Fatores Sociais e Transtornos Psicológicos

Desse modo, o sujeito deve ser analisado em sua totalidade, considerando seus aspectos biológicos e culturais, sendo que estes compreendem as vivências interpessoais, o meio social e a sua história de vida (Dalgalarrondo, 2008). Freud (2006a) em “O futuro de uma ilusão” conceitua o termo cultura com os seguintes dizeres: “A civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais – e desprezo ter que distinguir entre cultura e civilização –, apresenta, como sabemos, dois aspectos ao observador. Por um lado, inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das necessidades humanas; por outro, inclui todos os regulamentos necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível” (FREUD, 2006a, p.

Considerando a relação entre cultura e transtornos mentais e as distinções no modo como cada cultura experiencia o sofrimento mental, podemos ponderar acerca da existência do sofrimento psíquico que emerge de diferentes formas de acordo com contextos culturais específicos (Dalgalarrondo, 2008). Para Seligmann-Silva (2011, p. O aparelho psíquico é estruturado considerando a cultura e o que esta coloca à disposição do sujeito, dessa forma, é possível postular que o social está incluído na constituição do inconsciente (Fleig, 1999). Fleig (1999) versa as acerca da relação entre sujeito e cultura ao pontuar que aquilo que advém do sujeito possui ligação com o meio cultura, ao mesmo tempo que aquilo que se constata em um meio cultural é relevante às singularidades que emergem. Em sua publicação intitulada “Psicologia de grupo e análise do ego”, Freud (2006b) vislumbra a ideia de que a psicologia individual é também psicologia social, posto que apenas em raras circunstâncias a psicologia individual desconsidera as relações que o sujeito estabelece com os outros, de modo que a vida mental inclui algo além de sua individualidade.

Para ilustrar a teoria de que os aspectos sociais e culturais de um sujeito interferem nas suas questões psíquicas – podendo atuar como fator de causa ou de influência no surgimento do seu sofrimento psíquico –, é relevante mencionar os achados de Ortigues, M. F. O contexto africano apresentado é caracterizado por forte influência do social, sendo assim, os aspectos culturais contribuem para a constituição psíquica e, consequentemente, interfere nas formas como o adoecimento psíquico emerge (ORTIGUES, M. F. e ORTIGUES, E. O adoecimento psíquico, por sua vez é permeado por questões culturais e, frequentemente, possui elementos similares dentre os sujeitos. As doenças mentais são atribuídas a causalidade mágica ou um destino imposto por Deus, tal significação surge como uma constante em grande parte dos casos de transtornos mentais (ORTIGUES, M.

Metapsicologia do sujeito moderno. Psicol. Reflex. Crit. v. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1920-1922). Rio de Janeiro: Imago, 2006a. v. p. FREUD, S. São Paulo: Escuta,1989. SELIGMANN-SILVA, E. Delineamentos preliminares. In: SELIGMANN-SILVA, E. Trabalho e desgaste mental: o direito de ser dono de si mesmo.