, mas também uma cultura que merece respeito como qualquer outra. Desta forma, para a legislação brasileira, Surda é a pessoa que “por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras” (BRASIL, 2005, art.
“os surdos brasileiros usam a língua de sinais brasileira, uma língua visual-espacial que apresenta todas as propriedades específicas das línguas humanas”. Compreendemos dessa forma que apesar do canal de recepção e transmissão das mensagens serem diferenciadas, quando comparamos com as línguas orais, a LIBRAS, não perde em qualidade e completude para estes idiomas, logo carece de respeito e abertura, o que as já citadas legislações se esmeram em fazer. A Declaração de Salamanca (1994), também foi um importante marco frente a necessidade da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais e a garantia do acesso e permanência destes sujeitos na educação regular com plenas condições de aprendizado. Este documento firmado na Conferência Mundial de Educação Especial, em 1994, na Espanha, procurou chamar a atenção de governantes a fim de garantir o acesso de todos os sujeitos à educação formal, já que todos somos detentores de tal direito.
Tal regramento, nos deixa claro a importância da inclusão para a sociedade contemporânea: Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos (. As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngue a uma criança em uma escola dependem de decisões político-pedagógicas. As duas línguas citadas pelas autoras serão o Português e a LIBRAS, esta é a obrigatoriedade legal, quando falamos de inclusão de alunos surdos, ambas irão existir dentro da mesma instituição escolar. Agora o espaço e importância de cada uma, assim como a postura e papel dos agentes envolvidos irá depender de vários fatores, principalmente do posicionamento político dos sujeitos envolvidos.
Partindo é claro do princípio de que todos estes sujeitos estão comprometidos com a inclusão de qualidade dos discentes surdos. Uma educação bilíngue, assegurada pelo Decreto n° 5626 de 22 de dezembro de 2005, (BRASIL, 2005), tendo por primazia que a LIBRAS será a primeira língua do surdo e o português a segunda, contribui para o desenvolvimento pleno, já que o acesso à linguagem é primordial para o aprendizado. Não é fácil, muita das vezes as pessoas têm sonhos enormes com relação ao seu filho e não conseguem lidar com o dado de realidade. Desta forma, a família entra em um processo de luto, precisa se desvencilhar do filho desejado e acalentar o filho recebido, este processo além de dolorido pode ser também moroso e enquanto isso a vida segue, os anos passam e tudo que a família faz tem consequências na vida e consequentemente na escolarização dos surdos.
Negrelli e Marcon (2006), citam no seu trabalho que a família que recebe o diagnóstico da surdez passa normalmente por diferentes fases até a aceitação do diagnóstico. É comum, segundo as autoras, que a família no período do luto inicial entrem em um processo de negação da surdez, buscando uma explicação ou causa para o seu sofrimento. Embora estes sentimentos sejam muito normais eles acabam por ocasionar uma busca tardia por exames e acompanhamento de especialistas, o que pode, atrasar o desenvolvimento da criança. É comum, segundo Pereira (2008 p. que as famílias na ânsia de cuidar e proteger os seus herdeiros, acabam por proteger demais o surdo do mundo ouvinte criando uma redoma que por vezes acaba por tornar tudo mais difícil e dolorido, “os pais não devem superproteger a criança surda, pois a superproteção parece ser uma forma discreta de encobrir a rejeição e a culpa subjacente”.
Ainda dentre as várias dúvidas que surgem nas famílias as mais recorrentes podem ser as que estão ligadas ao aprendizado ou não da LIBRAS, o que pode ter por consequência, caso a família compartilha do mesmo idioma, uma melhor relação entre os membros, assim como uma comunicação mais fluida e eficaz, o que pode por vezes, potencializar a auto estima dos sujeitos surdos, o que sabemos é essencial para o sucesso escolar (QUADROS, 1997). Negrelli e Marcon corroboram com a ideia (2006), afirmam que a família deve ter pressa para aprender a LIBRAS, já que segundo os autores, ter em casa um ambiente de entendimento e compartilhamento de experiências é fundamental não somente para melhorar a comunicação, mas também para facilitar a interação entre os pares.
Sendo assim, podemos perceber que se uma família persistir com o sentimento de luto, sem aceitar a real condição do sujeito surdo e se negar em aprender a LIBRAS, o futuro aluno, pode ter uma realidade escolar que não contribua para com a aprendizagem, por mais que as leis tenham avançado garantindo direitos ou que os especialistas e professores se esforcem, a família é crucial neste processo. Dificuldades e trajetória que foram compartilhadas no primeiro capítulo da sua dissertação de Mestrado: (. sempre fico perdida nessa roda por não acompanhar o conteúdo das falas, e também as pessoas esqueciam que eu era surda e falavam sem me olhar como se eu não estivesse ali. Eu me sentia como uma estátua que não pudesse fazer nada.
Eu me sentia mal, inferior, subalterna e deficiente (CAMPOS, 2008, P. Campos relata muito sofrimento ao longo dos anos, sentia que estava isolada e que tudo era simplificado para ela, até mesmo o vocabulário que os ouvintes usavam, como se tudo fosse resumido. também o bilinguismo abre portas para o sujeito surdo: A abordagem educacional bilíngue parece ser o caminho ideal de respeito a essas especificidades, pois o bilinguismo envolve uma concepção de desenvolvimento, de linguagem e de cultura surda que entende os processos de escolarização do surdo, a partir da sua particularidade linguística (e seus desdobramentos). Logo, segundo as autoras, que corroboram com a experiência da Mariana, a língua materna do surdo deve ser a LIBRAS, que deve aprender também como segunda língua o português, de maneira a se instrumentalizar para viver no mundo ouvinte e buscar seus direitos.
Sempre amparado pela comunidade surda que irá lhe proporcionar o apoio e o sentimento de pertencimento, tão importantes para a espécie humana. Mas não é qualquer tipo de inclusão que pode beneficiar os sujeitos surdos, além de grandes investimentos financeiros e o cumprimento das leis já citadas, é necessário que o surdo tenha contato com seus pares surdos para desenvolver, principalmente quando criança a sua fluência em LIBRAS, só incluir a criança em uma escola ouvinte com o auxílio de uma intérprete não é o suficiente, já que ela mesma ainda não conhece a LIBRAS. Lodi & Luciano (2010, p. Deste modo é necessário pensar como garantir ao outro os instrumentos de poder para conquistar aprendizagens dignas e não apenas habitar de forma humilhante um cenário de um conhecimento que dificilmente conquistarão [.
É importante ressaltar, como bem faz o referido autor, que somente compartilhar o mesmo espaço, surdos e ouvintes, não é garantia que a inclusão está ocorrendo, como vimos, o sujeito surdo precisa de muito mais, de se sentir pertencente ao espaço também, mas se depois de tudo isso a aprendizagem com qualidade não ocorrer, da mesma forma não estará existindo a inclusão verdadeira. Segundo Quadros (2003, p. apud Ribeiro and Silva, 2017, p. é comum que os surdos em processo de inclusão que não está sendo bem administrado, se sintam frustrados quando sua diferença linguística não é levada em consideração, a autora coletou algumas falas que deixam isso bastante claro, “estudo tanto quanto, talvez muito mais que meus colegas, eles conseguem, mas eu não.
A família que esperava um filho ouvinte, terá de se adaptar e encarar uma sociedade que nem sempre está preparada para o diferente. Para dar conta de tamanho fardo, a família ouvinte de uma criança surda terá de se munir de conhecimento e parceiros em busca do bem-estar de todos. Nestes momentos a escola e os profissionais da saúde serão parceiros para auxiliar nas dúvidas e inseguranças. Segundo também os estudiosos do tema surdez o bilinguismo tem sido o melhor caminho para o desenvolvimento da linguagem dos sujeitos surdos. Desta forma todos os que terão contato com o surdo e querem manter uma relação saudável de amor e aprendizados terão de aprender a LIBRAS e também compreender como o surdo aprende o português.
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online]. vol. e3339. Epub Oct 16, 2017. Disponível em <http://www.
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