A IDEALIZAÇÃO DO ÍNDIO COMO HERÓI FRENTE O EUROPEU NA OBRA IRACEMA DE JOSÉ DE ALENCAR.A IDEALIZAÇÃO DO ÍNDIO COMO HERÓI FRENTE O EUROPEU NA OBRA IRACEMA DE JOSÉ DE ALENCAR

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:História

Documento 1

A necessidade de autoafirmação no cenário mundial e claro, de contenção de revoluções internas fez com que se tornasse urgente a criação do sentido de identidade nacional, afinal o que era o Brasil? Quem eram os brasileiros? Essas e outras questões permeiam o imaginário pós independência do brasileiro e, faz-se necessária criar uma identificação nacional ao mesmo tempo tentando diferenciar o brasileiro do português, que não mais comandava o Império dos Trópicos. PALAVRAS CHAVE: Identidade nacional, herói, história. JOSÉ DE ALENCAR E O CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA Cearense de nascimento, José de Alencar nasceu no ano de 1829 em Mecejana. Viveu parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde acompanhava seu pai, então Senador do Império, porém ao iniciar seus estudos em Direito, mudou-se para São Paulo.

Em 1848 transferiu sua Faculdade para Olinda no Pernambuco, onde teve seu primeiro contato com o estilo que permearia seu futuro como escritor, o Romantismo. Nota-se em todas essas revoltas do período regencial o descontentamento com o Império e as reivindicações de liberdade e autonomia, uma vez que estas permeavam o imaginário das Américas neste momento. O período em questão é o que conhecemos por “libertação da América”, onde os países latino-americanos iniciam e consolidam seus processos de Independência frente a Espanha e instauram como regime político a República, sendo o Brasil a única exceção, mantendo um governo monárquico que ainda possuía ligações com a antiga metrópole. Vale salientar a fragmentação dos Vice-Reinos espanhóis em diversos países, o que passa a preocupar o Império brasileiro, que vê sua unidade territorial ameaçada a partir dos ideais revolucionários locais e suas reivindicações republicanas.

O governo necessita então, agir de forma repressora para conter as revoltas e, busca criar a identidade nacional brasileira, a fim de, educar as futuras gerações e conter os ânimos dos jovens adultos do império. Aqui, a literatura nacional passa a ser chave na fundação da ideia da identidade do brasileiro, que vai ser consolidada somente na metade do século XX. A busca pela identidade nacional, do ser, do ser brasileiro e do orgulho de pertencimento foram pontos centrais do romantismo brasileiro, afinal, quem era o brasileiro? O que significava ser brasileiro? Quais eram nossas raízes? Tais perguntas podiam ser respondidas e trabalhadas através da estética e características do romantismo, como o ufanismo, o nacionalismo, o culto a natureza e a religiosidade.

Estas encontram no Brasil um território fértil para se desenvolver em forma de romances e prosas, mas, podemos dizer que os romances urbanos de Machado de Assis e os indianistas de José de Alencar compõe os mais importantes da época. IRACEMA, A IDEALIZAÇÃO DO ÍNDIO. Escrito em 1865, o romance indianista Iracema é considerado um clássico da literatura brasileira. Com características únicas, José de Alencar consegue trabalhar a idealização do indígena como o ser puro frente ao avanço da civilização portuguesa e a fundação do brasileiro, o mestiço que nasce do choque entre dominador e dominado, do puro com o civilizado. A obra, um romance indianista histórico contém alguns elementos que remontam a colonização portuguesa no Ceará, como a rivalidade entre as tribos Tabajara e Pitiguaras (a primeira aliada dos franceses e a segunda dos portugueses) assim como Iracema é um anagrama de América e Martim é uma referência ao deus romano Marte que representa a guerra e a destruição.

A construção do herói, no caso do Brasil, deveria se dar no índio e neste romance se materializa em Iracema e de certa forma em Irapuã, o chefe guerreiro da tribo de Iracema, há quem a garota havia sido jurada em casamento. Como parte deste processo de criação do herói, o índio é idealizado em todos os romances, assim, Iracema é por várias vezes comparada pelo autor a natureza e se mostra superior a esta em beleza, sendo assim apresentada “Virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”. Há um exagero proposital na construção da imagem de Iracema. Toda a pureza e beleza de Iracema e seu povo passam a ser corrompidos e quebrados a partir do choque com Martim.

O amor maior é a pátria, sempre será o nosso local de identificação, ainda que, por um momento nos deixemos enganar - e novamente estabelecemos um paralelo com a realidade vivida no Brasil regencial, de formação de uma identidade frente a questionamentos – nosso coração sempre estará aonde nos sentimos pertencentes. Outra passagem importante da obra é o nascimento do filho, fruto da relação da índia e do português – Moacir – que significa “nascido do meu sofrimento”, mais uma alusão de Alencar no livro, mas desta vez à bíblia. O último filho de Jacó, Benoni e como a história deste patriarca bíblico seus filhos formam as tribos que originarão Israel. Moacir seria, portanto, a fusão do sangue local com o colonizador, o filho da união das raças e povos, o brasileiro.

Esta ideia de união de raças, foi e é fundamental no imaginário brasileiro ao se discutir a identidade nacional ainda nos dias de hoje. A necessidade da criação do herói vai além da literatura, entra no campo histórico e político, pois, naquele momento as antigas colônias americanas se faziam livres do domínio europeu e se estabeleciam como novos Estados e povos com seus costumes locais, fazendo-se assim necessário estabelecer quais eram estes costumes, quem eram estes povos e quais eram suas diferenças para poder se criar o sentimento nacional de pertencimento, fortalecendo assim as jovens repúblicas americanas. O caso do Brasil se configura como uma exceção na América Latina, pois, foi único país a se tornar liberto e manter a base política e a forma de governo, bem como a unidade territorial na América, passando então a ser visto como uma ameaça aos vizinhos, não somente por seu poder, por já estar mais estabilizado como nação, mas, também por representar o antigo regime, não só através da forma de governo monárquico, mas por ter como Imperador o filho de um rei europeu.

A configuração política do momento, um período de contestações aos regentes de Pedro de Alcântara, de reflexão sobre o ser brasileiro, culmina em revoltas espalhadas pelo país, que buscavam autonomia e liberdade frente ao centralismo imposto pelo governo imperial. Sendo assim é de suma importância a produção literária brasileira do momento, que reflete este momento de indagação e dúvida sobre quem somos. O mito fundador, tendo o índio como herói tenta mostrar que, apesar da dominação e exploração nós éramos um povo, nós tínhamos um ancestral em comum, um costume, uma cultura e este foi modificado graças a presença europeia, porém nunca esquecidos. São Paulo, Cultrix, 2012. CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira.

Rio de Janeiro, Ouro sobre azul, 2007, pp. FORTES, Luiz Roberto S.

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