Economia compartilhada
Tipo de documento:Artigo acadêmico
Área de estudo:Economia
Ainda que a noção de consumo seja um traço presente entre os costumes humanos – de uma maneira ou de outra, desde sempre –, pesquisas apontam que o padrão de consumo praticado hoje é impossível de ser mantido, especialmente quando considerados os recursos naturais ainda disponíveis (BRADSHAW & BROOK, 2014; WWF, 2012; DAUVERGNE, 2010). Dessa forma, a mais recente tendência, surgida da necessidade de satisfazer encargos até então atendidos majoritariamente por empresas, é a da economia compartilhada. Isso significa que as novas gerações de consumidores priorizam a experiência do acesso temporário a determinados produtos a sua aquisição definitiva (BARDHI; ECKHARDT, 2012). Desde o surgimento dessa estratégia de compartilhamento, pela troca ou pelo empréstimo, diferentes outros modelos de negócio também despontaram. A crescente necessidade de produção e consumo sustentáveis, tanto no âmbito dos negócios quanto no do social, promove a regular disseminação desse padrão de economia compartilhada.
Por disporem de vantagem competitiva com relação às empresas já estabelecidas, eles as obrigam a mudar de estratégia (CHRISTENSEN, 2001). Pesquisadores e acadêmicos, na busca pela compreensão dos benefícios dessa abordagem contemporânea, identificam e investigam lacunas a ser ainda examinadas. À vista disso, o interesse acerca do tema deu origem à seguinte questão: de que forma o estudo da economia compartilhada e do consumo colaborativo vem avançando e, ainda, que tendências vêm sendo registradas? Tal questionamento reflete a pesquisa deste artigo. Dessa forma, o objetivo geral do presente estudo é a análise do cenário atual da economia compartilhada e do consumo colaborativo, notadamente pelo debate em torno de seu conceito, de sua evolução e de seu destino. Conceito e evolução da economia de compartilhamento Conforme acertada previsão de Joseph Schumpeter, 74 anos atrás, a relevância da concorrência perfeita de fato já se mostra inferior à competição da nova mercadoria, da nova tecnologia, da nova fonte de suprimento e do novo tipo de organização.
• Colaboração como estilo de vida: compartilhamento de tempo, espaços e habilidades, transações nas quais ambas as partes se beneficiam, a exemplo do aluguel dividido de um mesmo escritório para diferentes empresas. Segundo informação do Sebrae (2017), transações desenvolvidas pessoalmente costumavam depender da garantia ou ratificação de um agente intermediário confiável, seja amigo ou conhecido. Porém, o alcance da internet e das redes sociais possibilitou maior segurança na realização dessas transações, eliminando a necessidade de intermediação. Uma das táticas que possibilitam essa segurança é o sistema de reputação, por meio dos quais é possível legitimar a confiança entre as partes com opiniões e avaliações públicas. Existe, ainda, outro fator determinante para essa transição em direção ao compartilhamento: a crise econômica.
Os serviços não se restringem apenas a empresas como Uber e Lyft; são muito mais amplos, conforme se perceberá a seguir. A mesma pesquisa englobava também, no âmbito de economia compartilhada, serviços de venda de mercadorias de segunda mão em sites como eBay e Craigslist, ambos criados em 1995. Esse foi o setor que demonstrou maior aderência dos consumidores: 50% dos entrevistados. Outras questões da pesquisa incluíam serviços de entrega acelerada, a exemplo do Amazon Prime (existente desde 2005), do qual 40% dos entrevistados afirmaram fazer uso. Serviços mais tradicionais de economia de compartilhamento, tais quais o de carona (Uber) e o de quartos (Airbnb), tiveram 15% e 11% de aderência, respectivamente. A recomendação de Stanko e Henard (2016) para empresários interessados em arrecadar dinheiro por crowdfunding é manter a transparência e ideias que atraiam maior número de pequenos financiadores, além de lançar o pedido no início do projeto, a fim de angariar participantes desde o início do processo.
Existe, entre os consumidores do modelo colaborativo, a predominância da urgência prática, da economia de dinheiro ou de tempo, de conseguir o melhor serviço, de buscar a sustentabilidade e de priorizar o relacionamento com pessoas em vez de marcas, apesar de haver também aqueles com o perfil voltado para aspectos sociais, mais otimistas, com pensamento mais a longo prazo. A mentalidade da maioria está fixada nos princípios do mercado capitalista e do interesse individual; não são benfeitores de perfil Pollyanna (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. A PwC, por sua vez, descartou os sistemas de crowdfunding, de entrega rápida e de compra de usados de sua definição de economia compartilhada, em relatório de 2014, para incorporar música e streaming de vídeo. A partir dessa definição, os números da pesquisa incluem 19% de consumidores atuantes em transações de compartilhamento e 44% familiarizados com o termo “economia de compartilhamento”, e os principais prestadores de serviços nessa indústria somam 7% dos estadunidenses, com faixa etária predominante de 25 a 34 anos.
Uma vez que os consumidores tenham se mostrado entusiasmados com todas as esferas de serviços de compartilhamento em hospedagem e restaurantes, automóveis e transporte, trabalho, entrega, empréstimos de curto prazo e bens de varejo e de consumo, espera-se que o modelo de capitalismo penetre ainda em diversos setores. Mesmo o domínio da saúde, tradicionalmente tardio na resposta aos avanços digitais, já conta com serviços não emergenciais e de baixa renda, o que pode representar um futuro desenvolvimento que a economia compartilhada é capaz de oferecer. A economia compartilhada conquista novos patamares ao redor do mundo da mesma forma que a maneira como enxergamos o trabalho de meio período e a reputação. Assim, conforme exposto por Hathaway e Muro (2016) na Brookings Institution, nos Estados Unidos, o número de empresas não empregadoras subiu de 15 milhões, em 1997, para 24 milhões em 2014.
Da mesma forma, a análise realizada pela PwC de diferentes setores da indústria estima que os cinco principais setores da economia compartilhada, a saber, os empréstimos entre pares, o pessoal on-line, a acomodação peer-to-peer, o compartilhamento de carros e o streaming de música e vídeo, gerarão mais de 50% da receita global total de apenas 5% de sua participação atual em dez anos (VAUGHAN & HAWKSWORTH, 2014). Diante disso, a fim de competir com base nas suas próprias vantagens em vez de coagir a concorrência a moldar-se em sistemas regulatórios ultrapassados, as empresas tradicionais devem adequar-se ao novo cenário. São inúmeras as razões para o crescimento desse modelo, as quais serão discutidas a seguir. Flexibilidade O Escritório do Economista-Chefe dos Estados Unidos enfoca o aspecto da flexibilidade que as plataformas de economia compartilhada oferecem aos seus contratados, definindo-as como “empresas de correspondência digital” (TELLES, 2016, p.
Essa é uma característica particular a essas empresas, que usam TI e classificações de usuários para fornecer horários flexíveis aos trabalhadores autônomos. Atualmente, 2,7 milhões de estadunidenses trabalham por intermédio dessas empresas como contratados independentes, o que significa uma carga horária de 15+ horas semanais. mulheres em toda a Índia. Barreira de entrada baixa para trabalhadores A exigência da empresa Taxi Application de Nova York para seus motoristas é que tenham no mínimo 19 anos de idade, que tenham um número de segurança social válido e uma carteira de motorista ou equivalente (NYC TAXI & LIMOUSINE COMMISSION, N. D. Além disso, os requisitos adicionais de documentação incluem também um registro de condução do estado, um certificado de conclusão de curso de direção defensiva e um exame médico.
Os candidatos também passam por um teste de drogas e por uma verificação de antecedentes, e recebem treinamento. em outubro de 2016, enquanto em 2014 haviam chegado a US$ 1,3 milhão. O valor médio atual é de US$ 500. segundo o site nycitycab. com (2017). Em geral, os motoristas da Uber, em comparação aos taxistas tradicionais, são menos diversificados, mais instruídos e muito mais jovens, segundo apontam pesquisas conduzidas por Jonathan Hall e Alan Krueger (2015) no mercado de trabalho da Uber, que revelaram dados demográficos e ganhos significativos. Dentre as vantagens defendidas pelos adeptos ao modelo está a criação de confiança entre estranhos, viabilizada pelos sistemas de classificação e de feedback, tanto para provedores quanto para consumidores. Mas quanto a isso, Rebecca Elliot (2015, p. X) adverte que “os sistemas de classificação não são análogos aos regulamentos e não devem substituí-los, especialmente em mercados onde a segurança pública está em risco”.
Outros argumentam sobre a natureza social da economia compartilhada ter sido cooptada por corporações que buscavam apenas lucro. Nesse sentido, Kenney e Zysman (2016) ressaltam a diferença entre as plataformas de economia compartilhada e aquelas sem fins lucrativos, como a Wikipédia, cuja comunidade é construída por editores voluntários, diferentemente do que ocorre no Uber e no Airbnb. Para mais, tais serviços traduzem uma dentre várias opções, e não necessariamente substituem os setores tradicionais, a exemplo do transporte público, que permanece em uso paralelamente ao compartilhamento de carona. Ainda com base em Tomalty (2014), temos que a geração dos millennials vê os carros de maneira diferente de seus pais. A grande razão é o acesso às mídias sociais, as quais são usadas para manterem contato com os amigos, em vez de precisarem de um carro para se encontrarem.
Regulamentos imprecisos Empresas com a vantagem do pioneirismo procuram “refazer a lei existente criando novas práticas em suas plataformas”, conforme constatam Kenney e Zysman (2016, p. Assim, pode ser que plataformas on-line se beneficiem da imprecisão sobre como devem ser regulamentadas. HAWKINS, 2016a). Eficiência operacional Segundo estimativa do economista de transporte Donald Shoup (KNACK, 2005), os veículos particulares passam inutilizados 95% de sua vida útil. Da mesma forma, Morency et al. em estudo acerca do uso de veículos particulares em Montreal, julgam suficiente 48-59% da frota atual de carros para satisfazer a demanda da cidade.
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