Estresse em mulheres policiais militares - parte 2
Tipo de documento:TCC
Área de estudo:Psicologia
Adicionalmente, apenas dois trabalhos não citavam a palavra “mulher” no título. Três usaram a palavra “gênero” ou “gender”. Três apresentavam subtítulo. Dois estudos destacaram no título o estado onde a pesquisa foi realizada, sendo Minas Gerais (2), Paraná (1), Rio de Janeiro (1) e Santa Catarina (1). O maior número de trabalhos foi encontrado na base Scielo (4), Google Acadêmico (3), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (2) e Periódicos Capes (1). A carga de estresse no trabalho e os transtornos mentais dentro desse ambiente sinalizam para a necessidade urgente de criar e promover locais de trabalho saudáveis em que a saúde física, segurança e bem-estar são protegidos, não prejudicados. OPAS, 2016). Foram considerados três temas de análise: principais adoecimentos, fatores de risco e fatores de proteção.
Nesse sentido, a primeira categoria analisada diz respeito aos principais adoecimentos descritos pela literatura com alguma relação às mulheres policiais militares. O estudo de Souza (2018) identificou a prevalência de sintomas ansiosos, depressivos e estresse nas profissionais de uma cidade do interior do estado de Minas Gerais. Mas o importante destaque foi a questão da discriminação de gênero. Esse aspecto foi apontado como o ponto de adoecimento. Segundo Pitts, Ferraz e Lima (2014) as mudanças sociais, na perspectiva de gênero, têm trazido impactos no mundo do trabalho, já que as mulheres vêm ocupando funções tradicionalmente masculinas. Por esta razão, faz-se importante expandir o conhecimento sobre os fatores que interferem na qualidade de vida dessas profissionais no contexto policial. O estudo identificou nível de insatisfação das policiais nas categorias “compensação justa e adequada” e “oportunidades de crescimento”.
Halpern, Leite e Silva Filho (2010) expõem as implicações na saúde mental de profissionais militares da marinha do Brasil, em decorrência do modelo totalizador representado através de quarteis, prisões e manicômios. Estudos revelam que processos de dominação-sujeição, como os observados no âmbito do trabalho naval, são capazes de conduzir ao alcoolismo, por gerarem sofrimento psíquico. Estes processos podem afetar a própria identidade do sujeito, dando margem à irrupção de uma alienação e à automatização do trabalhador, potencializando o surgimento de alterações psicopatológicas relacionadas com a perda da autonomia e com a extirpação de desejos e esperanças. Trata-se de uma espécie de mutilação do eu, que tende a ocorrer entre os indivíduos que se encontram nas chamadas instituições totais (HALPERN, LEITE e SILVA FILHO, 2010, p.
Neste sentido, os autores definiram instituições totais baseados em Goffman, que a seu turno se guiou pela obra foucaultiana: [. Este estudo permitiu concluir que quanto maior o tempo de serviço militar, mais sofrimento psíquico. Quanto à discussão de gênero que se fez relevante nesse estudo, a Lei nº 11. – Lei Maria da Penha é o principal dispositivo legal para coibir e punir a violência doméstica no Brasil e considerada um dos três mecanismos mais relevantes na luta contra a violência de gênero, no mundo. A Lei é fruto da luta pessoal de Maria da Penha Maia Fernandes, uma farmacêutica do estado do Ceará e, por isso, a referida Lei carrega o seu nome. Maria da Penha levou um tiro do marido, em 1993, enquanto dormia, ficando paraplégica, como consequência.
A violência, quando abordada pelo recorte de gênero, apresenta indicadores agravantes. O custo mundial da violência, atinge a saúde, a assistência, economicamente está na casa dos bilhões, problemas de absenteísmo e baixa produtividade. Por se tratar de um fenômeno complexo e multideterminado, não é possível dimensionar toda a carga global causada pela violência, contudo, sabe-se do grande uso de serviços de saúde, tanto para agravos físicos, quanto mentais após eventos violentos (KRUG et al, 2002). Outro problema é a violência no trabalho, que tanto pode ser física, quanto psicológica. A agressividade no contexto laboral pode ser conhecida também como bullying, assédio moral, assédio sexual, intimidação, ameaças. Algumas pistas sugerem alguns caminhos, tais como: permitir que o trabalhador tenha mais autonomia sobre sua atividade e conheça todos os processos envolvidos na sua atividade; promover um ambiente livre de assédio moral, com rigorosa política de proteção; fornecer as condições adequadas para o trabalho; respeito pelos direitos e dignidade humanos; pesquisas de satisfação; transparência na empresa; atendimento às necessidades de descanso; promover um ambiente responsável e ético, dentre outros a partir das especificidades do trabalho e da organização (WHO, 2010).
Segundo Seligmann-Silva (1990, p. o trabalho, independentemente de sua natureza, é carregado de significado para o homem. Em face disso, é tão necessário compreender melhor os processos de adoecimento no contexto laboral: O trabalho é essa atividade tão específica do homem que funciona como fonte de construção, realização, satisfação, riqueza, bens materiais e serviços úteis à sociedade humana. Entretanto, o trabalho também pode significar escravidão, exploração, sofrimento, doença e morte. Maslach observou sintomas parecidos em uma categoria de cuidadores, descrevendo-os como uma reação ao estresse crônico vivenciado pela situação interpessoal. A psicóloga observou uma tríade composta com exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal (ZORZANELLI; VIEIRA; RUSSO, 2016). O constructo foi melhor divulgado na comunidade científica a partir do Maslach Burnout Inventory (MBI), que possibilita a coleta de dados estatísticos e a análise de diferentes categorias laborais, por meio de suas versões.
Importante dizer que os sintomas estão relacionados com o tipo de trabalho realizado. Os achados da literatura indicam que a prevalência varia em uma média de 7% a 18% em grupos ativos. O esgotamento refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida (WHO, 2019, QD-85). Os estudos sobre as causas do Burnout relacionam uma incapacidade de lidar com o estresse cotidiano no trabalho. Entender, por exemplo, o acometimento dessa síndrome em políciais auxilia no desenvolvimento de fatores protetivos à sua saúde mental. O Burnout tem sido associado a funções que envolvam um nível elevado de cuidado e contato com o outro e seu sofrimento, como é o caso de profissionais da saúde.
Os sintomas incluem manifestações psicossomáticas, além de psíquicas e alteração do comportamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste estudo foi levantar indicadores sobre o estresse laboral em policiais militares femininas. Os estudos apresentaram as categorias de discussão, como principais adoecimentos: estresse, TEPT, depressão, ansiedade e Burnout; fatores de risco: dupla jornada, assédio moral, assédio sexual, preconceito de gênero, jogos de poder, sobrecarga de trabalho, exposição a múltiplas violências e desigualdade; Fatores protetivos: busca de apoio, valorização, amizades e exercício físico. Outros elemento foram encontrados e podem servir como ponto orIginal para outros estudos ou práticas de intervenção junto a este público, como: Existe um menor índice de suicídio entre mulheres, pois buscam mais ajuda; Fatores de risco interferem na resiliência; Cargos de chefia apresentaram mais estresse ocupacional; Atividades operacionais são mais estressantes (risco, medo e tensão); Mudança na gestão organizacional da Polícia Militar para reduzir preconceito; Maior número de policiais mortas era do quadro de combatentes e mulheres policiais militares apresentam uma morte mais prematura; A organização do trabalho é mais nociva que a violência e o conteúdo laboral.
Esses resultados geram preocupações uma vez que o adoecimento dessa população pode acarretar em consequências negativas para o policial e para a sociedade a quem eles protegem e servem. A pesquisa destacou também que parece haver uma carência de momentos para discussão livre sobre seus sentimentos e necessidades no âmbito da PM. REFERÊNCIAS ALMEIDA, D. M. Satisfação no Trabalho e estresse ocupacional na perspectiva dos Policiais Militares do Rio Grande do Sul. Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Sociais e Humanas, Programa de Pós-Graduação em Administração, RS, 2015. Set. ANDRADE, Edson Ribeiro; SOUSA, Edinilsa Ramos de; MINAYO, Maria Cecília de Souza. Intervenção visando a autoestima e qualidade de vida dos policiais civis do Rio de Janeiro.
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