A EDUCAÇÃO EM ERASMO: UMA LEITURA DA OBRA DE PUERIS
Ronaldo Soriani Sócio. amigo de brincadeiras, de quem a infância foi tirada. Bem-Hur dos Santos. o amigo da cantina gaúcha da FAET, torcedor do Inter de Porto Alegre. Alexandre de Carvalho Peres nosso amigo que mostrava alegria no estudo da filosofia. Ms. Sara Juliana Pozzer da Silveira e a Profa. Ms. Maurilia Valderez Lucas do Amaral, em nome dos quais agradeço a todos do Departamento de Filosofia; Agradeço também à Profa. Dra. Defende também que a filosofia deve ser ensinada para a criança na proporção adequada da sua capacidade natural de aprendizagem e compreensão com procedimentos pedagógicos que respeitem a sua fragilidade. A educação liberal, caracterizada pelos princípios humanistas de valorização moral do homem e dignificação da capacidade humana de superação é o instrumento filosófico-pedagógico proposto como subsídio para a educação da criança e do jovem.
Esta é uma característica essencial da filosofia do Renascimento e presente na obra erasmiana. Palavras-chave: Erasmo; Educação; Filosofia; Pedagogia; Renascimento; Criança. RESUMEN El objeto de este estudio es analisar la obra De Pueris de Erasmo de Roterdam. O De Pueris p. Parte I – Aspectos Gerais p. Da educação monástica à educação renascentista p. Educação humanista renascentista p. Educação das meninas p. Apêndice II: A arte no Renascimento p. Apêndice II: A fome na Idade Média p. INTRODUÇÃO Ao nascer, uma criança grita; sua primeira infância passa chorando. Ora a sacodem e a mimam para acalmá-la, ora a ameaçam e lhe batem para que fique quieta. Ou lhe fazemos o que lhe agrada, ou exigimos dela o que nos agrada; ou nos submetemos às suas fantasias, ou a submetemos às nossas: não há meio termo, ela deve dar ordens ou recebê-las.
O pai é o principal responsável pela educação do filho, tanto no sentido de prover-lhe os recursos financeiros necessários, oferecer-lhe a oportunidade de freqüentar uma boa escola, particular ou pública, como de participar de todo o processo formativo apreciando o crescimento da criança e convivendo de forma presente na vida do filho. Mas essa responsabilidade também é de todos os indivíduos que convivem com a criança, ou seja, que cada adulto de determinado grupo social deve assumir a responsabilidade de educar aqueles com os quais convive. Estes são alguns dos argumentos desenvolvidos a partir das idéias estabelecidas de certa forma pela pedagogia erasmiana no Renascimento. O estudo que apresentamos parte da leitura da obra De Pueris de Erasmo de Roterdam. Dividimos este estudo em duas partes.
educacionais chegassem até o Renascimento como chegaram. Dividimos esta parte em três tópicos onde trataremos primeiro das características da educação monástica e suas diferenças com relação à educação desenvolvida no Renascimento. Na sequência abordaremos a educação humanista e suas características e por fim trataremos de forma resumida sobre a problemática da educação das meninas. Na segunda parte analisaremos o texto erasmiano aqui proposto, levando em consideração os pontos primordiais da pedagogia humanista de Erasmo. Dividimos nossa análise em cinco itens nos quais abordamos os temas conforme são discutidos pelo autor, não necessariamente em sua ordem de exposição original, mas numa visão que julgamos pertinente para nosso estudo. Não se ensinava nos colégios.
A partir do século 15, essas pequenas comunidades democráticas tornaram- se institutos de ensino, em que uma população numerosa (e não mais apenas os bolsistas da fundação, entre os quais figuravam alguns administradores e professores) foi submetida a uma hierarquia autoritária e passou a ser ensinada no local. Finalmente, todo o ensino das artes passou a ser ministrado nos colégios, que forneceriam o modelo das grandes instituições escolares do século 15 ao 17, os colégios dos jesuítas*, os colégios dos doutrinários** e os colégios dos oratorianos***. O estabelecimento definitivo de uma regra de disciplina completou a evolução que conduziu da escola medieval, simples sala de aula, ao colégio moderno, instituição complexa, não apenas de ensino, mas de vigilância e enquadramento da juventude.
ARIÈS, Philippe. Nestas instituições os colegiais estudavam autores clássicos como Sófocles, Aristófanes, Eurípedes, Virgílio, Horácio, Cícero, Ovídio, Tito Lívio, Plínio, Suetônio, Juvenal e outros enquanto exercitavam a escrita e a leitura do grego e do latim. Levavam uma vida segura, porém dura e de rotina severa. O ensino estava constituído basicamente no ensino das Artes fundamentado no trivium escolástico havendo uma Os colégios da Idade média estavam próximos e contavam com o apoio das universidades ou das escolas monacais e era basicamente uma forma de garantir aos menos favorecidos economicamente os recursos necessários para uma educação basilar. A partir da segunda metade do século 14 é que são reformados dada a crise educacional européia resultante da abertura excessiva de universidades ocorridas no século anterior.
Deixam de ser somente residência estudantil passando a exercer um papel preparatório para garantir a continuidade no crescimento de interessados em freqüentar as universidades. Os seus membros pospõem ao nome o sinal “D. C. Colégios Oratorianos: Eram instituições de ensino fundadas por membros da Congregação do Oratório, também conhecida como Ordem de São Felipe Neri (Confoederatio Oratorii Sancti Philippi Neri) hoje chamada de Confederação do Oratório. Fundada em Roma com a bula Copiosus in misericórdia Deus em 1575 com a assinatura do Papa Gregório XIII. CAMBI, Franco. No início, o senso comum aceitava sem dificuldade a mistura das idades. Chegou um momento em que surgiu uma repugnância nesse sentido, de início em favor das crianças menores.
Os pequenos alunos de gramática foram os primeiros a ser distinguidos. Mas essa repugnância não parou neles. Estendeu-se também aos maiores, alunos de lógica e de física e a todos os alunos de artes, embora a idade de alguns deles lhes permitisse exercer fora da escola funções reservadas aos adultos. Foi pintor, arquiteto, porém muito mais conhecido como escritor por sua obra Vite onde confronta a biografia de grandes pintores com a descrição de sua obra. Foi discípulo de del Sarto, de Rosso e de Miquelângelo e sua obra pode ser apreciada em Florença (conjunto dos Ufizzi, 1560; frresco no Palazzo Vechio), em Roma ( frescos na Sala Régia e na Chancelaria, do Vaticano, no Palácio Farneze), em Bolonha, Nápoles, Ravena, Veneza, etc.
Sua obra escrita é Le vite de piú eccelenti Pittori, Scultori e Architettori, e Il libro delle Ricordanze. Giotto Di Bondone: Nasceu em Colle di Vispignano, aldeia de Vecchio, na região da Toscana, província de Florença – 1265/66 e morreu em Florença em 1337. Foi pintor e arquiteto muito influente em todo o Trecento, “sua obra é um marco no rompimento com a arte medieval, pois revoluciona os espaços desenvolvendo uma tridimensionalidade que destaca o realismo das figuras. O estudante pequeno passa a ser visto como particular e a partir daí se estrutura uma divisão buscando-se mais uma conservação de uma idéia moral de preservação do que mesmo de diferenciação de idades. Mas podemos afirmar que já é o início de uma forma de diferenciação, de delimitação de infância que sem dúvida caracterizará a escola como organismo de separação dos indivíduos e controle social.
Porém, o ideal humanista da educação das crianças desde os seus primeiros anos de idade, ainda ia de encontro ao conceito vigente de que a educação deveria ser deixada para depois, para o momento em que a criança tivesse amadurecido um pouco, enrijecido os músculos com as brincadeiras das amas e de seus irmãos mais velhos. Segundo ARIÈS (1981): Até por volta do século 12, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. p. Segundo BURKE (2004): As críticas que se dirigem à obra de Ariès são quanto ao “argumento de que as crianças costumavam ser vistas como adultos em miniatura, apoiado pelo testemunho de imagens de crianças vestindo versões em miniatura de roupas de adultos (um argumento que havia aparecido antes de Ariès, mas que é central em seu trabalho), revela indiferença em relação ao contexto, mais precisamente uma falha no sentido de levar em conta o fato de que nem crianças nem adultos vestiam suas roupas do cotidiano quando posavam para retratos”.
Outro ponto no argumento dos críticos de Ariès é quanto ao fato de que: “Ariès ficou impressionado pela ausência de crianças nos começos da arte medieval e explicou essa ausência em termos de uma geral falta de interesse por crianças, ou mais precisamente pela infância. O fato de a criança começar a ser separada dos adultos e enviada a escolas particulares também influencia no destaque que a educação infantil terá no Renascimento. Os educadores humanistas do Renascimento estão preocupados com a liberdade de pensamento, mas também com a formação independente do pequeno aluno que trazem sob seus cuidados educacionais. Educar não é somente ensinar as letras, mas também, testificar um novo modo de comportamento, acompanhado de uma nova forma de visão de mundo que passa a delinear-se.
A inspiração que posteriormente deu a Montaigne, humanista moderno influenciado pela proposta educacional erasmiana aqui pode nos servir de exemplo; segundo THEOBALDO (2008) cabe ao educador: Atentar à individualidade do aluno, respeitando sua natureza própria e direcionando suas habilidades para a aprendizagem. O mestre deve encontrar uma maneira de favorecer as disposições do aluno e suas peculiaridades no modo de aprender, extraindo de sua natureza aquilo que mais a história de um sentido de família mais do que de um sentido de infância ”(BURKE,P. Espelhos, cartas e guias: casamento e espiritualidade na Península Ibérica. p. há de melhor. Cabe ao preceptor condescender aos passos infantis com a justa perspectiva sobre seu pupilo. O preceptor se deixará levar pelo passo do aluno sem abrir mão de sua tarefa de condutor da ação pedagógica.
Com sete anos de idade, segundo ele próprio narrará depois, seu pai o envia a Ultrech, onde freqüenta a escola de Peter Winkel, seu tutor, e passa a fazer parte do coro da catedral Domkerk. Posteriormente ingressa no Colégio de São Lebwin, em Deventer onde segundo LINS (1967), “recebeu 7 THEOBALDO, Maria Cristina. Sobre o ‘Da educação das crianças’: a nova maneira de Montaigne. Tese de doutorado, p. São variadas as grafias para se escrever o nome da cidade em que nasceu Erasmo. Passou a chamar-se Desiderius Erasmus, que significa o amado desejado e depois Erasmus Roterodamus ou Erasmo de Roterdam, como passa a ser conhecido. Segundo DURANT (2002): Por volta de 1484 morreram-lhe os pais. O pai deixou uma fortuna modesta aos dois filhos [Erasmo era o segundo filho.
Mais tarde diz de seu irmão que não passou de um beberrão desafortunado], mas os tutores consumiram a maior parte, e dirigiram os rapazes para a carreira monástica, por não exigir qualquer patrimônio [. Desidérius fez votos como cônego agostiniano no priorado de Emmaus, em Steyn. Desde os dezenove anos esboça o plano e a redação dos Antibárbaros, livro onde salienta o ridículo e a insanidade dos métodos pedagógicos da Idade Média, increpando aos cristãos a ignorância voluntária da experiência moral depositada nas obras da antiguidade. Com Lorenzo Valla, não aprendera apenas a irreverência e, como ele, ficou em condições de aplicar às questões filológicas, morais e religiosas, senão o mesmo, pelo menos um método aproximado daquele de que se servia Leonardo da Vinci nas ciências naturais.
Sua completa indiferença por toda preocupação mística ou metafísica o expunha, menos do que qualquer outro humanista do tempo, ao perigo dos sistemas, enquanto sua tendência crítica e racionalista para o livre exame dos dogmas e instituições o atiravam às raias da heresia”. LINS, Ivan. Erasmo, a renascença e o humanismo. Plauto e Terencio são autores que retornam à voga com o humanismo, depois de séculos afastados das leituras do medievo cristão, por não serem apreciação recomendada e por estarem desaparecidos. No Renascimento há uma busca por textos escondidos em bibliotecas dos mosteiros inacessíveis para leitura. Em suas obras pedagógicas aponta práticas educacionais onde o educando é respeitado como indivíduo que passa por constantes e múltiplas transformações.
Segundo PINTO (2006): A influência de Erasmo foi determinante e quase incalculável para a difusão de uma nova concepção educacional por diversos países transalpinos, ao colocar sempre em primeiro plano nas suas obras o valor da formação nas bonae litterae [grifo da autora]. Após críticas ao sistema educacional de sua época, ele elabora em um período em que o modelo curricular não estava fechado acerca dos objetivos mais adequados à educação e da melhor forma de alcançá-los, um esboço de seus métodos humanistas intitulado De rationne studii (Plano de Estudos ou Método para Estudar), publicado em 1511, [sintetizou] os ideais humanistas, tendo influenciado por muito tempo diversos outros manuais, como o de Juan Luiz Vives, De tradendis disciplinis, de 1531, o de Sir.
Segundo PRUNZEL (1994): Para Erasmo, o homem é um ser necessário. O homem não possui uma dupla condição: o homem possui um espírito, que se resume a todas as faculdades superiores (alma, mente, juízo, razão)- é um ser divino deificado. Mas, este homem é debilitado, coberto de impulsos baixos dos sentidos, do egoísmo e da ignorância. Para Erasmo, a educação era necessária contra o barbarismo que imperava na civilização do século 16. Segundo ele, é pela educação que o ser humano consegue se distinguir das demais criaturas, caracterizando a ação humana como ato racional e dos animais como instintivos. PUC Rio. Rio de Janeiro. p. PRUNZEL, Clovis Jair. Lutero e Erasmo: O contato e a diversidade. Analisaremos o contexto em que a obra foi escrita e sua repercussão na sociedade do século 16 e seguintes, quando passou a ser considerada, entre educadores e pais, como uma espécie de marco significativo na educação humanista.
Nesta perspectiva buscaremos refletir a maneira pela qual o autor critica a educação escolástica e, apontando os castigos físicos e maus tratos utilizados como metodologia disciplinar como os males dessa educação, nega a utilidade prática e intelectual desse sistema educacional, propondo uma nova visão de educação. Buscaremos verificar os reflexos dessa proposta inovadora e revolucionária, para a educação de seu tempo, analisando a argumentação do autor em relação à educação das crianças com a natureza humana e os elementos de sua filosofia, tais como o amor, o respeito e a compreensão. Para Erasmo o ato de ensinar não pode estar separado dos sentimentos de afetividade e admiração, pois somente assim o homem poderá aprender a conviver em sociedade, onde a moral é valorizada e, acima de qualquer estrutura política ou religiosa, estará a importância da paz e do amor.
A obra De Pueris, cujo título original em latim é Declamatio de pueris statim ac liberaliter instituendis, traduzida para “A precoce e liberal educação das crianças”15 ou 13 Em seu trabalho o Prof. Campinas. Outras obras pedagógicas também foram importantes no Renascimento, por exemplo: De Ingenius Moribus et Liberalibus Adolecentiae de Pier Paolo Vergério; De Studiis et Litteris de Leonardo Bruni; De Educatione Liberorum Clarisque Eorum Moribus de Maffeo Vegio; De Liberorum Educatione de Enea Silvo Piccolomini; De Modo et Ordine Docendi ac studendi de Battista Guarino. Título escolhido pelo professor Dr. Cezar de Alencar Arnaut de Toledo em seu artigo Erasmo, o humanismo e a educação. TOLEDO, Cezar Alencar Arnaut de. Luiz Feracine, tradutor da versão que utilizamos para este trabalho. Discorre sobre questões relacionadas à educação que inquietavam Erasmo de Roterdam no início do século 16.
A obra foi escrita em 1515 e somente publicada em 1529, dedicada a Conrado Heresbach (1490-1571), amigo de Erasmo e preceptor do Duque William de Clèves (1516-1592) e a grande questão que se poderia colocar está dada no sentido de que se trata de um documento sobre a educação do Renascimento que influi no pensamento moderno sobre a forma de se educar as crianças. Segundo TOLEDO (2004): Erasmo expressou sua visão educacional e reforçou uma pedagogia voltada para as crianças, algo incomum naquela época. Sua visão não deixava de ser, ainda, aristocrática, fator comum entre os humanistas. a Ed. Ciudad de México. Forma como o professor Leon-Ernest Halkin se refere à obra De Pueris de Erasmo. L-E. Halkin (1906-1998) Respeitado historiador belga, doutorou-se em Filosofia e Letras pela Universidade de Liège.
Escala. São Paulo. Na apresentação desta obra o tradutor diz que “depois de vivenciada a dolorosa vida de aluno na escola dos frades franciscanos, onde reinava a velha pedagogia dos castigos físicos e da pura memorização de textos de cunho religioso e pietista”, [o autor] “elabora um texto menos acalentado, onde o educador descortina o fundamento de tudo que vai orientar a vida em desenvolvimento do menino e do adolescente”, acrescentando o que se pode entender como justificativa do título escolhido: “eis o significado pedagógico deste livro DePueris, literalmente, Sobre os meninos”. Conrad Heresbach (1496-1576): foi importante para a pedagogia erasmiana, pois acompanhava o autor em suas discussões a respeito da educação das crianças; era uma espécie de professor prático que colocava em ação as idéias do mestre Erasmo.
Freqüentaram a Universidade de Freiburg onde Heresbach graduou-se em direito graças ao apoio de Erasmo. jan/jun. p. ERASMO. Civilidade pueril. Trad. Contrapondo-se a esta lógica, Erasmo afirma que a educação deve ser ministrada “a par do leite”, a partir dos primeiros dias de vida. Parece exagero de cuidados, mas o autor recorre a exemplos da natureza para justificar-se. Mostra, então, que os cães e os gatos cuidam para que seus filhotes aprendam a se defenderem e a caçarem para serem independentes. Neste sentido, se o homem quer que os animais sejam prestativos na caça devem adestrá-los para isso desde os primeiros dias de vida. Enquanto que a natureza provê os animais e insetos de instintos, usa o exemplo das abelhas e das formigas, o homem é gerado “flácido, nú e indefeso”, mas dotado de “mente capaz de aprender”.
Ed. Ed. Escala 2008. p. pertence à Itália, França e Países Baixos, uma educação voltada para atender à nobreza e a burguesia crescente e rica, que dispunha de recursos financeiros para investir na educação das crianças. Apenas aprende a falar e está hábil para ser iniciado no aprendizado das letras. Em suma, para aquilo que tem prioridade, acorre, de pronto, a docilidade. FERACINE, L. Prefácio. IN: ERASMO. Erasmo (2008) afirma: Aqui, na área da educação, deve-se proceder como fazem os pais e as nutrizes no trato com o corpo. Como é que elas ensinam, de princípio, a emissão de sons das palavras à criança? Com língua tartamuda adaptam-se aos primeiros balbucios infantis. Aliás, como é que ela aprende a comer? No começo, mastiga as papinhas de leite introduzidas na boca, aos bocados.
Como aprende a andar? Dobra o corpo de modo a articular o movimento do passo. Criança não come de tudo nem mais do que apetece. Quando o mestre é valorizado pelos pais, a criança percebe essa afinidade e passa a gostar dos estudos pela admiração que aprende a ter pelo professor. Esta opção pela educação passa pela exigência da extinção da pedagogia dos castigos, ponto importante na educação erasmiana, onde os castigos, os maus tratos e a crueldade são considerados crimes contra a sociedade. Ao finalizar a obra, o autor aponta o passo a passo do processo educacional, reiterando que a educação deve iniciar logo nos primeiros anos de vida. No capítulo 7, o programa de ensino, vemos que o primeiro passo para a criança ser educada inicia-se com o aprendizado da língua, através do ensino amenizado com o uso das fábulas dos poetas.
O autor termina sua missiva ao pai recomendando que o processo educacional seja iniciado nos primeiros anos de vida da criança, pois essa é a mais “auspiciosa” fase da vida. E por fim falaremos da educação das meninas que eram tratadas de forma diferenciada dada às singularidades do contexto. ERASMO. A civilidade Pueril. ª ed. Ed. Fondo de Cultura Econômica. Mexico,D. F. p. Nossa Tradução. Alguns cargos monásticos logo se mostraram atraentes para os filhos mais jovens da nobreza, pois, diferentemente dos títulos nobres, aqueles não eram hereditários. À medida que os mosteiros ganhavam mais e mais riquezas e proteção pública da monarquia, seus estilos de vida iam se tornando cada vez mais confortáveis. A educação dos meninos era basicamente desenvolvida no interior dos mosteiros, no caso dos menores que não receberiam a herança dada ao primogênito por privilégio, esse era o destino mais dignamente almejado para se fugir do abandono ou da destinação desonrosa ao lado da mãe ou das amas da casa.
Aos maiores estava destinada a instrução e o treinamento ao lado do pai ou dos homens mais velhos. Era comum a família encaminhar os meninos mais novos a um mosteiro, para serem educados pela Igreja e seguirem uma carreira eclesial. de novembro de 942) Monge do Mosteiro de Cluniac foi o segundo abade de Cluny. Desenvolveu importantes reformas no sistema monástico influenciando mudanças na França e na Itália. Escreveu sobre questões de moral e política onde exerceu importante papel na reconciliação das famílias reais Arles e Alberico I. Foi canonizado como São Odo de Cluny. aos sete anos. Essa liberdade era ao menos usufruída por aqueles que herdariam 29 COLLINS, Michael; PRICE, Matthew A. História do cristianismo. anos de fé.
Ed. Loyola. O mosteiro é do século 7 onde foi fundada a célebre escola de São Galo, que seria um ponto de difusão da cultura na Idade Média responsável pela produção de arte, literatura e ciência. Desenvolveu-se aí um centro responsável pela cópia de manuscritos que deram origem a uma ampla biblioteca. Ficou conhecida como a maior escola de canto gregoriano e ao seu redor desenvolveu-se uma sociedade que se tornou a cidade de mesmo nome. Em 1526 a cidade se converteu à religião reformada enquanto que a abadia continuou católica. Os conflitos gerados pelas mudanças religiosas provocaram destruição de ícones religiosos na cidade e a fuga de religiosos, porém a abadia do mosteiro estava segura pelos muros fortificados, construídos ainda no séc.
A existência de uma estrutura a serviço da Igreja, mantida nos mosteiros e que garantia a vida segura e a sobrevivência aos rigores, indica que havia certa demanda na busca por esta estrutura monástica. Ou seja, pertencer ao mosteiro era uma questão de relevância social, de segurança de um futuro melhor. Daí a importância da educação monástica para a manutenção da estrutura do mosteiro e de toda a sociedade que o rodeia. Desde o século 5 a Igreja mantém estruturas para a formação educacional, mantinha, então, as chamadas “escolas monásticas ou claustrais, recebendo rapazes a quem formavam para fazer os votos”. Essas escolas eram mais ricas e geralmente em mosteiros onde se tinha uma vida tranqüila e segura.
Aprender a saber na idade média. IN:FRIAÇA,Amâncio. et al. Trivium e Quadrivium: As artes liberais na idade média. Ed. Toda a sua obra tem um tom eminentemente religioso. A repetição da imagem do livro confirmava, nas mentes dos cristãos, ser o cristianismo a religião da Bíblia e também, e sobretudo, a supremacia da casta que produzia e veiculava um certo saber imaginário internamente imbricado com os processos de salvação. A igreja detinha o conhecimento, logo uma espécie de poder diferenciado, maior que o próprio poder econômico ou político, pois conduzia à eternidade. A construção das noções de poder, e acima de tudo, daquele poder sobre as almas, de conduzi-las ao paraíso ou ao inferno, criado e exercido pela igreja, eram sustentadas pela detenção do poder de educar desde a infância uma parcela da população que, por deter o poder hereditário, sujeitava-se ao poder papal.
Neste contexto, o mosteiro era o centro do poder religioso, produtor e disseminador de cultura e de conhecimento, mas, acima de tudo, um local onde o saber se estrutura ao redor dos indivíduos. O Trivium e o Quadrivium eram as sete artes que formaram a base da educação na Idade Média. O Trivium é constituído pelas artes da gramática latina, retórica e dialética. A gramática buscava ensinar a arte de falar eliminando os erros, a dialética arte fundamental na busca da verdade através da discussão, ferramenta importante nos debates da disputatio medieval e a retória é a ferramenta para a persuasão e convencimento. No século 12 iniciam-se uma polêmica girando em torno da dialética (lógica) entre os defensores da antiga lógica e os adeptos das inovações introduzidas pelas descobertas dos escritos de Aritóteles.
O Quadrivium era formado pelas artes da aritmética (matemática), geometria, astronomia e música. Isto ocorre quando a vida urbana começa a se tornar mais estruturada, por volta dos séculos 11-12; com o surgimento das cidades, surgem as escolas clericais que também são monásticas. Nestas escolas, Tanto os professores como os alunos são clérigos. No entanto, embora se beneficiem dos privilégios da igreja e vivam sob sua lei, não recebem as ordens sagradas. Das escolas nas catedrais- onde está a cátedra do bispo- surgirão os primeiros professores que, em conjunto com grupos de estudantes formarão as universidades. Estes centros de ensino seguiam o Trivium e o Quadrivium como sistema pedagógico. Ed. Nacional. São Paulo. p.
QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. queira. Geralmente os meninos têm por volta de 14/15 anos quando são enviados para esse aprendizado. Na verdade, os cursos são soltos e os alunos escolhem seus professores a bel-prazer, quando e onde desejem. Daí o nome de ordo vagorum, ordem dos vagantes, para alunos e professores. Findo o ciclo das artes, qualquer aluno pode obter a licentia docendi e tornar-se professor, ou então, com seu certificado de mestre em artes, seguir outros estudos, de Direito, Teologia, Medicina. Proposta esta que será substituída pelos studia humanitatis da educação humanista. QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. Aprender, a saber, na Idade Média. IN: FRIAÇA, Amâncio. et al. A criança aprendia, geralmente com o pai, um oficio de tradição herdado da família, e quando destinado a educação teológica, era depois introduzido, em um convento ou mosteiro para o aprendizado da filosofia cristã.
Já no século 16, a crise religiosa causada pela Reforma provocou reflexos no sistema educacional, principalmente da Alemanha, onde os reformadores atuaram de forma mais contundente na questão educacional. A estrutura educacional da Igreja foi sendo afetada também por toda a Europa, no sentido de que era a maior detentora de eruditos e de repente viu-se em declínio. A nova escola reformada propunha, ao contrário da escola clerical católica, a formação de professores, servidores públicos e pastores (os teólogos reformados - nova autoridade eclesiástica da igreja protestante). Os pais desconfiam que seus filhos não teriam uma garantia de sucesso profissional, já que estas profissões eram novas e ainda não davam a segurança que a antiga formação de sacerdote proporcionava.
p. destino, detentor de livre-arbítrio, capaz de decidir por si mesmo o rumo que pode dar à sua vida. A grande questão, na verdade, era o problema educacional surgido com a Reforma. Os pais que haviam aderido ao movimento evangélico não enviavam mais os seus filhos para estudarem nos mosteiros católicos, o que provoca o desarticulamento da estrutura religiosa católica de ensino e, por outro lado, também não confiam na proposta reformada, pois a utilidade da formação de pastor ou de profissional liberal nem sempre era bem vista. Na escola católica os meninos eram educados para prestar serviços a Igreja, que agora com a reforma, perdia seu valor. E ainda sobre os colégios de sua época este humanista posterior diz: “a disciplina da maioria de nossos colégios sempre me desagradou.
Talvez errassem de forma menos prejudicial inclinando-se para a indulgência. É uma verdadeira prisão de juventude cativa. Tornam-na debochada ao puni-la por isso antes que ela o seja. Chegai lá no momento em que trabalham: ouvis apenas gritos de crianças supliciadas e de mestres embriagados pela cólera”. educação era destinada aos nobres e filhos de comerciantes, ou ao menos mantida com recursos dessa nobreza, cuja formação era necessária para o poder e os negócios. O financiamento dos estudos de crianças pobres por nobres e burgueses comerciantes, foi, durante o Renascimento, um estímulo para muitos daqueles que não possuíam recursos financeiros. Podiam, assim, tornar possível o desenvolvimento de uma carreira intelectual ou profissional. Essa iniciativa, mesmo que de pequeno alcance, talvez fosse uma forma de contra posição ao que era costume na Baixa Idade Media quando “meninos pobres e também estudantes universitários obtivessem a simples subsistência esmolando”.
Humanistas católicos mantinham escolas em variadas ordens religiosas onde era comum que crianças indigentes e órfãs recebessem abrigo e educação. Giberti foi o principal humanista católico e em 1531 restabeleceu a Confraternitá della Caritá que fora fundada pelo cardeal Giuliano de Médicis em 1519; construiu orfanatos e abriu bancos 43 EBY, Frederick. Historia da educação moderna. Teoria, organização e práticas educacionais. ª Ed. Globo Ed. p. populares para evitar empréstimos feitos com usurários. O cardeal Ercole Gonzaga (filho da Isabella d’Este) realizou reformas semelhantes em Mântua, o mesmo fazendo Marco Vida em Alba, Fabio Vigli em Spoleto, e muitos outros bispos que sabiam que a Igreja ou se reformava ou morria. O controle da pobreza e da mendicância ficou a cargo da administração pública que instituiu condições para a assistência aos pobres como a obrigação de que “as crianças assistidas deveriam ser enviadas à escola ou colocadas em aprendizado”, esta obrigação foi instituída por lei nos Paises-Baixos em 1531 quando “as municipalidades foram solicitadas a abrir escolas, onde as crianças pobres pudessem aprender a se cuidar e fossem treinadas em algum trabalho manual ou para o serviço domestico”.
Educação das meninas Às meninas estava reservado o papel de mãe e esposa, sem que muito pudesse esperar da educação como formação intelectual para elas. A história da civilização. Vol. Ed. Record. Rio de Janeiro. p. EBY, Frederick. História da educação moderna. Teoria, organização e práticas educacionais. pp. O renascimento. Edusp. São Paulo. p. A Toscana compreende a região central da Itália, formada por cidades-estado, alguns independentes, como era o caso de Florença e que posteriormente dará origem a Itália. Historia da vida privada. Da Europa feudal a renascença. p. A família constitui o coração do privado, cada um está convencido disso. A casa, o lar, esse privado, o mais indispensável e o mais caloroso, é muitas vezes percebido como um meio estreito.
Uma seleção realizada entre os amigos e os vizinhos eleva alguns deles à qualidade invejada de padrinho [do filho] e portanto de compadre [dos pais]; o hábito dos apadrinhamentos múltiplos, apadrinhamentos assumidos por estranhos à família, cria em torno dos casais prolíficos um círculo novo, imponente e muito particular, de compadres e de comadres. Ainda refletindo a questão econômica das famílias, OLIVEIRA (1994) afirma, quando busca investigar a preocupação dos pais com a educação dos filhos, que a infância ganha critérios de diferenciação quando, por volta do século 15, o enriquecimento dos comerciantes possibilitou que dispensassem seus filhos do trabalho. A obra de Leon Battista Alberti trata-se de I Libri Della Famiglia, editada pela primeira vez somente em 1843(Nápoles) Cf.
FERNANDES, M. de L. Historia da vida privada. Da Europa feudal a renascença. p. RONCIERE, Charles de la. A vida privada dos notáveis toscanos no limiar da renascença. A partir daí o menino acompanhava o pai nas lides diárias, aprendendo assim o ofício paterno, objetivando no futuro assumir as funções daquele no trabalho. As transformações sociais ocorridas no final da Idade Média e começo do Renascimento conduziram para o estabelecimento de uma forma mais sensível de tratar as crianças e preocupar com sua educação. O que determina o estabelecimento de comportamentos refinados, que exigem um investimento na educação dos pequenos, desde os primeiros anos de vida; reflexo da mudança de qualidade de vida promovida pelo enriquecimento econômico das famílias.
Esta sensibilidade estaria voltada para as questões de vergonha e controle dos impulsos. Segundo ELIAS (1994): As funções do corpo, a etiqueta à mesa, o comportamento sexual e o modo do discurso polido foram mudando, gradualmente influenciados pelas noções de nojo e vergonha, desenvolvendo todo um sistema de etiqueta que controla o homem, inclusive separando os mundos, adulto e infantil, depois da Idade Média. Uma historia dos costumes. Trad. Ruy Jungmann. V. Jorge Zahar Ed. A educação era algo destinado muito mais aos abastados que aos de origem comum, sendo que aos primeiros se lhes ensinava a apreciação da cultura e da arte enquanto que aos outros o ofício de uma profissão. Esse ofício era aprendido no meio dos homens, no contato com o mundo adulto, a idéia de separar a criança, para educá-la não se constituía ou era iniciada somente entre os mais ricos.
Neste período, educar as crianças, principalmente os príncipes era, sem dúvida, uma forma de garantir que o futuro fosse bem governado e que a prosperidade econômica, com as benesses da boa vida proporcionada por ela, fossem garantidas nas próximas gerações e que a riqueza da família não fosse esbanjada por um herdeiro néscio e mal educado. A partir do século 8 inicia-se com os francos, as batalhas que tinham até então combatido à pé, adotarem cada vez mais a cavalaria pesada. “Sendo a guerra montada muito dispendiosa, especializada e exclusiva, a elite militar converteu-se numa elite social e ancestral de uma nova nobreza feudal. Erasmo. Nesta segunda parte elaboramos uma análise dos tópicos mais importantes da pedagogia erasmiana presentes no De Pueris.
Para isso agrupamos as considerações de nossa leitura em cinco tópicos classificados por temas abordados ao longo da obra. Num primeiro momento analisamos a idéia erasmiana de natureza humana, quando o autor diz que esta é a característica que dá ao homem a capacidade de aprender, o que faz com que nos aproximemos da racionalidade e nos afasta dos animais que agem por instinto. O homem tende para o bem e afasta-se do mal graças à racionalidade estimulada pela educação. Os indivíduos são arrebatados com tal veemência, para tais áreas do saber que argumento algum os demove de lá. De outro lado, em face de estudos indesejáveis, eles se irritam ao extremo e preferem ser lançados na fogueira a aplicar o espírito em disciplina que se lhe antolha odiosa.
Esta capacidade de adquirir conhecimento está relacionada com uma característica própria da infância que é a imitação. Imitar é uma via de mão dupla, pois pode encaminhar o homem para o que é bom, assim como levá-lo para o mal. Tudo dependerá das boas ou más companhias, das pessoas de índole boa ou não com quem a criança conviverá. É determinante então, para o bom andamento da formação educacional, a busca por boas companhias e bons professores. Com a tendência para a imitação, se bem conduzido o homem será encaminhado para o bem. Há no homem uma facilidade em praticar o mal, mas, convive também em nossa natureza a razão, que nos aproxima da virtude. Não há nada melhor para o homem que viver segundo a virtude dado o fato de ser provido de razão.
A razão faz com que se incline a praticar o bem em detrimento do mal. Defende que nossa capacidade de razão, associada ao gosto infantil pela imitação, nos levará a “aborrecermos” a estupidez e “apetecermos” pela virtude. A única razão para se argumentar do “desregramento infantil” é que estas pessoas, que dizem que a criança não se sente atraída pela honestidade por uma “propensão”, ignoram que o tempo e o esforço são elementos importantes na educação e devem ser exercidos pelos pais e educadores, sob pena de não se obter sucesso na formação das crianças. É muito mais difícil ensinar a honestidade, quando já se aprendeu a ser desonesto e a únicas referencias para imitação sejam, a estupidez e o desregramento.
o homem nasce para o bom senso e para as ações honestas. o homem capta sem grande esforço, os parâmetros da virtude e da honestidade. Não admira, então, ter a Divina Providencia entregue ao único ser racional, dentre os viventes, a maior parcela de sua natureza à educação. Antes o autor havia chamado o pai para uma reflexão sobre a importância de atender ao apelo da natureza, com relação aos cuidados e desvelo, na questão da educação de seu filho. Erasmo (2008) diz, então: Basta ver. Quanta força na natureza, quanto devotamento, quantas leis divinas e instituições humanas a compelirem os pais para os deveres em face dos filhos que, de certo modo, fazem-nos vencer a mortalidade, tornando-os imortais.
É da natureza humana a fala e com ela a potencialidade para ensinar e aprender, objetivos que serão atingidos, haja vista a tendência para a imitação e racionalidade para a virtude. É bem em razão disso que aos demais viventes a natureza confere agilidade, aptidão para voar, olhos aguçados, corpulência e vigor físico, escama, pêlo, cabelo, couro, chifre, garra e veneno, mediante os quais eles defendem a própria incolumidade bem como ficam aptos a proverem-se de alimentos e nutrirem os filhotes. Em contraposição, ela gera o ser humano flácido, nú e indefeso. Ao invés de todas aquelas propriedades, dota-o de mente capaz de aprender, incluindo tudo nesse arsenal, posto que seja exercitado. O homem tem, por natureza, as características que o fazem buscar o aprendizado para assim garantir a sobrevivência e possibilitar a perpetuação da vida.
A racionalidade da espécie humana está naturalmente ligada à capacidade de ensinar e aprender e, estas são as características que nos diferenciam dos animais que, por sua vez não aprendem, agem por instinto ou à força de muito treinamento. ERASMO; 2008:37. Não usar estas potencialidades seria negar a razão e chamaríamos esse ser não de “ente humano e, sim, um monstro”. “A natureza [. não lhe outorga nada além de uma massa informe. Cabe a ti o dever de moldar até a perfeição, em todos os detalhes, aquela matéria flexível e maleável. Mas que estes educadores são gente do povo, pessoas que sejam formadas para a melhor educação. O que ele chama de “autoridade profana” ou ainda, os “próceres eclesiásticos”, provavelmente se referindo aos membros da Igreja que se dedicavam à educação.
Segundo Erasmo, estes são preparados na gramática e na retórica, com conhecimento do grego e do latim devido a sua formação eclesiástica ou administrativa. Quanto à formação dos professores acrescenta Erasmo (2008) que: Tal como se preparam indivíduos para lutar em linha de combate e os que cantam nos templos, assim, com maior dedicação, dever-se-ia preparar aqueles que vão formar os filhos dos cidadãos na linha da retidão e da liberdade. Vespasiano destinava, anualmente, de seus vencimentos, cem escudos aos professores latinos e gregos de oratória. Para contrapor a essa educação de rigores pouco parcimoniosos o autor quer a atenção do pai para o fato de que é muito melhor a “benevolência, moderação e prudência”72. Imperioso mesmo é não existir escola ou apenas haver escola pública.
Este último sistema se revela mais adequado ao atendimento coletivo. Bem mais cômodo sujeitar muitos pela disciplina sob o comando de um único preceptor do que levar a termo uma educação personalizada. Nem por isso está em questão tanger manadas de asnos ou de bois e, sim, educar, liberalmente, seres livres. ERASMO, 2008:85. O historiador Ariès (1990), falando da educação dos filhos da burguesia na região da Toscana, no início do Renascimento, diz que: “A inteligência se forma em casa, assim como a sensibilidade; a educação do corpo e a do espírito são em primeiro lugar assunto privado; a escola vem em seguida, sob todos os aspectos, qualquer que seja a sua importância. A primeira formação começa desde a mamadeira (ou antes desde o seio); e a ama-de-leite é a primeira a encarregar-se dela.
Atenção para escolhê-la bem [pois] tarefas capitais a esperam: dar seu leite, por certo, mas cantar para adormecer a O autor defende a escola pública por uma questão de justiça social, por acreditar que aqueles menos bafejados pela fortuna também teriam acesso à educação, já que o professor poderia ser mais bem aproveitado, se ao invés de dedicar-se à educação de um único aluno, pudesse fazê-lo por um grupo maior de educandos. É neste sentido que mais adiante vai abordar novamente a questão. Em primeiro lugar a mãe, como o desejam Alberti, Francesco Bárbaro* e outros moralistas (“O cuidado das crianças de tenra idade cabe às mulheres, amas de leite, mãe”, Alberti), a qual sem tardar se juntará o pai, o primeiro responsável – aos olhos dos moralistas – pela formação moral e intelectual do filho.
Com a educação, a instrução com efeito, deve começar, precocemente, esse é um desejo muito difundido do qual, entre outros, Palmieri se faz o propagador” ARIÈS. P. Historia da Vida Privada. p. Erasmo demonstra sua preocupação com a formação erudita ao comparar sua época com outros tempos quando, de acordo com sua opinião, era mais fácil educar. Em outras palavras, as condições de ensino eram menos complicadas, pois a língua era a mesma entre os produtores de literatura e a multidão de ignaros. A diferença era que os eruditos falavam de modo mais correto e elegante, com pertinência de conteúdo. Podemos perceber que há uma grande preocupação com a língua e a erudição daqueles que ensinam.
Erasmo recomenda que se aprenda, antes de tudo, os princípios morais e, depois, o latim e o grego, as “duas línguas básicas para a literatura”. ERASMO; 2008: 46. É na ‘facilitas imitandi’, isto é, na facilidade de imitar, que ERASMO fundamenta grande parte de seu método educacional. Segundo o tradutor, ERASMO fundamenta a sua pedagogia na idéia de que a criança imita o comportamento dos adultos; então, cercando-se de pessoas de boa índole a criança aprenderá a comportar-se de maneira correta. O estorninho é um pássaro da família No primeiro capítulo, quando fala ao pai da facilidade que a criança tem de aprender desde os primeiros anos de idade, o autor lembra essa capacidade de imitar. A imitação influencia tanto na educação da criança que se ela fosse educada entre indivíduos “gagos ou coxos”, teria seu corpo “afetado por força da imitação”, recomenda, então, que para se evitar os “defeitos da mente”, se evitem as conversações perversas, que “corrompem os bons costumes”.
Muito parecido com o Melro, porém de cauda mais curta e bico de uma cor amarela menos intensa. É de comportamento gregário e voa em bandos compactos e numerosos em evoluções interessantes mudando rapidamente de direção. É considerada uma ave muito inteligente que se movimenta muito rapidamente em terrenos abertos à procura de alimento. ERASMO; 2008: 48. O primeiro capítulo do De Pueris trata da questão da educação infantil desde o momento em que a criança está sendo amamentada e, apesar da natureza colaborar para a aprendizagem, os pais devem estar atentos para a formação moral na preservação dos bons costumes e da boa índole, evitando as más companhias e garantindo que o preceptor seja homem de bons modos e de boa moral. Sugere que o professor, ao ensinar assuntos sérios, como a alfabetização do grego e do latim, se utilize de uma linguagem enriquecida com figuras imaginárias e fantásticas, por exemplo, leões, elefantes e dragões se enfrentam em batalhas e lutas fabulosas.
Para ensinar os nomes destes animais naquelas línguas e assim a educação surtir o efeito agradável é preciso que a imaginação infantil seja atendida. Tal como seria descabido procurar uvas maduras durante a primavera ou rosas no outono, assim incumbe ao preceptor atentar para o que convém a cada idade. À criança se ofertam sempre coisas alegres e amenas. Nada obsta que o útil circunde o agradável e que o jucundo acompanhe o honesto. Depois de falar ao pai sobre a importância de seu papel na educação do filho, depois de lembrar que a educação deve iniciar o mais cedo possível, aborda a questão de como as crianças devem ser tratadas pelos professores, quando aos seus cuidados, reprovando aqueles adultos que submetem os pequenos, a castigos físicos.
ERASMO; 2008:124. ERASMO; 2008: 110-111. ERASMO; 2008:108. Na obra épica Odisséia, o poeta Homero narra a aventura de Ulísses, também conhecido como Odisseu. Dir-se-ia que, ali, não existe escola e, sim, ergástulo. Apenas se ouvem o crepitar das palmatórias, o estrépito das varas, as lamentações e os soluços em meio à balbúrdia de ameaças ferozes. A crueldade no tratamento das crianças nestas escolas causa revolta ao autor. Ele próprio, tendo sido vítima de castigos, lembra com desgosto: O preceptor, para quem eu era preferido dentre os demais porque alimentava sei lá que sonhos de grandeza a meu respeito, mantinha-me sob vigilância cerrada. Por fim, resolveu testar minha capacidade para aturar castigo. C) Dramaturgo e poeta romano. A ele é atribuída a frase: “Nada do que é humano me é estranho”.
O poeta cômico chamado de velho cômico por Erasmo é uma referência à Micião, personagem do Menecmi de Terêncio. Micião e Deméia são irmãos gêmeos que se dedicam à educação das crianças. Deméia é severo triste e áspero e se dedica a educar seu filho Ctesifonte com todo o rigor de uma educação severa enquanto que Micião educa seu sobrinho Ésquines, filho primogênito de Deméia, com toda a liberalidade. Egrégio príncipe! Pondera comigo, a esta altura, quantos excelentes educandos postos à perdição por tais algozes brutais, muito embora todos eles, enfatuados de pseudo habilitação, mal humorados, dados à bebida, cruéis, violentos por profissão e de temperamento a tal modo agressivo que se comprazem na tortura alheia.
Enfim, indivíduos que deveriam ser antes carniceiros ou algozes. Jamais educadores de crianças! Ninguém flagela de maneira mais cruel a criança do que o professor que nada tem a ensinar. Que outra coisa sabem fazer no magistério tais indivíduos senão matar o tempo com cenas de espancamento e vociferação. Podemos perceber que a perda da parcela da vida destinada ao conhecimento e desenvolvimento é atribuída aos profissionais que não estão preparados para educar e sim para exercer a forma degenerada de educação. Depois de narrar uma experiência pessoal, quando foi obrigado a assistir a uma seção de tortura e castigo, onde depois da refeição as crianças foram submetidas a castigos físicos, Erasmo nos chama a atenção para a sua reprovação da utilização da violência para controle na escola.
ERASMO; 2008:87. ERASMO, 2008:125-126. Quem jamais corrigiria um servo de modo igual a esse ou um asno? Cavalo de raça doma-se com assobios e carícias e não com látego e espora. Se o molestam em demasia, torna-se arredio, coiceiro, mordente e dá de andar a ré. O servo de temperamento flexível corrige-se mais rápido com advertências, com o senso de vergonha e de responsabilidade do que à chibata. Ter domínio sobre os servos depende menos da fortuna e mais do jeito. Se os patrões de alma generoso empenham-se em levar os servos a serem prestativos, mas de modo menos servil, preferindo tê-los como libertos, que absurdo, então, isso de tornar servo na educação a quem a natureza dotou de liberdade?98 O patrão que maltrata o empregado corre sério risco de ser agredido por aquele, pode ter o prejuízo de ver o servo fugir, e pior, pode ser que este último esteja a “maquinar” a morte de seu senhor ou mesmo suicidar-se para vingar-se dos maus-tratos.
ERASMO, 2008:88. ERASMO, 2008:87. Lembra que o cristianismo prega que o Deus do patrão é o mesmo do servo e que o princípio do humanismo cristão deseja o fim da servidão. Porém, “Nos ainda queremos para os filhos bem o açoite! Enfim, aquilo que bem apenas os capitães de naus e os piratas usam contra seus remadores”. Neste sentido os filhos não devem ser açoitados como servos e as admoestações e repreensões devem ser expurgadas de qualquer tom de severidade e amargura100. A proposta pedagógica erasmiana está de acordo com os princípios da educação humanista cristã. A tradição cristã é baseada na educação do amor onde o servo não é tratado como escravo e sim como irmão. Indivíduos que lesam a saúde das crianças com a sevícia da chibata, debilitando-as e até matando! Para seviciar, só as correias já não bastam mais.
Batem com o cabo e desferem bofetadas e socos contra os pequenos. Agarram mesmo qualquer objeto ao alcance das mãos e arremetem-no contra eles. tratos tão execrandos que apenas podem ser atribuídos a um Mecênio ou a um Falaris. O professor que maltrata é descrito como tendo “olhos de serpente, boca cerrada e rugosa, voz estridente como alma penada, face lívida e cabeça em transtorno”, é comparado a um Tisifão, personagem da mitologia encarregado dos mais severos castigos contra aqueles que são recebidos no inferno. o espantoso Mecênio brandia em uma mão sua enorme lança etrusca e na outra uma flamejante tocha. ”(nossa tradução)Virgilio. La Eneida. tradução para o espanhol:Eugenio de Ochoa. Ed. Após introduzir a vítima pela abertura lateral o dispositivo era fechado.
A esfinge era então colocada sobre uma fogueira e enquanto o fogo era aumentado o ar no interior diminuía o que fazia com que o torturado procurasse meios para respirar dirigindo a boca para o que era a cabeça da estátua. Os gritos do executado saiam da boca da esfinge parecendo que o touro de bronze estava vivo. O próprio Falaris foi executado em sua máquina de matar, depois de uma rebelião contra as atrocidades do tirano. Luciano de Samósata. Os jovens iniciantes nas escolas públicas são obrigados a desnudarem-se e se submeterem a humilhações, como se fosse normal humilhar alguém publicamente para que seja aceito no grupo daqueles que supostamente detêm mais conhecimento, mas que se comportam como animais.
Os iniciantes, ao ingressarem em escolas públicas, são coagidos a despirem-se da beca, termo bárbaro para um costume não menos rebarbativo. O jovem inexperiente é mandado para o estudo das artes liberais, mas, ao invés, a quantos ultrajes deprimentes para a sua dignidade de ente livre vai ser submetido. Depois de descrever as brutalidades às quais são submetidos os jovens que iniciam nas artes liberais, o autor denuncia que estas selvagerias somente acontecem com a conivência das autoridades e dos professores. O que mais constrange é constatar a aprovação por parte dos responsáveis pela juventude. O que podemos observar é que por ser uma prática violenta não deveria ser aceita e muito menos tolerada. A humilhação do mais fraco é uma prática que não deve ser aceita.
ERASMO; 2008: 96. ERASMO; 2008: 95. ERASMO; 2008: 96-97. A educação erasmiana recomenda que se devam substituir os castigos pelo trabalho duro dos estudos e no amor às letras, o horror às torpezas e à ignorância, e isso se faz de duas formas: com a vergonha e o louvor. Vergonha é o receio da censura justa. Louvor é o pábulo de todas as artes. Estes dois excitantes hão de avivar o espírito da criança. Vigiemos, encareçamos, insistamos, exigindo, reiterando e inculcando. Sua utilização pedagógica foi defendida por Cipriano de Cartago (200-258) e canonizado pelo Concilio de Nicéia (325), que entre outras recomendações proibiu a genuflexão aos domingos (can. No Eclesiástico, livro não recomendado pelos reformados e abolido da Bíblia de M. Lutero, quando aborda a questão da educação dos filhos, diz: “aquele que ama o seu filho, castiga-o com freqüência, para que se alegre com isso mais tarde”.
Eclesiástico. “Encurva-lhe a cerviz na mocidade, e bate-lhe nas ilhargas enquanto é menino, para que não suceda endurecer-se e não te obedeça, e venha a ser a dor da tua alma”. Assim, como antes havia falado em remédio que deve ser aplicado com critérios, agora volta a admitir a necessidade de algum rigor na educação, aceitando o uso do castigo como alternativa parcimoniosa, quando usado com cuidado e sensatez. Se não se lograr êxito algum com admoestação, suplica, emulação, apelos ao louvor e a vergonha, nem por outros meios mais, o caso então justificaria, por derradeiro, o uso de varas, mas é imperioso agir de modo civilizado e decoroso. Nunca desnudar o corpo da criança inocente, máxime ante os olhares de muitos.
Isso toca as raias da contumélia. O castigo físico é reprovado, mas adota-se uma exceção para os casos mais graves de desobediência, onde são ressaltadas as falências de recursos pedagógicos indicados. foi traído pelo educador que deveria amá-lo. Este sentimento, acrescido ao efeito somático de que fala o autor, relacionando o fato de ter adoecido por culpa dos castigos, demonstra sua aversão a este tipo de técnica pedagógica e a reprovar o profissional que se utiliza do castigo como elemento educacional. O autor demonstra completa indignação com relação ao uso do castigo para a disciplina deixando claro que o medo de punição não é o instrumento indicado para a educação. São técnicas, todavia utilizadas em nossas escolas, senão com aqueles castigos físicos horripilantes, mesmo em menor escala, continuam desafiando nossa racionalidade e provocando os prejuízos que comprometem a qualidade de vida em sociedade.
Ainda contra os castigos aplicados como metodologia educacional o autor deixa claro sua opinião contraria ao dizer que “essa enormidade transmuta a índole mais dócil em rebeldia e reduz os desanimados ao desespero. Critica os pais, que preferem buscar riquezas e acumular bens ao invés de dar a devida atenção aos seus pequenos rebentos, que na verdade serão os herdeiros dessas riquezas. O que Erasmo está dizendo é que estes filhos que crescem sem o apoio da educação que lhes daria uma formação sólida, porão a perder toda a riqueza que os pais, com esforço, ajuntaram, mas que, por falta de justeza de raciocínio e julgamento, não investiram na educação dos filhos. Os pais, segundo o autor, se dedicam a muitos cuidados, como buscar saber o sexo do filho “assim que o ventre da mãe intumesce” buscam o astrólogo, querem saber do seu destino, preocupam-se com a criança e sua educação desde antes do nascimento porém, não dedicam o devido cuidado à formação intelectual do filho.
Querem que o filho seja “um capitão de tropas” ou um “magistrado”, mas não se atentam “para fazer dele um militar ou um magistrado dotado de competência para gerir coisas públicas” (Erasmo; 2008:35. Segundo Erasmo (2008:35), os pais “movem céus e terras para tornar o filho bispo ou abade, porém não levantam uma palha sequer afim de que o mesmo esteja à altura daquelas funções”,ou seja, que os pais querem que os filhos tenham um futuro brilhante e respeitável porém não sabem ou não se esforçam por educá-los, prepará-lo para esse futuro, e conclui, à guisa de explicação que, os pais, quanto ao seu filho, colocam-no na direção do carro, sem ensinar o manejo do mesmo ou ainda, entregam-lhe o timão sem cuidar que aprenda o necessário para ser timoneiro habilidoso.
Acusa o autor, inclusive de preocuparem-se, os pais, mais com a educação dos escravos que, adquiridos como “uma lasca de pedra tosca e vil”, descobrem-lhe uma utilidade, ensinam-lhe uma função e, conclui que, quanto ao filho “ao contrário, como se o único nascido para a ociosidade [. o relegas para as traças”. Dizem estes pais, segundo Erasmo, “para que filosofia? Eles já estão bafejados pela fortuna!” e, então, acrescenta que, “a verdade é bem outra. Quanto mais locupletados tanto maior a necessidade de valerem-se dos préstimos da filosofia” e justifica então que, “quanto maior o navio e mais carga transporta tanto mais urge a presença de piloto experimentado”. Fica evidente que Erasmo fala a uma aristocracia que possuía recursos disponíveis para investir em uma educação sofisticada, mas que mesmo assim não o fazia por não ver a importância que tal processo educativo já despertava inclusive em outras camadas sociais.
foi importante filósofo grego do período greco-romano que estudou Platão, os estóicos e os epicuristas tendo desenvolvido uma ética baseada na idéia de que para se alcançar a felicidade é necessário aprender a controlar os impulsos e desejos. Elabora uma moral comparando a inteligência dos animais à dos humanos. Sua principal obra é Vita Alexandri. obrigação dos pais, para serem genitores por completo estes devem dedicar tempo e esforço para a educação dos filhos. São apresentados exemplos da natureza para substanciar seus argumentos: “árvores crescem ao sabor da natureza improdutivas ou dando frutos silvestres”, ou seja, que o homem não pode ser como essas árvores que ao sabor do vento produzem ou não, e ninguém espera nada delas. ERASMO; 2008: 37.
ERASMO; 2008: 37. ERASMO; 2008: 38. a. C). Nenhum animal é tão ferino e nocivo quanto o homem, quando arrastado por ímpetos de ambição, de cupidez, de ira, de inveja, de luxuria e de lascívia. Razão porque quem não se antecipa para iniciar o filho na espera de preceitos sadios não se tenha a si mesmo na conta de ser humano nem de filho de homem algum. A instrução dada ao filho de forma precoce ou antecipada, garantirá sua capacidade para o controle dos impulsos animalescos e permitirá que viva isento dos malévolos “ímpetos” que poderão comprometer a sua presença em sociedade. Os parâmetros morais dão conta de que não é saudável ao homem sentir aqueles impulsos apontados pelo autor como inaceitáveis.
E mais que isso, imputa o autor aos pais que negligenciam e que não educam desde cedo os filhos na educação sadia o desagradável lugar de não pertencer à classe dos humanos. A educação das crianças é uma obrigação dos pais a ser tomado o mais cedo possível. Além de ser uma obrigação perante a natureza e a sociedade é dever dos pais o trabalho de dedicarem-se à educação dos filhos, pois esta é também uma obrigação cristã e uma “missão da parte de Deus e da natureza” já que com o filho bem educado ou “retamente educado desde a tenra idade” os pais terão conforto e glória com essa educação. É claro que o autor está se dirigindo aos pais cristãos e que acreditam na obrigação natural da lei divina, ou que a lei de Deus está expressa na natureza humana.
Ser pai é ser responsável pelo filho gerado, coisa que não é tarefa simples como reconhece Erasmo, ao comentar que, uma tarefa “empenhativa essa de educar a contento os filhos” e continua dizendo que “ninguém nasce para si mesmo como ninguém nasce para a ociosidade” numa clara evidencia de sua opinião de que ser pai é uma missão cristã. Há ainda as obrigações perante a pátria. educação dos pequenos”, ou seja, que não é de pouco tamanho nem por acaso que estas pessoas dão prejuízo. A forma descuidada com que os pais criam os filhos é a atitude responsável pela formação de indivíduos corrompidos no futuro, pergunta o filosofo neste sentido “como irá depois detestar a bebedeira se, agora, aprende a embriagar-se?” e explica que este adulto desregrado que prejudica a sociedade no presente um dia foi criança que não teve a atenção devida na formação de sua personalidade e, ao contrário de serem educadas, foram instruídas na má-educação.
Continua Erasmo a reprovar a ação de tais pais dizendo: Como virá a ser pudico na juventude, se, na infância, foi habituado com a impudicícia? Como virá a ser dadivoso, mais tarde, se, agora, aprende o apego ao dinheiro e ao ouro? Quem logra conter um jovem em face do luxo, se teve o paladar corrompido antes mesmo de tomar gosto pela moralidade?135 Ou seja, os pais que atendem a todos os caprichos dos filhos estão prestando um desserviço à educação das crianças já que estas aprenderão a “comprazer-se consigo mesma” e “caso seja contrariada, reivindica com ira” e, conclui o autor, “como irá depois detestar a bebedeira se, agora, aprende a embriagar-se?”. A metáfora da comparação da agricultura e a educação também se fazem presente.
Se o lavrador cuida da lavoura, cuida do campo, cultiva a semente esperando a colheita para que dos frutos retire sua riqueza não faz sentido ao pensador humanista, que não se dispense cuidados iguais ao seu filho, que é o seu bem maior e que, além disso, como dissera antes, a este se destina todo o fruto do trabalho. “expor-se à prova e tentar sucesso, exclusivamente, mediante a experiência equivale a correr riscos”. Erasmo não despreza o aprendizado adquirido somente pela experiência, porém chama a atenção para o alto custo, “preço elevado”, para “quem discerne o certo pelo desacerto”. Pergunta Erasmo, se o pai que desejasse ter um filho médico ao invés de educá- lo nos manuais dos médicos iria preferir que esse aprendizado fosse adquirido pela prática da força venenosa ou curativa dos elementos.
Pergunta se acaso há algum timoneiro que aprendeu a navegação somente pela experiência adquirida de enfrentar naufrágios ou mesmo do príncipe que “aprendesse a reger por meio de guerras crebas e tumultos nefastos”, neste sentido, afirma então que “a prudência, tão encontradiça, mas dispendiosa de apenas aprender a custo de fracasso, é coisa de mentecapto”. A razão atua sobre a experiência quando aponta para o fato de que “a razão alerta, de modo sucinto, para o que deve ser feito ou evitado”. ” Feracine, L. Nota à p. ERASMO; 2008: 54. ERASMO; 2008: 55. fará do homem um apaixonado pela aprendizagem da sabedoria. Desde então devem principiar o atendimento educacional e não ficar esperando pelo décimo, ou como muitos fazem, o décimo sétimo ano de vida.
Este aconselhamento aos que deixam para depois a educação do filho, faz parte de quatro recomendações: em primeiro lugar, o pai saiba escolher “uma esposa honesta, 142 ERASMO; 2008: 53-54. “Resta uma dúvida, costumeiramente, avançada por quem assevera que o aproveitamento conquistado pela criança no decurso daqueles três ou quatro anos fica abaixo, seja do trabalho absorvido pelo ensino, seja dos gastos despendidos. Vamos supor que o aproveitamento seja mesmo parco. Mesmo assim, vale mais ocupar-se disso a criança do que nada aprender ou aprender o que deverá ser desaprendido. A educação das crianças deve ser acompanhada de perto pelos pais, desde a escolha do preceptor, e recomenda então que: [. não decresça, pois, a atenção dos pais durante aquela fase [ a da escolha do preceptor ].
Tenham sob os olhos tanto o preceptor como o filho. Nenhuma justificativa desobriga de tal preocupação. Vigiem tanto o preceptor como o filho. Aqui verificamos a divisão da responsabilidade da educação do filho que para o educador tanto a mãe quanto o pai devem participar de forma atuante e presente. ERASMO; 2008:60-63. Erasmo diz que estes pais “esbanjam de roldão, com banquetes faustosos; passam noites e dias no funesto jogo de dados, investem em caçadas e divertimentos” e quando se trata da educação do filho, “primam pelo regateio e pela sovinice”. Ou seja, pagam pouco ao professor e reclamam de que esse pouco vai lhe dar ínfimo retorno. Tratam a educação do filho como algo de segunda classe e desvalorizam o papel do educador.
Quanto à crítica do ensino da filosofia para as crianças Erasmo concorda que: 149 Os cavalos estão presentes em vários momentos das comparações que Erasmo faz quando quer convencer os pais de que é importante investir na educação dos filhos. Diz ele que: “Adoece um cavalo. É de se ver se vais chamar um veterinário qualquer só por recomendação de amigos em vez de pegar o perito na arte de curar. Será que seu filho vale menos do que cavalo? Serias tu que vales menos do que o cavalo? Se isso configura torpeza em gente sem expressão financeira, que pensar então de magnatas?” O cavalo e seu alto valor é um exemplo constante na pedagogia erasmiana. O homem tem de valer mais que um cavalo. a criança não está ainda em condições de receber comentários em torno dos Ofícios de Cícero ou da Ética de Aristóteles, nem a respeito das Obras de Moral da Sêneca e de Plutarco.
Isso não obsta que, quando apresenta comportamento inconveniente à mesa, deva ser advertida e, em seguida, ser indicada qual atitude correta. Fica claro então que a educação da criança deve ser administrada conforme a sua capacidade de aprendizagem Acrescenta ainda que a tenra idade seja “receptiva, [. maleável para todo tipo de bom comportamento” sendo que a criança “se afeiçoa com os hábitos corretos”. E neste sentido diz que “o agricultor atilado arruma a plantinha conforme o modelo que almeja para a árvore de porte”. Porém o que é mais importante é que Erasmo explica que “[. nenhuma autoridade vale tanto a ponto de impedir a adoção daquilo que é melhor só porque proposto por algum desconhecido” e que a preocupação com a idade ideal para início da aprendizagem, não está no fato da criança ser incapaz de aprender e sim na questão de se ensinar por uma erudição vazia, sem sentido que não esteja a serviço da virtude.
Ouvir, repetir e reproduzir era a metodologia usada pela escolástica que consistia em uma pedagogia vazia e puramente erudita. Quintiliano, Inst. Orat. Fica clara então a importância da participação dos pais na educação dos filhos e de como esta é fundamental também para o aprendizado futuro. A recomendação de que os pais ou a família participem da educação dos pequenos está colocada no sentido de que são uma forma de se manter seguro os princípios morais da família assim como as características tradicionais ligadas às suas origens. Ao afirmar que a participação dos pais é fundamental na educação dos filhos, Erasmo acrescenta que “ama pouco o filho quem se deixa tomar pela preguiça em instruí-lo”, então lembramos que para o autor a educação é uma questão de amor.
Se não, vejamos quando diz de como devem ser educadas as crianças, ao chamar a atenção para o fato de que “o primeiro grau da aprendizagem consiste no amor ao professor” com isso o relacionamento pedagógico assume uma carga de afetividade que aproxima o professor do aluno, não sobrando espaço para o castigo. Assim como a criança ama ganhar presentes por serem estes dados por quem as amam, amará também a educação recebida se amar, ou admirar, o professor. No entanto é necessário ir mais além do simples cuidado com as boas maneiras e da necessidade de mecanização dos hábitos para se chegar à educação propriamente dita. ERASMO é um prodigioso conselheiro pedagógico. Apela sem parar pela razão da criança e à utilização dos exercícios da repetição.
Deseja que a criança seja instruída e formada nas letras humanas e afirma que o homem não nasce homem, ele se faz homem”. HALKIN, Leon-E. Erasmo conclui seu opúsculo defendendo a idéia de que a criança deve ser educada desde a mais tenra idade e que esse processo é parte da paternidade já que economizar em educação é desprezar a função mesma da paternidade. CONCLUSÃO Minha grande fonte de desconforto, neste tempo de provação, era meu filho, em quem seu pai e os amigos dele tinham prazer em incubar todos os embriões de vícios que uma pequena criança pode mostrar e instruir todos os maus hábitos que ele poderia adquirir – em uma palavra; ‘fazê-lo um amigo dele’ era uma de suas rotineiras diversões; e não preciso dizer mais nada para justificar meu alarme sobre isso e minha determinação em livrá-lo de qualquer dano das mãos de tais instrutores.
Anne Bronte. A moradora de Wildfell Hall. A principal idéia defendida por Erasmo no De Pueris é a necessidade de se educar as crianças desde os seus primeiros anos de vida. A moradora de Wildfell Hall. Trad. Marcella Furtado. Ed. Landmark. Porém se entregue ao desprezo e ao abandono aprenderá somente aquilo que se deverá desaprender depois às duras penas. O castigo físico é combatido por Erasmo veementemente. Entre os cristãos não pode ser aceita esta prática já que até as leis humanas permitem processos contra aqueles que promovem crueldades. O pior tipo de castigo é o flagelo que causa o professor que nada tem a ensinar. Este tipo de professor acredita realmente que a crueldade é o único modo de reprimir a rebeldia e domar o “desbragamento” da juventude.
ERASMO; 2008: 87-88. “Há quem pense que justamente a tal categoria de gente deve ser confiada a educação infantil. É que confundem semblante sombrio com santidade. Ora, não é seguro fiar-se apenas nos traços da fisionomia. Atrás daquela fachada pode aninhar-se uma chusma de vícios perversos. De Pueris (Dos Meninos). Tradução, Introdução e Notas: Luiz Feracine. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal. Vol. Ed. História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Trad. Priscila Viana de Siqueira. Ediouro. Rio de Janeiro. Ed. Landmark. São Paulo. BEAUDUIN, Édouard. Memórias de Erasmo. Giotto. IN: Duby,Geoges. org. Idade Média. História artística da Europa. História da Pedagogia. Ed. Unesp. São Paulo. COLLINS, Michael; PRICE, Matthew A. Edileine Vieira Machado.
Martins Fontes. São Paulo. DURANT, Will. A Reforma: história da civilização européia de Wyclif a Calvino: 1300-1564. Teoria, organização e práticas educacionais. ª Ed. Ed. Globo. Porto Alegre. Tese de doutorado. Instituto de Cultura Portuguesa. Faculdade de Letras. Universidade do porto. Porto. Editorial Critica. Barcelona 1984. HALKIN, Leon-E. ERASMO. Trad. W. JANSON, Antony F. Iniciação à historia da arte. Tradução de Jéfferson Luiz Camargo. Ed. No. São Paulo. LINS, Ivan. Erasmo, a Renascença e o Humanismo. Ed. Trad. Andréa Doré. Edusc-Editora. Universidade do Sagrado Coração. Bauru. Ed. Nacional. São Paulo. NUNES, Ruy Afonso da Costa. Historia da educação no século XVII. A medicina no tempo: notas de história da medicina. Melhoramentos. São Paulo. PASQUAL, Antoni et al História geral da arte.
Dicionário Biográfico de artistas. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em História Social da cultura. Departamento de História. PUC Rio. Rio de Janeiro. ª Ed. Elsevier Editora. Rio de Janeiro. RONCIERE, Charles de la. A vida privada dos notáveis toscanos no limiar da renascença. Trad. Roberto Leal Ferreira. Liv. I. Ed. TENENTI, Alberto. Florença na época dos Médici: da Cidade ao Estado. Tradução de Sinval Freitas Medina. Col. Kronos. VIRGILIO. La Eneida. Tradução para o espanhol: Eugenio de Ochoa. ª ed. Ed. Para Domenico di Bandino2, a luz se apaga no Ocidente com Alano de Lilla3 no seu Anticlaudianus para ser mais 1 A idéia de que a Idade Média foi um período de trevas e de menor importância não é unanimidade entre os historiadores.
Segundo HAUSER, por exemplo: “. o surgimento da cavalaria aristocrática, a par da mudança da economia natural para a economia monetária urbana, o despertar da sensibilidade lírica e a ascensão do naturalismo gótico, a emancipação da burguesia e o começo do capitalismo moderno - são mais importantes para explicar a moderna concepção de vida do que todas as realizações espirituais da Renascença”. HAUSER, Arnold. Historia social da arte e da literatura. Espasa-Calpe. Tomo VII. Madrid. p. Alano di Lilla (ou Alanus Montepessulano)-Alain de Lille-(1128-1202). Dante Alighieri (265-1321). Poeta italiano, nascido em Florença e morto em Ravena. Pertenceu a ilustre família da grande burguesia, tendo ficado órfão de mãe muito cedo. Durante o período em que viveu no exílio, 1306 a 1308, compôs seus dois grandes tratados, O Banquete e De Vulgari eloquentia, e possivelmente já escrevendo a Commédia (que só futuramente seria conhecida como Divina).
Morreu vítima de malária. Também chamado Leonardo Aretino, humanista italiano autor de Historia Florentina. Foi chanceler em Florença e é considerado o primeiro historiador da modernidade. Foi autor do De Studiis et Litteris, um tratado de educação dedicado a Battista di Montefeltro (1384-1447), humanista importante, famosa no Renascimento e esposa de Galeazzo Malatesta. Neste tratado estabelece que buscar pela educação é tarefa digna de homens e mulheres. Matteo Palmieri. Combateu o arianismo e com isso cai em desgraça diante do rei Teodorico, O Grande que o acusa de traição. Mesmo sem um julgamento, Boécio é preso, torturado e condenado a morte. Sua obra (Consolação da Filosofia) De consolatione philosophiae é um texto neo-platônico onde afirma que a busca pela sabedoria e o amor de Deus é a única felicidade do homem.
Nossa tradução. No texto em espanhol podemos ler: “por extraño que parezca, (. Editorial Critica. Barcelona. p. Ao contrário do homem comum da Idade Média, que levava uma vida dura de privações com a morte o espreitando ao seu lado, uma vida que o obrigava a pensar na possibilidade da existência de um paraíso, onde tivesse os prazeres dos quais era privado e na invenção de um inferno, como lugar adequado para enviar seus inimigos, uma grande mudança econômica e cultural acontece no Renascimento que o tira desse misticismo e transforma esse homem desgraçado, em um apreciador da beleza humana. Uma expressão desse fato são as obras de Michelangelo10, em especial sua estátua de David, em mármore, onde a beleza do homem helênico está impressa no ideal estético.
A obra citada, David, esculpida em mármore entre 1501 e 1504, está na Galleria della Accademia, para onde foi transportada de seu lugar de origem na Piazza della Signoria em 1873, em Florença. que toma conta da instituição da qual ele mesmo faz parte. Neste sentido, segundo PINTO (2001): Acreditava-se, em pleno século 16, mais em bruxas e no poder dos demônios que a própria Idade Media, depreciada pelos mesmos humanistas que tentavam soerguer a cultura clássica. O inferno e as tentações demoníacas estavam mais perto do que nunca dos homens modernos, pois a Igreja criara nessa mesma época uma teoria demonológica tão bem estruturada; com órgãos inquisitoriais de repressão, perseguição e condenação baseados na denúncia e na confissão dos acusados, que foi capaz de resistir até o século 18, ou seja, momento de pleno desenvolvimento de ilustração e do pensamento racional.
Essa ‘cenografia’ aterrorizante e perspectiva humana da condenação fez com que o homem buscasse desesperadamente o auxílio dos santos, da Virgem, a proteção das relíquias, fez com que ele se agarrasse às peregrinações, multiplicou as missas, as orações, as promessas, as esmolas, enfim, essa atmosfera acentuou ainda mais a superstição não apenas nas camadas populares, mas também nas eruditas e enriquecidas. No texto em espanhol podemos ler: “Roma, ciudad santa de la Iglesia y caput mundi (grifo do autor), y la ‘sacra Itália’, deben retornar a sus orígenes religiosos y politicos para hacer frente a la amenaza de los “bárbaros”, tanto europeos como extraeuropeos: godos, galos, y orientales. El exilio aviñones y las intervenciones imperialies alimentan la polémica cultural y religiosa com amplias vetas nacionales, mientras la tensión ante la permanente amenaza que representa el mundo musulmán se entremezcla con Assim sendo podemos afirmar que na origem do surgimento do Renascimento foi determinante a formação de um movimento de enfrentamento às idéias do conservadorismo da Idade Média, representado principalmente pelo poder papal.
E deste movimento surgem então às idéias do Humanismo, com a proposta de renascer e de se fazer algo novo. Muitos grupos se alinhavam para enfrentar a Igreja e entre estes estavam os protestantes. O Protestantismo foi um movimento paralelo ao Humanismo de enfrentamento ao poder papal. Nos séculos seguintes, constituem-se novas comunidades livres - entre outros, Milão, Lucca, Florença e Verona, formando ainda repúblicas socialmente algo indiferenciadas, baseadas nos direitos iguais de seus cidadãos mercadores. posiciones antigalicas, antibritanicas y antigóticas” GARIN, Eugenio. La revolucion cultural del renacimiento. p 60-61. HAUSER; 2003: 286. Sinval Freitas Medina. Col. Kronos. Ed. Perspectiva. Foi preso, torturado, morto e queimado em fogueira na Piazza della Signoria no centro de Florença. Marcel Bataillon diz, analisando os diários de Ignácio de Loyola, quando estuda o que denominou de “confronto entre reforma ignaciana e reforma erasmiana, como correntes da contra-reforma católica”, que aquele padre fundador da Companhia de Jesus, anotara em seu diário, no dia 28 de fevereiro de 1555 (57 anos depois da morte de Savonarolla), que lhe fora “ordenado a retirada da casa [convento na Universidade de Alcalá] as obras de Savonarola que os noviços haviam trazido, porque nesses haviam coisas controvertidas”.
Relata-nos também que, no diário de Polanco [companheiro de Loyola] fora anotado que o padre Ignácio lhe ordenara que “jogasse ao fogo os livros de Savonarola que haviam encontrado na casa, porque seu 'espírito hostil' não lhe parecia digno de aprovação”; Savonarolla continua na fogueira e com um detalhe estarrecedor: morto, pois temem que mesmo diante do fogo disputavam com freqüência o poder, teve o seu fim em fogueiras da Inquisição, acusados de heresia. Essa situação não se sustenta por muito tempo e então se iniciam grandes conflitos que dão início a inquietações sociais importantes. Segundo HAUSER (2003): eclode o conflito entre essas comunidades e os ricos barões das circunvizinhanças; de momento, o conflito termina com a vitória da classe média.
muitos dos escritores humanistas eram membros das famílias mais importantes e tivesse a coragem de falar. BATAILLON, M. De Erasmo a la compañia de jesus. Erasmo y el erasmismo. Tradução para o espanhol de Francisco Rico. Ediouro. Rio de Janeiro. p. Para Ariès a morte, no final da Idade Média e começo do Renascimento, exercia um fascínio sensual que foi apontado por Huizinga, em sua obra publicada na França em 1932, como fundamental para a formação de uma visão diferente da história não mais como factual mas muito mais econômica e social no sentido de valorizar o humano além do fato, o que ele chama de ‘nova história’. Neste livro Huizinga diz que a morte dos enforcados e queimados na fogueira do Renascimento estava ligada a um ritual público de morte e vida onde para o povo que participava do espetáculo, geralmente dominical após a missa, o executado representava o próprio satanás.
seus criadores eram sobretudo homens ligados a um projeto de poder [. A burguesia nascente e as tradicionais famílias aristocráticas se uniam ou disputavam o poder em regiões aliadas ou inimigas. Estas regiões, com sua descentralização acabam incentivando o Humanismo como movimento cultural e político do Renascimento. O homem do Renascimento busca uma humanização nos sentimentos de beleza e perfeição que viam na cultura grega e romana, como uma forma de negação da Idade Média, talvez relacionando sua nova condição econômica com o sonho do paraíso na terra, proporcionados pela idéia de que seria possível um governo ideal para um povo civilizado em uma cidade protegida e perfeita. Surgem nessa época, vários pensadores, com a idéia da cidade perfeita, entre eles Alberti e Palmieri, inspirados em Platão, com sua Atlântida e A República; também Leonardo da Vinci que planeja a Citate Felicce, com sugestão de melhorias a serem implantadas em Milão.
Belo Horizonte. p. GARIN, Eugenio. La revolucion cultural del renacimiento. Trad. Ou seja, é neste ponto de estrangulamento, onde termina a Idade Média e se inicia uma nova proposta de vida, um novo olhar sobre o homem que toma as rédeas de seu destino e enfrentam as superstições, os poderosos e constrói para sí um novo arcabouço de idéias e ideais, que o Renascimento é importante para a nossa análise. E nossa grande dificuldade para construirmos uma análise segura do pensamento humanista é a distância, não só temporal mas também de compreensão de mundo. O homem do Renascimento é educado pelo Humanista que propõe uma revolução pedagógica no sentido de ser o arvorar de um novo pensamento e ideal. Compreender este homem em seu tempo é nosso maior desafio.
O desafio de pensar sobre a educação no Renascimento está na distância que se estabelece como barreira que nos separa daqueles que viveram o fim da Idade Média como ponto de partida para o Humanismo no Renascimento. No texto em espanhol podemos ler: [Leonardo]Define con precisión lãs funciones de ambos planos de la ciudad, subrayando entonces uma distinción entre clases: em la parte alta, ‘los gentilhombres’; em la parte baja. Segun la expresión utilizada em el Códice Atlântico ‘la pobreteria’[. Em el Códice Atlântico Leonardo ofrece consejos a Ludovico el Moro para embellecer Milan [. la ciudad medieval, crecida desordenadamente em torno a si misma, com sus edificios hacinados a lo largo de estrechas y tortuosas calles, deberá ser sustituida por uma nueva ciudad planificada de acuerdo com um diseño racional.
Ludovico O mouro era Ludovico Sforza (1452- 1508) protetor de Leonardo que encomendou a pintura de “A Ultima Ceia”. O homem desejado pelos humanistas deveria ser livre e dono de seu próprio destino, para que pudesse atender às novas exigências, de um período repleto de mudanças. Segundo SANTOS (1998): Dessa forma, a figura de Deus não é mais o centro das relações na sociedade, portanto o modelo cristão de homem, que predominava até então, começa a ser negado, pois a relação servil de criador e criatura, não atende mais às expectativas sociais dos indivíduos. O homem vai sendo retirado da servidão, dos seus meios de subsistência, para tornar-se, posteriormente, um trabalhador livre no mercado de trabalho. RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins e FALCON, Francisco Jose Calazans.
A formação do mundo moderno. Campo Grande. n°3. Encarte especial. p. O Humanismo Renascentista necessita e demanda por um homem livre das amarras religiosas, das convenções místicas e dos compromissos que anteriormente as famílias aristocráticas assumiam com a Igreja para a partilha do poder. É enviado a Milão para presentear a Ludovico, o Mouro, com um instrumento musical, onde acaba sendo contratado para construir um monumento eqüestre em honra a Sforza que seria destruído pelos franceses em 1494. Aí pinta sua Virgem das Rochas e João Batista, inspirado na beleza de seu criado. Volta a Florença depois da invasão dos franceses e passa a viver como nômade entre Milão e Roma. Em 1513 é convidado pelo rei da França e cria uma escola francesa de pintura deixando todo o seu legado ao seu discípulo.
PASQUAL, Antoni et al História geral da arte. Suas obras mais conhecidas: "O Príncipe" e os "Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio" (1512-1517). A peça A Mandrágora (1518), é considerada uma obra prima da comédia italiana. Bembo (1470-1547) Pietro Bembo: Nasceu em Veneza e morreu em Roma. Foi um gramático, escritor, humanista, historiador e cardeal veneziano. Foi o primeiro a estabelecer as regras da língua italiana de modo seguro e coerente, com base nas práticas dos maiores escritores toscanos do Trecento. Os italianos desenvolveram relações comerciais, que fizeram com que a região da Toscana, principalmente com Florença, obtivesse um papel de destaque no desenvolvimento cultural do Renascimento. O que ficou conhecido como Renascimento Italiano. Segundo LALANDE (1999): os grandes defensores deste homem renascentista, revolucionário e construtor das novas regras de política e de arte, onde o papel do homem torna-se cada vez mais participativo: foram Petrarca29, Poggio30, Lorenzo Valla, Erasmo, Budé31, Ulrich de Hutten32, em um esforço para realçar a dignidade do espírito 26 Castiglione (1478-1529): Baldassare Castiglione Nasceu em Casáltico, perto de Mântua e morreu em Toledo.
Diplomata italiano, estudou latim e grego em Milão. Em 1528, publica, em Veneza, Il Libro del cortegiano (O Cortesão). Galateo ou Dos costumes. Trad. Edileine Vieira Machado. Martins Fontes. São Paulo. Em outra pesquisa através dos mosteiros, ele descobriu Vegécio, já conhecido por Petrarca, Festus no resumo de Paulo, o Diácono, Lucrécio, Manilius, Sílio Itálico, Amiano Marcelino, os gramáticos Caper, Eutyches e Probo. Em 1417 recuperou sete discursos de Cícero, infelizmente, a maioria desses manuscritos existe agora apenas em cópias. Budé (1468-1540), Guillaume Budé nasceu e morreu em Paris, foi um humanista francês do século XVI. Foi o impulsionador do futuro Collège de France, inicialmente chamado dos leitores reais. Escreveu "A transição do Helenismo para o Cristianismo".
Essa idéia de retomada das noções clássicas de arte, pensamento e literatura, surgem diante da valorização da capacidade humana de construção de seu próprio destino. O homem medieval necessitava de uma existência mística para explicar as coisas do mundo, onde o espiritual estava poderosamente controlando todos os destinos, enquanto que o humanista renascentista livra-se dessa magia criando para si “uma nova autoconsciência e autoconfiança”, que os separam do fim do Império Romano e seus dias. O Renascimento caracteriza-se como instante cultural histórico singular, pois “foi o primeiro período da história a ser consciente de sua própria existência e também a cunhar um termo para se auto-designar” e as pessoas que viveram nesse período, de acontecimentos distintos, tinham a percepção de que não “não viviam mais na Idade poder da Igreja no Sacro Império Romano.
Depois de sua derrota tenta convencer ERASMO a apoiar a Reforma sem sucesso. LALANDE, André. p. Média”, o que as fez terem essa compreensão, foram os principais fatos acontecidos. Segundo JANSON e JANSON (1996): A queda de Constantinopla e a conquista do sudeste da Europa pelos turcos; as viagens de navegação que levaram à fundação de impérios ultramarinos no Novo Mundo, na África e na Ásia, com a conseqüente rivalidade entre as duas maiores potencias coloniais, Espanha e Inglaterra; as profundas crises espirituais da Reforma e Contra- Reforma. Expandir o mercado, conquistar novos povos, saquear as riquezas dos inimigos do oriente eram medidas políticas, referendadas pelos pensadores da época como forma de segurança para a cidade e garantia de soberania para a aristocracia e a burguesia que agora governam em comum acordo.
JANSON, H. Id. Ibid. APÊNDICE 2 A arte no Renascimento No Renascimento as artes tiveram imenso desenvolvimento, tendo Giotto como seu iniciador. Nesta época era muito comum as pessoas contratarem um pintor para decorar o interior de capelas e igrejas. No caso das capelas, qualquer fiel poderia mandar construir uma em suas terras como penitência por um parente morto ou mesmo para ter por perto um local sagrado para poder rezar. W. e JANSON,A. F. como gostava a classe média da época. Podemos dizer sem medo de errar que de certa forma era isso que atendia aos gostos dessa classe média alta e culta. Historia social da arte e da literatura. Trad. Álvaro Cabral. Martins Fontes. São Paulo. A inovação nesta arte está no fato de ser ricamente adornada de detalhes, expressar a fineza nos gostos e o requinte das vestimentas.
Uma verdadeira adoração ao homem elegante da Renascença que não passava de um intelectual que não se permitia excessos mas que apreciava a vida luxuosa. Talvez por isso os mecenas estivessem dispostos a contribuírem com suas economias particulares encomendando pinturas e reformas, quando não construções, de igrejas particulares, uma forma de demonstrem sua devoção e apreço por uma arte que, espiritualizada pela racionalidade da época, fazia com que o homem se sentisse parte desse realismo imediato e tivesse sua memória eternizada nas paredes de construções consideradas sagradas. Esta é mais uma das características do homem humanista, o desejo do reconhecimento público de sua importância como cidadão e a eternização de sua memória. A arte de Giotto falava a linguagem do sentimento do homem que se aproxima da divindade já que esta se transfigura em uma humanização espetacular, pois “suas formas pareciam naturais a ponto de confundirem-se com a própria realidade”.
O mais importante avanço, levando a pintura mais além de Giotto, e realizado por um artista de Siena, Ambrozio Lorenzetti, criador da paisagem naturalista e do panorama citadino ilusionista. Em constraste com o tratamento do espaço dado por Giotto, que é unificado e contínuo mas no qual a probabilidade nunca vai além da do cenário teatral, Lorenzetti cria em suas pinturas de Siena uma vista que suplanta todos os esforços anteriores desse tipo, não só pela vastidão de especto, mas também pela conexão natural das partes num todo espacial. A descrição de Siena é tão real, tão ao vivo, que se pode ainda reconhecer qual parte da cidade o pintor usou como tema principal e imaginar-se caminhando pelas sinuosas ruelas ao longo dos palácios dos nobili (grifo do autor) e das casas de classe média, das oficinas e casas comerciais, e galgando as colinas.
Nem todos os artistas ganharam notoriedade espontânea. Alguns viviam sob os cuidados daqueles que faziam sucesso e este era o caso de Simoni Martini pertence à escola de Siena, que apesar de influenciada por Giotto, tem uma produção menor e mais singela, porém de expressão importante no humanismo. Em fins do século 14 as questões políticas em Florença não estão ainda propícias para a arte já que “suas ruas estão ensangüentadas e seus palácios envolvidos pelas chamas por causa da revolta dos ciompi”, insurreição provocada principalmente pelo descontentamento do “povo miúdo” -(ciompi)- que não desejavam uma tomada do poder ou uma substituição do sistema de classes. O que essa parte descontente queria era fazer parte do sistema de representação no poder e para isso exigiam o seu reconhecimento na estrutura de poder.
Tomaram a bandeira do chefe de governo, símbolo do poder, e incendiaram as casas de seus patrões e inimigos políticos. A revolta foi esmagada, assim como todo novo levante que se seguiu era logo sufocado e em 1387 uma nova lei proibia inteiramente aos membros das artes menores o cargo eminente. Enquanto isso as republicas do norte, Veneza, Genova e Milão, que era um ducado, viviam o florescimento e estabilidade política que garantiam a segurança para o trabalho artístico e a contratação e encomenda de pinturas, fato que atraiam novos artistas. Mas existe uma outra tendência importante em Florença paralela a essa direção, a saber , a de Andrea Orcagna47, Nardo di Cione48 e seus discípulos, a qual não segue a intimidade e espontaneidade da arte de Lorenzetti, mas o solene estilo hierático da Idade Média, sua rígida simetria, seus princípios de seqüência e acumulação.
É evidente que a renovação na arte proposta por Giotto gerou seguidores, criou escola, revolucionou o estilo e continuou modificando a forma de construção da pintura através dos novos integrantes do movimento. Porém convive com a arte da Idade Média assim como a aristocracia convive com a classe média e esta com a classe média baixa nem sempre em aquiescência de espaços mas e muito mais, em conflitos e celeumas o que é próprio do novo que se estabelece em um ambiente do velho que se esvai. Um obras mais importantes encontram-se Histoire de Job(Caposato de Pisa-1342), o políptico de São João Fuorcivitas de Pistoia (1353) e a Madona com Criança e Quatro Santos (1355, galeria dos Uffizi, Florença.
Fonte: Enciclopédia Barsa Universal. Pintor renascentista de maior influência em Florença na sua época. Influenciado por Giotto trabalhava com pintura em tríptico onde as três partes pintadas e emolduradas uma vez abertas formam uma única imagem. O tríptico é considerada uma obra de arte tipicamente cristã. O tríptico é constituído de um painel com uma espécie de duas portas dobráveis que se abrem e que podem se fechar escondendo as imagens, semelhante a um oratório. A obra deste renascentista é de uma singularidade tocante, pois as cores vivas e definidas enaltecem a humanidade das figuras sacras destacadas, a característica dos humanistas, porém o seu cuidado ao produzi-las é tanto que ele também fazia as molduras dobráveis. Foi um dos máximos expoentes da segunda metade do Tecento em Florença.
A sua obra pictórica revela influencias bizantinas, como se pode observar no retábulo (painel muito utilizado nos altares da Igreja para mostrar aos fiéis uma cena da narrativa bíblica de forma ilustrativa) da capela Strozzi de Santa Maria Novella de Florença (1354-1357) Entre as suas obras as mais destacadas encontram-se no Tabernaculo de Orsanmichele. Enciclopedia Barsa Universal. Editorial Planeta 2ª. Ed. Segundo BOLOGNA (1998): Por encomenda dos irmãos dominicanos de Florença, o jovem Giotto pinta, entre 1283 e 1288, o crucifixo destinado à igreja de Santa Maria Novella. O artista toma a liberdade de metamorfosear o tradicional crucifixo da Itália central: o corpo dolorosamente dobrado de Jesus rompe com as convicções religiosas que durante muito tempo. mostraram um corpo impassível pregado na cruz mas sem as característica de um corpo humano.
O artista subverte a tradicional cruz, e lhes dá uma imagem de um homem dolorosamente dobrado, extremamente humanizado em sua agonia, sentimento partilhado por todos os discípulos de Francisco de Assis e por todos os contemporâneos, posto que, fala de um Cristo cheio de humanidade em uma pintura que parecia despertar naqueles que olhavam o desejo de tocar o homem da cruz com os dedos e chorar sua desgraça, pois de certa forma era uma desgraça humana. Suas concepções de espaço, profundidade e cores revolucionaram e fizeram escola, pois propõem uma nova visão ao retratar a vida e o homem em contato com o mundo, com a natureza. Idade Média. Historia artística da Europa. Tomo II. Ed. Paz e Terra. Os painéis têm sua representação iniciada na Itália no século 13 e dominam toda a Europa até o século 15.
As iluminuras de manuscritos foi o mais completo registro dessa arte no início do Renascimento contribuindo para a disseminação da cultura e de obras que eram a riqueza das bibliotecas tanto sacras quanto de príncipes. A pintura a óleo em lona não teve uma aceitação muito vigorosa e somente depois do século 15 e 16 que se populariza (em círculos culturais economicamente estabelecidos) e os vitrais que são mais difundidos no Norte da Europa. A Itália e a Holanda ocupam papel significativo na produção e consumo de arte e cultura, seguido da França, Espanha e Inglaterra que também despontam já nos séculos 12-13, como importantes centros culturais. Essas transformações culturais têm origem principalmente na estabilização econômica produzida com a ascensão de uma burguesia mercantil, que dispõe de recursos financeiros auferidos pelos ganhos exorbitantes do comercio das especiarias e tecidos finos trazidos do Oriente.
O homem da Idade Média vivia em grupos organizados hierarquicamente principalmente com a finalidade de sobreviver às dificuldades. Se os humanistas enfrentam a aristocracia feudal religiosa conquistando espaços de poder na cidade tanto na construção dos Estados quanto na Igreja, é sem dúvida porque aprendeu a lutar contra seus medos. As análises de MONTANARI (2003): lembram de declínios da agricultura, carestias e da presença da fome, desde o início da era cristã, constantemente rondando este homem que deseja uma mudança, uma renovação, construindo para si o renascer, o iluminar-se. Essa renascença está muito relacionada com a idéia de segurança e conforto que a vida organizada pode trazer. Quando analisa a história da alimentação na Europa diz que: A dissolução do Império de Roma e o doloroso emergir, sobre suas ruínas, de novas realidades políticas e administrativas; a vertiginosa mistura de povos e de culturas; a crise das estruturas produtivas, iniciada já no século 3° com o declínio da agricultura, o despovoamento dos campos e o enfraquecimento do papel distributivo exercido pelas cidades; as freqüentes guerras e devastações; as epidemias que regularmente sucedem à carestia, a peste que enfurece.
Edusc-Editora. Universidade do Sagrado Coração. Bauru. p. ainda faziam a mesma coisa com a erva dos campos. O europeu separava um pedaço de terra, um ‘espaço ideal’ num campo organizado de forma ordenada ao redor da cidade: aquele que os latinos chamavam ager (grifo do autor), o conjunto dos terrenos cultivados, rigorosamente distinto do saltus (grifo do autor), a natureza virgem, não humana, não civilizada, não produtiva. A agricultura era sua fonte de alimento de onde retiravam, para o fabrico de sua cozinha, grãos, uvas, olivas eram as bases: uma tríade de valores produtivos e culturais que aquela civilização tinha assumido como símbolo da própria identidade. Paralelamente, a horticultura, sobretudo, e o pastoreio de ovinos desenvolveram um certo papel [. a pesca assumia alguma importância somente nas regiões costeiras, [.
o sistema de alimentação tinha uma forte caracterização vegetal, baseado nos farináceos e no pão, no vinho, no óleo e nas verduras; tudo completado por um pouco de carne e, principalmente pelo 2 Ibidem, p. Pilhar e roubar significa conseguir alimento. Relatos de invasões e pilhagens com todo o tipo de violência que se pode ter em conseqüência de eventos assim são correntes na Idade Média. A instituição de leis que combatem, inclusive o consumo de carne humana dá uma idéia de como era sobreviver às privações impostas aos homens daqueles dias. Não é preciso esforço para perceber que as crianças, as mulheres e os idosos, eram indivíduos extremamente vulneráveis a essas violências. MONTANARI (2003) diz que: Entre 1032 e 1033-relata Raul [o cronista Raul Glauber] ‘a fome começou a difundir-se por todas as partes do mundo, ameaçando de morte quase toda a humanidade.
A fome sempre esteve presente em relatos da Idade Média e Renascença desafiando os pesquisadores a estabelecerem padrões de relação com o desenvolvimento 4 MONTANARI, Massimo. A fome e a abundância: História da alimentação na Europa. Trad. Andréa Doré. Edusc-Editora. Mas o fenômeno atingiu quase que exclusivamente duas categorias restritas de consumidores, às vezes coincidentes: a dos proprietários de terra, que exigiam dos camponeses pagamentos em trigo, desdenhando os outros cereais (e destinavam-no, parte ao consumo familiar, parte ao mercado); a dos habitantes das cidades que, se não eram eles mesmos proprietários de terra, podiam adquirir trigo no mercado. Os camponeses, por sua vez, que freqüentavam o mercado marginalmente e sobretudo para vender algum excedente, contentavam-se comumente com os resultados da propriedade- do que restava depois de pagarem aos proprietários o que lhes era devido.
O seu regime alimentar continuava, porém, baseado em larga medida em cereais inferiores e legumes. Apenas em certas regiões a dieta camponesa também parece dar espaço (não antes do Duzentos) ao trigo e ao pão branco: foi assim nos campos toscanos entre Siena e Florença, onde a marca citadina sobre a economia agricola foi tão forte a ponto de se traduzir numa imitação dos modelos de consumo urbanos inclusive por parte das classes rurais. No sul da Itália o trigo era em grande parte destinado às vias comerciais, às ricas cidades do Norte, e aos reinos de ultramar; a dieta dos camponeses locais contava ainda em grande parte com a cevada (sopas, bolos e péssimos pães) e as verduras 6 Estabelecemos uma relação com o que vimos anteriormente na arte e na política e podemos perceber que o norte da Itália, mais especificamente as suas populações citadinas, apreciavam a arte, discutiam política e a metodologia educacional que seus filhos deveriam estudar, mas também apreciavam o melhor pão.
Ou seja, podemos notar que não estamos mais em um mundo aristocrático rural, mas agora estão em vigor, as delicadezas de uma classe média, que se exibe e faz exibir poder, através do conhecimento e do refinamento do paladar, do comportamento à mesa e da apreciação da arte. Segundo MONTANARI (2003): exibir a comida, como elemento de poder, era costume comum entre a aristocracia, no qual era imitada pela classe média, quando diz, referindo à arrumação da comida oferecida aos convivas, que: Antes de acabar na mesa, tudo [. foi feito desfilar pela praça, a fim de que o povo ‘visse tanta magnificência’ [. as iguarias não eram oferecidas uma após a outra sucessivamente, mas expostas - em grupo –todas juntas; cada um escolhia de acordo com o próprio gosto, mas, principalmente, deveria admirar (assim como o “povo”) a abundância e a qualidade dos pratos, espantar-se com as formas como apresentavam e as invenções cênicas- como num teatro.
Exibir é a nova palavra de ordem [. Professor titular da Universidade de Bolonha e palestrante internacional, suas considerações sobre a Idade Média integram duas linhas de pesquisa interligadas, a história da agricultura e história alimentar. Para Montanari a história do homem se constrói através da riqueza ou da falta de alimento. A abundância revela o sucesso enquanto que a carestia, a falta ou mesmo a ausência do alimento mostra os períodos difíceis e as angustias daqueles que se vêm privados das condições de sobrevivência e para isso se submetem ou sujeitam-se a decisões que transformam a sociedade.
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