A POESIA NA LEITURA DRUMONDIANA

Tipo de documento:ABNT

Área de estudo:Literatura

Documento 1

” (Dom Bosco) RESUMO A poesia, em razão de poder exprimir os sentimentos, desejos e os aspectos mais variados possíveis, torna-se uma maneira de o poeta se manifestar acerca daquilo que percebe e sente. Em Drummond, ela ganha contornos que vão desde a percepção sobre o lugar em que nasceu, Itabira-MG, até os fatores sociopolíticos. Sendo assim, compreender o eu-lírico a quem este poeta deu vida em suas poesias permite entender o sentimentalismo que envolve as obras drumondianas. Por esse motivo, este estudo tem por objetivo analisar as diferentes fases da poética de Drummond associando-as à vida do autor e ao contexto da época, de modo a identificar traços da sua obra que compõem sua identidade. Para tanto, o procedimento metodológico se pautou na análise diversas poesias sob a ótica da ligação que elas fazem com as fases do autor e como ele passa a tratar os fatos ao longo de sua vida.

For this purpose, the methodological procedure was guided by the analysis of various poetry from the point of view of the connection they make with the phases of the author and how he begins to treat the facts throughout his life. In this way, the study has identified, based on the targeting of important literary critics, such as Cândido and Bosi, the aspects that differentiate the various phases of Drummond, such as the maturation of his poetry, and the concern with social injustice. In this way, the analysis reached a result that points to a Drummond initially dedicated to issues of universal thought, across, in intermediate phases, from a concern with the factor of social and ending with a poetry that brought to memory the memories throughout life. With this, it can be concluded that drumondian poetry is heterogeneous, but at the same time can be considered engaged.

Keywords: Drummond. Brayner salienta a linguagem em prol da expressão realista, a qual se posiciona como testemunha de um mundo doente: (. sua luta com as palavras seria uma luta pela expressão, mas que fosse a expressão testemunha da dor do mundo. O mundo moderno, com seu mecanismo, seu materialismo, sua falta de humanidade, seu desprezo pelo homem, é a bête noire do poeta. Atacou-o de frente, nos seus mitos e valores. Reagiu contra ele, mediante um “sentimento do mundo” que protesta ante a miséria a que é o homem levado pela circunstância de haver ele sido construído à revelia de sua essência humana (BRAYNER,1978, p. Um sentimento mais físico da realidade vai se articulando. Suas duas obras anteriores Alguma Poesia (1930) e Brejo das Almas (1934) revelaram particularidades de um eu-lírico altamente individualista, irônico e cético.

Enquanto aquele livro revela um individualismo irônico e alheio à realidade ao seu redor, neste podemos observar uma certa intensificação da sua individualidade com uma atitude crítica e pessimista de descrença nas ações do ser humano. Inaugurando uma nova fase da produção poética de Drummond, a obra Sentimento do Mundo é marcada por uma poesia social, onde é possível notar o deslocamento do foco de atenção do poeta, que direciona seu olhar para a realidade concreta que o permeia, ou seja, os problemas do mundo despertando-lhe desejos e inquietudes suscitando-lhe numa postura reflexiva. Esse eu-lírico reflexivo marcará o surgimento de um Drummond inconformado com as injustiças públicas e sociais revelando suas preocupações. Retratando questões importantes de sua era de forma crítica, a produção poética de Carlos Drummond de Andrade nos revela uma espécie de retrato do Brasil, segundo Mário Faustino: (.

a poesia de Carlos Drummond de Andrade é do mundo crítico, de um país e de uma época (. ” e que “(no futuro, quem quiser conhecer o Geist brasileiro, pelo menos de entre 1930 e 1945, terá que recorrer muito mais a Drummond que a certos historiadores, sociólogos e antropólogos e “filósofos” nossos. ”, ou seja, a poesia de Drummond é “um documento humano apologético do homem” ( apud SANTOS, 2006, p. Assim, reside uma das grandezas da obra do poeta, que com sua genialidade sensível aos acontecimentos, foi capaz de retratar um Brasil poetizado com todos os seus conflitos sociais e políticos. Tal declaração nos mostra um poeta mais maduro, preocupado em não se deixar seduzir pelas amarras da vida política com toda sua malícia e deixando claro sua crítica ao sistema político, sustentando a sua posição de ser apenas um intelectual político.

A obra Sentimento do Mundo marca o início dessa mudança de posição e de acordo Massuad Moisés "é nesse ponto de sua trajetória que desabrocha, com veemência serena e cauta, a temática política e social” (MASSUAD,1983, p. Para José Guilherme Merquior, a temática que predomina é o choque social onde: “sua significação essencial é a negação do individualismo (. a percepção dolorosa da realidade social, das necessidades elementares (e alimentares) da humanidade sofredora” (apud MACIEL e XAVIER, 2002, p. Segundo Pedro Lyra (LYRA, 2002, p. Arrigucci afirma ainda que: “o poeta que surgiu em 1930 e acabou se tornando a figura emblemática da poesia moderna no Brasil construiu uma grande obra em que tudo acontece por conflito” (2002, p. CONCEPÇÕES REVELADAS O poeta inicia seu livro com o poema que dá título a obra “Sentimento do Mundo”, nele o poeta vai falar de suas inquietações pessoais, da renúncia de seus desejos, os quais o conduzirão a uma inevitável solidão.

Sentimento do Mundo (. Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes. Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Entre eles considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. ANDRADE, 2001. p. Sabe agora que, em seu coração não cabem sequer suas dores por isso, faz-se necessário, gritar, se expor e acima de tudo entender que precisa de todos. Essa tomada de consciência faz com que, ao desprender-se de seu individualismo, seu lado humano perceba o outro, a vida comum, o homem comum. A constatação parte da certeza de que o mundo é grande, muito maior do que até então imaginava, um mundo de homens de cores e dores diferentes.

Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. O mundo é grande. Tu sabes como é grande o mundo. Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Viste as diferentes cores dos homens, as diferentes dores dos homens, sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem. sem que ele estale. Outrora viajei países imaginários, fáceis de habitar, ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio. Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias, entre o fogo e o amor. Então, meu coração também pode crescer.

Mostra-se limitado, cheio de incertezas, sabe que sozinho torna-se fraco e vulnerável aos acontecimentos do mundo ao seu redor. A expressão “Só agora” indica a mudança de postura do poeta, ou seja, indica um novo redirecionamento, onde se inicia uma tomada de consciência da necessidade do outro e à sua atuação no mundo, demonstrando que ele começa a tomar consciência do que lhe é inerente ou está diretamente relacionado: “Só agora descubro / como é triste ignorar certas coisas”. A esses versos segue-se a conclusão “Na solidão de indivíduo / desaprendi a linguagem / com que homens se comunicam”, indicando que ao isolar-se do mundo teve como consequência a dificuldade de se comunicar. Desse modo, o eu, humilde, está disposto a criar uma perspectiva de um mundo novo, recriado pelos homens de seu tempo: Então, meu coração também pode crescer.

Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos.

Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? (. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão.

Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? (ANDRADE, 2001, p. Bosi, ainda o caracteriza quanto à visão que o poeta tem de mundo, essa visão seria postulada por um certo tom “negativo na medida em que se ensombra com os tons cinzentos da acídia, do desprezo e do tédio, que resulta na irrisão da existência” (BOSI, 1975, p. Em Sentimento do Mundo, também é enfocada a maneira com a qual a sociedade delimita regras de comportamento, oprimindo o indivíduo com uma série de normas que deveriam ser obedecidas para se manter padrões. Como se vê no “Poema da necessidade”: É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades, é preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país,(. é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana.

Mas – de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contato que vos embriagueis. Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Segundo o crítico Gilberto Mendonça Teles o Poema da necessidade: (. aparece um sistema de clichês que desenvolve uma ideia fixa instalada entre o homem e o mundo, numa tensão dramática que, dentro da enumeração caótica dos sujeitos, acaba por resolver-se num documento de profunda ironia em face dos acontecimentos, como queria o poeta. O passado se faz latente e permanente na memória do eu-lírico. Drummond afirma em seus versos: Todos cantam sua terra, mas eu não quis cantar a minha.

Preferi dizer palavras que não são de louvor, mas que traem a silenciosa estima do indivíduo, no fundo, eternamente municipal e infenso à grande comunhão urbana. Ainda assim fui itabirano, gente que quase não fala bem de sua terra, embora proíba expressamente aos outros falarem mal dela. Maneira indireta e disfarçada de querer bem, legítima como todas as maneiras. DRUMMOND, 1991, p. Nos versos: “Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro/ Noventa por cento de ferro nas calçadas/ Oitenta por cento de ferro nas almas. ” O eu-lírico se declara tão forte como o ferro que mesmo frente às mudanças de um mundo acelerado, ainda se diverte com lembranças de um passado que o enche de orgulho. Essa saudade que dói no peito do poeta representa um ser que, ainda que tenha se rendido ao funcionalismo público, sente satisfação de suas origens, as quais são sua maior herança.

Segundo Merquior esse contraste entre a cidade grande e a cidade do interior permite ao poeta críticas: (. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHCAR, Francisco. Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Publifolha, 2000. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Sentimento do Mundo. Rio de janeiro: Ed. Record, 2001. ANDRADE, Eliandro Luiz Andrade. Sinopse e Análise Literária. Pequenos Poemas em Prosa (O Spleen de Paris). Embriagai-vos (XXXIII). Trad. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. In: Poesia e Prosa: volume único. Fortuna Crítica), 1978. CAMILO, Vagner. Drummond: Da Rosa do Povo à Rosa das Trevas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. CÂNDIDO, Antônio. Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro. Ed. Agir, 2002. Coleção “Nossos Clássicos”. Editora da Universidade de São Paulo, 1983. MORAES, Emanuel de. Drummond. Rima. Itabira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.

VOLAPUQUE, In: Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora. Disponível em: <http://www. infopedia.

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