OS BENEFÍCIOS DO GERENCIAMENTO DE RISCOS EM PROJETOS: CASO DE BRUMADINHO

Conforme o parecer técnico da Agência Nacional de Mineração (ANM, 2019), a empresa omitiu documentos indispensáveis para a avaliação de risco. Foram encontradas avaliações subjetivas quanto aos parâmetros de estabilidade das estruturas. Não foram realizados os ensaios que permitem a análise das condições de estabilidade em condições não drenadas, e foi assumido fator de segurança com margem de erro abaixo do aceitável pela NBR-13028, em uma das seções analisadas. Outros fatores observados, como a formação de lençóis empoleirados e a necessidade de instalação de Drenos Horizontais Profundos indicam que a administração da Vale S. A tinha conhecimento do término da vida útil da barragem, construída em 1976. Ao observar-se as boas práticas de gestão de risco, recomendadas pelo Project Management Institute, PMI (2013, p.

pode-se defender que a ocorrência de um evento de risco requer uma sistemática de resposta ao mesmo, com análise adicional que sugira novos tratamentos, com análise quantitativa para avaliação e mitigação do impacto e registro do aprendido para prevenir eventos futuros. A observação destas práticas, na cultura da empresa Vale S. A. certamente levaria a outras considerações quanto à extensão da vida útil das barragens, podendo, inclusive, ter evitado o desastre. vi. monitorar os riscos, ou seja, analisar as variações de indicadores de risco e comparar os resultados esperados, com os reais, a partir das informações de desempenho e tendências de execução do projeto. O risco do projeto, conforme o PMI (2013), se refere a uma ocorrência potencial incerta, capaz de provocar um, ou mais impactos negativos, ou positivos, nos objetivos do projeto.

As causas de risco podem ter origem em requisitos, premissas, restrições ou condicionantes potenciais para resultados positivos, ou negativos. No caso de Brumadinho não se trata de mera incerteza, entendida como um evento possível, de natureza duvidosa, com causas obscuras, uma vez que as condicionantes para a ocorrência de ruptura das barragens eram conhecidas e mensuráveis, caracterizando-se como eventos certos e determinados nas condições dadas, ou seja, trata-se de riscos potenciais, passíveis de monitoramento e com altíssimo potencial de impacto negativo nas operações da empresa, nas condições de subsistência da comunidade local e no ecossistema, conforme parecer da Agência Nacional de Mineração. Relatórios de desempenho vi. Atualizações dos documentos do projeto, incluindo: i. Registro dos resultados das reavaliações de risco ii.

Auditorias de risco iii. Registro das revisões periódicas de risco iv. O descaso da empresa com a gestão de riscos evidencia que a mineradora não foi capaz de aprender com os seus erros e submeteu temerariamente a população local, o ambiente e a economia brasileira a prejuízos incalculáveis, provando incapacidade gerencial para uma operação dessa magnitude. Em função da amplitude dos riscos envolvidos nas operações de mineração, Di Giulio et al. ressaltam a importância da comunicação adequada entre as mineradoras e as comunidades, que devem participar da gestão de risco das operações, por meio de associações e auditoria pública dos problemas, a fim de melhorar os níveis de governança de riscos no setor.

Há que observar-se entretanto, nesta estratégia, adotada pela Vale S. A. A partir do disposto pelo parecer da ANM (2019) e do exemplo disponível no PMI (2013, p. foi construída a seguinte EAR, adequada ao caso da operação das barragens de Brumadinho (Figura 1): Figura 1: EAR projeto BrumadinhoFonte: o autor, em consulta ao PMI (2013) e ANM(2019) A identificação de riscos produz, como resultado, o registro dos riscos, um documento que apresenta os resultados da análise de riscos e do planejamento de resposta aos riscos identificados. No Quadro 1 representa-se um exemplo hipotético do registro de riscos, aplicado ao caso Brumadinho: REGISTRO DE RISCOS – RUPTURA BRUMADINHO EVENTO IMPACTO CAUSA EFEITO Estratégia/ Plano de Ação Ruptura da barragem Perda de vidas Humanas Inundação da comunidade Ações mitigatórias, indenizações e demanda por investimentos não previstos.

Indenizar os atingidos Relocação da comunidade. Impossibilidade de permanência no local. Investimento em comunicação social, auditoria interna e ações administrativas de melhoria da governança. Incapacidade de cumprir contratos. Indisponibilidade de ativos, aumento na necessidade de capital. Perda de mercado, redução da competitividade. Renegociação dos contratos, ações preventivas de contenção. Rio de Janeiro: ABNT, 2017. p. BRASIL. Agência Nacional de Mineração - ANM. PARECER TÉCNICO Nº 07/2019: GSBM/SPM/ANM-ESGJ/LHPR/LPN/WAN. Santiago, A. L. F. The Samarco dam disaster: A grave challenge to social license to operate discourse. Resources Policy, 2019, 61, pp. Experiencias brasileiras e o debate sobre comunicação e governança do risco em áreas contaminadas por chumbo. Ciência & Saúde Coletiva, vol. no. p. Gale Academic OneFile, https://link-gale.

p. SANTOS, V. S. Desastre ambiental em Brumadinho. Mundo Educação. Disponível em https://noticias. uol. com. br/ cotidiano/ultimas-noticias/2019/01/26/barragem-da-vale-em-brumadinho-o-que-se-sabe-ate-agora. htm.