Reencantamento do mundo na literatura periférica: breve diálogo entre as obras de Guimarães Rosa e Mia Couto

Tipo de documento:Projeto

Área de estudo:Literatura

Documento 1

No referencial teórico, Rech (2019), Maffesoli (2003) e Micheletti (2018). Palavras-chave: Literatura; Brasil-África; Representação 1. Introdução Um dos maiores escritores contemporâneos em atividade, Mia Couto é autor de uma extensa obra em que se sobressaem o lirismo e o engajamento, em especial com as questões de sua terra natal, Moçambique. Nascido a 5 de julho de 1955, em Beira, Antônio Emílio Leite Couto é filho de um jornalista e poeta português. A alcunha Mia teria sido fruto de sua paixão por gatos. Como objetivos específicos está a breve revisão de textos representativos desses dois autores, bem como a reflexão sobre o papel da literatura periférica no cenário dos estudos pós-coloniais. A metodologia contempla revisão bibliográfica e análise de pequenos trechos dos dois autores, a fim de ilustrar essa confluência estilística e temática.

Fundamentação teórica 2. Mia Couto De acordo com Micheletti (2018, p. “Em seus textos ficcionais e não ficcionais, Couto trata dos problemas do país, mostra o espaço trágico, em ruínas, mas tende, mesmo assim, a apontar a chance de uma melhora. Para Couto (2005, p. a literatura nos ajuda a sermos seres humanos melhores. O escritor “é aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento”. Guimarães Rosa Por sua vez, o texto de Guimarães Rosa se debruça sobre os grandes espaços do interior do Brasil, no sertão fértil localizado entre Minas Gerais e o Sul da Bahia. Nessas amplas dimensões de um país ainda não totalmente dominado pela mão do homem à época de suas mais representativas obras, os anos 60, a vastidão constitui uma metáfora: “lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos” (ROSA, 2001, p.

O reencantamento em Maffesoli Segundo Maffesoli (2003), chegamos a um tempo que marca a passagem do projeto linear, ao policromático, trágico por essência, presenteísta e que extrapola o âmbito da segurança burguesa. No ano 1000, o Papa Silvestre II inventou esse relógio que submeteu o tempo à medida. Redução progressiva da multiplicidade das culturas, preparando o totalitarismo do Um e do mercado - o racionalismo. Pura abstração limitada à ordem econômica ou política (MAFFESOLI, 2003, p. Para esse tempo em que a sociedade deixa de acreditar nas instituições que até então a fortaleciam, são necessárias outras representações. O sertão é de noite. Com pouco, estava-se no centro, no meio de um mar todo (ROSA, 1988, p. grifo nosso). Ao escrever que “o sertão é de noite”, Rosa coloca este universo em uma posição à parte, como que separado do que se conhece no mundo concreto e afirmativo, no Dia, que em linhas gerais pode remeter à forma organizacional da vida em sociedade, ao regime instituído.

Evoca a simbologia do que está oculto, do que é temível, do que por muito tempo representou os países periféricos que vieram a ser explorados a partir de adjetivos de barbárie que se coloca como desculpa para essa apropriação. Mais e mais o Sol ostentava grandeza, vaidoso dos seus domínios e do seu nome tão masculino. Ele, então, se intitulou patrão de todos os astros, assumindo arrogâncias de centro do Universo. Não tardou a proclamar que ele é que tinha criado Deus. O que sucedeu, na verdade, é que, com o Sol, assim soberano e imenso, tinha nascido o Dia. A Noite só se atrevia a aproximar-se quando o Sol, cansado, se ia deitar. Outra passagem de Buriti pode ser ilustrativa para pensarmos como a natureza é apresentada por Rosa como síntese de sistemas que contrariam o esperado de modo convencional.

O brejo não tinha plantas com espinho, só largas folhas, se empapando, combebendo, como trapos, e longos caules que se permutam flores para o amor. Aqueles ramos afundados se ungindo dum muco, para não se maltratarem quando o movimento das águas uns contra os outros os esfregava (ROSA, 1988, p. grifos nossos). É possível identificar nessa passagem, de Rosa, algo do animismo que se atribui a Couto: “Os ramos afundados se ungindo de muco para não se maltratarem”. E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. COUTO, Mia. A confissão da leoa. Criação&Crítica, n. p. nov. Disponível em: http://www. revistas. RECH, Alessandra Paula. O sertão como representação dos personagens em “Buriti”, de Guimarães Rosa.

Rio de Janeiro. Caderno de Letras da UFF. v. Quanto ao referencial teórico que utilizamos, podemos citar dois que se sobressaíram para atender as nossas reflexões. O primeiro deles é Mafessoli, com a obra O instante eterno - o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas (2003), que é uma obra vasta para entender mudanças no imaginário social que contribuíram para auxiliar na nossa classificação da obra dos autores estudados como formas de resistência e de resposta às mudanças ocorridas nas últimas décadas. Outra obra relevante foi o artigo de Rech (2019) a respeito do sertão rosiano e as representações da natureza, aproximando-nos de uma obra vasta e complexa, e pessoalmente menos conhecida que a de Mia Couto quando demos início a esse trabalho.

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