ANÁLISE DO RISCO DA AUTOMEDICAÇÃO PARA A SAÚDE DO PACIENTE IDOSO

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Administração

Documento 1

Um fator que está diretamente relacionado à automedicação é a propaganda de medicamentos nos meios de comunicação de massa, constituindo um estímulo freqüente para a automedicação, pois explora o desconhecimento dos consumidores acerca dos produtos e seus efeitos adversos, além das possíveis interações com outros medicamentos (BARROS, 1995). Podem-se destacar como danos decorrentes da automedicação, gastos supérfluos, atraso no diagnóstico e na terapêutica adequados, reações adversas ou alérgicas, e intoxicação. Além disso, destaca-se que efeitos adversos podem ficar mascarados, enquanto outros se confundem com os da doença que motivou o consumo, criando novos problemas, os mais graves podendo levar o paciente à internação hospitalar ou até mesmo ao óbito (NASCIMENTO, 2003). Tem-se que em 1999, as pessoas idosas já representavam 9,05% da população no Brasil, e em 2020 poderão totalizar 13%.

Segundos especialistas, em 2025, o país será o sexto do mundo em números de pessoas na terceira idade, o que demanda cuidados especiais com essa população crescente. Faz-se necessário enfatizar que no processo do envelhecimento acontecem muitas alterações a nível fisiológico, o que afeta o metabolismo das substâncias no organismo, aumentando assim o risco de haver interação medicamentosa quando muitos medicamentos são administrados juntamente. Baseando neste ponto, vê-se que as pessoas idosas necessitam de mais informações, porque ao colmatar essa lacuna é possível evitar muitos eventos nocivos que essas pessoas estão sujeitas. É importante salientar que a OMS (2005) associa o termo “ativo” não somente à capacidade de estar fisicamente ativo. Assim, o envelhecimento ativo tem como objetivo “aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas” que se encontram neste processo (OMS, 2005, p.

Por isso, a OMS (2005) advoga que os projetos de envelhecimento ativo, os programas e as políticas que promovam a saúde mental e relações sociais são tão importantes como as atividades que melhoram as condições físicas de saúde. Para Ribeiro, Alves e Meira (2009) o envelhecimento não deve ser considerado como um período de perdas e incapacidades, pois muitos idosos podem ter a sua capacidade funcional preservada. O importante é a maneira como os indivíduos percebem e lidam com as situações da vida e com as transformações do envelhecimento, a qual determina, em grande parte, a pessoa ter uma velhice saudável ou não. As pessoas idosas envelhecem de forma diferente e em ritmo diferente. Fontaine (2000) refere que existem três tipos de idades: idade biológica; idade psicológica e idade social, como apresenta a tabela 1.

TABELA 1: TIPOS DE IDADES: TIPO DE IDADE CARACTERÍSTICAS Idade Biológica Está ligada ao envelhecimento orgânico. A tabela 2 apresenta alguns principais efeitos deletérios do envelhecimento. TABELA 2: PRINCIPAIS EFEITOS DELETÉRIOS DO ENVELHECIMENTO Nível antropométrico Nível Muscular Nível Pulmonar Nível Neural Nível Cardiovascular Outras Aumento do peso corporal/gordura Diminuição da estatura, diminuição da massa muscular Diminuição da densidade óssea Perda de 10 a 0% na força muscular Menor capacidade para hipertrofia Diminuição na atividade oxidativa Diminuição dos estoques de fontes energéticas Diminuição da capacidade vital Aumento do volume residual Aumento da ventilação durante o exercício Menor mobilidade da parede torácica Diminuição no número e no tamanho dos neurônios Diminuição na velocidade de condução nervosa Menor tempo de reação Menor velocidade de movimento Diminuição do gasto energético Diminuição da frequência cardíaca Diminuição do volume sistólico Diminuição da agilidade Diminuição da coordenação Diminuição do equilíbrio Diminuição da flexibilidade Fonte: Adaptado de ZIMERMAN, 2000.

Considera-se que a perda dessa funcionalidade pode ser atribuída a algumas modificações morfofisiológicas que ocorrem no indivíduo idoso durante o processo de envelhecimento, limitando a sua autonomia, e consequentemente a independência. Fatores como exercícios, alimentação, estilo de vida, exposição a situações, educação e posição social podem influenciar de forma direta o processo de envelhecimento. Ainda sobre o envelhecimento primário, Netto (2002), aborda que este é geneticamente determinado ou pré-programado, sendo presente em todos os indivíduos, ou seja, é universal. A meia-idade é a faixa etária que compreende de 40 a 65 anos (SHEPHARD, 2003). Neste período, há o início de declínios funcionais apresentados pelos principais sistemas biológicos, sendo que estes declínios variam de 10 a 30% em relações aos valores máximos de quando essa pessoa era adulta jovem.

Na “velhice”, não se encontra um dano grande no equilíbrio, mas, mesmo assim, encontra-se uma perda de função um pouco maior. Shephard (2003) enfatiza a velhice avançada como algumas vezes descrita velhice “mediana”. Esta categoria etária compreende a faixa situada entre 75 e 85 anos, na qual se encontra uma perda significativa nas funções ligadas às atividades diárias. Considerando a promoção da saúde como um processo que permite aos indivíduos controlarem a sua saúde e melhorá-la e que a prevenção de doenças engloba a prevenção e o tratamento das mesmas. Na prevenção estão incluídos os três níveis, de acordo com o que mostra a Tabela 3: TABELA 3: Níveis de prevenção da saúde NÍVEL DE PREVENÇÃO ENFOQUE Primária Em que o enfoque está em evitar ou remover fatores de risco Secundária Visa a detenção precoce de problemas de saúde Terciária Pretende limitar a progressão da doença e evitar ou diminuir as consequências ou complicações Fonte: Ribeiro e Paúl (2011) Mesmo implementando medidas na área da promoção da saúde e prevenção de doenças, os indivíduos aumentam o seu risco de desenvolver doenças.

Daí surge a necessidade dos serviços curativos, pois são indispensáveis nesta fase do ciclo de vida, sendo a área de eleição os cuidados de saúde primários (OMS, 2005). Refletindo-se então a respeito dos riscos da automedicação na saúde do idoso, pode-se perceber que a automedicação constitui uma prática universal, presente nas mais diversas sociedades e culturas, independentemente do grau de desenvolvimento socioeconômico das mesmas e pode causar riscos à saúde de quem a pratica, sendo que quando esta prática é realizada por idosos, estes riscos podem se agravar devido à debilidade. Além disso, geralmente os idosos praticam a automedicação em virtude de problemas de saúde considerados simples e recebem um estímulo forte de familiares e amigos. Não se pode negar que eficazes são os benefícios terapêuticos conseguidos com o uso correto dos medicamentos, entretanto, seu elevado consumo entre idosos pode acarretar riscos à saúde devido à diminuição do fluxo sanguíneo hepático, eliminação renal diminuída, concentração baixa de albumina sanguínea e mudanças no padrão cognitivo, que pode gerar interpretações errôneas sobre a indicação e modo de uso dos princípios ativos (MEDEIROS et al.

Na pesquisa feita com profissionais de saúde por Oliveira e Pelógia (2011) a cefaleia foi citada por 33,7% dos entrevistados como principal motivo para utilização de medicamentos, sendo os AINES (anti-inflamatórios não esteroidais) a classe terapêutica mais utilizada (25,8%). Também se verificou que 53,1% dos profissionais da saúde não prescritores praticavam a automedicação, quer seja por indicação própria, motivados por sugestão de amigos, balconistas ou ainda reutilizando receitas médicas antigas. No estudo realizado por Vilarino et al. se automedicaram pelo menos uma vez no período verificado pela pesquisa, enquanto que 23,9% estavam com receita médica atualizada em todas as vezes que se medicaram. No Brasil, estudo realizado em Bambuí, no estado de Minas Gerais, verificou prevalência de 17% e, no município de Salgueiro, em Pernambuco, 60% dos idosos entrevistados praticavam a automedicação.

Fatores como a familiaridade com o medicamento, experiências positivas anteriores, a função simbólica que os medicamentos exercem sobre a população e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde contribuem para a automedicação. Diante disso, idosos que se automedicam estão mais vulneráveis a riscos de intoxicação e até a situações mais extremas como o óbito acidental (VIANA et al, 2015). Pode-se perceber que a busca terapêutica entre os idosos pela automedicação apoia-se em conhecimentos populares, de amigos e familiares, com sugestões de remédios caseiros, bem como a utilização de serviços de saúde públicos que estejam disponíveis. Em inúmeras vezes, os remédios caseiros são a preferência desse público, em detrimento à visita aos serviços de saúde, geralmente por eles considerarem a doença como leve e também por não confiarem na pouca disponibilidade dos serviços públicos.

Os resultados apontam que esse tipo de prática varia entre 6 idosos de diferentes localidades. Nos Estados Unidos, foi revelado em pesquisa que 42% da população usava pelo menos, um medicamento sem prescrição médica. Já em estudo na parte sul da Austrália, observaram predominância de 17% em 2000- 2001 e de 35,5% em 2003-2004. No Brasil, estudo efetuado em Bambuí (Minas Gerais) foi visto uma prevalência de 17%%, enquanto que no município de Salgueiro (Pernambuco), 60% dos idosos entrevistados tinham o costume de se automedicar. Em 2011, Medeiros e colaboradores realizaram uma pesquisa onde foi feita uma intervenção interdisciplinar com um grupo de 130 mulheres idosas a fim de promover o uso racional de medicamentos. Considera-se que a assistência Farmacêutica é conceituada pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica como o conjunto de ações voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e o público em geral, considerando as drogas como ingrediente essencial e promovendo seu acesso e uso racional.

O conjunto AF envolve pesquisa, desenvolvimento e produção de medicamentos e ingredientes, bem como sua seleção, cronograma, aquisição, distribuição, entrega, garantia de qualidade para os produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização em uma tentativa de obter resultados concretos e melhorar a qualidade de vida da população (SÃO PAULO, 2013). Nessa perspectiva, o profissional da saúde participa de todas as etapas constitutivas referentes ao medicamento, ou seja, desde sua pesquisa, conservação, avaliação de uso, até a chegada aos usuários. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de brasileiros seriam adeptos da automedicação. Lalama (1999), estudando a automedicação na cidade de Quito, Equador, entrevistou 455 pessoas, das quais 36% revelaram fazer uso de automedicação.

Cordeiro (1980), em sua pesquisa, constatou que os medicamentos “autoprescritos” entre os idosos constituíam 48,0% a 70,0% do total de medicamentos consumidos, conforme os grupos sociais, e estimou que 41% das famílias tomavam remédios indicados pelo próprio usuário, observando que o maior índice de uso de medicamentos modernos (em contraposição aos tradicionais, como chás, ervas, raízes etc. ocorreu no grupo mais jovem, entre zero e 2 anos de idade, e no mais idoso, acima de 55 anos. Os pacientes idosos apresentam peculiaridades em relação ao uso de medicamentos, devido a alterações da massa corporal, com diminuição da proporção de água, diminuição das taxas de excreção renal e do metabolismo hepático, tendendo a aumentar as concentrações plasmáticas dos medicamentos, incrementando as taxas de efeitos tóxicos.

Como conseqüência, cerca de 10% a 20% das internações hospitalares de idosos decorrem de reações adversas por medicamentos nos EUA. Fica clara, assim, a importância de se mapear com a assistência farmacêutica, o fenômeno da automedicação no intuito de instruir a população idosa, particularmente os que fazem uso simultâneo de vários medicamentos, que são mais vulneráveis a riscos inclusive porque são excluídos dos ensaios clínicos, não se conhecendo a farmacodinâmica de muitos medicamentos naquela faixa etária, destacando-se como principais riscos da automedicação para a saúde dos idosos: atraso no diagnóstico e na terapêutica adequada, potenciais riscos de interações com os medicamentos prescritos, resistência bacteriana, reações adversas e intoxicação (PINTO; FERRÉ; PINHEIRO, 2012).

O farmacêutico é um profissional que por natureza tem o dever de orientar as pessoas no uso correto de medicamentos e na elucidação de dúvidas relacionadas à terapia medicamentosa. A presença do profissional farmacêutico no ambiente de farmácias e drogarias só é justificável se o mesmo desenvolver e praticar seu papel assistencial, garantido auxílio ao cliente quanto ao seu entendimento da terapia medicamentosa e intervindo sempre que julgar necessário fazendo uso da atenção farmacêutica, sempre dentro dos princípios éticos da profissão (FERNANDES; CEMBRANELLI, 2015). É imprescindível pontuar exatamente onde se encontram os limites desta atuação, orientando assim, sempre que achar necessário a busca de referência médica. Uma vez que os aconselhamentos e recomendações do farmacêutico não substituem instruções médicas, que são adequadas a paciente.

O farmacêutico pode inclusive quando achar oportuno conscientizar o paciente sobre essa necessidade de tais recomendações. O papel do farmacêutico e dos profissionais atuantes nos estabelecimentos de dispensação de medicamentos se faz importante como promotores de saúde para que deem aos consumidores informações necessárias acerca dos medicamentos a serem vendidos e consumidos, para que estejam atuantes no trabalho de educação e capacitação dos profissionais de saúde envolvidos na prescrição e dispensação de medicamentos, na minimização de reações adversas, interações medicamentosas com medicamentos de uso contínuo além de evitar possível negligência no tratamento de doenças infectocontagiosas que requerem atendimento adequado e rápido (BRASIL,2014). Portanto, o profissional farmacêutico deve aconselhar e auxiliar o idoso em seu tratamento uma vez que este tem qualificações que permitem essa ação.

Neste sentido, a assistência farmacêutica à automedicação do idoso está ligada à indicação farmacêutica, vinculada à intervenção. Estes princípios buscam diminuir os malefícios causados pelo uso indiscriminado e incorreto de medicamentos. Essa situação levanta uma importante questão em relação às atitudes que um profissional de farmácia pode tomar para auxiliar o idoso para que a qualidade de vida e a obtensão dos resultados farmacológicos eficazes sejam resultados obtidos com sucesso no tratamento das patologias. Novas fronteiras para o futuro do envelhecimento: a velhice bem-sucedida do idoso jovem aos dilemas da quarta idade. A Terceira Idade, 17(36), 7-31. SCHIMIDT, T. C. G. MOREIRA, V. NOGUEIRA, F. N. N. Do indesejável ao inevitável: a experiência vivida do estigma de envelhecer na contemporaneidade.

Climepsi Editores, 2000. Lalama M. Perfil de consumo de medicamento en la ciudad de Quito. Education Medica Continuada 1999. Cordeiro H. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, v. n. p. BORTOLON, P. C. n. p. FLORES, V. B. BENVEGNU, L. Use of medicines by the elderly in a Family Health Program unit in Brazil]. Cadernos de saude publica, v. n. p. –1555, jul. S. Condições de vida e itinerários terapêuticos de quilombolas de Goiás, Brasil. Saúde e Sociedade, v. n. p. Corpo, velhice e saúde: formas de viver e ser na velhice. Fazendo Gênero 8 – Corpo Violência e Poder, Florianópolis (SC), ago. RIBEIRO, L. C. C. p. abrjun, 2009. Paulo GL, Zanini AC. Automedicação no Brasil. Rev Ass Med Brasil 1988. C E LITVOC, C. J. Conceitos básicos.

In F. C. P. Caldas (Ed. Saúde do Idoso: a arte de cuidar. a edição. Rio de janeiro: Interciência, p. Néri. F. A. X. Cançado.

2668 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto

Apenas no StudyBank

Modelo original

Para download