Como os valores na ACT Terapia de Aceitação e Compromisso podem contribuir para viabilizar a Terapia Infantil
Tipo de documento:Artigo cientifíco
Área de estudo:Psicologia
Resumo A Terapia Analítico Comportamental Infantil se difere da terapia com adultos por diversos motivos, dentre eles, é que a participação ativa dos pais e/ou responsáveis é essencial para um bom prognóstico. No entanto, nem todos os pais participam do processo terapêutico por diversos motivos. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é o de verificar como os valores postulados pela Terapia de Aceitação e Compromisso pode auxiliar diante deste problema, tendo em vista que este constructo é considerado como uma ação para a mudança. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura em periódicos científicos, tais como Pepsic e Scielo, bem como em livros para compor o trabalho. A literatura disponível sobre o assunto é escassa, contudo, de acordo com a concepção de valores postulados pela ACT, os valores podem contribuir na melhor adesão dos pais na psicoterapia de seus filhos.
Diante disso, o objetivo deste trabalho é o de verificar como os valores na ACT contribuem para viabilizar um bom prognóstico da Terapia Infantil. Para tanto, foram elencados quatro objetivos específicos, quais sejam: • Conhecer os pressupostos da Terapia Analítico Comportamental; • Descrever a Terapia Analítico Comportamental Infantil; • Relatar sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso com crianças; • Identificar como os valores podem promover uma participação mais ativa dos pais e responsáveis na Terapia Infantil. Metodologia Este trabalho caracteriza-se como uma revisão de literatura, de natureza exploratória, que teve como princípio a partir da leitura abordada, discutir a importância dos valores na Terapia de Aceitação e Compromisso na Terapia Infantil. De acordo com os autores Lima e Mioto (2007), a pesquisa bibliográfica implica em um trabalho exploratório descritivo, que tem por objetivo a busca por soluções de um problema de um objeto de estudo e que, por isso, não pode ser uma pesquisa aleatória.
Neste sentido, os métodos da pesquisa devem ser expostos com clareza, de modo que o tipo de pesquisa e as delimitações do trabalho sejam apresentados ao leitor. Rafihi - Ferreira et al. referem que a partir das pesquisas em fisiologia realizadas na Rússia, bem como do advento do Behaviorismo nos Estados Unidos, que o desenvolvimento da Psicologia Comportamental foi possível, tendo como objetivo praticar uma psicologia científica, que compreendesse o comportamento humano como objeto de estudo a partir de uma perspectiva monista, naturalista, objetivista e evolucionista dos processos psicológicos. Carrara (2005) acrescenta que foi no início do século XX que Pavlov (1849 - 1936) estabeleceu o princípio do condicionamento respondente, enquanto que Thorndike (1874 - 1949) estabeleceu a Lei do Efeito, que se tornou a base do condicionamento operante.
Por outro lado, Watson (1878 - 1958) fundamentou o modelo do condicionamento respondente que contribuiu sobremaneira com a Psicologia Comportamental através da publicação do artigo denominado "Psychology as the Behaviorist views it", em 1913. Foi na década de 1930 que Skinner (1904 - 1990) apresentou o modelo do comportamento operante que contribuiu grandemente para o crescimento e fortalecimento da Psicologia Comportamental, tendo em vista que até o momento prevaleciam os estudos relacionados ao paradigma respondente, que apresentavam limitações no tratamento de demandas complexas. Segundo Farias (2010), a entrevista e a observação são as principais estratégias utilizadas para a coleta de informações sobre o cliente. No entanto, o terapeuta deve atentar-se ao fato de que em algumas vezes o relato do cliente ou responsáveis é impreciso, não tendo correspondência entre o relato verbal e a ocorrência do comportamento relatado.
Por isto, é importante que o terapeuta solicite ao cliente uma observação mais precisa, eventualmente com a utilização de registros escritos. Em consequência das etapas anteriores e de forma gradual ocorre um afunilamento do foco das intervenções realizadas pelo terapeuta durante as sessões. Neste sentido, passa a conduzir as intervenções aos aspectos mais específicos do cliente, com o objetivo de instalar e realizar a manutenção de comportamentos mais assertivos que culminarão em mudanças (Farias, 2010). Com o foco no comportamento problema, o profissional escolhia técnicas que eram aplicadas para cada questão individualmente. Como bem destaca a autora, este modelo de terapia era baseado no Behaviorismo Metodológico, além disso, a relação terapêutica com a criança não era considerada importante, tendo em vista que as intervenções eram realizadas apenas com pais e/ou professores, ao passo que a criança era deixada de fora do trabalho clínico (Romero, 2015).
Foi a partir da década de 1970 que houve um resgate do Behaviorismo Radical de B. F. Skinner, que culminou em uma mudança relevante na maneira de se fazer terapia comportamental, a qual passou a ênfase à relação terapêutica, aos comportamentos encobertos, ao comportamento verbal e comportamentos governados por regras (Romero, 2015). No entanto, como bem destaca Moraes (2013), embora a criança tenha participação ativa na psicoterapia infantil, os pais também foram inseridos no processo e têm um papel essencial no processo, uma vez que serão instruídos e treinados, de modo que percebam a inter relação que existe entre o comportamento da criança e seus comportamentos. Isto viabiliza o manejo destes comportamentos, que podem ser públicos ou privados - tais como conceitos, sentimentos e regras - associados ao comportamento alvo.
Desta forma, o trabalho com os pais é essencial para que as mudanças comportamentais na criança se consolidem, seja por meio da orientação parental e/ou treinamento de pais, que visam a ampliação do foco do comportamento - queixa, de modo que desenvolvam habilidades que ensinem comportamentos mais assertivos nas crianças (Moraes, 2013). No entanto, o que ocorre na prática, é que nem todos os pais e responsáveis se engajam efetivamente no processo terapêutico de seus filhos, o que pode atrapalhar ou inviabilizar um prognóstico favorável da terapia. Com isso, os capítulos seguintes tratarão de como os valores postulados pela Terapia de Aceitação e Compromisso podem contribuir para viabilizar resultados satisfatórios na psicoterapia infantil. quando uma criança é muito pequena, seu comportamento fica sob controle de estímulos visuais e que estão no seu ambiente, sendo, portanto, um comportamento governado por consequências diretas.
Entretanto, conforme se desenvolve, a criança passa a se comportar sob controle de consequências relatadas por meio da linguagem, até que passem a responder cada vez mais a estímulos verbais e regras sobre o passado, presente e futuro (Simões et al. No entanto, alguns estudos apontam que crianças que se desenvolvem em contextos nos quais deve responder frequentemente a regras, pode desenvolver algum transtorno, tal como a ansiedade, sobretudo se estiver relacionado à regras de proteção e cuidado. Diante disso, a ACT sugere que o terapeuta realize intervenções em seis campos, a saber: aceitação, desfusão cognitiva, self como contexto, contato com o momento presente, ação comprometida e valores (Simões et al. Desta forma, a criança que se desenvolve em um contexto no qual as regras adquirem função aversiva, por exemplo, pode aprender na terapia a responder aos seus pensamentos e sentimentos de forma mais flexível, o que pode viabilizar uma maneira de se relacionar com eles diferente.
Na mesma direção Rahal (2019) acrescenta que os valores podem ser entendidos como motivação verbalmente estabelecida para a ação, ou seja, é a direção de vida escolhida pelo indivíduo. Na prática clínica, os valores são explicados ao cliente enquanto um princípio norteador, tendo em vista que promovem a direção dos comportamentos individuais. Desta forma, suas características estão relacionadas à abertura para a vulnerabilidade, escolha e orientação pelo momento presente e vitalidade (Rahal, 2019). Conforme Saban (2008), para que o cliente entenda e se beneficie dos valores, é necessário que entenda algumas distinções, a saber: - Valor como direção de ação versus sentimento: os valores não são facilmente mutáveis, embora possam mudar durante a história de vida.
Neste sentido, não deve ser confundido com um sentimento de gratidão ou de valor por algo, mas como uma direção de ação na vida. Os autores supracitados ainda destacam que muitos estudos têm apontado que a orientação parental para a modificação de comportamento de seus filhos pouco tem demonstrado resultados satisfatórios e, quando o tem, estes não são duradouros. Contudo, o estudo realizado pelos próprios autores demonstra que quanto maior a frequência das orientações, maior o aumento do processo de generalização das aplicações das orientações (Brito & Costa, 2017). Desta forma, a orientação parental deve fazer parte da terapia infantil, sendo uma constante, de modo que se torne habitual. Assim, os ganhos terapêuticos adquiridos em consultório se generalizam para outros contextos, promovendo um prognóstico satisfatório (Brito & Costa, 2017).
Brito e Costa (2017) ainda destacam que existe uma correção significativamente positiva entre o processo de generalização e as regras/auto- regras funcionais dos pais. B. Okamoto, C. T. Terapia analítico comportamental: a análise funcional como indicativo de eficácia para diferentes contextos clínicos. In: Haydy, V. Edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. Brito, C. F. N. Carvalho Neto, M. B. Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6(1), p. Farias, A. n ° 02 pp. Lima, T. C. S. de; MIOTO, R. A Terapia Analítico Comportamental Infantil e a importância da Orientação aos pais e dos programas de treinamento. Monografia (Título de Especialista) - Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento, 46 fls.
Rafihi-Ferreira, R. et al. Clínica Analítico-Comportamental no Brasil: Histórico, Treinamento e Supervisão. Dissertação (Mestrado). Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento. Universidade Estadual de Londrina, 77 fls. Romero, A. C. Terapia de Aceitação e Compromisso: intervenções com crianças. In: Rossi, A. Linares, I. Brandão, L. Terapia Analítico Comportamental Infantil.
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