LEITURA E IDENTIDADE REFLETINDO SOBRE A CULTURA NEGRA NO CONTO OS DOIS REIS DE GONDAR
Tipo de documento:Revisão Textual
Área de estudo:Serviço Social
Em seguida, após uma discussão rápida sobre o potencial da literatura para o desenvolvimento da identidade, será apresentada uma proposta para ser utilizada em sala de aula, tendo como base o conto Reis de Gondar. Utilizar-se da literatura e especificamente do obra Os dois Reis de Gondar, direciona-se para o desenvolvimento da identidade cultural africana através dos elementos do conto, buscando levar outra visão para o ambiente escolar, rompendo paradigmas preconceituosos e promovendo o conhecimento sobre a cultura afro. A metodologia utilizada para este estudo foi a revisão bibliográfica, utilizando trabalhos já desenvolvidos para fundamentar as reflexões apresentadas aqui. Palavras-chave: Leitura; Identidade; Literatura ABSTRACT This work seeks to bring a reflection on the reading and the development of identity, focusing mainly on what is established by Law 10.
for the teaching of the Portuguese Language. É considerando este ponto, relacionando-o com o poder da leitura no desenvolvimento tanto de senso crítico quanto de identidade, que nasceu a ideia desta pesquisa, que pretende demonstrar como o uso de contos de origem africana em sala de aula pode ajudar a combater o preconceito e disseminar o conhecimento sobre a cultura afro-brasileira nas escolas. Os negros cativos introduziram elementos da sua cultura à nova realidade que viviam, embora fosse completamente diferente daquilo que vivenciavam na sua origem. Apresentavam-se aqui as suas experiências culturais oriundas das suas nacionalidades. Surgia assim, uma nova categoria denominada pelos historiadores como cultura afro-brasileira. Ao longo do tempo as contribuições históricas foram negligenciadas e até negadas. Graças a isto os alunos sentem, inicialmente, uma grande curiosidade e desejo pela leitura, no entanto, infelizmente, é possível constatar que tal atração tem se perdido com o tempo.
Desinteresse e falta de motivação são fatores apontados como desencadeadores deste processo de desgosto pela leitura. Um dos motivos apontados em relação a isto é a insistência presente nos ambientes escolares em apresentar textos e valores distantes das realidades presentes nas vidas dos alunos. Isto é problemático, principalmente se lembrarmos que conceitos e princípios são constantemente alterados, acompanhando as mudanças sociais, logo, é indispensável repensá-los e rediscuti-los frequentemente levando em conta o tempo presente. Considerando isto, seria tarefa do professor elaborar atividades diversificadas, com o uso dos gêneros discursivos. Segundo ele ensinar a leitura é engajar-se numa experiência criativa localizada em torno da compreensão e comunicação, e a profundidade desta experiência está intimamente ligada a capacidade de associação entre indivíduos envolvidos no processo, sem opor os conceitos oriundos da experiência escolar com os do cotidiano.
Cobranças excessivas referentes a responder questões de livros didáticos, provas e atividades mal elaboradas, relacionadas puramente a decodificação de signos linguísticos, acabam com o possível prazer que a leitura seria capaz de oferecer a qualquer um. Somado a isto se encontra o imediatismo da atual sociedade, que acredita que TV e internet podem substituir valores necessários a vida em comunidade, a ausência da família e do contato com histórias. Como consequência, potenciais bons leitores acabam perdendo o interesse pela leitura. Segundo Solé (1998), o sentido de um texto pode mudar de acordo com o leitor, considerando que cada um possui um certo conhecimento próprio sobre o assunto tratado. Assim, seguindo o que afirmaram Bakhtin e Volochinov (1992), dominar a leitura é essencial para o desenvolvimento humano, palavras se encontram sempre carregadas de sentidos ideológicos e são feitas a partir de uma rede de fios ideológicos, assim, servem de trama para todas as relações sociais, em todos os domínios.
Através da leitura os alunos se tornarão aptos a perceber quais conceitos e ideologias estão sendo disseminados na sociedade, refletir sobre sua importância e associá-los a outras leituras já realizadas, já que o leitor, através de descobertas, compreende o mundo e suas contradições ao atribuir sentidos para as leituras que realiza deste. Assim, seguindo a linha de raciocínio, ler seria perceber que o texto vai além do conteúdo escrito, já que as intenções do autor acabam somadas as formas de enxergar, entender e agir dos leitores, que conversam com o texto dentro de um tempo-espaço. Logo, pode-se perceber a gravidade do problema quando um sistema educacional produz alunos capazes de decodificar códigos linguísticos, porém, incapazes de dar-lhes sentido.
É necessário avançar através da zona de desenvolvimento da leitura réplica, que questiona os discursos com os quais interage, já que vivemos numa sociedade na qual aqueles com a capacidade de ler a realidade ao seu redor são os responsáveis pela promoção de mudanças, mais uma vez citando Bakhtin e Volochinov (1992). Mesmo sem operar da mesma maneira que o escritor, produzindo um texto elaborado criativamente a partir dos seus processos internos, o leitor passa por algo parecido, já que o mundo criado mexe com o seu imaginário e faz com que ele se manifeste e transforme-se em linguagem. Por isto leituras importantes se confundem com o cotidiano, se tornando lembranças e explicando a vida. Com o advento da Lei 10. que tornou obrigatória a inclusão do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira, surgiu a necessidade de incluir estudos sobre esta cultura nas aulas, incluindo as de literatura.
No entanto, o que se percebeu em muitos casos foi o não cumprimento da lei, já que nas escolas apenas foram inseridas atividades no Dia Nacional da Consciência Negra. Já a imaginação modifica, ampliando através da assimilação, inserção ou abandono de detalhes (CASCUDO, 2003). As tradições dos povos africanos retratam os Griôs, pessoas com a função de repassar os conhecimentos de uma geração para a seguinte, através da narração de histórias, as quais as pessoas de uma comunidade se reuniam para ouvir. Conhecer como estas pessoas retratam a sua própria cultura possibilita a construção do conhecimento sobre as sociedades africanas, uma valiosa fonte histórica. Assim, o uso de contos em sala de aula pode fazer com que o desempenho dos alunos se torne satisfatório, tanto pelo estudo da literatura, quanto pelo desenvolvimento da imaginação e construção identitária.
A abordagem de obras literárias africanas infanto-juvenis em sala de aula é pouco trabalhada, quando se trata de propor uma atividade envolvendo a leitura dentro da temática, na maioria das vezes não existem recursos capazes de proporcionar um estudo mais profundo sobre a cultura da África. Estas estórias possuem como finalidade expor costumes e crenças referentes a identidade cultural africana, incentivando o reconhecimento das suas raízes. Como afirmado por Munanga (2005), dentro destes contos é explorada, sobretudo, a riqueza de um continente que tem sua imagem mostrada, predominantemente, através do foco em aspectos negativos. Até hoje, quando se fala em África, muito raramente serão mencionados vestígios de um palácio real ou de um império, imagens de reis ou de cidades modernas. Geralmente é mostrada uma África dividida, reduzida, com o foco recaindo sobre aspectos como atraso, guerras tribais, selva, fome, calamidades naturais, doenças endêmicas, AIDS e etc.
Disto surge a importância de aprofundar o conhecimento sobre este continente. Depois de comerem os dois juntos sem falar muito, o camponês ofereceu sua cama ao caçador e foi dormir no chão ao lado do fogo. No dia seguinte bem cedo, quando o caçador acordou, o camponês explicou-lhe como teria que fazer para chegar a Gondar: — Você tem que se enfiar no bosque até encontrar um rio, e deve atravessá-lo com seu cavalo com muito cuidado para não passar pela parte mais funda. Depois tem que seguir por um caminho à beira de um precipício até chegar a uma estrada mais larga… O caçador, que ouvia com atenção, disse: — Acho que vou me perder de novo. Não conheço esta região… Você me acompanharia até Gondar? Poderia montar no cavalo, na minha garupa.
— Está certo — disse o camponês —, mas com uma condição. Todos estavam ajoelhados, exceto ele e o caçador, que iam a cavalo. — Onde será que está o rei? — perguntou o camponês. — Não o estou vendo! — Agora vamos entrar no palácio e você o verá, garanto! E os dois homens entraram a cavalo dentro do palácio. O camponês estava inquieto. De longe via uma fila de pessoas e de guardas também a cavalo que os esperavam na entrada. A primeira vista, fica claro que o conto traz uma lição sobre a importância das boas maneiras. O desenvolvimento da história mostra como o camponês, ao ajudar o caçador que chega a sua porta em necessidades, sem nenhuma intenção de receber algum tipo de retorno material, pedindo apenas a oportunidade conhecer o rei de Gondar como recompensa, acaba conseguindo muito mais do que queria, já que além de conhecer o governante de Gondar ele se torna seu amigo.
Este é um aspecto básico, considerando como os contos na África, assim como em todas as culturas, buscam transmitir conhecimento e sabedoria as gerações seguintes. Além disto, Os dois reis de Gondar traz alguns aspectos para os quais deve ser chamada a atenção. Primeiramente, nenhum dos costumeiros pontos negativos sobre a África é frisado, não é o continente definido pela fome, miséria, doenças e guerra, como apresentado costumeiramente na mídia, que aparece neste conto, nem o local de pecado apresentado por algumas visões religiosas. Através do diálogo podem ser inseridas questões para que sejam apresentados personagens, ações, tempo e espaço presentes no conto. Após isto, podem ser desenvolvidas leituras do texto impresso de maneira dinâmica; em grupos ou individualmente, a depender de como o professor achar melhor; buscando fazer com que os alunos identifiquem as partes de um texto no conto, apontando onde se encontra introdução, conflito, clímax e desfecho.
Também podem ser desenvolvidas atividades referentes a aspectos gramaticais presentes no conto, relacionados a tempos verbais, por exemplo, seguidas de uma atividade que pudesse incentivar a imaginação dos discentes, como pedir apara que eles ilustrassem a cidade de Gondar de acordo com o que acham que ela seria após a leitura do conto. Há possibilidade ainda de através do trabalho com a biografia e bibliografia da autora, eles terem contato com outros contos de origem africana, inclusive os presentes no livro do qual foi retirado o conto Os dois reis de Gondar, O príncipe medroso e outros contos africanos. Com isto incentiva-se a leitura ao mesmo tempo em que é oferecida para os discentes a oportunidade de um contato maior com a cultura africana. Estética da criação verbal.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. VOLOCHINOV, Valentin N. Marxismo e filosofia da linguagem. Contos tradicionais do Brasil. ª ed. São Paulo: Global, 2003. COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro. ª ed. Belo Horizonte: Nandyala, 2010. MUNANGA, Kabengele (org. Superando o Racismo na Escola. com. br/revistas/sinafro/trabalhos/TRABALHO_EV118_MD2_SA6_ID42_08042018233008. pdf. Último acesso em 14 de fevereiro de 2021, às 20:20. SIQUEIRA, Edna Margarida Andreoli de; DUARTE, Patrícia Cristina de Oliveira. SOUZA, Solange Gibin Roeles De. Ensino da História e Cultura Afrobrasileira e Africana Através de Contos Africanos. f. Trabalho de pós-graduação (Especialização em Educação) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR, Medianeira, 2012. VINTECINCO, Telma Elisabete de Sá; SILVA, Carlos da.
ZILBERMAN, Regina. O papel da literatura na escola. Via Atlântica, São Paulo, n. p. dec.
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