Os delírios de Estamira

Esta apresenta uma estrutura mental psicótica, elemento que se torna manifesto em seus discursos; podemos inferir que se trata de um quadro esquizofrênico. Conforme aponta Silva (2006), a esquizofrenia é uma representação da psicose, uma psicopatologia crônica a qual apresenta sua origem relacionada a diversos fatores, tais como genéticos e ambientais. É um transtorno psiquiátrico grave que envolve modificações comportamentais, incapacidades relacionadas ao pensamento e à compreensão da realidade (SILVA, 2006). De acordo com Silva (2006) a etiologia da esquizofrenia é incerta, apesar de que a desorganização da personalidade, atrelada ao quadro, é atribuída a questões culturais, psicológicas e biológicas. A esquizofrenia apresenta um componente ligado à hereditariedade, de modo que o risco para o desencadeamento do quadro é elevado quando o indivíduo possui parentesco com alguém que tenha esquizofrenia (SILVA, 2006).

Destaca-se que naquela época os recursos terapêuticos eram escassos para esse tipo de paciente. Nessa conjuntura, Silva (2006) afirma que antes da década de 1950 os recursos terapêuticos destinados aos pacientes psicóticos se restringiam, basicamente, a internações em hospitais psiquiátricos. Após o período mencionado o tratamento, medicamentoso, das psicoses passou a ser difundido com maior amplitude (SILVA, 2006). Segundo essa autora, os antipsicóticos utilizados nesses casos também podem ser denominados neurolépticos ou tranquilizantes maiores. As primeiras experiências medicamentosas direcionadas a pacientes esquizofrênicos estiveram relacionadas ao uso da clorpromazina e os resultados foram satisfatórios (SILVA, 2006). A filha mais velha de Estamira relata ter notado os primeiros indícios de esquizofrenia em sua mãe após esta ter se separado do seu segundo companheiro, no entanto, não há especificação de quando exatamente, ao longo de sua idade adulta, os primeiros sinais e sintomas emergiram.

Silva (2006) pontua que, normalmente, os primeiros indícios da esquizofrenia surgem no decorrer da adolescência ou no início da vida adulta. Os sinais e sintomas que caracterizam o quadro são: alucinações, delírios, transtornos de pensamento e fala, perturbação das emoções e do afeto, déficits cognitivos e avolição (SILVA, 2006). Destaca-se que os delírios e as alucinações são bastante frequentes em pacientes esquizofrênicos (SILVA, 2006). Os transtornos do pensamento estão condicionados a alterações do conteúdo e da forma dos pensamentos, de modo que os transtornos relacionados ao conteúdo se referem aos delírios e os transtornos da forma são divididos em: perturbação inerente do pensamento e, transtorno no modo em que o pensamento expresso por meio da linguagem e da fala (SILVA, 2006).

Em tudo quanto é lado, até meu sentimento mesmo vê. Todo mundo vê a Estamira”; “Eu, Estamira, sou. a visão de cada um. Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira”. Em sua constante busca por controle, os seus sintomas fazem emergir a ideia de um “controle remoto”, como se ela buscasse algo para lhe instituir de controle, em especial, controle em relação a si mesma. Controle este que, apesar de em alguns momentos ela tentar afirmar, logo depois ele se desfaz. Em algumas cenas Estamira afirma que sua mãe era “perturbada”, mas ela [Estamira] não era bem assim. Ela afirma: “Coitada da minha mãe, mais perturbada do que eu. Bem, eu sou perturbada, mas lúcido e sei distinguir a perturbação.

Vocês aprendem é com as ocorrências. Eu tenho neto com dois anos que já sabe disso. Tem de dois anos e ainda não foi na escola copiar. Desse modo, podemos ponderar que, apesar dos delírios e alucinações, em alguns momentos o discurso de Estamira parece dotado de sentido lógico, em especial quando ela se dispõe a falar sobre assuntos relacionados à sociedade, nesses momentos notamos uma linha tênue entre o delírio e o real. É possível ilustrar a colocação com a seguinte fala: “Economizar as coisas é maravilhoso. B. da. Esquizofrenia: uma revisão. Psicol. USP, São Paulo, v.