ÉTICA, MODA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O MOVIMENTO FASHION REVOLUTION E A MODA ÉTICA
Tipo de documento:Artigo cientifíco
Área de estudo:Design de moda
Nesse sentido, o presente estudo permitiu vislumbrar alguns conceitos e ações que estão sendo realizados no campo da moda com o intuito de diminuir os impactos no meio ambiente. Esta pesquisa aponta, portanto, para a necessidade de aprimoramento dos sistemas sustentáveis nos processos produtivos nas indústrias como forma de se atingir o equilíbrio da utilização dos recursos humanos e ambientais. A metodologia utilizada foi a qualitativa, com o emprego de técnica de pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: moda ética, RI, Fashion Revolution. ABSTRACT Keywords: Ethical Fashion, Consumption, Sustainability SUMÁRIO 1 Introdução. Logo, ela representa um sistema mutável em constante transformação, tendo como papel satisfazer às necessidades pessoais e sociais em determinado contexto histórico, político, econômico. Segundo O’Hara (1992, p.
a moda: [. é um reflexo móvel de como somos e dos tempos em que vivemos. A roupa sempre foi utilizada como instrumento social para exibir riqueza e posição, da mesma forma que a deliberada rejeição de símbolos de status transmite outras mensagens. Na primeira, abordaremos a moda através dos tempos, a qual integra o vestuário à história da humanidade, sendo assim uma forma de expressão mutável que pode se relacionar com o ambiente, a cultura e a geografia de cada região em que for pensada e criada. Ainda na primeira seção, abordaremos os princípios éticos e de sustentabilidade que representam pautas de grande discussão na contemporaneidade. Na segunda sessão o tema Fashion Revolution será alvo de análise, contemplando as repercussões e desdobramentos para a indústria fashion.
Na terceira sessão, o tema Moda, Ética e Relações Internacionais trará as empresas que estão aderindo a esse novo conceito e os progressos atingidos com essa nova abordagem, bem como os pontos frágeis dessa ideologia a serem melhorados e aprimorados. Contextualização Histórica: A moda através dos tempos O início do Renascimento e as aberturas de mercado mundiais foram os principais responsáveis pela aceleração na troca de informações entre diferentes culturas, vivências e comportamentos no mundo. Nesse período, prevaleceu o divisor de águas formado pela moda europeia dos ricos e as roupas disponíveis para as classes menos favorecidas (STYLO URBANO, 2018). No período da Grande Depressão (1929-1939), as roupas mais luxuosas foram perdendo espaço e as ‘reformas’ realizadas pelas costureiras começaram a prevalecer.
Já nos anos da Segunda Guerra Mundial, com o advento da entrada das mulheres no mercado de trabalho, surgiu um novo poder de compra (STYLO URBANO, 2018). De 1950 a 1960, a moda artesanal atingiu a classe média. Paralelamente a esse movimento, a indústria têxtil da América cresce e torna-se extremamente importante. A cultura do consumo, presente na contemporaneidade, teve início no século XVIII e foi desenvolvida no Ocidente, fundamentando-se na relação de mercado alicerçada no binômio: modo de vida e recursos materiais (objetos). Nesse sentido, para atender as necessidades de comunicação entre indivíduo e sua visão de mundo através da roupa, as constantes mudanças e adaptações na moda são inevitáveis. Tudo é extremamente flexível, predominando uma competição por status através dos bens diferenciados pelas grifes (OFICINA DA CRIAÇÃO, 2018).
Na moda, a velocidade de comunicação é tal que sua significação desaparece e muda de semestre em semestre; ultimamente, de semana em semana (FEGHALI et al, 2008, p. Nesse sentido, para Feghali esse comportamento é justificado: [. Fletcher e Grose (2011) apontam o quanto os desafios e a união da moda e sustentabilidade são importantes: A sustentabilidade talvez seja a maior crítica que o setor de moda já enfrentou, pois desafia a moda em seus detalhes (fibras e processos) e também com relação ao todo (modelos econômicos, metas, regras, sistemas de crenças e valores). O desenvolvimento sustentável é conceituado pela Organização das Nações Unidas (ONU, 1978, texto digital) como um “desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidade”.
Um modelo sustentável não engloba somente o sistema industrial e sim uma mudança de comportamento, bem como o despertar da sociedade preocupada com os impactos que são gerados diariamente (BERLIM, 2012). A conscientização é um dos primeiros desafios a serem vencidos para que a sustentabilidade traga resultados eficazes. Segundo Kazazian (2005), a educação é vista como principal ferramenta para o despertar da consciência ambiental. Elena Salcedo (2014) aponta as consequências ambientais causadas pela indústria têxtil e de vestuário, as quais são responsáveis por 20% da contaminação das águas e 10% da emissão de gás carbônico no planeta. Outra questão relevante, refere-se às condições de trabalho dos operários, sendo 7 que entre os anos de 2006 e 2013, mais de 1. trabalhadores morreram por estarem inseridos em um ambiente profissional precário e carente de diversos recursos indispensáveis.
Segundo o Global Slavery Index (Índice de Escravidão Global), cerca de 36 milhões de pessoas vivem na atualidade em regime de escravidão, sendo a indústria têxtil um importante nicho do trabalho escravo (DITTY et al. Nesse sentido, a moda ética engloba aspectos ambientais e sociais, levando então e consideração o meio ambiente, a saúde dos consumidores e as condições de trabalho das pessoas da indústria da moda em todos as partes do processo (Salcedo, 2014, p. A Figura 3 retrata o processo de produção em uma empresa que aderiu ao conceito de moda ética e a Figura 4 informa o slogan criado pela marca ‘Malwee’. Figura 2: Moda Ética Figura 3: Linha de produção em uma empresa sustentável 9 Figura 4: Propaganda do grupo Malwee Figura 5: Moda Sustentável Assim, o consumo consciente está estreitamente relacionado à mudança de comportamento do consumidor.
A consciência e disponibilidade em aderir à sustentabilidade, abrindo mão de comprar produtos que foram confeccionados por marcas com pouco envolvimento na pauta da sustentabilidade é imprescindível para levar as empresas a mudarem seus processos produtivos, a fim de atender uma demanda que opta por criações mais éticas (MODEFICA, 2018). A consultora de moda consciente, Ágatha Limas, definiu o papel do consumidor consciente: Todos os dias fazemos milhares de escolhas, desde ao acordar até a hora de ir dormir novamente. Mas em muitas delas apenas optamos, sem pensar muito a respeito. pessoas morreram e outras 2. ficaram feridas, sendo o quarto maior desastre industrial da história. Estima-se que aproximadamente 3 mil pessoas trabalhavam em condições precárias no prédio que desabou (BBC, 2013). O edifício abrigava dezenas de fábricas de roupas de grandes marcas mundiais.
A investigação do acidente culminou em oito pessoas presas por envolvimento direto no desabamento. A modificação do sistema requer inovação, bem como novos meios de obtenção de produtos. Nesse sentido, Grose e Fletcher (2011) apontaram alguns norteadores para o desenvolvimento do processo produtivo, os quais compreendem adaptabilidade, a potencialização da vida útil, maior qualidade nos acabamentos, o uso de matéria-prima e o controle da velocidade com que são produzidos. Diante disso, apresenta-se como desafio o alcance de uma vida econômica em que ética e o respeito ao meio ambiente estejam no centro de todas as decisões empresariais, políticas e sociais. Nesse sentido, o Fashion Revolution representa um movimento global que preza a moda ética e responsável, baseada na mudança do modelo da indústria da moda, dos materiais e da mentalidade dos consumidores.
O evento e movimento surgiram devido ao acidente ocorrido em 24 de abril de 2013, em Bangladesh. fashionrevolution. org/behind-the-scenes-with-open-studios-2017>. No Brasil, em 2017 aconteceram 225 eventos em 37 cidades durante a Semana Fashion Revolution. Além disso, 150 atividades aconteceram em 50 faculdades, com a participação de 31 estudantes embaixadores. Na Internet, o Brasil foi o país com o maior uso da hashtag #fashionrevolution, com 19% das menções mundiais. De acordo com Martins (2001, p. apud Bull, 1977), as fundamentações teóricas que alicerçam as R. I. perpassam pela ética contemporânea ao estabelecer distinções para os estados modernos. Nessa linha de raciocínio, a tradição realista associa o cenário político internacional como a arte da guerra; a internacionalista traz os estados soberanos como reguladores da cooperação e da competitividade e a tradição universalista, que busca as potencialidades humanas e a solidariedade na política internacional.
Entretanto, na prática, observam-se conflitos de grupos opositores que buscam distorcer os pressupostos inerentes a uma política ética a fim de “promover a adoção formal de arcabouço legal e a prática administrativa instrumentalizadas” (MARTINS, p. O autor comenta que a religiosidade, bem como conceitos jurídicos e filosóficos permeiam a noção de moral e ética aplicada na contemporaneidade. Ações coletivas de cunho ‘humanitário’ têm atuado na modificação conceitual do direito de ingerência, fazendo oposição ao conjunto de leis predominante nos estados. Diante de uma atual incerteza em virtude do momento de transição, os direitos humanos, apesar de progressos visíveis, ainda não se encontram plenamente assegurados. Nesse sentido: a obrigação ética com relação a valores aceitos pelas pessoas, por suas sociedades e por seus Estados é o fundamento da obrigação legal referente às regras formais em vigor.
Problemas ambientais que ferem os conceitos de sustentabilidade, como por exemplo, a indústria têxtil ocupa o segundo lugar como maior poluidora do mundo, perdendo apenas para as indústrias petroleiras, além da exposição de milhares de indivíduos ao trabalho escravo (REDE PETECA, 2017). O ciclo dos regimes de escravidão tem início quando as marcas contratam empresas terceirizadas para a fabricação de suas peças, visando a economia dos custos de produção. Os fornecedores, contratados, por sua vez, transferem o serviço para oficinas menores até que uma pessoa física desenvolva o trabalho de forma artesanal, geralmente em lugares improvisados ou em suas próprias casas. Como consequência, crianças são exploradas e obrigadas a trabalhar, pois suas famílias funcionam por meio da cultura de senso comum que enxerga a criança apenas como um auxiliador nas tarefas (REDE PETECA, 2017).
O trabalho infantil é: toda forma de trabalho realizado por crianças e adolescentes abaixo da idade mínima permitida, de acordo com a legislação de cada país. Em sua inauguração, ocorrida em 2006, o salão So Ethic teve a participação de apenas 20 expositores. Em 2010, na edição Primavera Verão, mais de 50 marcas estiveram presentes no evento, que hoje representa um dos mais importantes da Prêt à Porter Paris. A disseminação de princípios que visam conscientizar sobre os impactos socioambientais no setor têxtil, o resgate dos agentes que produzem as roupas, o incentivo à transparência e a promoção da sustentabilidade representam objetivos preconizados pelo movimento Fashion Revolution. No Brasil, o movimento existe há 4 anos, tendo em seu cronograma ações, rodas de conversa, promoção de filmes e palestras com temáticas que estimulam mudanças no comportamento dos consumidores, empresas e profissionais da moda (FASHION REVOLUTION BRAZIL, 2018).
Nesse sentido: 20 a Semana Fashion Revolution 2018 envolveu aproximadamente 23 mil pessoas em 47 cidades do Brasil e contou com mais de 400 voluntários e 38 embaixadores em universidades, comprometidos com a organização de 733 eventos (FASHION REVOLUTION BRAZIL, 2018). O tecido pode ser utilizado na confecção de qualquer tipo de roupa e sua produção é feita de uma fibra vegetal que se decompõe em dois anos (SCHULTE et al, 2008). Outra matéria prima inovadora é o ‘algodão orgânico’, um tecido apresentado ao mercado brasileiro pela marca infantil Pistache & Banana, em 2006. A empresa realiza o acompanhamento de todas as etapas da produção, além de disseminar a responsabilidade e a inclusão social (SCHULTE et al, 2008). As iniciativas apresentadas incorporam a ideia de respeito ao meio ambiente, com a utilização de fibras e pigmentos naturais e o incentivo à reciclagem.
Tais ações configuram a base da moda ecológica, que tem conquistado o cenário têxtil com uma produção mais limpa e com menos impacto no meio ambiente (SCHULTE et al, 2008). Nessa perspectiva, a produção têxtil associada ao desenvolvimento econômico, igualdade social e preservação ambiental forma o cenário ideal impulsionador de novos valores que harmonizam e integram o modelo produtivo de moda ao consumo sustentável. Em suma, os pressupostos do consumismo no mundo moderno - caracterizado pelo incentivo à troca de vestuário a cada estação - tem sido pauta de discussão por um movimento que tem alcançado amplitude e notoriedade por meio de ações e propostas de empresas que se inserem no contexto de produção sustentável.
Todavia, há ainda um longo caminho a ser percorrido, em que a redução dos produtos considerados ‘poluentes’ e ‘nocivos’ ao meio ambiente torne-se um divisor de águas no século XXI com o aumento de produtos desenvolvidos de forma ética e sustentável, os quais gradativamente tem despertado a consciência ecológica e o consumo consciente. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Bruno César. Potencial das firmas industriais brasileiras e a dimensão tecnológica. bbc. com/portuguese/noticias/2013/04/130428_bangladesh_tragedia_lado_obscuro>. Acesso em: 07 set. BERLIM, Lilyan. Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária. O Surgimento da moda. Disponível em: https://brasilescola. uol. com. br/curiosidades/o-surgimento-moda. Nov. DITTY, Sarah; COOK, Ian; HUNTER, Laura; FUTERRA. Como ser um revolucionário da moda. Disponível em: <https://www. fashionrevolution. Fair Trade in Europe 2001.
Maastricht: EFTA, 2001. EHRLICH, Sean. The fair trade challenge to embedded liberalism. International Studies Quarterly, v. ETHICAL FASHION FORUM. Disponível em: https://the. ethicalfashionforum. com/about-1. Acesso em: 08 out. org/behind-the-scenes-with-open-studios-2017>. Acesso em: 01 out. FASHION REVOLUTION. Manifesto para Revolução da Moda. Disponível em: https://www. São Paulo, 2011. FRANÇA, Cássio Luiz de. Comércio Ético e Solidário no Brasil. Fundação Friedrich Ebert1/Ildes2. Disponível em: <http://library. com/br/title/80045667%3E">. Acesso em: 07 out. INSTITUTO ETHOS. Rede de empresas pela aprendizagem e erradicação do trabalho infantil. Disponível em: https://www. Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. Disponível em: http://www. fee. rs. gov. Disponível em: http://knoow. net/cienceconempr/marketing/fast-fashion/. Acesso em: 14. Nov. LIMAS, A. MARTINS, Estevão de Rezende. Ética e relações internacionais: elementos de uma agenda político-cultural.
Revista Brasileira de Política Internacional, v. n. p. Disponível em: https://www. modefica. com. br/moda-sustentavel-papel-consumo/#. W_RzQThKjIU. Moda e Sustentabilidade. Disponível em: https://tanianeiva. com. br/2013/05/07/moda-e-sustentabilidade/. Acesso em: 14. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. OLIVEIRA, Thaynara Rezende. Fashion Revolution: o movimento que está transformando a moda. Disponível em: <https://slowly. com. REDE PETECA chega de trabalho infantil. Além da etiqueta: o trabalho infantil na indústria da moda em Bangladesh. Disponível em: http://www. chegadetrabalhoinfantil. org. Escravos da moda: os bastidores nada bonitos da indústria fashion. Disponível em: https://revistagalileu. globo. com/Revista/noticia/2016/06/escravos-da-moda-os-bastidores-nada-bonitos-da-industria-fashion. html. Disponível em: < http://www. stylourbano. com. br/moda-etica-x-moda-sustentavel-qual-e-a-diferenca/ SCHULTE, Neide Köhler; LOPES, Luciana. Sustentabilidade ambiental: um desafio para a moda. Uma breve história da evolução da moda até o fast fashion.
Disponível em: http://www. stylourbano. com. br/uma-breve-historia-da-evolucao-da-moda-ate-o-fast-fashion/. Disponível em: <https://www. netflix. com/br/title/80045667HYPERLINK https://www. netflix. com/br/title/80045667%3E">.
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